"HERROS" DITATORIAIS
MEMĂRIAS REVELADAS
O governo federal estĂĄ veiculando, ao custo de R$ 13,5 milhĂ”es, anĂșncios em TV, rĂĄdios, jornais e revistas para estimular a entrega de documentos sobre a localização de desaparecidos no regime militar (1964-85).
Produzida pela Secretaria de Comunicação Social da PresidĂȘncia, a campanha vai durar dois meses e serĂĄ veiculada nacionalmente em TV e revistas -em rĂĄdio, serĂĄ mais concentrada na regiĂŁo do Araguaia.
Os filmes para TV, que contam com a participação de familiares de desaparecidos polĂticos, foram dirigidos pelos cineastas Cao Hamburguer, JoĂŁo Batista de Andrade e HelvĂ©cio Ratton.
Segundo o governo, quem entregar documentos -o que pode ser feito pela internet (www.memoriasreveladas.gov.br)- terĂĄ a garantia de anonimato. O material coletado serĂĄ encaminhado ao Centro de ReferĂȘncia das Lutas PolĂticas no Brasil -MemĂłrias Reveladas.
Para o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, "qualquer que seja a divergĂȘncia ideolĂłgica, histĂłrica polĂtica sobre o perĂodo, ninguĂ©m pode ter divergĂȘncia sobre o direito de localizar os restos mortais e sepultar".
Fonte: Folha de S.Paulo â 26/09/09.
Mais detalhes:
http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/campanha/index.htm
http://www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/campanha/memorias-reveladas/
PIROTECNIA
Os lĂderes do G-20 nĂŁo se aprofundaram nos assuntos mais importantes para o futuro da economia global: a regulação mais rĂgida do sistema financeiro, para evitar novas panes bancĂĄrias, e a estratĂ©gia de saĂda das polĂticas anticrise que elevaram os gastos e o endividamento pĂșblicos a nĂveis estratosfĂ©ricos no mundo. Em Pittisburgh, como em Londres, eles preferiram se fixar em temas mais fĂĄceis e nĂŁo polĂȘmicos, evitando os mais complicados. Muita cena polĂtica e pouca decisĂŁo relevante.
Raquel Faria - Fonte: O Tempo â 28/09/09.
DIA NACIONAL DO VEREADOR
Dia 1Âș de outubro foi o Dia Nacional do Vereador. Para marcar a data, a CĂąmara de Governador Valadares, Leste de Minas, criou uma homenagem polĂȘmica. Os 13 vereadores da cidade âseâ deram folga. Os demais servidores da Casa trabalharam, o descanso foi vĂĄlido sĂł para os vereadores.
Aparte - Fonte: O Tempo â 01/10/09.
ANTROPOCENO, A ERA DA DESTRUIĂĂO
A revista Nature, a mais prestigiosa publicação cientĂfica mundial, publicou na sua edição de 24 de setembro um manifesto assinado por 29 cientistas mundiais. O grupo avisa que as atividades diĂĄrias dos 6 bilhĂ”es de humanos resultam por si em uma força geofĂsica capaz de mudar completamente a Terra, equivalente Ă s grandes forças da natureza. Parece um assunto meio batido, mas, no intuito de anunciar cientificamente o Dia do JuĂzo Final, o grupo descreve limites biofĂsicos que, se ultrapassados, gerariam enormes catĂĄstrofes.
Para os cientistas, esses limites sĂŁo bem definidos e podem ser quantificados em cada ĂĄrea de interferĂȘncia humana: poluição quĂmica, mudança climĂĄtica, acidificação dos oceanos, perda do escudo de ozĂŽnio na atmosfera, ciclo do nitrogĂȘnio, ciclo do fĂłsforo, uso de ĂĄgua doce, mudança do solo, biodiversidade e sobrecarga de aerossĂłis na atmosfera.
Em trĂȘs deles os limites de sustentabilidade jĂĄ foram ultrapassados. Os humanos mudaram o clima, aumentaram demais os resĂduos orgĂąnicos de nitrogĂȘnio e ameaçaram ou extinguiram tantas espĂ©cies que a natureza nĂŁo consegue mais recuperar essas alteraçÔes sem apoio.
