O PODER DO PENSAMENTO
"Se assimilamos certo grau de decepções e as substituímos por otimismo e esperança, teremos então um elemento fortificante em nossa vida. A escolha será sempre sua e este é o maior poder que uma pessoa pode ter: poder escolher. Pode optar entre agir movido pela fé e pela esperança, ou reagir com medo e insegurança. Pode escolher entre desfrutar a sobrevivência ou simplesmente sobreviver ..." (Legrand)
(Colaboração: Tadeu)
A ARTE DE CONVIVER COM PESSOAS INSUPORTÁVEIS NO TRABALHO
Não importa qual o ramo de atividade que exercemos, mais cedo ou mais tarde temos que conviver com pessoas com um temperamento difícil. O que fazer?
Vejam a entrevista com Bruna Gasgon, consultora em comunicação e recursos humanos, que criou apelidos para os tipinhos insólitos que aparecem nos escritórios e ensinar de uma maneira divertida como neutralizar as más influências.
"Pode ter certeza, em algum momento de sua vida você foi (ou é) insuportável para alguém. Então você tem que refletir sobre as suas atitudes para que o clima do escritório não piore".
Conheça os principais tipinhos difíceis de escritório e aprenda a lidar com eles:
BRUCUTU
Perfil:
É aquele que sente prazer especial em humilhar as pessoas, principalmente os subordinados. Ele grita, dá respostas grosseiras e parece que nem percebe o quanto magoa os que estão ao seu redor. Geralmente, ou você engole, ou vira brucutu também. Nenhuma das duas alternativas é interessante.
Por que ele é assim?
Um brucutu pode ter acordado com o pé esquerdo, estar de TPM, "a Tendência Para Matar", disse Bruna. Geralmente tratam mal os subordinados porque acham que têm poder suficiente para escapar de protestos.
O que fazer?
Quando alguém estiver explodindo com você, deixe que a pessoa fale tudo o que quer. "Espere acabar a corda", explica Bruna. Fique parado na mesma posição. "É estranho, mas em todas as pesquisas que fiz, quando alguém se move numa situação dessas, a pessoa que está explodindo fica ainda mais brava". Finalmente, depois que o brucutu se calar, diga em um tom de voz calmo e baixo que você é um profissional, que merece ser respeitado e de gostaria muito que isso não acontecesse mais. "Pode acreditar, o brucutu se desmonta na hora porque ele percebe que reagiu de forma errada".
SABE-TUDO
Perfil:
Sabe aquele chato que sempre te corta no meio de uma reunião porque ele tem certeza de que sabe muito mais sobre o assunto? Também é aquele que fica o tempo todo contando vantagem, falando da viagem sensacional que fez, do melhor restaurante da cidade que só ele conhece, do carrão que comprou.
Por que ele é assim?
Pessoas que tentam mostrar o tempo todo o como são melhores têm um profundo complexo de inferioridade, são muito inseguras, diz Bruna.
O que fazer?
Vire o melhor ouvinte do mundo. Não tente dizer que o seu é melhor ou que você não acha a nova camisa dele tão fantástica assim.. Quanto mais você der corda, mais ele vai querer se exibir.
KID TOCAIA
Perfil:
O mais nocivo de todos. É aquele colega que faz de tudo para que você fique mal diante dos olhos do seu chefe e que comemora secretamente cada falha que ele vê em você. Fofoqueiro, costuma dar umas alfinetadas em você no meio de uma rodinha e depois solta um "eu tava brincando, amiga!".
Por que ele é assim?
O Kid Tocaia quer alguma coisa que você tem. Pode ser seu cargo, seu cabelo, seu namorado. São patologicamente invejosos.
O que fazer?
É preciso estar atento para que as mentiras espalhadas pelo Kid Tocaia não acabem com a sua imagem na empresa. "O mais complicado é segurar a vontade de sair no braço com o invejoso, mas não adianta revidar. Se você estiver explodindo, vá ao banheiro mais próximo e dê uns gritos de caratê para aliviar a tensão", aconselha Bruna. Não adianta ficar remoendo o ódio, afinal de contas você não é culpado pela inveja do Kid. "Dedique-se ao seu lazer. Pegue um dia para dar um passeio sozinho. Não adianta ficar acumulando a raiva porque isso faz mal à saúde e
atrapalha ainda mais o seu trabalho", disse a consultora.
FRENTE FRIA
Perfil:
Uma nuvem preta paira apenas sobre a cabeça dele. Tudo está ruim e a pessoa se sente tão mal com tudo e todos que contamina o escritório.
Por que ele é assim?
Os frente fria são pessoas muito melancólicas, que optaram por olhar sempre para o lado negativo das coisas. Sabe aquela história de ver que o copo está meio vazio?
O que fazer?
Não tente argumentar ou brincar de "Jogo do Contente". Eles vão inverter tudo que você disser e achar ainda mais "provas" de que o mundo vai acabar antes das seis da tarde. Principalmente, NUNCA mude seus planos por causa de uma opinião do frente fria.
