"HERROS" COMPORTAMENTAIS
QUE NOTAS SĂO ESSAS???
Como o comportamento dos pais, em relação à educação de seus filhos, mudou ao longo dos tempos...
(Colaboração: Professora Pasqualina)
PAĂS Ă O QUE MAIS DESPERDIĂA AULA COM BRONCA
Docentes de escolas no Brasil gastam 18% do tempo das classes para manter disciplina; pesquisa abrangeu 23 paĂses. BulgĂĄria Ă© o paĂs onde os professores conseguem aproveitar melhor o tempo das aulas, seguido por EstĂŽnia e Hungria.
Os professores brasileiros sĂŁo os que mais desperdiçam com outras atividades o tempo que deveria ser dedicado ao ensino. No perĂodo em que deveriam estar dando aula, eles cumprem tarefas administrativas (como lista de chamada e reuniĂ”es) ou tentam manter a disciplina em sala de aula (em consequĂȘncia do mau comportamento dos alunos).
A conclusĂŁo Ă© de um dos mais detalhados estudos comparativos sobre as condiçÔes de trabalho de professores de 5ÂȘ a 8ÂȘ sĂ©ries de 23 paĂses, divulgado ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento EconĂŽmico). A pesquisa foi feita em 2007 e 2008.
O resultado não surpreendeu Roberto de Leão, presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação.
"Não li a pesquisa, mas é fato que muito do tempo do professor é roubado por tarefas que não deveriam ser dele. Ele precisa muitas vezes fazer a função de psicólogo, pai ou assistente social, jå que todos os problemas sociais acabam convergindo para a escola."
Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do movimento Todos Pela Educação, conta que, quando foi secretårio de Educação em Pernambuco, vivenciou isso na pråtica.
"Fizemos uma pesquisa com o Banco Mundial que mostrou que boa parte do tempo do professor era para resolver questĂ”es que deveriam ser de responsabilidade de outros profissionais. Mas tambĂ©m detectamos que se perdia tempo com o professor falando de outros assuntos, em vez de tratar do conteĂșdo daquela disciplina."
O relatĂłrio da OCDE mostra que a maioria (71%, maior percentual registrado) dos professores brasileiros começou a dar aulas sem ter passado por um processo de adaptação ou monitoria. A mĂ©dia dos paĂses nesse quesito Ă© de 25%.
Os brasileiros também são dos que mais afirmam (84%) que gostariam de participar de cursos de desenvolvimento profissional. Esse percentual só é maior no México (85%).
As informaçÔes foram colhidas em questionĂĄrios respondidos por diretores e professores de escolas (pĂșblicas e privadas) selecionadas por amostra. No Brasil, 5.687 professores responderam ao questionĂĄrio, aplicado em 2007 e 2008.
Leão e Ramos concordam com o diagnóstico de que poucos professores passam por um processo de adaptação.
"Muitas vezes, o secretårio tem que preencher logo as vagas após um concurso para não deixar alunos sem aula. à como trocar o pneu do carro em movimento, quando o ideal seria ter um tempo para preparar melhor o profissional que começarå a dar aulas", diz Ramos.
Esse problema se agrava com a constatação na pesquisa de que os professores brasileiros trabalham com turmas com nĂșmero de alunos (32) acima da mĂ©dia (24). Apenas no MĂ©xico, na MalĂĄsia e na Coreia do Sul essa relação Ă© maior.
Eles tambĂ©m tĂȘm menos experiĂȘncia em sala de aula do que a mĂ©dia - sĂł 19% dĂŁo aula hĂĄ mais de 20 anos; a mĂ©dia de todas as naçÔes comparadas Ă© 36%. EstĂŁo abaixo da mĂ©dia (89,6%) ainda no nĂvel de satisfação com o trabalho: 84,7%, o quarto menor Ăndice.
Diretores
A pesquisa investigou a visĂŁo dos diretores sobre problemas que afetam o aprendizado. O Brasil fica acima da mĂ©dia em questĂ”es como absenteĂsmo de docentes, atrasos e falta de formação pedagĂłgica adequada.
