FM - Faculdade Mental

A JENTE HERRAMOS - 23/12/2007

FELIZ 2008, APESAR DA NOSSA POLÃTICA...

ODANES - RUMO AO ANO NOVO

DESPEDIDA: Na Ãºltima sessÃ£o do Senado, sÃ³ 8 dos 81 parlamentares estavam no plenÃ¡rio; atÃ© o presidente se ausentou. Cadeiras vazias marcam a Ãºltima sessÃ£o do Senado de 2007, em BrasÃlia.

Fonte: Folha Online - 24/12/07.

A PRISÃƒO DA LÃNGUA

AvanÃ§a o projeto de lei que proÃbe palavras estrangeiras. A vÃtima serÃ¡ o idioma portuguÃªs. Se uma lei que proibisse estrangeirismos tivesse sido adotada quando o Brasil se tornou independente, em 1822, nÃ£o terÃamos palavras como futebol e sanduÃche, ambas do inglÃªs, sutiÃ£ e envelope, vindas do francÃªs.
A ComissÃ£o de ConstituiÃ§Ã£o e JustiÃ§a e de Cidadania da CÃ¢mara dos Deputados deu um passo atrÃ¡s hÃ¡ uma semana. O grupo aprovou por unanimidade o projeto do deputado federal Aldo Rebelo, do Partido Comunista do Brasil, que pretende banir o uso de palavras estrangeiras em anÃºncios publicitÃ¡rios, meios de comunicaÃ§Ã£o, documentos oficiais, letreiros de lojas e restaurantes. Caso o projeto se torne lei, quem for comprar um mouse para o computador terÃ¡ de procurar na prateleira por um "rato". AliÃ¡s, ao comprar o prÃ³prio computador, terÃ¡ de pedir ao lojista por um "ordenador". NÃ£o se poderÃ¡ mais promover shows, e sim apresentaÃ§Ãµes musicais... e por aÃ afora. O projeto de Rebelo, que jÃ¡ passou pelo Senado, serÃ¡ agora encaminhado Ã votaÃ§Ã£o no plenÃ¡rio da CÃ¢mara. Caso ele seja aprovado, o Congresso terÃ¡ deflagrado um retrocesso sem precedentes na histÃ³ria da lÃngua portuguesa. O projeto se baseia na premissa desmiolada de que o portuguÃªs estaria ameaÃ§ado pela invasÃ£o de termos em inglÃªs usados pela populaÃ§Ã£o, principalmente aqueles trazidos pelas novidades tecnolÃ³gicas.
A percepÃ§Ã£o de que a lÃngua de CamÃµes estaria perdendo a guerra contra um ataque incessante de estrangeirismos Ã© equivocada e despreza a natureza dos idiomas. A histÃ³ria mostra que todos eles absorvem palavras de outros idiomas para ampliar seu vocabulÃ¡rio. Nesse processo, as lÃnguas evoluem, tornam-se mais ricas, e nÃ£o o contrÃ¡rio. AlÃ©m do mais, segundo os especialistas, o projeto de Rebelo Ã© inviÃ¡vel. "O projeto do deputado Rebelo estÃ¡ fadado ao fracasso porque quem manda nos rumos do idioma Ã© a lÃngua falada", diz o filÃ³logo Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras. "JÃ¡ passou a Ã©poca em que o estrangeirismo era considerado um invasor. Hoje, sabe-se que ele enriquece o lÃ©xico", ele completa. O nacionalismo lingÃ¼Ãstico Ã© uma parvoÃce, mas volta e meia surge quem o defenda no Brasil. No sÃ©culo XIX, foi a vez de Rui Barbosa. O jurista criticou duramente o escritor portuguÃªs EÃ§a de Queiroz por usar galicismos em seus romances. As palavras que escandalizavam Rui na prosa de EÃ§a eram massacre, detalhe e envelope, as trÃªs de origem francesa. "Nessas degradaÃ§Ãµes da palavra, continuarÃ¡ ele a exercer seu ofÃcio de atuar criadoramente sobre o idioma? NÃ£o pode ser", escreveu o Ãguia de Haia. Hoje, as palavras que lhe causavam repulsa estÃ£o perfeitamente incorporadas ao portuguÃªs. Como se vÃª, Aldo Rebelo desconhece a forma como as lÃnguas funcionam.
Historicamente, a multiplicaÃ§Ã£o dos vocÃ¡bulos nos idiomas se dÃ¡ nas conquistas de territÃ³rios, nas migraÃ§Ãµes de populaÃ§Ãµes e na exportaÃ§Ã£o de componentes culturais dos paÃses. Na Idade MÃ©dia, a lÃngua portuguesa contabilizava apenas 15.000 palavras. No sÃ©culo XVI, perÃodo marcado pelas grandes navegaÃ§Ãµes, esse nÃºmero dobrou. No fim do sÃ©culo XIX, os dicionÃ¡rios jÃ¡ registravam 90.000 vocÃ¡bulos. Hoje, a Academia Brasileira de Letras calcula em 400.000 o total de palavras da lÃngua portuguesa. A origem dos vocÃ¡bulos incorporados ao portuguÃªs ao longo dos sÃ©culos variou conforme o tipo de contato mantido com outros povos. Entre os sÃ©culos VIII e XV, o idioma absorveu muitos termos de origem Ã¡rabe por causa da ocupaÃ§Ã£o moura na PenÃnsula IbÃ©rica. Durante o Renascimento, a arte e a arquitetura italianas universalizaram vÃ¡rias palavras relacionadas a elas. No sÃ©culo XIX e nas primeiras dÃ©cadas do sÃ©culo XX, a FranÃ§a ditava a moda no Ocidente, e vÃ¡rias palavras de origem francesa foram incorporadas ao portuguÃªs.
A tentativa de proteger idiomas das influÃªncias estrangeiras Ã© caracterÃstica de governos autoritÃ¡rios (veja o quadro). "Na Alemanha nazista, o projeto de arianizaÃ§Ã£o da cultura alemÃ£ teve sua imagem simbÃ³lica na queima pÃºblica dos livros nÃ£o alemÃ£es", lembra o historiador Wagner Pinheiro Pereira, pesquisador do LaboratÃ³rio de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e DiscriminaÃ§Ã£o da Universidade de SÃ£o Paulo. De autoritarismo, Aldo Rebelo entende. Durante muito tempo ele e o PCdoB teceram loas ao comunismo ao estilo albanÃªs, que produziu um dos paÃses mais atrasados da Europa. Nas democracias modernas, a principal tentativa de promover um nacionalismo lingÃ¼Ãstico ocorreu na FranÃ§a. Em 1994, o presidente FranÃ§ois Mitterrand sancionou a Lei Toubon, que determinava a substituiÃ§Ã£o geral de termos estrangeiros por seus equivalentes em francÃªs. Primeiro, a lei foi ridicularizada pelo povo, que a apelidou de Lei All Good â€“ traduÃ§Ã£o para o inglÃªs da sonoridade do nome do ministro Toubon, que a propÃ´s. A seguir, vÃ¡rios de seus artigos foram considerados inconstitucionais e hoje vigora apenas uma versÃ£o mais branda da lei. E em que Aldo Rebelo se inspirou para criar seu projeto esdrÃºxulo de cercear o avanÃ§o do portuguÃªs? Na Lei Toubon, Ã© claro. O deputado poderia comeÃ§ar sua sanha nacionalista mudando o nome da agremiaÃ§Ã£o em que milita. Afinal, a palavra "comunista" Ã© um imperdoÃ¡vel galicismo.

