SEJA COMPETENTE
"Se perdermos até a esperança, não há caminho para nós".
(Ariano Suassuna, escritor - 2004)
PALAVRA DA SEMANA: COMPETENTE
Em inglês, competition quer dizer "concorrência" (mesmo sentido do espanhol competencia). Em latim, as duas palavras eram sinônimas: competere significava "mirar no mesmo alvo" e concurrere era "correr junto". Numa avaliação de desempenho em português, "competente" é alguém que executa muito bem seu trabalho. Mas, se a avaliação for em inglês, o sentido muda: competent é quem só fez o mÃnimo esperado. Alguém que apenas competiu, mas não levou.
Max Gheringer - Fonte: Época - número 469.
PARA NÃO FALAR SÓ DO AMOR
E aqui estou eu novamente tentando colocar no papel mais uma reflexão sobre as mães, agora que se aproxima o segundo domingo do mês de maio, o abençoado dia das mamães.
Decidi então, só pra variar, que dessa vez eu não iria abraçar o amor como recurso para me referir à s queridas mamães, e confesso que não foi nada fácil. É incrÃvel como sempre ao nos referirmos à mãe, imediatamente lembramos de amor. Na verdade até são palavras diferentes na grafia e morfologia, porém têm tudo a ver uma com a outra. E já estou eu outra vez falando de amor, quando deveria falar de mãe.
Mãe pode significar fortaleza, ainda que esteja fraca. De algum lugar ela descola força suficiente para suprir seus filhos de tudo que eles necessitam. Isso é zêlo.
Mãe é paciência. Quem nesse mundo tenta de tudo e mais um pouco para extrair um sorriso de nossos lábios, ou uma bela garfada de comida ou uma colherada de papinha: E ela consegue! Isso é dedicação.
Mãe é alegria. Ainda que não esteja tão alegre assim. Mas no seu coração há sempre um sopro de sorriso, mesmo que dos filhos receba uma malcriação, tão incompreensivos que somos. Isso é tolerância.
Mãe é motivação. Por mais desanimado que tudo possa parecer. Uma dificuldade qualquer que enfrentamos. Uma insegurança frente a algum desafio. Um medo. Uma prova. Uma entrevista de emprego. Lá está a mamãe dando a maior força e nos deixando muitas vezes até mais confiantes do que deverÃamos estar. Tudo simplesmente porque “minha mãe falou!â€. Isso é força.
Mãe é magia e mediunidade. Tudo ela sabe. E nos conhece tão bem que parece até brincadeira. É capaz de nos dar a previsão do tempo e ainda nos tratar com um chazinho bem quentinho, caso a gente não leve o guarda-chuva, como ela havia sugerido, e retorne para casa todo molhado. Isso é intuição.
Mãe é muito mais e por mais que se mencione, ainda não é satisfatório. Isso é plenitude.
Paciência, alegria, motivação, magia. É quase assim, como ficamos quando estamos apaixonados. Exatamente como elas se sentem em relação a nós, os filhos. Perdidamente apaixonadas. E tudo isso não se traduz com nenhuma outra palavra a não ser aquela que me propuz a não lançar mão para me referir a mãe. Mas eu não consegui. Mãe é amor na sua mais alta plenitude. E amor não se traduz melhor do que o próprio amor.
Às mamães que me lêem, minha profunda admiração, meu respeito e reconhecimento por tudo que elas representam, traduzem e transmitem. Como filho peço a sua benção, pois além de tudo ela tem ainda mais esse dom. Nos abençoa como ninguém na face da Terra. Mãe realmente é amor.
Eddy
São Paulo, 11 de maio de 2007
O PAPA, FREI GALVÃO E O RELATIVISMO
O santo brasileiro,lá em cima, seria mais tolerante com os usos do século XXI do que Bento XVI.
Um discreto casamento foi celebrado no sábado 5, na capela do velho Mosteiro da Luz, em São Paulo. Os noivos eram Sandra Grossi de Almeida e César Augusto Gallafassi, os dois de São Paulo, mas moradores de BrasÃlia. Não chegavam a setenta as pessoas presentes. Eram elas parentes, amigos, fiéis que por acaso à quela hora se encontravam na capela e dois profissionais que os noivos gostariam que não estivessem por perto – a repórter Laura Capriglione e o fotógrafo Leonardo Wen, da Folha de S.Paulo. Graças a eles, na segunda-feira a notÃcia do casamento saÃa, com texto e fotos, no jornal. Com isso, vinha à tona um curioso detalhe da história da canonização de frei Galvão, o primeiro santo genuinamente brasileiro.
Sandra Grossi de Almeida é a protagonista do segundo e decisivo milagre atribuÃdo a frei Galvão. Seu sonho de ser mãe, acalentado desde cedo, resultou duas vezes em frustração. Por causa de uma má-formação do útero, ela teve, nas duas vezes, abortos espontâneos. Em 1999, aos 30 anos, apesar das experiências pregressas e das advertências dos médicos, engravidou pela terceira vez. Repetiu-se a provação. Teve sangramentos desde o inÃcio, e tudo indicava que a aguardava o mesmo infeliz desfecho quando, por sugestão de uma amiga, ingeriu três das famosas pÃlulas de frei Galvão. Os sangramentos cessaram, e Sandra pôde dar à luz um menino a quem ela e o pai da criança, César, deram o nome de Enzo. A comissão cientÃfica encarregada pelo Vaticano de examinar o caso concluiu que, dadas as condições de Sandra, só o sobrenatural, no caso impulsionado pelas pilulinhas de papel inventadas pelo frade brasileiro, poderia lhe ter propiciado o nascimento do filho. O Vaticano já avalizara outro milagre atribuÃdo ao brasileiro – a cura da menina Daniela Cristina da Silva de uma hepatite. Com o caso de Sandra, chegava-se a dois milagres, o número mÃnimo exigido para elevar alguém a santo.