Outros seis limites de sustentabilidade poderão ser ultrapassados nas próximas décadas se nada for feito, mas a pergunta fundamental é: quanto a Terra consegue suportar antes que a vida humana se torne inviåvel em nosso planeta? Um dos coordenadores do estudo, Diana Liverman, da Universidade do Arizona e também da Universidade de Oxford, explica que o principal intuito desse manifesto é estimular estudos que identifiquem até quanto nosso planeta pode aguentar nossas trapalhadas e como interromper esse processo antes que seja tarde demais.
A cientista explica que hoje podemos quantificar algumas dessas agressĂ”es e o limite que a Terra pode suportar, mas existe sempre uma interação entre os fatores que potencializam as açÔes agressoras. Como, por exemplo, a extinção de espĂ©cies acaba por interferir na reserva de carbono, uso do solo, da ĂĄgua e assim por diante. Alguns nĂșmeros a comunidade cientĂfica conhece. Os limites de extinção de espĂ©cies que a natureza poderia compensar anualmente Ă© de dez espĂ©cies por milhĂŁo de existentes. Antes da Revolução Industrial, o nĂșmero era de 0,1 espĂ©cie extinta. Agora atinge a marca anual de cem espĂ©cies extintas por milhĂŁo existente.
Johan Rockstrom, da Universidade de Estocolmo, coordenador do estudo, acredita que o manifesto dĂĄ nĂșmeros cruciais que podem ser utilizados nos acordos antipoluição entre naçÔes e avisa que, se nĂŁo agirmos longe desses limites jĂĄ conhecidos, o fim estarĂĄ prĂłximo. Mas se os respeitarmos teremos ainda sĂ©culos e sĂ©culos de feliz existĂȘncia.
Vestibulandos, atenção!
Um estudo publicado na revista Brain and Cognition de setembro, pelo mĂ©dico Chun-yen Chang, de Taiwan, comparou o score no vestibular e o cĂłdigo genĂ©tico de vestibulandos, especificamente em relação Ă existĂȘncia ou nĂŁo de mutação em um gene chamado Comt. Isso pode identificar em que tipo de prova podemos ir melhor.
Como no Brasil, estudantes taiwaneses passam por teste nacional para obter vaga na universidade. Chun-yen avaliou o score de 800 estudantes e comparou se apresentavam alguma diferença na expressĂŁo do gene Comt, que carrega o cĂłdigo para a produção de uma proteĂna que recicla a dopamina, associada Ă inteligĂȘncia.
Segundo o cientista, alunos com uma ou duas cĂłpias de mutação no gene que coloca uma Metionina, um aminoĂĄcido, na regiĂŁo 158 da proteĂna, os Met-158, vĂŁo melhor nos testes de QI do que os estudantes que possuem a Valina na mesma regiĂŁo, os Val-158. Em contrapartida, os Val-158 vĂŁo melhor nos testes de humanas, e se o teste for estressante, eles tĂȘm muito mais estabilidade emocional que os Met-158.
O autor nĂŁo arrisca qual o potencial valor em sabermos nosso cĂłdigo genĂ©tico antes do vestibular, pois, alĂ©m disso, o gene Comt deve participar apenas como mais um agente de comportamento que influencia a inteligĂȘncia, assim como tantos outros.
Certo mesmo Ă© que a memĂłria parece ter um importante componente genĂ©tico, mas multivariado e complexo, do qual conhecemos apenas uma minĂșscula parte.
Rogério Tuma - Fonte: Carta Capital - Edição 565.