Também foram listados problemas relacionados a alunos, como vandalismo, agressÔes ou trapaças no momento da prova.
A indisciplina se mostrou um problema mundial. Na mĂ©dia dos paĂses, 60% dos diretores afirmaram ter, em alguma medida, distĂșrbios em sala de aula provocados pelo problema.
O MĂ©xico tem o maior percentual (72%); o Brasil tem exatamente o Ăndice da mĂ©dia.
Diretores brasileiros foram dos que mais relataram ter pouca ou nenhuma autonomia para contratar, demitir ou promover professores por seu desempenho em sala de aula. No Brasil, sĂł 27% disseram que podem escolher os professores. A mĂ©dia dos paĂses Ă© de 68%.
AntĂŽnio Gois - Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento EconÎmico) - http://www.cgu.gov.br/ocde/sobre/index.asp
Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação - http://www.cnte.org.br/
Todos Pela Educação â http://www.todospelaeducacao.org.br/
EM ESCOLA PĂBLICA, PROFESSOR PERDE 20 MIN POR AULA
Trabalhos diĂĄrios que valem nota, diĂĄlogo, gritos - cada professor adota sua prĂłpria estratĂ©gia para conter a indisciplina diĂĄria numa das piores escolas no ranking do Enem na capital paulista, na zona sul. As advertĂȘncias adotadas pelo colĂ©gio como Ășnica forma de "punir" os alunos bagunceiros, na prĂĄtica, nĂŁo surtem efeito.
Seja qual for a tåtica adotada, para organizar os 36 alunos por turma, em média, e poder começar a matéria do dia, os educadores perdem de 15 a 20 minutos - a aula dura 50.
A Folha conversou com dois professores da escola, que pediram anonimato. Para eles, hĂĄ trĂȘs razĂ”es para isso: 1) alto nĂșmero de alunos por turma; 2) ausĂȘncia de perspectiva de ascensĂŁo social dos alunos por meio do estudo; e 3) falta de acompanhamento, pelos pais, do desempenho dos filhos.
Para um deles, o primeiro passo Ă© educar os pais dos adolescentes. "Se as mĂŁes choram dizendo nĂŁo saber o que fazer com seus filhos, o que esperar desses jovens?"
A participação da famĂlia Ă© considerada importante para o outro professor. Em outra escola estadual onde trabalha, os alunos o esperam na sala apĂłs o toque do sinal, prestam atenção e se esforçam. "Os pais e a comunidade participam ativamente do cotidiano da escola, e o resultado positivo Ă© visĂvel."
Juliana Cariello - Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
O BĂ DISTANTE DO BĂ
De lĂĄpis na mĂŁo e olhar atento Ă cartilha, EutĂĄlia de Andrade, de 65 anos, auxilia a colega de sala Luzia Pereira, de 74, na correção de uma sĂlaba trocada na palavra âmacacoâ. Nascida em Canudos, interior da Bahia, ela estĂĄ eufĂłrica. Nunca sentou num banco escolar durante a infĂąncia e, desde que se matriculou no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos do ButantĂŁ, na capital paulista, nĂŁo perde uma aula. âTenho oito irmĂŁos analfabetos. Meu pai dizia que caneta de pobre Ă© cabo de enxada. Queria estudar. NĂŁo tive chance.â
As amigas sabem assinar o prĂłprio nome e jĂĄ nĂŁo passam mais vergonha no ponto de ĂŽnibus, implorando ajuda de estranhos para pegar a condução correta. Mas ainda tĂȘm dificuldade para articular as sĂlabas e transcrevĂȘ-las. PrecisarĂŁo de mais algum esforço para sair da legiĂŁo de mais de 14 milhĂ”es de analfabetos brasileiros, 10% do total da população do Brasil com 15 anos ou mais, segundo o IBGE. Dentro deste universo iletrado, no entanto, elas fazem parte de uma minoria privilegiada.
Rodrigo Martins - Fonte: Carta Capital - Edição 551.
