O SHOW DOS "REIS" DA LOGĂSTICA
LOGĂSTICA UNIVERSITĂRIA (FACULDADE CHEGA AOS CAMPOS DE REFUGIADOS NO QUĂNIA)
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Os campos de refugiados de Dadaab, no norte do QuĂȘnia, ocupam uma paisagem ĂĄrida, remota, empoeirada e inĂłspita, fustigada pelo sol ardente e violentas tempestades de areia que surgem do nada.
Os trĂȘs primeiros campos foram criados no inĂcio da dĂ©cada de 1990, quando a guerra civil na vizinha SomĂĄlia levou milhares de refugiados a atravessar a fronteira. Desde entĂŁo, dois outros campos surgiram no deserto. Cerca de 500 mil pessoas vivem aqui, fazendo do lugar o maior complexo de refugiados do mundo.
A proximidade com a SomĂĄlia torna Dadaab um lugar Ă s vezes perigoso. VĂĄrios funcionĂĄrios de organizaçÔes humanitĂĄrias foram sequestrados ali nos Ășltimos anos, incluindo dois que foram levados em 2011 e libertados apenas neste ano. No ano passado, um incidente terminou num tiroteio entre sequestradores e soldados quenianos.
Em Dadaab existe acesso a aulas do ensino primĂĄrio e secundĂĄrio, mas, para alĂ©m disso, as oportunidades educacionais tĂȘm sido muito limitadas.
Agora foi criado um programa-piloto para oferecer a 400 estudantes dos campos a oportunidade de conquistar diplomas universitĂĄrios e de licenciatura.
"Muitas pessoas permanecem no complexo de refugiados e ficam ociosas", contou Abdullahi Abdi, 20. "VocĂȘ nĂŁo pode imaginar que oportunidade de ouro isso representa para nĂłs."
A ideia surgiu de um programa do World University Service of Canada (Serviço UniversitĂĄrio Mundial do CanadĂĄ), que jĂĄ ofereceu bolsas de estudo em universidades canadenses a 1.350 refugiados de todo o mundo nos Ășltimos 35 anos.
"InĂșmeras vezes, os bolsistas do Wusc falavam que, embora fosse fantĂĄstico ter essa oportunidade, muitos de seus irmĂŁos e pares continuavam nos campos de refugiados", comentou Jacqueline Strecke, da agĂȘncia de refugiados da ONU. "O dinheiro gasto para levĂĄ-los ao CanadĂĄ poderia render muito mais se fossem disponibilizadas oportunidades dentro do prĂłprio campo."
A Universidade York, de Toronto, vai oferecer seu certificado de estudos pedagĂłgicos, com 30 crĂ©ditos, e a Universidade Kenyatta, de NairĂłbi, oferecerĂĄ um diploma de licenciatura no ensino primĂĄrio. Um curso de licenciatura em ensino secundĂĄrio serĂĄ dado conjuntamente pela Universidade Moi, do QuĂȘnia ocidental, e a Universidade da ColĂșmbia BritĂąnica.
"SabĂamos que seria um projeto grande, em matĂ©ria de recursos, organização e idealização", disse Wenona Giles, professora da Universidade York e lĂder do projeto. "Vamos ministrar cursos de graduação. Isso nĂŁo tinha sido feito antes. Foi preciso muita ousadia."
As aulas, que serĂŁo presenciais e on-line, acontecerĂŁo na cidade de Dadaab. Os estudantes estarĂŁo em contato tambĂ©m com mentores no CanadĂĄ e no QuĂȘnia.
Do primeiro grupo de estudantes, 17% eram mulheres, refletindo o fato de que as garotas tendem a abandonar o ensino secundårio devido a pressÔes familiares e religiosas. O plano é elevar a proporção de mulheres para pelo menos 40%.
Se o programa funcionar, a ideia pode ser levada a outros campos de refugiados. "Com frequĂȘncia, no mundo humanitĂĄrio, nos animamos tremendamente com soluçÔes e corremos para tentar levĂĄ-las a todos os outros lugares", explicou Mary Tangelder, diretora do programa Educação em EmergĂȘncias da Universidade de NairĂłbi.
A violĂȘncia jihadista islĂąmica vem crescendo na Ăfrica oriental, e hĂĄ rumores de que militantes somalis do Al Shabaab podem estar vivendo nos campos de refugiados.
"O ensino superior oferece uma alternativa a, por exemplo, ingressar numa milĂcia ou fazer trabalhos perigosos", disse Giles, da Universidade York. "DĂĄ aos jovens a oportunidade de mudar sua visĂŁo do campo de refugiados, uma chance de acessar o ensino superior -uma chance, quem sabe, de voltar a seu paĂs e reconstruir a SomĂĄlia."
Ginanne Brownell â Fonte: Folha de S.Paulo â 22/10/13.
Reportagem original em inglĂȘs do âThe New York Timesâ:
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