Nature - http://www.nature.com/
Universidade do Arizona - http://www.arizona.edu/
Universidade de Oxford - http://www.ox.ac.uk/
Universidade de Estocolmo - http://www.su.se/english/
Brain and Cognition - http://www.innovationmagazine.com/innovation/volumes/v5n3/coverstory3.shtml
PONTO DE PARTIDA
NĂŁo Ă© toda hora que o Brasil aparece num bom lugar nessas listas internacionais em que se relacionam os paĂses que estĂŁo fazendo alguma coisa melhor que os outros. O normal, na verdade, Ă© acontecer justamente o contrĂĄrio: estamos quase sempre no topo da tabela quando se medem desgraças como homicĂdios, falta de esgoto ou trabalho infantil e no fim da fila quando a classificação se refere a honestidade na polĂtica, qualidade dos serviços pĂșblicos ou distribuição de renda. Somos ruins, tambĂ©m, ou muito ruins, em prostituição de crianças, demora para o cidadĂŁo ser atendido no sistema de saĂșde pĂșblica, excesso de impostos, mortes no trĂąnsito, burocracia, mandados de prisĂŁo nĂŁo cumpridos, rebeliĂ”es em penitenciĂĄrias, ferrovias, rodovias, outras vias â enfim, Ă© um desfile que vai longe e, no fundo, diz quase tudo sobre a extraordinĂĄria dificuldade que os governos brasileiros, de qualquer Ă©poca, tĂȘm para cumprir a sua obrigação de resolver problemas bĂĄsicos da vida real. Ă uma surpresa e um alĂvio, assim, ver uma mudança nessa escrita, e numa questĂŁo essencial: de acordo com o mais recente levantamento internacional feito na ĂĄrea, com dados de 2006, o Brasil Ă© o segundo paĂs, em todo o mundo, que mais investe dinheiro pĂșblico em educação, como porcentagem sobre o total dos gastos do governo. Fica atrĂĄs apenas do MĂ©xico â e, entre os paĂses que ocupam os primeiros quinze lugares da lista, foi o que mais aumentou o seu investimento no setor de 2000 a 2006.
NĂŁo se trata, no caso, de conversa do PAC, ou de cifras fabricadas nos serviços de modelagem estatĂstica do governo. Os dados sĂŁo da OCDE, ou Organização para Cooperação e Desenvolvimento EconĂŽmico, ĂłrgĂŁo internacional com reputação de competĂȘncia tĂ©cnica, precisĂŁo e neutralidade nas pesquisas que realiza. Ou seja: Ă© isso mesmo. O Brasil, que descobriu tarde a necessidade de investir em educação, e depois de ter descoberto passou dĂ©cadas sem fazer grande coisa a respeito, Ă© hoje um paĂs que estĂĄ pondo mais recursos do que nunca em seu sistema de ensino pĂșblico; mais, proporcionalmente, do que campeĂ”es mundiais da educação como Coreia do Sul ou Estados Unidos, e mais do que a mĂ©dia atual dos trinta paĂses-membros da OCDE. O problema, como de costume, estĂĄ em quando se passa dos nĂșmeros para os resultados prĂĄticos. Se o Brasil, em termos de esforço financeiro para educar a sua população, Ă© o segundo melhor paĂs do mundo, por que a educação brasileira Ă© tĂŁo ruim? Ă Ăłbvio que houve ganhos. Nos Ășltimos quarenta anos, a população brasileira aumentou em 100 milhĂ”es de habitantes, experiĂȘncia desconhecida por qualquer paĂs desenvolvido do planeta; foi preciso, de um jeito ou de outro, criar lugares na escola para essa gente toda, e o fato Ă© que os lugares foram criados, tanto assim que cerca de 95% das crianças e jovens em idade escolar frequentam hoje as salas de aula. Criou-se, a partir das prefeituras, um vasto sistema de transporte para os alunos da escola pĂșblica â algo fundamental e que simplesmente nĂŁo existia. Da mesma forma, passou a haver distribuição em massa de material didĂĄtico. A merenda escolar foi universalizada. A maioria dos pais, entre os brasileiros pobres, acha que a educação recebida hoje por seus filhos Ă© melhor do que a educação que eles receberam.
TĂŁo real quanto isso tudo Ă© a espetacular ruindade do sistema em seu conjunto, do primĂĄrio Ă universidade, no ensino pĂșblico e em boa parte do particular. Com todo o dinheiro que gasta, o Brasil continua tendo mais de 14 milhĂ”es de analfabetos. Nenhuma universidade brasileira estĂĄ entre as 100 melhores do mundo. Os nĂveis de aproveitamento em matemĂĄtica, fĂsica e outras disciplinas-chave para a capacitação tecnolĂłgica estĂŁo entre os piores. NĂŁo temos conhecimento de mĂ©todos didĂĄticos eficazes. NĂŁo sabemos como ensinar, nem o que ensinar. O sistema todo, na educação pĂșblica, estĂĄ armado de forma a atender aos interesses, Ă s ideias e Ă s pressĂ”es de professores e funcionĂĄrios, principalmente na universidade. NĂŁo Ă© nenhuma surpresa que as universidades americanas, na sua maioria entidades privadas, prestem muito mais conta de suas atividades do que as universidades pĂșblicas do Brasil.