PALESTINA TEM DINHEIRO E ALUNOS, NĂO
Na mesma reuniĂŁo em que aprovou um projeto que doa R$ 25 milhĂ”es para a reconstrução da Faixa de Gaza, a ComissĂŁo de Finanças e Tributação da CĂąmara dos Deputados rejeitou um projeto que estende o transporte escolar rural gratuito a alunos do ensino pĂșblico residentes em ĂĄreas urbanas. Segundo o relator da primeira proposta, Pepe Vargas (PT-RS), âa medida nĂŁo representarĂĄ aumento dos gastos pĂșblicos porque os recursos virĂŁo de cortes no orçamento do MinistĂ©rio das RelaçÔes Exterioresâ. JĂĄ o relator do segundo texto, JoĂŁo MagalhĂŁes (PMDB-MG), argumentou que hĂĄ dotação orçamentĂĄria suficiente para implementar o projeto.
Aparte - Fonte: O Tempo - 17/06/09.
ComissĂŁo de Finanças e Tributação da CĂąmara dos Deputados â http://www2.camara.gov.br/comissoes/cft
Ministério das RelaçÔes Exteriores - http://www.mre.gov.br/
PRIVATARIA DO PT
A melhora dos serviços pĂșblicos de energia e comunicação foi a joia da coroa da privataria tucana. Na teoria, as empresas comprariam o patrimĂŽnio da ViĂșva e seriam submetidas Ă fiscalização das agĂȘncias reguladoras. Passou o tempo e veio a privataria das agĂȘncias petistas. Em SĂŁo Paulo, a TelefĂŽnica tornou-se um exemplo de excesso de oferta de panes e escassez de explicaçÔes. Quanto ao fornecimento de eletricidade, os apagĂ”es da Eletropaulo jĂĄ criaram um mercado de geradores a gĂĄs para prĂ©dios da regiĂŁo da avenida Paulista.
Elio Gaspari (http://www.submarino.com.br/portal/Artista/80141/+elio+gaspari) - Fonte: Folha de S.Paulo - 14/06/09.
LOBISTAS COM CLT
O filĂłsofo Tim Maia jĂĄ dizia que o Brasil Ă© o Ășnico paĂs do mundo em que traficante se vicia, cafetĂŁo se apaixona e prostituta tem orgasmo. Aqui, por falta de profissionalismo, as pessoas estabelecem vĂnculos onde jamais deveriam. Agora, jĂĄ Ă© possĂvel acrescentar um quarto componente no axioma de Tim Maia. No Brasil, hĂĄ lobistas que exigem carteira assinada de trabalho mesmo quando realizam os trabalhos mais sujos e heterodoxos. E, graças a isso, hoje Ă© possĂvel fazer a anatomia de um "escĂąndalo", que quase redundou numa CPI, apoiada pelo PT e por vĂĄrios partidos de esquerda, contra o prefeito de SĂŁo Paulo, Gilberto Kassab.
A história gira em torno das merendas escolares, que movimentam R$ 2 bilhÔes por ano no Brasil. Antes de Kassab, a Prefeitura de São Paulo seguia um modelo conhecido como autogestão, comprando todos os ingredientes, como arroz, feijão, leite, biscoitos, carne e salsichas. Planejando reduzir custos, Kassab decidiu terceirizar o serviço e os fornecedores contratados passaram a entregar refeiçÔes - e não mais itens isolados. Foi então que dez empresas - entre elas nomes conhecidos como Sadia e Mabel - se uniram e formaram um consórcio para bombardear o novo sistema. Mas em vez de agir publicamente, mostrando a cara, contrataram um atirador profissional. Seu nome: Sidney Melchiades de Queiroz.
Advogado, Sidney entrou com dezenas de açÔes populares nĂŁo sĂł na capital paulista, mas em todo o PaĂs, contra o sistema de terceirização, dizendo agir em nome do interesse pĂșblico. A tal ponto que ficou conhecido como "Dr. Merenda". NĂŁo satisfeito, serviu de fonte para vĂĄrias reportagens que visavam escandalizar o tema. AlĂ©m disso, tentou manipular o MinistĂ©rio PĂșblico de SĂŁo Paulo, que entrou fundo nessa guerra comercial.
