É PARA PENSAR E AGIR...
PALAVRA DA SEMANA: EUFEMISMO
Em grego, eupheme significava algo como "a arte do bem falar". Como figura de linguagem, eufemismo é a substituição de uma frase realista, porém dolorosa, por outra mais palatável. Por exemplo, "Estou em busca de novos desafios", em vez de "Estou desempregado". Ou "Necessitamos avaliar cuidadosamente cada um dos ângulos estratégicos da questão", em vez de "Estamos confusos e não sabemos bem o que fazer".
Max Gehringer.
Fonte: Época - número 463.
ENTRE A FINLÂNDIA E O PIAUÍ
"Os sistemas educativos que deram certo no mundo são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação"
A Finlândia tem o melhor sistema educativo do mundo. O Piauí possui a melhor escola secundária do Brasil. O que mais haverá de comum entre a Finlândia e o Piauí? É simples, ambos praticam a teoria do feijão-com-arroz educativo.
Ouvindo alguns oráculos da nossa educação, sentimos falta de um dicionário para entender certas palavras e de suplemento de oxigênio para navegar nos ares rarefeitos das teorias recitadas. Para outros, sem doses fartas de tecnologia nada se vai resolver. Mas, esquadrinhando o mundo em busca dos sistemas educativos que deram certo, vamos descobrir que são simples, óbvios e robustos. Praticam o feijão-com-arroz da educação. Vejamos o que dizem as pesquisas peneirando os traços comuns das boas escolas e dos bons sistemas.
• Boas escolas têm clara percepção dos rumos em que navegam, isto é, possuem metas. Além disso, são poucas metas, que não mudam de uma hora para outra e são compartilhadas por todos. E não é só isso. As metas são quantificadas (exemplo: em dois anos, ganhar tantos pontos nos testes).
• O ambiente é sempre saudável, os fluidos são bons e os professores estão satisfeitos. De fato, para os professores, a atmosfera da escola é pelo menos tão importante quanto o salário. Ademais, a sociedade valoriza e prestigia os professores.
• As autoridades dão às escolas muita autonomia para operar. Há forte liderança do diretor ("a escola tem a cara do diretor"). Ele manda. É um real gerente, estando livre para se mover. Mas deve atingir as metas estabelecidas, e seu desempenho é avaliado com rigor. Quase não é preciso dizer: nem sua indicação é moeda de troca na política nem ele é eleito pelos seus pares.
• Sejam públicas ou privadas, as escolas são administradas como as boas empresas. Há cobrança de resultados e vantagens para quem desempenha bem seu papel. Os melhores mestres são colocados nas turmas mais difíceis. Ao mesmo tempo, malandros e incompetentes ganham puxões de orelha.
• Provavelmente, os professores nunca ouviram falar nem nos autores nem nas teorias da moda pedagógica. Contudo, conhecem bem os assuntos que ensinam e aprenderam a ensinar. De fato, pedagogia para eles significa saber ensinar cada ponto da matéria.
• Há muita ênfase em aplicar as teorias em problemas da vida real – em vez de decorar fatos, fórmulas e definições. Os livros são de boa qualidade, detalhados e universalmente usados. Os professores não precisam "criar" sua aula (embora não esteja proibido), pois existe uma retaguarda de planejamento e explicitação de tudo o que acontece na aula (os livros e os guias dos professores oferecem bancos de perguntas, de exercícios e de aplicações práticas).
• Os currículos oficiais são claros e precisos, dizendo exatamente o que é para ser ensinado e aprendido. Segundo um funcionário do Ministério da Educação da Finlândia: "Nosso currículo prescreve, nossos professores ensinam e nossos alunos aprendem as mesmas competências e conhecimentos que são avaliados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)".
• A sala de aula é convencional. Existem avaliações freqüentes, bastante dever de casa e muito feedback para o aluno. A jornada de trabalho é longa (pelo menos cinco horas), mas não há necessariamente tempo integral. Os alunos são seriamente cobrados e precisam estudar. A disciplina é "careta" (por exemplo, não se pode conversar durante a aula).
• A família acompanha a vida escolar do aluno e o vigia de perto, para assegurar que ele fez o dever de casa. Além disso, conversa muito com ele e garante a existência de um ambiente físico e psicológico que favorece o estudo e o aprendizado. Televisão berrando ou sintonizada na novela pode ser a distração da família, mas desvia o aluno do seu maior projeto de vida, que é a educação.
Quando examinamos as melhores escolas do Enem, lá está também a predominância da doutrina do feijão-com-arroz, observada nas melhores escolas de outros países. Colecionam os melhores lugares as instituições (confessionais ou não) de tradição rígida, os colégios militares e outras do mesmo estilo. Ainda bem que não são necessárias fórmulas mirabolantes para oferecer uma boa educação.