O que a celebração da capela da Luz trouxe à tona é que Sandra e César, na época do nascimento de Enzo, não eram casados na Igreja. Nem por isso se deixou de presenciar uma bonita cerimônia. A Enzo, um menino vivo e alegre, hoje com 7 anos, coube entregar as alianças aos pais. Mas melhor ainda seria, do ponto de vista dos noivos, se não tivesse havido a presença de jornalistas. Sandra, dias antes, conversara com outro repórter da Folha de S.Paulo, Fábio Victor. Chegou a dizer-lhe que no sábado estaria em São Paulo, mas omitiu o motivo da viagem. Fábio Victor perguntou se Enzo ia junto, e ela respondeu que não. Mais tarde o repórter entrevistou uma das responsáveis pela escola em que Enzo estuda. A entrevistada, a certa altura, deixou escapar que Enzo no sábado iria a São Paulo. "Ele vai para o casamento da mãe", acrescentou.
Foi assim que a notÃcia de que havia um casamento no ar chegou à redação da Folha. Concluir que se daria na capela da Luz era fácil. O mosteiro, do século XVIII, foi construÃdo por frei Galvão, que nesse labor empenhou seus dotes de arquiteto, mestre-de-obras e pedreiro. São as freiras que ali habitam que fabricam e distribuem as pÃlulas. E frei Galvão está enterrado na capela. Tudo ali, em suma, lembra o santo. O casal não escolheria outro local. Depois do casamento, a repórter Laura Capriglione falou com a noiva. "Não autorizo a publicação da notÃcia", disse esta. Laura lembrou que não havia como não autorizar, pois casamentos são atos públicos. A repórter perguntou em seguida se o casamento tinha sido precipitado pela iminência da canonização do frade. Sandra disse que não. O dia fora escolhido em homenagem a seus pais, que também casaram num 5 de maio.
O papa Bento XVI iniciou seu pontificado avisando que com ele não haveria lugar para relativismo. Por relativismo, entende-se a transigência com os princÃpios da fé e os valores humanos que a Igreja considera fundamentais. Bento XVI comprometeu-se, dessa forma, com um programa de alto risco. Defende a qualidade sobre a quantidade. Quer fiéis observantes das determinações da Igreja, mesmo que ao custo de perder parte do rebanho. O que tem em vista é desferir um golpe de morte no laxismo que, mais do que os fiéis de outras religiões, caracteriza os católicos, uma coletividade que vai cada vez menos à missa e dá cada vez menos ouvidos a ordens como não praticar o sexo antes do casamento, não adotar métodos anticoncepcionais, não se divorciar e não recorrer ao aborto.
Eis no entanto – suprema surpresa – que o próprio Vaticano deixa passar uma grande relativizada ao aceitar como milagre o nascimento do filho de um casal que, aos olhos da Igreja, vivia em pecado. De duas, uma. Ou bem o próprio Vaticano, no fundo, reconhece como inviável o caminho da rigidez, ou bem frei Galvão, um homem da virada do século XVIII para o XIX, mas que lá em cima tem tido tempo de sobra para atualizar-se, encara os usos da sociedade do século XXI de forma mais suave do que Bento XVI. Sim, eles viviam em pecado, mas também mereceriam um milagresinho.
Roberto Pompeu de Toledo - Fonte: Veja - edição 2008.
JULGAMENTO
Havia numa aldeia um velho muito pobre que possuÃa um lindo cavalo branco. Numa manhã ele descobriu que o cavalo não estava na cocheira. Os amigos disseram ao velho:
- Mas que desgraça, seu cavalo foi roubado!
E o velho respondeu:
- Calma, não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está mais na cocheira. O resto é julgamento de vocês.
As pessoas riram do velho. Quinze dias depois, de repente, o cavalo voltou. Ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso; ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo. Novamente as pessoas se reuniram e disseram:
- Velho, você tinha razão. Não era mesmo uma desgraça, e sim uma benção.
E o velho disse:
- Vocês estão se precipitando de novo. Quem pode dizer se é uma benção ou não? Apenas digam que o cavalo está de volta...
O velho tinha um único filho que começou a treinar os cavalo selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um dos cavalos e fraturou as pernas. As pessoas se reuniram e, mais uma vez, se puseram a julgar:
- E não é que você tinha razão, velho? Foi uma desgraça seu único filho perder o uso das duas pernas.
E o velho disse:
- Mas vocês estão obcecados por julgamentos, hein? Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas. Ninguém sabe ainda se isso é uma desgraça ou uma bênção.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o paÃs entrou em guerra e todos os jovens da aldeia foram obrigados a se alistar, menos o filho do velho. E os que foram pra guerra, morreram...
Quem é obcecado por julgar, cai sempre na armadilha de basear seu julgamento em pequenos fragmentos de informação, o que o levará a conclusões precipitadas. Nunca encerre uma questão de forma definitiva, pois quando um caminho termina, outro começa, quando uma porta se fecha outra se abre...
(Colaboração: Waldeyr)