Seria apenas mais um escùndalo fabricado em laboratório, se o lobista Melchiades não decidisse tomar uma medida tão fora de padrão no seu meio. Dias atrås, ele entrou com uma ação trabalhista contra as dez empresas que o bancaram ao longo de dois anos, exigindo férias, décimo terceiro e FGTS. Juntou recibos e até os e-mails trocados pelos membros do consórcio, tratando da tentativa de manipulação de procuradores graduados do MP paulista.
O que essa inacreditåvel história ensina é bastante simples. Se o escritor Nelson Rodrigues jå dizia desconfiar de todo moralista, a partir de agora serå também preciso duvidar de todo ativista profissional. Por trås de uma ação popular ou de um escùndalo, quase sempre hå um patrocinador privado sem coragem de mostrar a própria face.
Leonardo Attuch - Fonte: Isto à - Edição 2066.
FRASES ĂPICAS
Em discurso de 33 minutos, dia 16 de junho no Senado Federal, Sarney sintetizou sua estratégia de defesa com as frases: "A crise do Senado não é minha; a crise é do Senado. à esta instituição que devemos preservar, tanto quanto qualquer um aqui. Ninguém tem mais interesse nisso do que eu, até porque aceitei ser presidente".
"Ă injustiça do paĂs julgar um homem como eu, com tantos anos de vida pĂșblica, com a correção que tenho de famĂlia austera, de famĂlia bem composta, que tem prezado a sua vida para a dignidade da sua conduta."
Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
MELHOR DIZENDO
A expressão "atos não publicados", que José Sarney (PMDB-AP) e aliados tentam emplacar no lugar de "atos secretos", estå sendo comparada na praça a "recursos não contabilizados", que os petistas cunharam no mensalão.
Painel - Renata Lo Prete - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
QUE VERGONHA!
Em 2002, a revista "Veja" estimou o patrimĂŽnio da famĂlia Sarney em R$ 125 milhĂ”es. Hoje, estĂĄ maior. Mas, vĂĄ lĂĄ, tomemos os valores defasados: se a fortuna dos Sarney fosse aplicada em poupança, renderia uns R$ 875 mil por mĂȘs. Dinheiro de sobra para manter a famĂlia em padrĂ”es nababescos. Mesmo assim, o patriarca JosĂ© Sarney botou irmĂŁo, neto e atĂ© a irmĂŁ do genro em empregos no Senado, recebendo mesadas para nĂŁo fazerem nada. Podre de rico e tirando lasquinhas do dinheiro pĂșblico. Ă vergonhoso demais.
Raquel Faria - Fonte: O Tempo - 19/06/09.
A GRANDE IMPERTINĂCIA
No Ășltimo dia de JosĂ© Sarney na PresidĂȘncia da RepĂșblica, em 1990, MillĂŽr Fernandes publicou num jornal do Rio a charge definitiva sobre a longa, quase interminĂĄvel, passagem do homem dos "Maribondos de Fogo" pelo Planalto. O desenho mostrava um grotesco Sarney bebĂȘ, bigodes e tudo, sentado num peniquinho. E a legenda dizia: "MamĂŁe! Acabei!".
A charge de MillĂŽr foi reproduzida em toda parte, xeroxes passaram de mĂŁo em mĂŁo naquele dia e ela acabou imortalizada em antologias. Seria perfeita nĂŁo fosse por um detalhe: ao contrĂĄrio do que MillĂŽr e todos nĂłs pensĂĄvamos, Sarney ainda nĂŁo tinha acabado.
Em vez de pendurar o jaquetão e se dedicar à literatura, preferiu continuar nas lides. Melhor para a literatura, mas pior para as lides. Agora, quase 20 anos depois, como tri-presidente do Senado, Sarney estå tendo de se explicar por um festival de contrataçÔes, aumentos e gratificaçÔes de parentes dele próprio e de seus subordinados, colegas e cupinchas, e tudo tão às escondidas que nem ele "sabia de nada".
