âHERROSâ INFANTIS...
OS GAROTOS PERDIDOS
English:
http://www.nytimes.com/2012/07/01/world/africa/from-sudan-a-new-wave-of-lost-boys.html?_r=1&pagewanted=all
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Realidade: Crianças e jovens caminham por centenas de quilÎmetros para chegar a campos de refugiados.
"Garotos Perdidos" fogem da miséria e da guerra no Sudão.
Mesmo com acordos de paz, ataques ainda fazem parte da rotina do paĂs.
Milhares de crianças desacompanhadas estão fugindo de uma região isolada e insubordinada do Sudão, correndo de implacåveis ataques aéreos e da perspectiva obrigatória de fome.
Enviadas por seus pais em odisseias angustiantes pelos campos de batalha e pĂąntanos infestados de malĂĄria, as crianças estĂŁo repetindo um dos capĂtulos mais sĂłrdidos da histĂłria sudanesa: a perigosa travessia dos chamados "Garotos Perdidos", durante a guerra civil no paĂs, na dĂ©cada de 1990, que caminharam sem rumos por centenas de quilĂŽmetros, desviando de milĂcias, bombardeios e leĂ”es selvagens.
Agora, uma nova geração de garotos perdidos - e, também, algumas garotas perdidas - estå emergindo de uma guerra que, apesar de acordos de paz, nunca terminou por completo.
Haidar Musa, 14, recentemente marchou para o lamacento campo de refugiados em Yida, no vizinho Sudão do Sul. A årea recebe cerca de mil pessoas por dia, transformando a floresta verde em um mar miseråvel de lonas da Organização das NaçÔes Unidas (ONU).
Depois de ser sequestrado com o irmĂŁo por ĂĄrabes a cavalo, quando tinha 6 anos, Haidar fez trabalho escravo. Ele fugiu apĂłs seu irmĂŁo ser assassinado. Hoje, o garoto divide uma choupana com outros trĂȘs. Eles dormem em camas feitas de caixas de papelĂŁo desmontadas. NĂŁo hĂĄ redes de proteção contra mosquitos, apesar de a regiĂŁo estar infestada de malĂĄria.
Com ele, vieram outros oito garotos com roupas em farrapos e estĂŽmagos cheios de grama, a Ășnica comida Ă qual tiveram acesso durante dias. Eles estavam todos em pĂ©, descalços na lama, assistindo ansiosamente uma enorme panela de feijĂŁo fervendo no fogo, prontos para uma refeição bem servida e para um novo lar - uma caixa de papelĂŁo desmontada em uma cabana infestada de ratos.
"Não falamos mais com nossos pais", diz Haidar, brincando com os botÔes quebrados de uma camisa doada. "Mesmo se voltarmos, não encontraremos mais ninguém".
Passado. O cofundador do Projeto Enough, John Prendergast, que luta contra o genocĂdio e crimes contra a humanidade, viu de perto os garotos perdidos de 20 anos atrĂĄs. "Aqueles sobreviventes pareciam ter construĂdo uma histĂłria Ășnica, que nunca mais se repetiria", afirma. "Mas aqui estĂŁo eles, novamente". O SudĂŁo, mais que qualquer outro paĂs nessa sofrida regiĂŁo do mundo, parece ter a capacidade destrutiva de se arrastar de volta aos piores dias de seu passado.
Muitas outras naçÔes africanas mergulharam em guerras civis, mas conseguiram sair do buraco. AtĂ© mesmo a SomĂĄlia, crivada a balas, estĂĄ saindo da zona de caos. Contudo, os sudaneses tĂȘm estado em guerra com eles mesmos hĂĄ 56 anos, com poucas brechas ao longo desse tempo. Essa guerra tritura muitos dos lugares que sofreram antigamente, da mesma forma que no passado.
A ofensiva atual parece estar colocando as crianças de Nuba logo na zona de perigo, muitas vezes sem perspectiva de fuga ou abrigo.
FORĂAS: InĂșmeros atentados marcam a histĂłria
VĂĄrios marcos da estratĂ©gia do governo sudanĂȘs contra a insurgĂȘncia foram ataques a civis, nas dĂ©cadas de 1980 e 1990, nas montanhas Nuba, e em Darfur, no inĂcio dos anos 2000.
Atualmente, a região de Nuba sofre com bombardeios da força aérea sudanesa, que forçaram vilarejos inteiros a buscarem abrigo nas cavernas no topo das montanhas, deixando plantaçÔes sem colheita, mercados vazios e pessoas à beira da subnutrição.
O banho de sangue em Nuba Ă© dirigido por alguns dos mesmos oficiais responsĂĄveis pelo massacre anterior, como o presidente Omar al-Bashir, no poder desde 1989, e Ahmed Haroun, governador do Estado que engloba as montanhas Nuba. Ambos sĂŁo procurados pelo tribunal criminal internacional sob acusaçÔes de crimes contra a humanidade no banho de sangue em Darfur. Al-Bashir tambĂ©m Ă© acusado de genocĂdio.
Refugiados sĂŁo metralhados enquanto tentam buscar abrigo
Um dos cuidadores do campo de refugiados de Yida, no SudĂŁo do Sul, conta que 14 garotos que tentavam chegar ao abrigo foram metralhados em um posto do exĂ©rcito no caminho. Estilhaços de bomba jĂĄ despedaçaram inĂșmeros outros. Doenças varrem o interior do paĂs e muitas crianças que tentam chegar a Yida no colo das mĂŁes sĂŁo tĂŁo magras e doentes que precisam ser imediatamente tratadas em um hospital de campanha.
Desde antes da independĂȘncia, em 1956, o SudĂŁo Ă© cutucado por tensĂ”es "centro perifĂ©ricas" frequentemente expressadas com tiros e explosĂ”es. O governo central tem uma tradição de brutalidade, mas os grupos minoritĂĄrios seguem insurreiçÔes fortemente armadas.
Atualmente, dezenas de milhares de soldados de Nuba, no Sudão, equipados com artilharia pesada, foguetes e tanques, se recusam a deixar as armas até que o governo seja deposto em Khartoum, capital sudanesa. Eles dizem ser marginalizados e oprimidos porque muitos dos habitantes de Nuba são "não-årabes" e cristãos, enquanto o governo é dominado por muçulmanos årabes.
Jeffrey Gettleman â Traduzido por Luiza Andrade - Fonte: O Tempo â 15/07/12.
MatĂ©ria original do âThe New York Timesâ:
http://www.nytimes.com/2012/07/01/world/africa/from-sudan-a-new-wave-of-lost-boys.html?_r=1&pagewanted=all
Veja mais: Sudanese Children in Exile
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