DISQUE PROBLEMA
Perfil:
Primo do frente fria, é viciado em reclamar. Se trocam os computadores, reclama que não vai saber mexer nos programas novos. Se pintam as paredes, reclama que o ambiente ficou muito claro.
Por que ele é assim?
Para essas pessoas, reclamar é um vício. É impressionante como eles conseguem estragar a melhor das intenções.
O que fazer?
Chame a pessoa para conversar e fale francamente o que você acha das atitudes dela. Não tente atacar, a conversa tem que ser bastante amigável. Você pode até começar brincando, chamando a pessoa de reclamona. "Na hora o Disque Problema pode fugir da conversa, mas com certeza no dia seguinte ele vai falar com você e tentar reclamar menos", disse Bruna.
(Colaboração: Valéria)
A República do papel
"A regra, criada para controlar o mundo real,
progressivamente transmigra para o controle
de papéis que pouco têm a ver com
os comportamentos a coibir"
O chofer do táxi pagou uma multa de 800 reais ao ser pego em uma blitz sem portar sua carteira – embora o computador da polícia mostrasse que ele possuía habilitação. Foi-se o carro no reboque e vários meses de salário. O passageiro na fila, à minha frente, não pôde embarcar no vôo, pois identificou-se com uma carteira de habilitação cujo exame de visão estava vencido. Carteira esquecida no bolso da calça errada não causa acidentes fatais nem o vencimento do exame de visão põe em dúvida uma identidade. Mas o encantamento patológico com os papéis substitui o bom senso.
Fixemo-nos no trânsito e perguntemos que objetivos últimos teria a existência dos Detrans e seu exército de funcionários. O mais pungente objetivo seria evitar mortos e feridos. Como as principais causas são excesso de velocidade e alcoolismo, é isso que deveria ser reprimido. Ou seja, bafômetros e radares, onde ocorrem acidentes e nas horas em que são mais freqüentes (noites de fins de semana). E também controle dos freios, pneus e luzes.
Coibir roubo de carros é outro objetivo central. Para isso, é preciso fiscalizar as rotas de fuga (e a polícia vigiar os desmontes). Seqüestrar veículos barulhentos aumenta o conforto da população. Ao fazer o trânsito fluir, libera-se o tempo de todos, para produzir mais ou para o lazer. Então, cumpre limitar estacionamentos em vias congestionadas e punir quem obstrui o trânsito. Finalmente, há que assegurar o pagamento das taxas e impostos, o que não requer atenção especial, pois quem atrasa paga multa e não se podem evitar por muito tempo as dívidas acumuladas.
As burocracias são atraídas pelo fetichismo do papel. Existe uma ânsia de buscar o carimbo atrasado, o papel esquecido em casa, a nova versão do comprovante, a firma reconhecida. Tudo gira em torno do papel. As blitze são cartórios ao ar livre. Em paralelo a tal purismo legalista, quase nada se faz para evitar acidentes. Os pneus relincham na madrugada. O radar multa os distraídos, não os irresponsáveis da noite. As baladas fazem subir o teor etílico no sangue. E as mortes geram estatísticas vergonhosas de acidentes. Mas nada disso é prioridade, pois vivemos no império do papel.
É tudo culpa do Detran? É, mas ele é assim por ser bem brasileiro. Por razões que remontam à nossa história, adoramos o papel, o carimbo, a averbação, o deferimento. A regra, criada para controlar o mundo real, progressivamente transmigra para o controle de papéis que pouco têm a ver com os comportamentos a coibir. E pobre daquele a quem falta algum carimbo ou que perdeu a carteira por estacionar mal!
Na magia negra, alfinetamos um boneco que representa nosso desafeto. Transferimos para o boneco as punições que gostaríamos de infligir à pessoa real. Nossa sociedade cartorial faz mais ou menos a mesma coisa. O papel é o boneco perfurado com os alfinetes metafóricos do bloquinho de multas – o ícone do poder constituído. Em vez de controlarmos os acidentes, controlamos papéis que pouco têm a ver com eles. Não há erros de essência no código de trânsito, pois está tudo lá, o que falta é o bom senso de decidir o que controlar com rigor e o que ignorar. Na raiz do problema está o gostinho de nossa sociedade por controlar o papel e fingir que está controlando a realidade.
A temeridade de instalar e fechar uma firma, obter alvarás ou exportar põe a descoberto a mesma patologia de atribuir propriedades mágicas aos formulários ou autorizações. A Universidade Harvard levou um mês para abrir um escritório em Santiago do Chile. No Brasil, foram seis meses na batalha dos papéis. Que interesses coletivos ficaram mais resguardados com tais torturas burocráticas?
O problema não se origina na aplicação desastrada da lei, no policial inflexível ou nos administradores públicos perseguindo os moinhos de vento de papel. A questão é que, em nossa sociedade, eles não são vistos como desorientados, mas como defensores da ordem e paladinos da justiça. Isso porque cremos na magia negra do papel. Contemplando o reboque desaparecer com seu carro, o taxista apenas lamenta o azar de haver sido pego na blitz.