Em 1988, quando presidente, Sarney, num discurso, patinou e pronunciou a palavra "impertinĂĄcia", que nĂŁo existe. Talvez quisesse dizer "pertinĂĄcia", talvez "impertinĂȘncia". CaĂram-lhe em cima pela batatada, e eu prĂłprio, na Ă©poca, arrisquei uma definição para a palavra: "ImpertinĂĄcia. S.f. 1. Qualidade, carĂĄter ou ação do impertinaz. "Ele caracteriza-se pela impertinĂĄcia" (JosĂ© Sarney, discurso, em solenidade). 2. Teimosia descabida, obstinação insolente, pervicĂĄcia inoportuna".
Nesta semana, ao ser acusado de conivente com a farra do Senado, o empavonado Sarney protestou: "Ă injustiça do paĂs julgar um homem com tantos anos de vida pĂșblica". Nada define tĂŁo bem a impertinĂĄcia desta frase quanto a palavra que ele mesmo criou.
Ruy Castro (http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/240) - Fonte: Folha de S.Paulo - 20/06/09.
POR QUE ATOS SECRETOS NO SENADO?
Um labirinto de decisĂ”es questionĂĄveis (que ninguĂ©m sabe, ninguĂ©m viu), tomadas na calada de boletins reservados, armou-se no Parlamento. Essencialmente definido como a casa do povo, comandado por aqueles democraticamente eleitos pelo voto direto - e que deveriam, antes de tudo, zelar pela transparĂȘncia absoluta de suas decisĂ”es -, o Senado brasileiro revisita as entranhas e mostra mau funcionamento.
O Senado hoje vive de discutir a si prĂłprio e deixou de lado as tarefas inerentes Ă sua operação, qual seja: votar projetos de relevĂąncia nacional, acelerar a pauta de questĂ”es essenciais ao PaĂs e legislar em nome dos cidadĂŁos. O Senado se perde ao priorizar seus prĂłprios interesses, em prejuĂzo daqueles voltados Ă Nação. Nos atos secretos somaramse mais de 650 determinaçÔes, muitas das quais sĂŁo hoje alvo de crĂticas abertas por configurarem prĂĄticas deplorĂĄveis de apadrinhamento, nepotismo e outras mazelas tĂŁo lamentavelmente usuais por esses dias naquela casa. O presidente JosĂ© Sarney, no olho do furacĂŁo, questionado por ser ele prĂłprio protagonista de alguns desses atos, grita que a crise nĂŁo Ă© dele, mas do Senado como um todo.
A questĂŁo essencial Ă© o porquĂȘ de tantos atos secretos. Como eles nasceram e movidos por quais objetivos? Ă tamanho o nĂșmero de confusĂ”es nas quais o Senado se meteu que seu prestĂgio desce ladeira abaixo dia a dia. AtĂ© que ponto? Sarney pediu, da tribuna, sugestĂ”es. Uma avalanche delas foi colocada em suas mĂŁos apenas um dia depois. Muitas das quais, caso adotadas, extremamente relevantes para uma mudança de conduta na direção de um Parlamento mais moderno e em sintonia com os anseios dos eleitores. HĂĄ de se caminhar com esse objetivo.
O padrĂŁo de polĂtica esperado nĂŁo se resume a uma mera troca de chumbo partidĂĄria ou a uma lavagem de roupa suja sem fim. Muitos dos chamados polĂticos Ă©ticos tiveram sua fama maculada, seja pelo pecado da omissĂŁo, seja pelo flagrante da violação de decoro. A eles nĂŁo cabem defesas generalistas como a lançada pelo presidente Lula, que, em mais um devaneio verborrĂĄgico, disse que o senador JosĂ© Sarney "nĂŁo pode ser tratado como uma pessoa comum". Aos olhos da lei, a igualdade no julgamento Ă© um princĂpio inexorĂĄvel.
Carlos José Marques, diretor editorial - Fonte: Isto à - Edição 2067.
ASSIM Ă O SENADO FEDERAL
A farra Ă© deles. A conta Ă© nossa. O Senado foi dominado por uma mĂĄquina que trabalha continuamente para burlar as leis em benefĂcio prĂłprio. O resultado Ă© uma estrutura perdulĂĄria e improdutiva.
