POMBA DA PAZ???
POMBA DA PAZ DE COLETE
O muro construĂdo por Israel para separar seu territĂłrio da CisjordĂąnia (ĂĄrea reclamada pela Palestina) virou tela de pintura para um grupo de grafiteiros londrinos. Eles elegeram BelĂ©m como palco da exposição anual Santa's Guetto, que normalmente faz crĂticas ao consumismo no Natal, mas neste ano abordou o conflito entre Israel e Palestina. Entre as obras, uma pomba branca, sĂmbolo da paz, usa colete Ă prova de balas.
Fonte: Ăpoca - NĂșmero 499.
PARA ENTENDER A POLITICOLĂNGUA
Termos mais em evidĂȘncia do idioma falado no reino dos renans e seu significado:
AcordĂŁo s.m. â Aumentativo de acordo. Usado na semana passada para caracterizar o movimento que levou Ă absolvição no Senado, por 48 votos contra 29 e trĂȘs abstençÔes, do senador Renan Calheiros, no processo em que era acusado de quebra de decoro por ser proprietĂĄrio secreto de empresas de comunicação. Os aumentativos sĂŁo muito apreciados no Brasil, quer quando se trata de estĂĄdios de futebol (MineirĂŁo, BarradĂŁo, EngenhĂŁo), de campeonatos (BrasileirĂŁo) e atĂ© de empreendimentos comerciais (DrogĂŁo, FeirĂŁo, Ponto Frio BonzĂŁo). A idĂ©ia parece ser nĂŁo sĂł ressaltar a magnitude das obras (no caso dos estĂĄdios), dos eventos e dos empreendimentos comerciais, mas tambĂ©m, pelo apelido de suposto gosto popular, criar um vĂnculo de familiaridade, ou mesmo afeto, com o pĂșblico. No caso da polĂtica, alĂ©m de significar uma operação de proporçÔes grandes (o acordo para salvar Renan uniu mĂșltiplos grupos, partidos e pessoas), o aumentativo transmite, ao contrĂĄrio, um sentido de ação escusa, ou debochada, ou ilĂcita. Ilustre antecedente de "acordĂŁo", no lĂ©xico polĂtico, Ă© o "centrĂŁo" da Ă©poca da Constituinte. "CentrĂŁo" queria dizer nĂŁo sĂł um centro grande, mas um centro debochado, pelo qual transitavam preferencialmente os pleitos fisiolĂłgicos e os interesses inconfessĂĄveis. "AcordĂŁo" remete igualmente ao locus privilegiado da malandragem ou da pura e simples roubalheira. Quando se fala em "centro" ou "acordo", a coisa Ă© sĂ©ria. Quando se fala em "centrĂŁo" ou "acordĂŁo", nĂŁo Ă©.
Chinelinho s.m. â Diminutivo de chinelo. Usado pelo senador Wellington Salgado (o da cabeleira), logo apĂłs a derrota da medida provisĂłria que criava a Secretaria de Longo Prazo, em setembro, para designar o agrado, o mimo, o presentinho, que seu grupo, o dos parlamentares menos conhecidos do PMDB, reivindicava para votar com o governo. A palavra inseria-se na seguinte e piedosa declaração: "NĂŁo Ă© um sapato de cromo alemĂŁo que os franciscanos querem, mas um chinelinho novo. Pode atĂ© ser usado, o que ninguĂ©m agĂŒenta mais Ă© machucar o pĂ©". Tal qual os aumentativos, os diminutivos servem a peculiares intençÔes, na lĂngua brasileira. Podem pretender disfarçar grandes vĂcios â por exemplo, quando se diz "vou tomar um uisquinho" ou "vou fumar um cigarrinho". Podem querer amortecer o impacto de transgressĂ”es, como quando o empregado diz ao patrĂŁo, ou o marido Ă mulher, que vai dar "uma saidinha". Ou podem tentar esconder o carĂĄter insuperĂĄvel de uma dificuldade, como quando se diz que surgiu "um probleminha". No caso, o senador quer dizer que nĂŁo estĂĄ querendo grande coisa, o que talvez nĂŁo seja verdade (como quando se pede "um favorzinho"), mas louve-se sua sinceridade ao admitir que estĂĄ pedindo, sim, e que sĂł em troca de um benefĂcio, uma vantagem, uma paga, Ă© que votarĂĄ com o governo. Chama atenção igualmente a menção aos "franciscanos", e nĂŁo apenas porque esses religiosos usam chinelinhos, mas porque Ă© uma explĂcita remissĂŁo ao "Ă© dando que se recebe" da oração de SĂŁo Francisco tĂŁo entoada pelo "centrĂŁo" em outros momentos do Parlamento brasileiro. Como se vĂȘ, aumentativos, como "centrĂŁo", e diminutivos, como "chinelinho", convergem para o mesmo leito em que corre o rio da polĂtica brasileira.
Metamorfose s.f., ambulante adj. â Modo pelo qual o presidente Lula se definiu ao justificar na semana passada sua mudança de idĂ©ia com relação Ă CPMF â contra quando na oposição, hoje a favor. A expressĂŁo, jĂĄ citada em ocasiĂŁo anterior pelo presidente, Ă© uma citação do roqueiro Raul Seixas: "Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opiniĂŁo formada sobre tudo". Equivale a uma versĂŁo Lula do "Esqueçam o que escrevi" de seu antecessor. Metamorfoses ambulantes sĂŁo Lula e tambĂ©m o PT. No caso da CPMF, atĂ© se pode considerar que a metamorfose se opera numa manifestação benigna. Mais grave Ă© a metamorfose experimentada por um e outro no departamento da moral e bons costumes polĂticos.
RenĂąnia nome prĂłprio â RegiĂŁo da Alemanha Ă margem do Rio Reno. Mas tambĂ©m, na feliz criação do jornalista Melchiades Filho, da Folha de S.Paulo, a terra dos renans, "quer dizer, BrasĂlia". Engana-se quem pensa que Renan Calheiros foi o Ășnico absolvido na semana passada. Foi o conjunto de renans (pelo menos 48) que se absolveu a si prĂłprio. BrasĂlia tem nos renans um de seus espĂ©cimes mais caracterĂsticos. No caso Renan Calheiros espelhava-se uma multidĂŁo de renans que, nĂŁo fosse o bafo na nuca soprado pela imprensa e pela opiniĂŁo pĂșblica, teria arremessado o assunto ao arquivo morto jĂĄ no nascedouro. Assim como Renan Calheiros, mais de vinte outros renans do Senado sĂŁo proprietĂĄrios de meios de comunicação, ao contrĂĄrio do que determina a Constituição. Terminada a votação, os renans, entre os quais aqueles que atendem pelo nome de Barbalho, LobĂŁo ou JucĂĄ (JucĂĄ!), foram comemorar o resultado na residĂȘncia do senador Sarney. Nada mais justo: a casa pode ser considerada a capital da RenĂąnia, e seu dono, seu santo padroeiro.
Roberto Pompeu de Toledo - Fonte: Veja - Edição 2038.
E NĂIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR Ă UMANO!
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