Nada disso, como provam os nĂșmeros, acontece por falta de verba. Ă resultado, ao contrĂĄrio, da ilusĂŁo de que se pode resolver problemas sĂł com dinheiro â mas sem trabalho, talento e coragem. Nosso desastre educacional mostra que o Brasil aprendeu a gastar, mas nĂŁo aprendeu a ensinar; continua confundindo o ponto de partida com o ponto de chegada.
J.R.Guzzo - Fonte: Veja - Edição 2132.
PSICANĂLISE DE UM CORRUPTO EM CRISE
"Doutora, eu procurei a psicanĂĄlise porque ando com um estranho sintoma: Ă s vezes tenho o que vocĂȘs chamam de âsentimento de culpa...â Sinto-me como o chefĂŁo da famĂlia Soprano, com aquela psicanalista gostosa, com pernas lindas - as psicanalistas falam pelas pernas...
Tenho tido pesadelos: sonho que morri assassinado por mim mesmo, que estou preso com traficantes estupradores. NĂŁo mereço isso, eu, que sempre assumi minha condição de corrupto ativo e passivo... (nĂŁo pense que Ă© veadagem nĂŁo, hein, doutora... ah, ah, ah...). NĂŁo sou um ladrĂŁo de galinhas, mas jĂĄ roubei galinhas do vizinho e atĂ© hoje sinto o cheiro das penosas que eu agarrava. Ah, ah, ah... Mas hoje em dia, doutora, nĂŁo roubo mais por necessidade; Ă© prazer mesmo. Estou muito bem de vida, tenho sete fazendas reais e sete imaginĂĄrias, mando em cidades do Nordeste, tenho tudo, mas confesso que sou viciado na adrenalina que me arde no sangue na hora em que a mala preta voa em minha direção, cheia de dĂłlares, vibro quando vejo os olhos covardes do empresĂĄrio me pagando a propina, suas mĂŁos trĂȘmulas me passando o tutu, delicio-me quando o juiz me dĂĄ ganho de causa, ostentando honestidade, e finge nĂŁo perceber minha piscadela marota na hora da liminar comprada (estĂĄ entre US$ 30 a US$ 50 mil hoje), babo ao ver juĂzes sabujos diante de meu poder de parlamentar e fazendeiro rico.
Como, doutora? Se me sinto superior assim? Bem, Ă© verdade... Adoro a sensação de me sentir acima dos otĂĄrios que me âcompramâ, eles se humilhando em vez de mim.
Roubar dĂĄ tesĂŁo; liberta-me. Eu explico: roubar me tira do mundo dos âobedientesâ e me provoca quase um orgasmo quando embolso uma bolada. Desculpe... a senhora Ă© mulher fina, coisa e tal, mas adoro sentir o espanto de uma prostituta, quando eu lhe arrojo US$ 1.000 entre as coxas e vejo sua gratidĂŁo acesa, fazendo-a caprichar em carĂcias mais perversas. Ă uma delĂcia, doutora, rolar, nu, em cima de notas de US$ 100 na cama, de madrugada, sozinho, comendo castanhas e chocolatinhos do frigobar de um hotel vagabundo, em uma cidade onde descolei um canal de esgoto superfaturado. A senhora nĂŁo imagina a volĂșpia de ostentar seriedade em salĂ”es de caretas que te xingam pelas costas, mas que te invejam secretamente pela liberdade cĂnica que te habita. Suas mulheres me olham excitadas, pensando nos brilhantes que poderiam ganhar de mim, viril e sorridente - todo bom ladrĂŁo Ă© simpĂĄtico. A senhora nĂŁo tem ideia aĂ, sentada nessa poltrona do Freud, do orgulho que sinto, atĂ© quando roubo verbas de remĂ©dios para criancinhas, ao conseguir dominar a vergonha e transformĂĄ-la na bela frieza que constrĂłi o grande homem. E, agora, esse sentimentozinho de âculpaâ tĂŁo chato...