SalĂĄrio mĂ©dio de 18 000 reais/mĂȘs; horĂĄrio de trabalho flexĂvel, que permite dar expediente em casa ou em qualquer outro lugar do paĂs; plano de saĂșde com reembolso integral de despesas; pagamento de horas extras nas fĂ©rias; gratificaçÔes por tempo de serviço; gratificaçÔes por funçÔes exercidas; gratificaçÔes por funçÔes nĂŁo exercidas; possibilidade de ascensĂŁo na carreira por mĂ©rito; possibilidade de ascensĂŁo na carreira por demĂ©rito; aposentadoria integral sem ter contribuĂdo em valores atuarialmente calculados para isso, que exigiria um desconto mĂnimo de 65% no salĂĄrio; pensĂŁo familiar vitalĂcia em caso de morte; estabilidade no emprego. Ă imenso o rol de possibilidades de 7 000 servidores do Senado Federal, em BrasĂlia. Nos Ășltimos meses, revelou-se que a parte mais nobre do Parlamento funciona nos moldes de um sultanato, em que tudo pode â inclusive infringir leis, desde que em benefĂcio dos senadores e dos prĂłprios funcionĂĄrios. Nepotismo Ă© proibido. No Senado, hĂĄ parentes de servidores espalhados em vĂĄrias repartiçÔes. O maior salĂĄrio da RepĂșblica, 24 500 reais, deve ser obrigatoriamente o de um ministro do Supremo Tribunal Federal. HĂĄ pelo menos 700 pessoas no Senado, segundo levantamentos oficiais, recebendo acima desse limite. Sem fiscalização e funcionando de maneira autĂŽnoma, o Senado Ă© administrado como se fosse uma confraria â uma confraria com o meu, o seu, o nosso dinheiro.
FANTASMA: O senador MĂŁo Santa tem um diretor do Senado lotado em seu gabinete, mas ele mora no PiauĂ e recebe sem trabalhar.
Em uma dĂ©cada, o orçamento do Senado saltou de 882 milhĂ”es de reais para 2,7 bilhĂ”es neste ano, um aumento de 206%!!! Ă, disparado, a casa parlamentar mais cara do mundo para os brasileiros. Cada um dos 81 senadores consome 33,8 milhĂ”es de reais por ano. Ă cinco vezes o custo de um deputado federal. Nada menos que 2,2 bilhĂ”es de reais, ou 80% de seu orçamento anual, sĂŁo gastos com pagamento de salĂĄrios. No total, o Senado tem 9 677 servidores, entre ativos, aposentados e pensionistas. HĂĄ ainda os servidores terceirizados, cujo nĂșmero exato o prĂłprio Senado atĂ© hoje alega desconhecer, mas que pode passar de 2 000. Muito dinheiro, pouca luz e uma boa dose de desapego moral criam o substrato perfeito para todo tipo de malandragem. E ela tem eclodido como praga. HĂĄ casos de senador usando funcionĂĄrios e a estrutura da Casa para fins pessoais e de funcionĂĄrio usando apartamento de senador para abrigar parente. Casos de nepotismo, irregularidade em contratos, existĂȘncia de servidores fantasmas. HistĂłrias que deixam evidente a simbiose entre parlamentares e o corpo administrativo do Senado para o simples bem-estar de ambos. E nĂŁo hĂĄ santos. O senador MĂŁo Santa, do PMDB do PiauĂ, tem um servidor lotado em seu gabinete, Aricelso Lopes, que exerce função de "coordenador de atividade policial" do Senado. Com direito a broche azul de "autoridade", uma relĂquia que dĂĄ acesso a vĂĄrias benesses, o diretor deveria cuidar da segurança dos parlamentares, entre outras coisas. Mas ele nunca foi visto nem no gabinete de MĂŁo Santa, onde Ă© lotado, nem na PolĂcia Legislativa, em que ocupa a prestigiosa função de diretor. Na semana passada, VEJA visitou a sala dos seguranças e perguntou pelo tal chefe. "Ari o quĂȘ?", indagou o primeiro funcionĂĄrio. "Acho que ele estĂĄ no PiauĂ", disse um segundo. O terceiro reconheceu: "Faz no mĂnimo dois anos que ele nĂŁo aparece aqui", informou Rauf de Andrade, chefe de gabinete da polĂcia do Senado. Aricelso, ao que tudo indica, Ă© um fantasma. O gabinete de MĂŁo Santa disse que ele foi contratado para capturar um pistoleiro que ameaçava o senador.
