A VIDA CONTINUA...
O BRASIL CONTINUA
Votos pós-eleitorais: que se minta e roube menos, que impere o estado de direito, que se desarmem os espíritos.
Bem, assim são as coisas. Agora devemos desarmar a árvore, Pôr a decoração de volta nas caixas de papelão – Algumas quebraram – e levá-las para o sótão. W.H. Auden, Oratório de Natal.
Bem, assim são as coisas. Tal qual no poema do inglês Auden, que celebra o fim do Natal, cumprimos mais uma etapa. A interminável temporada eleitoral terminou. Agora é recolher as faixas e os cartazes (felizmente menos numerosos que de outras vezes), ver mais cedo a novela, deixar de comer os dedos uns dos outros, tentar relaxar. O horário político, tão trapaceiro no épico desfile de obras quanto no lirismo rastaqüera das crianças sorridentes, estourando de tanta confiança no futuro, ficou para trás. Ficaram para trás os debates – ai, os debates! Aquelas vozes que já não se agüenta mais ouvir, as respostas que não respondem, as estocadas ensaiadas, os números que sufocam como um travesseiro na cara... Fixemo-nos no que esta campanha trouxe de bom – ela desmoralizou os debates. Nunca mais alguém em seu juízo dirá: "O que está faltando nesta campanha é debate".
Façamos votos de que, com as faixas e os cartazes – e os bonés, e as camisetas, e os palanques nos quais gente com manchas de suor na camisa capricha no truque simplório de ritmar a voz como senha para desencadear os aplausos, e os cretinos em volta, como macaquinhos amestrados, obedecem e aplaudem –, também as altas doses de mentira e de meias verdades sejam recolhidas ao sótão, até a próxima temporada. Não façamos ilusão: a mentira e as meias verdades não serão eliminadas. Elas continuarão nossas companheiras de viagem, mesmo porque muitas vezes provocadas pelo fato de que nós, o eleitorado, não suportaríamos a verdade. (Como disse um governante europeu: "Todos nós sabemos o que devemos fazer. O que não sabemos é como ganhar as eleições depois".) Mas podemos desejar mentiras e meias verdades melhores. Um pouco menos deslavadas, menos cínicas.
Já tivemos campanhas lamentáveis. Quase todas são um atentado à inteligência e ao bom gosto. Desta vez, porém, numa conjunção astral de rara infelicidade, tínhamos um candidato ébrio de soberba, prisioneiro do delírio de ter-se como o Predestinado, o Messias, contra o mestre-escola que aos domingos faz bico como sacristão. Ai!!! Dada a diferença nas preferências em favor de um sobre o outro nas pesquisas, prenunciava-se uma campanha morna. Mas – curiosa campanha, esta – a certa altura o caldo desandou, e a intolerância contaminou vastas fatias da população, dividiu o eleitorado em linhas nítidas de classe social e escolaridade, rachou o país em regiões e estados de preferências opostas.
Devagar com o andor. Assim como se impõe desarmar a árvore, depois do Natal, impõe-se desarmar os espíritos, cumprido este outro marco do calendário que são as eleições. A divisão é uma praga que leva as nações à perdição. Fidel Castro não se recuperou, quase cinqüenta anos passados, do erro de ter dividido o país. Contra ele e seu regime, aguardando a melhor oportunidade, velam inimigos sedentos de vingança. Hugo Chávez foi pela mesma trilha envenenada. Que neste período pós-eleitoral não se venha com a conversa do impeachment ou do "fora" este ou aquele. Não há país que resista a um impeachment a cada temporada. Também não há vantagem, só mais uma manobra de quem cultiva o esporte do tiro no próprio pé, em destronar um presidente para criar a figura ainda mais poderosa do mártir.
Os perdedores devem se consolar com o pensamento de que os governos não podem ser tão diferentes uns dos outros. Fora do sistema não há salvação. Fora do sistema é condenar-se ao atraso, como Cuba ou Coréia do Norte, quando não à fome. Dadas as condicionantes, internas e externas, não sobra tanta margem de manobra. Fora do capitalismo não há salvação. Desejável é que o capitalismo seja temperado pelos ideais de justiça e eqüidade. E pronto. Eis no que se resumem as balizas entre as quais embicar o Estado, na presente quadra histórica. Esperar grandes transformações na passagem de um governo para outro é cair na mesma ilusão de imaginar, na noite do réveillon, que no ano que vem será tudo diferente.
Que o próximo governo não roube, ou roube menos. Que não atente contra esse bem precioso, embora negado pelos cegos e mal-intencionados, que é o estado de direito. E que nossos ouvidos sejam poupados (este é um pedido especial) da hórrida retórica do "jamais visto neste país", ou "pela primeira vez em quinhentos anos". O Brasil não está aí para ser inaugurado toda hora. Nenhum país está. Achar o contrário é fruto da ilusão, da ignorância ou da má-fé. Que sejamos poupados, inversamente, da idéia de que se avizinha o fim do mundo. Também não é assim tão fácil chegar ao fim. Apenas cumprimos um rito, como o do Natal, para o qual se arma a árvore, e depois se desarma, e no outro ano se arma de novo, e depois se desarma. O Brasil continua.