TRADIÃ‡ÃƒO AUTORITÃRIA

As tentativas mais extremadas de isolar a lÃngua nacional ocorreram nas piores ditaduras:

ITÃLIA - O regime fascista de Mussolini proibiu termos estrangeiros na lÃngua falada e na escrita. Os idiomas dos paÃses inimigos na II Guerra, em especial o inglÃªs e o francÃªs, foram banidos das escolas. No cinema, todos os filmes estrangeiros tinham de ser dublados.
ALEMANHA - O regime nazista de Hitler determinou que as palavras de origem estrangeira fossem substituÃdas por termos arcaicos em alemÃ£o. Jornais de outros paÃses foram proibidos. Tornou-se obrigatÃ³rio dublar os filmes estrangeiros. Nas escolas, em vez de lÃnguas estrangeiras, ensinavam-se lÃnguas mortas, para realÃ§ar a idÃ©ia de que o regime nazista estava associado a uma tradiÃ§Ã£o cultural antiga.
IRÃƒ - O presidente Mahmoud Ahmadinejad criou um Ãndex com palavras estrangeiras que devem ser proscritas e substituÃdas por equivalentes. No idioma farsi, "pizza" virou "massa elÃ¡stica" e "celular" tornou-se "comunicador companheiro".

Fonte: Veja - EdiÃ§Ã£o 2040.

PELA PUREZA BOTOCUDA

Quando estive pela primeira vez em Lisboa, em pleno salazarismo, todos pareciam velhos, andavam de preto e morriam de medo. Mas o mais patÃ©tico era a proibiÃ§Ã£o de palavras estrangeiras, que produzia ridÃculos hilariantes, como um pub ser chamado de "pabe".
Na ItÃ¡lia, atÃ© hoje, a heranÃ§a mussolinista exige que os filmes sejam dublados em italiano. Os de Woody Allen ficam tÃ£o absurdos quanto os de Spike Lee ou "Cidade de Deus" falado em italiano: "Dadinho Ã© il cazzo, il mio nome Ã© ZÃ© Piccolo!". A versÃ£o original legendada sÃ³ passa em raros cinemas de arte. Mas agora Ã© tarde, e o povo jÃ¡ se acostumou. Mas os italianos alfabetizados estÃ£o perdendo boa parte do valor desses filmes.
As ditaduras, de esquerda e de direita, e o autoritarismo em geral adoram proteger a pureza da lÃngua pÃ¡tria, para melhor nos defenderem das influÃªncias malÃ©ficas e das ameaÃ§as que o estrangeiro sempre representa. Pela soberania e a uniÃ£o nacional, como diziam Franco e StÃ¡lin.
A ignorÃ¢ncia tambÃ©m odeia as lÃnguas que nÃ£o entende, inveja os que as falam, finge desprezÃ¡-los ao valorizar coisas como a sabedoria da vida real, a linguagem sem palavras, o idioma universal dos sentimentos e outras baboseiras.
Agora o Congresso vai votar uma lei do deputado comunista monoglota Aldo Rabelo que proÃbe o uso pÃºblico de palavras estrangeiras e pode nos levar, em plena era da globalizaÃ§Ã£o e da comunicaÃ§Ã£o instantÃ¢nea, a perdas irreparÃ¡veis na rica lÃngua falada no Brasil, que tem a sua dinÃ¢mica prÃ³pria e se transforma a cada dia. Tem sido assim desde sempre, senÃ£o nÃ£o terÃamos o portuguÃªs que se fala (e alguns atÃ© escrevem muito bem) no Brasil moderno. Se dependesse dos defensores da lÃngua pura, estarÃamos falando tupi atÃ© hoje.