MUITO FEIO: O senador Wellington Salgado emprega um dirigente da CBF no Senado. O "assessor" sĂł trabalha de vez em quando. O senador nem se importa: "Ele Ă© muito feio".
O diretor caçador de bandido Ă© um bom exemplo de como funciona a irmandade de interesses entre senadores e funcionĂĄrios. Em 1995, havia no Senado sete secretarias e trinta subsecretarias, ĂłrgĂŁos cujos titulares tĂȘm status de diretor, acumulando aos salĂĄrios gratificaçÔes que variam de 3 200 a 4 800 reais. Em catorze anos, o nĂșmero cresceu para 181. Para atender aos reclames financeiros dos servidores, os parlamentares autorizaram uma sĂ©rie de nomeaçÔes esdrĂșxulas, como diretores de check-in, de garagem e de clipping. A moda pegou e diretorias passaram a ser criadas para toda sorte de necessidades e interesses. Em 2001, um senador foi flagrado pela esposa em seu gabinete com uma funcionĂĄria do Senado, casada com outro servidor da Casa. ConfusĂŁo pesada. Para evitar um escĂąndalo, a mulher foi afastada do Senado. Para o marido traĂdo foi entĂŁo criada uma diretoria. Tempos depois, com os Ăąnimos jĂĄ aplacados, a prĂłpria servidora retornou ao Senado, desta vez premiada pelo "amigo" parlamentar com um cargo de diretora. Na semana passada, HerĂĄclito Fortes, primeiro-secretĂĄrio do Senado, anunciou a demissĂŁo de cinquenta dos 181 diretores. As demissĂ”es ainda nĂŁo foram efetivadas. Uma das diretoras na lista da degola Ă© Paula Canto. Ela era diretora de controle interno quando notou irregularidades em contratos de terceirização de mĂŁo de obra e compra de equipamentos. Foi afastada por ter cumprido suas tarefas. Para evitar que ela levasse adiante as denĂșncias, nomearam-na diretora-geral adjunta. A Ășnica condição imposta: ficar em casa sem trabalhar.
O CRIADOR DE CARGOS: Desde o inĂcio da era Sarney, em 1995, foram criadas 4.000 vagas.
O personagem mais exemplar da confraria em que o Senado se transformou Ă© Agaciel Maia, o ex-diretor-geral, demitido depois de sonegar informaçÔes sobre a propriedade de uma mansĂŁo avaliada em 5 milhĂ”es de reais. Ex-datilĂłgrafo, Agaciel era diretor da grĂĄfica do Senado quando se soube que os parlamentares usavam o local para imprimir material de campanha polĂtica, o que Ă© ilegal. Na ocasiĂŁo, uma das investigadas era a entĂŁo deputada Roseana Sarney. Foram encontrados no MaranhĂŁo cadernos supostamente impressos em BrasĂlia, mas as provas do crime desapareceram da grĂĄfica. Quando assumiu a presidĂȘncia do Congresso, em 1995, o senador JosĂ© Sarney fez de Agaciel diretor-geral. A gestĂŁo de Agaciel provocou um inchaço assombroso na Casa. Nos Ășltimos catorze anos, foram criadas 4 000 vagas. Dessas, pouco mais de 150 foram preenchidas por concurso pĂșblico. As demais foram ocupadas por nomeaçÔes polĂticas. Hoje, existem quase 10 000 funcionĂĄrios para atender 81 congressistas. Vale ressaltar que, embora oficiais, esses nĂșmeros sĂŁo estimados. A mĂĄquina administrativa se fecha para os prĂłprios senadores. Presidente do Senado entre dezembro de 2007 e fevereiro deste ano, Garibaldi Alves (PMDB-RN) jamais conseguiu que lhe entregassem a lista dos 85 cargos de confiança do gabinete da presidĂȘncia. "Diziam que tinha muito fantasma aqui, mas nĂŁo pude descobrir", reclama o ex-presidente. O senador poderia perguntar ao colega Wellington Salgado se fantasma existe. Um gradua-do assessor de Salgado, Weber MagalhĂŁes, recebe religiosamente seu salĂĄrio, mas nunca aparece para trabalhar. Diretor da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ele justifica: "Acompanho projetos para o senador". "Ele Ă© muito feio. Melhor nĂŁo aparecer por aqui", ironiza o parlamentar.