Roberto Pompeu de Toledo.
Fonte: Veja - edição 1980.
ILUSÃO ORGANIZACIONAL
O discurso é conhecido, as palavras soadas com emoção levam muitos as lágrimas, mas convenhamos, essa postura politicamente correta sempre me pareceu uma grande ilusão organizacional. Estou falando sobre a velha pregação de que aqui nessa empresa fazemos parte de uma grande família, de que as pessoas são o que há de mais importante. Caso fosse efetivamente o mais importante; salário não estaria na coluna das despesas, mas sim na de investimentos, o departamento de Recursos Humanos chamaria Desenvolvimento de Seres Humanos, e o processo de demissão muito mais justo e somente ocorreria em último caso, afinal é difícil pai ou mãe mandar filho embora, não é verdade?
Quero gerar uma reflexão sobre o tema, e pelo amor de Deus, não pense que sou contra as pessoas ou um desses capitalistas selvagens que só pensam no lucro a qualquer custo. Muito pelo contrário! Somente quero colaborar para que essa grande ilusão afete menos sua carreira, pois palavrinhas como segurança e estabilidade no emprego praticamente já não existem mais, pelo menos para a grande maioria da população. Pretendo somente ajudá-lo a entender que tudo tem o seu devido lugar. Vamos aos pontos:
Pessoas não são o que há de mais importante na organização. Na verdade o que importa são a integração e o equilíbrio entre o modelo de negócio vigente, as tecnologias e sistemas adotados, os relacionamentos com clientes, fornecedores e comunidade e é claro as pessoas que trazem vida à essa empresa. Todos são importantes! Funcionários e já ex-funcionários da Varig demonstraram publicamente seu amor à empresa. Raça, uma enorme vontade em dar a volta por cima, mas só isso não bastou. A empresa tem um modelo de negócio obsoleto, e não conseguiu ao longo do tempo se adequar a uma nova realidade. Os resultados todos sabem!
Esforço em demasia não comove ninguém, empresas querem resultados. Trate de sempre pensar em como melhorar o seu desempenho, e isso não é só bom para a empresa em que você trabalha. E bom para você, para a sua vida! Nada de ficar estagnado sempre usando as mesmas velhas soluções para os novos problemas. Busque o algo a mais! Trabalhe com inteligência e use sua energia em algo que efetivamente trará algo de bom e novo para sua organização. Crie sua própria sorte. Faça mais do que os outros, mas sem acabar com sua saúde, relacionamentos amorosos ou boas amizades.
Regras existem para dar um rumo, mas não são verdades incontestáveis. O mundo está cheio de regras e isso é bom! Mas em excesso cria bloqueios que com o tempo se tornam intransponíveis. Permita-se quebrar algumas regras, fazer algo diferente. Permita que as pessoas da sua equipe experimentem algo novo. Caso hoje fosse proibido vender da forma como vendemos, como iríamos criar um novo processo de vendas? E também perceba as regras que inibem ou tornam sua empresa mais lenta e burocrática. Lembre-se de que regras existem para ajudar e não atrapalhar o desenvolvimento das pessoas.
Pode ter certeza, um dia você vai sentir raiva, medo, tristeza ou alegria. Você é um ser humano e tem todo o direito de se sentir pressionado ou incomodado. Mas esses sentimentos são seus. Perceba como você encara as situações adversas, inconvenientes e a forma como reage. Isso é determinante para seu sucesso. Tenha atividades que te levem para outro mundo onde possa esquecer de tudo por alguns momentos. Importante: com pessoas de fora da empresa, assim você aprimora o networking e muda um pouco de assunto e ares.
A sua família está na sua casa e não na empresa. Mesmo que você trabalhe em um ambiente familiar é importante saber distinguir a vida profissional da pessoal, o relacionamento entre pais e filhos ou entre parentes. A carreira é sua e ao final você vai perceber que tudo dependia de como percebia, interpretava e reagia a cada situação. Tudo pode ser feito de uma maneira diferente, mas somente no presente, o passado já era e o futuro ninguém sabe. Mudanças são feitas no presente! Quem tem medo, vive pela metade. Liberte-se do medo. Pergunte sempre: o que de pior pode acontecer se tudo der errado? Mas sem esquecer de também perguntar: o que de melhor pode acontecer se tudo der certo?
Pronto, fim de artigo. Não se iluda com a sensação de que seu ambiente de trabalho é como aquela família típica italiana barulhenta, briguenta, mas onde todos se amam. A grande aldeia organizacional é diferente! Com quantos "irmãos" de seu primeiro emprego você ainda se relaciona? E também não caia no papo de que as pessoas são o mais importante, pois isso cria uma sensação de segurança que já não existe mais. Como já escrevi tudo é interdependente e você tem nada mais do que um contrato de trabalho com sua empresa. Trate de cuidar bem do seu comportamento e atitudes caso queira ter uma história com um final feliz. O importante não é só descobrir os por quês, mas sim os para quês de sua carreira.
Paulo Araújo - palestrante e escritor. Autor de Motivação - Hoje e Sempre (editora Qualitymark)
(Colaboração: Brazil & Modal)