Claudio de Moura Castro é economista.
Fonte: Veja - Edição 2002.
O QUE É ISSO, MATILDE?
"O projeto do governo Lula é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco"
O governo Lula acaba de brindar a sociedade com mais uma pérola inesperada: descobriu-se que a ministra da Igualdade Racial, que vem a ser a maior autoridade oficial em questões raciais, não sabe o que é racismo. Ou, dito de outro modo, tem uma visão exoticamente peculiar sobre racismo. Em entrevista à BBC, por ocasião dos 200 anos da proibição do tráfico negreiro pela Inglaterra, a ministra Matilde Ribeiro foi indagada se no Brasil, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, também havia racismo de negro contra branco. A ministra saiu-se com a declaração que há de lhe ficar encravada na biografia e merece ser reproduzida na íntegra: "Eu acho natural que tenha", começou a ministra, referindo-se ao racismo de negro contra branco no Brasil. "Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando a isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou."
Então, para ficar claro: a ministra da Igualdade Racial disse que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco".
O mundo deveria ter desabado, mas nada aconteceu: a ministra continua solidamente no cargo. Pelo seu raciocínio, o racismo, esse crime inafiançável no Brasil mestiço e miscigenado, é uma discriminação de mão única. Se um negro hostiliza um branco não é uma coisa boa, mas é uma vingança compreensível pelo açoite de séculos – já branco hostilizando negro é racismo. Se um negro despreza um branco também não é uma coisa boa, mas ele estará expressando um repúdio natural a uma agressão histórica – e branco desprezando negro é racismo. Se um negro se insurge contra um branco é um desabafo compreensível, embora indesejável, diante da opressão. O contrário é racismo.
Em que categoria a ministra Matilde colocaria os descendentes daqueles negros que, uma vez livres, tornaram-se eles próprios donos de escravos igualmente negros? São negros contra os quais outros negros podem naturalmente se insurgir, embora isso não seja uma coisa boa? E em que categoria a ministra incluiria a imensa massa brasileira de pardos, filhos da miscigenação entre açoitados e açoitadores?
A visão da ministra Matilde sobre racismo é um descalabro monumental, mas, no fundo, dá para compreender. Porque tudo se integra perfeitamente no projeto racial do governo Lula. Com seus estatutos de igualdade racial escandalosamente discriminadores, com suas pesquisas raciais em escolas, com suas políticas de cotas raciais em universidades e no serviço público, o projeto do governo é forçar o Brasil a renunciar ao orgulho da mestiçagem – fonte de toda a nossa originalidade – para adotar uma versão americanizada de país bicolor, preto e branco.
Com todo o orgulho, claro.
André Petry.
Fonte: Veja - Edição 2002.
O CONSUMIDOR TRANSFORMA O MUNDO
Quando você compra uma roupa, não está escolhendo apenas o que vai vestir hoje, mas o mundo em que vai viver amanhã. Prestigie empresas que investem no meio-ambiente, na comunidade e em seus colaboradores.
O Instituto Akatu defende e divulga a idéia do consumo consciente, que definimos como um processo de escolha que equilibra três fatores: a satisfação de necessidades e desejos do consumidor, os benefícios para a sociedade e a sustentabilidade do planeta. O consumidor consciente busca satisfazer seus desejos e necessidades, mas leva em conta também o impacto de suas ações sobre a economia, a sociedade e o meio ambiente toda vez que usa água ou energia elétrica, joga fora o lixo ou vai às compras. E percebe o enorme poder transformador que tem nas mãos, porque no simples ato de ir às compras está prestigiando e valorizando determinadas empresas, contribuindo para que elas continuem sua ação no mundo. Por isso, o ato de consumo é capaz de levar as pessoas a mudar o mundo.
Mas isto é possível? Sim, quando as pessoas escolhem comprar produtos ou serviços de empresas socialmente responsáveis: as que respeitam e dão algo em troca à sociedade onde operam. Indústrias, por exemplo, que não poluem o ar ou a água. Ou lojas de móveis que não vendem peças fabricadas com madeira retirada ilegalmente das florestas nativas. Ou ainda empresas que investem em suas comunidades, seus funcionários e suas famílias.
Privilegiando essas empresas, o consumidor deixa clara sua escolha por quem ajuda a construir uma sociedade melhor e mais justa. Seus atos de consumo tornam-se atos de cidadania, nos quais pequenos gestos rotineiros têm o poder de mudar o mundo.
(Colaboração: Sueli)
O DNA DA EDUCAÇÃO
Todos concordam que o problema da educação reside na formação insuficiente dos professores. Mas será isso mesmo?