OS EXEMPLOS DA MORDOMIA: Fila de servidores para assinar o ponto e receber horas extras na CĂąmara, garagem exclusiva para diretores e apadrinhados dos senadores repleta de carros de luxo e sessĂŁo de fisioterapia no serviço mĂ©dico do Senado: benefĂcios em sĂ©rie se espalham por todo o Legislativo.
Com a abertura da caixa-preta, os senadores demonstraram espanto. Sem razĂŁo, pois todos os aumentos salariais, nomeaçÔes e autorizaçÔes para obras sĂŁo votados em plenĂĄrio. "Aqui nĂŁo tem culpados ou inocentes, sĂł omissos. NĂŁo tem senador com uma semana de mandato; os mais novos jĂĄ estĂŁo aqui hĂĄ dois anos. JĂĄ deu para saber como as coisas funcionam", bradou Roseana Sarney (PMDB-MA) na Ășltima reuniĂŁo de lĂderes, quando os senadores começaram a debitar a execração pĂșblica do Senado apenas na conta de Sarney. Para tentar reverter o desgaste de seu terceiro mandato na presidĂȘncia, Sarney tomou duas medidas. A primeira foi criar uma comissĂŁo para analisar contratos de compra e terceirização. A outra foi assinar convĂȘnio com a Fundação Getulio Vargas (FGV), que farĂĄ um novo modelo de gestĂŁo da Casa. Em 1995, ao assumir a presidĂȘncia do Senado pela primeira vez, Sarney tomou duas medidas: criou uma comissĂŁo para analisar contratos e assinou um convĂȘnio com a mesma FGV. ApĂłs um mĂȘs de trabalho, ao custo de 882 000 reais, a fundação constatou que o Senado "gasta muito mal e tem excesso de ĂłrgĂŁos e pessoal" e propĂŽs uma "reengenharia profunda, com redução de cargos". Como se vĂȘ, a reengenharia foi outra.
PRESIDENTE DOMINADO: Garibaldi Alves presidiu o Senado por mais de um ano e nĂŁo conseguiu sequer ver a lista de funcionĂĄrios lotados na sala da presidĂȘncia do Senado.
O primeiro passo para sanar as distorçÔes do Parlamento estĂĄ sendo dado com a abertura da caixa-preta. O segundo conjunto de propostas Ă© mais complexo e, de acordo com especialistas, envolve uma reforma profunda na estrutura administrativa. Hoje, os senadores elegem um primeiro-secretĂĄrio, que fica encarregado de tocar o dia a dia da burocracia, como um sĂndico. Essa gerĂȘncia polĂtica, como acontece em outras repartiçÔes pĂșblicas, tornou-se um foco sistĂȘmico de fisiologismo e corrupção â afinal, trata-se de um orçamento de quase 3 bilhĂ”es de reais. O ideal Ă© que essas tarefas burocrĂĄticas fiquem sob responsabilidade de servidores concursados, com mandato limitado a poucos anos. Uma terceira medida Ă© promover uma lipoaspiração geral na burocracia, cortando funcionĂĄrios terceirizados, extinguindo gratificaçÔes e acabando com mordomias. Sob a condição de permanecer anĂŽnimo, do alto de seus vencimentos mensais de 17 000 reais lĂquidos, trabalhando trĂȘs dias por semana, recebendo horas extras e gratificaçÔes, um servidor do Senado explica por que acredita ter um dos melhores empregos do mundo: "O Senado Ă© igual ao CĂ©u. A diferença Ă© que aqui vocĂȘ ainda chega vivo".
NĂŁo Ă© o Brasil que queremos...
Infelizmente Ă© o que temos!
(Colaboração: A.M.B.)
E NĂIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR Ă UMANO!
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