FM - Faculdade Mental

FORMANDOS & FORMADOS - 12/01/2008

O SHOW DOS "REIS" DA LOGÃSTICA CONTINUA...

LOGÃSTICA DE PESSOAS

Pode atÃ© ser meio apertado e desconfortÃ¡vel, mas sempre chega ao destino final...

(ColaboraÃ§Ã£o: Tadeu)

PALAVRA DA SEMANA: DELETAR

Por que usar esse anglicismo quando temos palavras nossas? Durante sÃ©culos, tanto o idioma portuguÃªs quanto o inglÃªs se enriqueceram emprestando palavras do francÃªs â€“ que os franceses foram garimpar no latim. Ã‰ o caso do verbo latino delere, â€œremoverâ€, que na FranÃ§a virou dÃ©lÃ©ter e foi para a Inglaterra como delete. O mesmo caminho de eliminare â€“ Ã©liminer â€“ eliminate. â€œEliminarâ€ chegou ao Brasil, via Portugal, no sÃ©culo XVI. â€œDeletarâ€ sÃ³ estÃ¡ chegando agora, sem escala. Nesse contexto de emprÃ©stimos e importaÃ§Ãµes, como definir o que seria, precisamente, uma â€œpalavra nossaâ€?

Max Gehringer - Fonte: Ã‰poca - NÃºmero 503.

ESCOLA: FÃBRICA DE CIDADÃƒOS

Parece-me importante manter independentes, na medida do possÃvel, famÃlia e escola, para que cada uma delas possa realizar suas funÃ§Ãµes. Ã€ famÃlia, cabe forjar homens, e Ã© especÃfico da escola formar cidadÃ£os. Assimilar uma informaÃ§Ã£o nova Ã© tarefa dependente do status que atribuÃmos Ã fonte emissora: se vemos a origem da informaÃ§Ã£o como respeitÃ¡vel, nossa tendÃªncia Ã© aceitÃ¡-la.
Acontece que os professores, importante fonte de informaÃ§Ã£o, vivem uma ampla desmoralizaÃ§Ã£o. NÃ£o sÃ£o levados a sÃ©rio nem pelo governo, nem pelos alunos, passando por pais e tambÃ©m pelos mestres entre si. A famÃlia Ã© regida pela tradiÃ§Ã£o, pela afetividade e Ã© predominantemente oral. A escola Ã© uma instituiÃ§Ã£o submetida ao Estado, direta ou indiretamente. SÃ£o comunidades letradas, com regras estabelecidas dentro de um sistema hierÃ¡rquico.
Para a crianÃ§a, Ã© complicado passar do lar, do afeto e da oralidade para a impessoalidade da instituiÃ§Ã£o pÃºblica letrada. Na escola, as relaÃ§Ãµes sÃ£o ordenadas por estatutos, leis escritas, alÃ©m de ideologias e metodologias educacionais. A transiÃ§Ã£o Ã© realizada por meio do professor, a quem cabe preparÃ¡-la para ser cidadÃ£o do mundo. Por que um professor que nÃ£o Ã© prezado deveria ser levado a sÃ©rio pela crianÃ§a? Como ela se sente nessa transiÃ§Ã£o Ã© parte da soma dos sinais que ela capta: como os pais se referem aos professores, como percebem a hierarquia da escola e o estado de Ã¢nimo do professor.
JÃ¡ vai longe o tempo em que os professores eram cidadÃ£os dignos de todo o respeito: conhecidos pelo nome, saudados respeitosamente quando encontrados e lembrados anos depois. Dizem que tudo mudou e que eles sÃ£o mal pagos. Concordo parcialmente com o fato, mas nÃ£o com seus efeitos. Afinal, quem determina salÃ¡rios sÃ£o adultos que jÃ¡ foram alunos e que sÃ£o hoje pais de alunos.
NÃ£o sei se o dinheiro Ã© determinante. NÃ£o sÃ£o poucos os estudos sobre desempenho de tarefas nos quais o pagamento nÃ£o Ã© decisivo. Veja-se todo o movimento de voluntariado! Destaco um fato que parece inÃ³cuo, mas que simbolicamente Ã© importante. Parece-me significativa a mudanÃ§a na forma de tratamento dos mestres. Eles deixaram de ser "seu fulano" para ser "tio". Ã‰ uma penetraÃ§Ã£o do lar na escola.
Junto com a oralidade, veio o desprestÃgio da escrita que regra as relaÃ§Ãµes no mundo. As pessoas, para bem viver, deverÃ£o obedecer Ã s regras da famÃlia, da comunidade e da naÃ§Ã£o. Quando geramos a indefiniÃ§Ã£o entre famÃlia, comunidade e naÃ§Ã£o, estamos dizendo que a informalidade deve prevalecer, pelo menos naquele momento -da entrada na escola.
Para facilitar a adaptaÃ§Ã£o Ã escola, invadimos sua autoridade de formadora de cidadÃ£os, e o excesso da presenÃ§a dos pais dilui a fronteira lar-escola.
NÃ£o ousaria afirmar, mas ouso levantar a lebre de que esse jeito de lidar com a instituiÃ§Ã£o que tem por missÃ£o esculpir cidadÃ£os pode facilitar o desrespeito futuro a regras, leis e estatutos. Se em casa somos especiais e Ãºnicos, Ã© na escola que deverÃamos aprender a sermos iguais perante a lei. Mas se Ã© aÃ que descobrimos que existem "jeitinhos" e que mamÃ£e pode nos proteger...
Na ida pÃºblica, devemos suportar revezes no estatuto da cidadania. Caso contrÃ¡rio, criamos nÃ£o um estado de exceÃ§Ã£o, mas estado de exceÃ§Ãµes.

Anna Veronica Mautner, psicanalista da Sociedade Brasileira de PsicanÃ¡lise de SÃ£o Paulo, Ã© autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (ed. Ãgora).
Fonte: Folha de S.Paulo - 10/01/07.

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