HÁ ALGUNS poucos consensos entre os brasileiros quando o assunto é educação. Um deles é o de que o problema reside na formação insuficiente dos professores.
Afirma-se que a preparação inicial é fraca, tanto nos cursos de licenciatura quanto nos normais superiores ou até nas faculdades. A essa voz unânime soma-se, hoje em dia, a crítica de que falta formação em serviço, ou formação continuada -a aprendizagem ao longo da vida. Quando há tanta unanimidade, alguma coisa está errada.
Políticos de variadas tendências, meios de comunicação, comunidade de pais, todos concordam nesse ponto. Mas será isso mesmo?
Os professores se formam cada vez mais cedo. As salas de aula são cada vez maiores. As escolas, mais distantes, pois seguem o crescimento das cidades e as fronteiras do campo.
As exigências da interdisciplinaridade são cada vez mais complexas.
Tudo isso traz enormes cobranças para os professores. Não bastam, portanto, apenas mais formação por parte das faculdades e serviços com cursos a distância.
O problema é complexo, pois não se trata apenas de formá-los bem mas também de melhorar suas capacitações a cada dia. Para isso, temos que ter reuniões pedagógicas mais eficazes, planejamentos de curso sistemáticos, ligações mais intensas com a comunidade, uma legislação de financiamento da educação, projetos municipais, sistema de avaliação, assim como planos de carreira, boa gestão, bibliotecas e equipamentos, ou seja, o cenário em que a formação acontece e se viabiliza concretamente.
Para discutir as questões de fundo das políticas que articulam tais gargalos, um grupo de parlamentares se reuniu em Salvador, num encontro fechado, para ouvir e discutir com especialistas os fundamentos e as questões que devem ser enfrentadas.
O debate foi marcado por uma visão controversa sobre o tema, de forma a favorecer um diálogo não marcado por vieses ideológicos, na certeza de que da discussão e das posições antagônicas nascem a evolução do pensamento e a grandeza das soluções.
O Instituto DNA Brasil promoveu esse encontro como parte de um programa oferecido aos parlamentares brasileiros -a exemplo do que já acontece na Alemanha, com o apoio do Instituto Konrad Adenauer, e nos Estados Unidos, com o Instituto Aspen-, dissecando, nessa primeira versão, a educação, e não apenas no Brasil mas também no mundo.
Educação fundamental, ensino médio, avaliação e reforma universitária brasileira, à luz da européia, concretizada no Tratado de Bolonha, aliado a alguns estudos sobre países como Chile, Espanha, Coréia e Irlanda, que enfrentaram problemas similares aos do Brasil, foram a base de sustentação dos painéis e dos grupos de estudo.
O encontro não tinha a finalidade de ser presunçosamente conclusivo, mas, sim, formativo. De abrir princípios que fugissem do senso comum e da eterna recorrência sobre como os professores precisam ser preparados, da afirmação de que os alunos sempre estão desmotivados, dos currículos tortuosos, da universidade que "absorve" a maioria dos recursos disponíveis, da falta de investimento, da culpa por uma má escola ser conseqüência da invasão de gestores sem cultura e sem interesses.
Respeitados os princípios políticos e os fundamentos teóricos das diversas posições, partimos para estressar dissensos e buscar consensos, num clima colaborativo que provou a importância de debates fechados e compromissados como esses, que nos preparamos para repetir com outros temas.
Ao final, conclusões, sim. Num documento, agora em formato de livro, lançado no bom momento em que o ministro Fernando Haddad apresenta seu fundamentado projeto à nação, os especialistas elencaram princípios a serem garantidos para uma educação de qualidade. Questões que passam por plano nacional de educação, recursos subvinculados, políticas educacionais, custos, ofertas e demandas estão incluídas como uma contribuição do instituto e seus patrocinadores para o que imaginamos ser um caminho fundamental para o alcance do destino deste país.
Além das propostas, a reafirmação da certeza de que não apenas pela educação, mas jamais sem ela, avançaremos. Melhor, conclusão esta compartilhada entre as forças vivas da sociedade e, especialmente, dos representantes da nossa jovem democracia, homens que articulam as leis e as assinam e nos ajudam a cumprir as ordens do progresso e do futuro do Brasil.
HORACIO LAFER PIVA, 49, empresário, é presidente do Instituto DNA Brasil e da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) e ex-presidente da Fiesp/Ciesp (Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).
FERNANDO DE ALMEIDA, 63, professor doutor em filosofia da educação pela PUC-SP, é conselheiro do Instituto DNA Brasil.
Fonte: Folha de S.Paulo - 29/03/2007