Nelson Motta - Fonte: Folha de S.Paulo - 28/12/07.

DESEJOS PARA 2008

O ANO de 2007 aproxima-se do seu final e Ã© provÃ¡vel que exista alguma ansiedade entre os leitores. Onde passar o RÃ©veillon? E o que fazer em 2008 para que o ano seja realmente especial?
NÃ£o tremam, leitores: de acordo com as Ãºltimas tendÃªncias, Ã© preciso variar no turismo. Paris? Roma? Londres ou Nova York? Interessantes, sim. Convencionais, sem dÃºvida. Mas, nas palavras de Ken Shapiro, editor da "Travel Age West" citado pela imprensa inglesa, a verdadeira moda e o verdadeiro desafio estÃ£o no "turismo-catÃ¡strofe".
O raciocÃnio de Shapiro Ã© exemplar: se o aquecimento global estÃ¡ a destruir o planeta Terra, nÃ£o seria preferÃvel visitar alguns locais que, amanhÃ£ de manhÃ£ ou, talvez, depois de amanhÃ£, jÃ¡ nÃ£o existirÃ£o no nosso mundo?
Os turistas da catÃ¡strofe aumentaram estrondosamente em 2007. E os locais visitados cobrem os quatro cantos da Terra: da AntÃ¡rtida ao Kilimanjaro, sem esquecer as Maldivas ou a PatagÃ´nia, milhares de visitantes apressam-se a ver neve (Kilimanjaro) ou terra nÃ£o coberta por Ã¡gua (Maldivas) para que um dia possam contar aos netos como era o mundo nos inÃcios do sÃ©culo 21.
Claro que essa conversa toda pressupÃµe um cenÃ¡rio otimista: a existÃªncia de netos no sÃ©culo 22. Digo otimista porque, nas conversas sobre o clima, Ã© impossÃvel nÃ£o perceber a verdadeira causa da tragÃ©dia.
E a verdadeira causa somos nÃ³s, humanos, que diariamente contribuÃmos para o fim do mundo com nossos comportamentos egoÃstas e insensatos. A crenÃ§a inocente de que existirÃ£o seres humanos no sÃ©culo 22 Ã© suficientemente atroz para encher de repugnÃ¢ncia qualquer ambientalista. Seres humanos? Daqueles que vivem e respiram? Mas a Terra nÃ£o seria um local imensamente mais aprazÃvel sem eles?
O jornalista Alan Weisman respondeu afirmativamente no livro "The World Without Us", um dos sucessos editoriais de 2007. IdÃ©ia de Weisman: imaginar o momento em que os humanos saem de cena e a mÃ£e-natureza fica entregue ao seu destino. Em 300 pÃ¡ginas, a tese de Weisman Ã© demolidora: se os humanos se extinguirem de um momento para o outro (um vÃrus, uma guerra, um surto de esterilidade), serÃ¡ possÃvel observar melhor o rastro de destruiÃ§Ã£o que deixaram.
Mas serÃ¡ possÃvel observar mais: a forma como a mÃ£e-natureza consegue lidar com os estragos, sarando as feridas e recompondo os seus ecossistemas. Em alguns sÃ©culos, a natureza consegue corrigir a destruiÃ§Ã£o humana que durou milÃªnios.
Confesso-me conquistado pela tese de Weisman. E, nos Ãºltimos dias de 2007, questiono honestamente se a humanidade nÃ£o deveria formular dois desejos para 2008. Primeiro, comprar o pacote completo de "turismo-catÃ¡strofe" e dizer adeus a uma calota de gelo ou a um urso-polar. E, depois, dizer finalmente adeus ao planeta em suicÃdio coletivo e mundial. Com a certeza redentora de que os ursos e as calotas continuariam depois de nÃ³s.

JoÃ£o Pereira Coutinho - Fonte: Folha de S.Paulo - 26/12/07.

E NÃ“IS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR Ã‰ UMANO!

Se vocÃª vir alguma coisa errada, mande um e-mail pelo FALE CONOSCO que "a ajente correge". Clique aqui e envie: http://www.faculdademental.com.br/fale.php