Sei muito bem os gestos e rituais dos ladrĂ”es (tenho de usar essa palavra triste): sei fazer imposturas, perfĂdias, tretas, burlarias, sei usar falsas virtudes, ostentar dignidade em CPIs, dou beijos de Judas, levo desaforo para casa sim, sei dar abraços de tamanduĂĄ e chorar lĂĄgrimas de crocodilo... Sou Ăłtimo ator e especialista em amnĂ©sias polĂticas. Eu jĂĄ declarei de testa alta na CĂąmara: âNĂŁo sei nem imagino como esses milhĂ”es de dĂłlares apareceram em minha conta na SuĂça, apesar desses extratos todos, pois nĂŁo tenho nem nunca tive conta no exterior!â Esse grau de mentira Ă© tĂŁo Ăntegro que deixa de ser mentira e vira uma arte.
Doutora, no Brasil hĂĄ dois tipos de ladrĂ”es de colarinho branco: hĂĄ o ladrĂŁo âextensivoâ e o âintensivoâ.
NĂŁo tolero os ladrĂ”es intensivos, os intempestivos sem classe... Falta-lhes elegĂąncia e âfinesseâ. Roubam por rancor, roubam o que lhes aparece na frente, acham-se no direito de se vingar de passadas humilhaçÔes, dores de corno, porradas na cara nĂŁo revidadas, suspiros de mĂŁe lavadeira.
Eu, nĂŁo. Eu sou um cordial, um cavalheiro; tenho paciĂȘncia e sabedoria, comecei pouco a pouco, como as galinhas que roubei na infĂąncia, que, de grĂŁo em grĂŁo, enchiam o papo... ah, ah, ah... Eu sou aquele que vai roubando ao longo da vida polĂtica e ao fim de dĂ©cadas jĂĄ tem âRenoirsâ na parede, lanchĂ”es, helicĂłpteros, esposas infelizes (nĂŁo sei por que, se dou tudo a ela), filhos estroinas e malucos... (mandei estudar na SuĂça e nĂŁo adiantou).
Eu adquiri uma respeitabilidade altaneira que confunde meus inimigos, que ficam na dĂșvida se eu tenho mesmo a grandeza acima dos homens comuns. No fundo, eu me acho mesmo especial; nĂŁo sou comum.
Perto de mim, homens como PC foram meros cleptomanĂacos... Sou profissional e didĂĄtico... Eu me considero um Gilberto Freyre da escrotidĂŁo nacional...
Olhe para mim, doutora. Eu estou no lugar da verdade. Este paĂs foi feito assim, na vala entre o pĂșblico e o privado. HĂĄ uma grandeza insuspeitada na apropriação indĂ©bita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta nĂŁo produz flores magnĂficas? O que vocĂȘs chamam de âroubalheiraâ eu chamo de âprogressoâ portuguĂȘs, nada da frieza anglo-saxĂŽnica.
Eu sempre fui muito feliz... Sempre adorei os jantares nordestinos, cheios de moquecas e maracutaias, sempre amei as cotoveladas cĂșmplices quando se liberam verbas, os cĂĄlidos abraços de famĂlias de mĂĄfias rurais... Lembra da linda piscina verde em Canapi, no meio da caatinga, na Ă©poca Collor? Adorava aquilo; era uma verdadeira instalação brasileira contemporĂąnea - devia estar na Bienal.
A senhora me pergunta por que eu lhe procurei?
Tudo bem; vou contar.
Outro dia, fui assistir a uma execução. Mataram um neguinho no terreno baldio. Ele implorava quando lhe passaram o fio de nylon no pescoço e apertaram atĂ© ele cair, bem embaixo de uma placa de financiamento pĂșblico. Na hora, atĂ© me excitei; tive uma ereção, confesso. Mas quando cheguei em casa, com meus filhos vendo âHigh School Musicalâ na TV, fui tomado por esse mal-estar que vocĂȘs chamam de âsentimento de culpaâ...
Por isso, doutora, preciso que me cure logo... Tem muita verba pĂșblica pintando aĂ, muita emenda no Orçamento, empreiteiros me ligando... Tenho de continuar minha missĂŁo, doutora..."
Arnaldo Jabor (http://www.arnaldojabor.blogger.com.br/) - Fonte: O Tempo â 29/09/09.
E NĂIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR Ă UMANO!
Se vocĂȘ vir alguma coisa errada, mande um e-mail pelo FALE CONOSCO que "a ajente correge". Clique aqui e envie: http://www.faculdademental.com.br/fale.php