A VOLTA DOS REIS DA LOGĂSTICA IV
TRANSPORTE E LOGĂSTICA IV
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(Colaboração: Raul)
TESTANDO A RELATIVIDADE
Quando perguntaram a Einstein se ele estava preocupado com possĂveis erros na teoria da relatividade, ele respondeu: "De modo algum. A teoria Ă© bela demais para estar errada".
Isso Ă© que Ă© confiança! Em 1915, Einstein havia sugerido um novo modo de pensar sobre a gravidade que ficou conhecido como teoria da relatividade geral. Ela substituĂa a idĂ©ia prevalecente na Ă©poca, sugerida por Isaac Newton em 1686, que dizia que a força gravitacional entre dois objetos com massa agia Ă distĂąncia, sem que os objetos se tocassem. Einstein propĂŽs que a gravidade pode ser interpretada como resultado de uma deformação no espaço devido Ă presença de um objeto com muita massa.
Quanto mais massa tiver o objeto, maior a curvatura que ele causa no espaço. Como quando nos sentamos num colchão; quanto mais pesados somos, mais o colchão se curva em torno do nosso traseiro.
Em fĂsica, idĂ©ias novas, especialmente as mais radicais, sĂŁo sujeitas a inĂșmeros testes. O que diferencia a ciĂȘncia Ă© justamente essa insistĂȘncia em que as hipĂłteses sejam testadas e verificadas em laboratĂłrios ou, no caso da astronomia, por meio de observaçÔes com telescĂłpios e outros instrumentos capazes de colher informação do cĂ©u. NĂŁo adianta que uma idĂ©ia seja "bela" ou extremamente elegante: sem ser verificada, nĂŁo Ă© aceita pela comunidade cientĂfica. Claro, em alguns casos -especialmente quando a tecnologia Ă© insuficiente-, idĂ©ias sobrevivem durante muitos anos sem serem testadas. Ă o caso da teoria das supercordas nos dias de hoje.
No caso da relatividade geral, o prĂłprio Einstein havia proposto trĂȘs testes. Um era a explicação para anomalias na Ăłrbita do planeta MercĂșrio que nĂŁo eram explicadas pela teoria newtoniana. Outro, que a luz proveniente de estrelas distantes seriam desviadas ao passar na vizinhança do Sol. Isso porque o Sol, com sua massa gigantesca, deforma a geometria do espaço a sua volta, o que cria um efeito mensurĂĄvel na Terra. O terceiro teste, mais complicado, dizia que a luz (ou melhor, a radiação eletromagnĂ©tica) tambĂ©m era afetada pela gravidade: quanto maior a gravidade, menos energia tem a luz. Como a luz vermelha tem menos energia do que a azul, o efeito ficou conhecido como "desvio para o vermelho gravitacional".
Na dĂ©cada de 60, essa previsĂŁo da teoria foi testada com sucesso nos EUA. A teoria explicava tambĂ©m a Ăłrbita de MercĂșrio, e o desvio da luz de estrelas foi verificado em inĂșmeras oportunidades, inclusive no Brasil em 1919. Mesmo assim, a teoria continua sendo testada.
A insistĂȘncia em novos testes vem do fato de nenhuma teoria ser perfeita, existindo sempre dentro de limites de validade. A prĂłpria teoria da relatividade explica coisas que a teoria de Newton nĂŁo explica, como os trĂȘs testes acima. A esperança Ă© que, ao expor a teoria a testes cada vez mais sensĂveis, serĂĄ possĂvel vislumbrar onde ela falha. Essas falhas, por sua vez, apontam para novas teorias, novas idĂ©ias sobre a natureza. Ă sempre bom lembrar que a ciĂȘncia Ă© uma narrativa que se aprimora constantemente.
Recentemente, a teoria de Einstein foi sujeita a mais um teste: medindo a distĂąncia atĂ© a Lua com precisĂŁo de um centĂmetro, cientistas refletiram um raio laser num espelho deixado na superfĂcie lunar por astronautas da missĂŁo Apollo 11. (Pondere este feito tecnolĂłgico). Mais uma vez, as correçÔes propostas por Einstein passaram pelo teste. Com isso, teorias que tentam generalizar as idĂ©ias da relatividade ficam cada vez mais restritas.
Mas como nenhuma teoria Ă© perfeita, nem mesmo a relatividade, a busca continua.
Marcelo Gleiser Ă© professor de fĂsica teĂłrica no Dartmouth College, em Hanover (EUA) e autor do livro "A Harmonia do Mundo".
Fonte: Folha de S.Paulo - 16/12/07.
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