Claudio de Moura Castro é economista
Roberto Pompeu de Toledo
Brasil, campeão
de corrupção
Ou, no mínimo, campeão no
número de diplomatas que violam
as leis de trânsito em Nova York
O mais recente e mais original ranking internacional de corrupção coloca o Brasil em posição de destaque como o país mais corrupto da América Latina. Vencemos o Chile (quem não esperava?), vencemos o Paraguai (quem esperava?!), deixamos atrás, muito atrás, nosso histórico rival, a Argentina. Numa lista de 146 países de todo o mundo, organizada do mais corrupto para o menos, o Brasil ocupa o 29º lugar, superado apenas por um batalhão de africanos (Chade, Sudão, Moçambique e quinze outros), uns tantos asiáticos (Kuwait, Paquistão, Síria e quatro outros) e um trio da Europa do Leste (Bulgária, Albânia e Sérvia e Montenegro).
O ranking em questão é o dos países cujos diplomatas mais desrespeitaram as leis de trânsito em Nova York. Dois pesquisadores americanos, Raymond Fisman, da Universidade Colúmbia, e Edward Miguel, da Universidade da Califórnia-Berkeley, adotaram o inovador critério de buscar, entre os diplomatas acreditados junto às Nações Unidas, aqueles que mais abusaram da vantagem de ser isentos do pagamento de multas de trânsito, para medir o grau de corrupção dos respectivos países. No topo da lista aparece o Kuwait, com um total de 246,2 multas não pagas por diplomata num período de cinco anos, seguido por Egito (139,6), Chade (124,3), Sudão (119,1) e Bulgária (117,5). Entre os 22 países que, com nenhuma multa não paga, ocupam o final da lista, figura uma maioria cuja presença nessa honrosa parte do ranking já era esperada, como Suécia, Noruega, Canadá e Japão, notórios respeitadores das leis, e também algumas surpresas, como República Centro-Africana e Equador. Ao Brasil são atribuídas 29,9 multas não pagas.
Com a imunidade diplomática aconteceu mais ou menos o mesmo que com a imunidade parlamentar no Brasil. Ela foi criada para garantir a independência dos diplomatas e protegê-los contra perseguições de países hostis. Assim como a imunidade parlamentar, no Brasil, com o tempo passou a acobertar até crime de sangue, para não falar nos assaltos ao Erário, a imunidade diplomática foi estendida até às infrações de trânsito. Em Nova York a situação tornou-se tão insuportável que em outubro de 2002 o Congresso americano votou uma lei permitindo o guinchamento dos veículos diplomáticos estacionados em local proibido, a cassação das permissões especiais da ONU para estacionamento e o corte da ajuda prestada pelos Estados Unidos aos países infratores em 110% do valor das multas devidas. A partir daí, as violações caíram drasticamente.
Por isso mesmo, os pesquisadores escolheram trabalhar com o período anterior à nova lei. Seus dados são referentes aos cinco anos entre novembro de 1997 e outubro de 2002. Os carros com chapas assinaladas pelo "D" que os identifica como de uso diplomático não deixam de receber as notificações pelas infrações cometidas, apesar de seus responsáveis não serem obrigados a pagá-las – daí ter sido possível computá-las. Um problema que poderia distorcer os dados é a variação do número de diplomatas mantido por cada país junto à ONU, indo dos 86 da Rússia aos três do Burundi, da Eritréia ou de Papua Nova Guiné, segundo os números de 1998, tomados como referência. Optou-se por usar como critério as violações per capita. O Brasil, no ano de referência, tinha 33 diplomatas. Nossas 29,9 multas não pagas representam o total de violações cometidas por cada um deles.
A maioria das multas refere-se a estacionamento em local proibido. Isso caracterizaria realmente, como querem os pesquisadores, um ato de corrupção? Eles respondem sim. O ato de violar uma lei de trânsito, valendo-se da impunidade, caberia na definição-padrão de corrupção, formulada pela organização Transparência Internacional: "O abuso do poder em benefício próprio". Eles também estão convictos de que o sistema singelo que inventaram oferece um instrumento válido para medir a corrupção nos diferentes países, tanto assim que, segundo eles, o ranking apurado não difere muito de outros existentes para o mesmo fim.
Será? Observando-se a posição de nossos vizinhos na lista, deparamos com situações que causam estranheza. A Argentina figura bem atrás do Brasil, na 92ª posição, com 3,9 multas. Mesmo admitindo, o que é duvidoso, que os argentinos sejam menos corruptos, serão tanto assim? O Chile é o segundo latino-americano do ranking, com 16,5 multas não pagas, e o Paraguai, o terceiro, com treze. É difícil acreditar que o Chile seja mais corrupto que o Paraguai. Há outros casos que contrariam as avaliações baseadas no senso comum e na observação a olho nu das realidades do mundo. Talvez seja uma fantasia, da parte dos pesquisadores, achar que descobriram um método confiável de medir corrupção. Resta que os diplomatas brasileiros abusaram, sim, da impunidade para cometer mais violações às regras de trânsito do que os de todos os outros países da América Latina. Também resta que ficaram entre os 20% que mais as cometeram, entre todos os países do mundo. Que vergonha, Itamaraty.