VAMOS "HERRAR", QUER DIZER, VIAJAR DE CARROĂA?
E NĂIS QUE PENSAVA QUE NUNCA ERRAVA!
CONTINUAMOS ERRANDO PROPOSITALMENTE...! HERRAR Ă UMANO!
NINGUĂM SEGURA "ECE" PAĂS IX
Diante da crise aérea, serå que viajar de carroça é mais råpido? Confira a foto!
(Colaboração: Sérgio)
MORATĂRIA AĂREA, JĂ
O desastre da Gol, dez meses atrĂĄs, ficou escondido na floresta. Este, ao contrĂĄrio, ocorrido numa rua movimentada da mais movimentada cidade do paĂs, converteu-se num outdoor da incompetĂȘncia governamental brasileira. Se houvesse coragem e vergonha na cara, a partir daquele exato momento em que o aviĂŁo da TAM escapou da pista, deu um rasante sobre a avenida e foi embrechar-se no prĂ©dio do outro lado, deveria ter sido decretada uma geral e inapelĂĄvel moratĂłria aĂ©rea no paĂs. Pousos e decolagens seriam suspensos, em todo o territĂłrio nacional, pelo tempo necessĂĄrio para uma ampla e definitiva rearrumação de todas as etapas do trĂĄfego aĂ©reo. Dane-se que famĂlias se veriam separadas, que autoridades se achariam impedidas de executar suas funçÔes, que negĂłcios deixariam de ser feitos, que muita atividade seria paralisada e muito dinheiro perdido. Dane-se que se condenariam milhĂ”es de pessoas a buscar socorro na falida rede rodoviĂĄria nacional. Dane-se que o paĂs se converteria em alvo de chacota do mundo â mesmo porque jĂĄ Ă©. A verdade nua e crua, depois que, no curto espaço de dez meses, foram quebrados dois recordes em matĂ©ria de vĂtimas em acidentes aĂ©reos, Ă© que o Brasil nĂŁo Ă© um paĂs onde se possa voar de modo seguro, para nĂŁo falar em conforto e observĂąncia de horĂĄrios. Melhor, sendo assim, Ă© nĂŁo voar de vez.
A causa ou as causas exatas do acidente ainda demorarĂŁo para ser anunciadas, se Ă© que o serĂŁo um dia. Aguardam-nos, nos prĂłximos meses, a lengalenga e o empurra-empurra habituais. Mas Ă© certo 1) que a pista principal do Aeroporto de Congonhas, na qual tentava pousar o aviĂŁo da TAM, foi entregue sem as ranhuras que possibilitam o escoamento da ĂĄgua, depois de ter permanecido fechada, durante meses, para reformas realizadas, precisamente, para prevenir derrapagens, e 2) que dois casos de aviĂ”es que derraparam se registraram, nos dias anteriores. Ou seja: Ă© de palmar evidĂȘncia que a pista nĂŁo apresentava boas condiçÔes. Eis-nos diante de um caso, tĂŁo tipicamente Brasil, de obra pĂșblica malfeita, ou feita pela metade. Tal circunstĂąncia tipifica o acidente como fruto mais do que provĂĄvel de uma incompetĂȘncia conjuntural, aliada a uma tibieza histĂłrica.
A incompetĂȘncia conjuntural Ă© a do governo Lula. Jamais, neste paĂs, se viu governo que combinasse tanta papagaiada com tĂŁo pouca ação. Nos dez meses em que, a partir do acidente da Gol, a crise aĂ©rea aflorou em toda a sua magnitude, num coquetel que mistura controladores de vĂŽo rebeldes, infra-estrutura deficiente e empresas aĂ©reas sem respeito pela clientela, o presidente rugiu, esbravejou e ameaçou na mesma medida em que tomou providĂȘncia zero. O que ficou claro, nesse perĂodo, foram o carĂĄter decorativo do MinistĂ©rio da Defesa; a inoperĂąncia da Anac, a AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil, vitimada, como as demais agĂȘncias reguladoras, pela ideolĂłgica mĂĄ vontade petista; o atordoamento da AeronĂĄutica, perdida entre a defesa dos sistemas pelos quais Ă© responsĂĄvel e a luta pela preservação de seus nichos na aviação civil; e as artimanhas da Infraero, tĂŁo notĂłria pelas lojas que multiplica nos aeroportos quanto pelos escĂąndalos que se esfalfa por manter fora do alcance das investigaçÔes. O fato de ter privilegiado uma ampla reforma nas instalaçÔes de embarque e desembarque em Congonhas sobre a reforma da pista diz tudo da filosofia da empresa. Ela age como um hospital mais voltado para os bordados nos lençóis do que para manter em ordem os bisturis dos cirurgiĂ”es.
A tibieza histĂłrica Ă© a complacĂȘncia com que, jĂĄ hĂĄ muitos governos, se empurra o problema de Congonhas. NĂŁo Ă© sĂł inconveniente, Ă© louco ter num aeroporto pequeno, cercado de ruas, trĂąnsito intenso, prĂ©dios e casas, o mais movimentado do paĂs. Surge um acidente, como o de 1996, em que um aviĂŁo da TAM desabou sobre casas da vizinhança, e o problema vem Ă tona. Em seguida Ă© esquecido. Os passageiros pressionam as companhias aĂ©reas, que pressionam as autoridades, e uma quantidade crescente de vĂŽos vai sendo alocada em Congonhas, para fugir dos mais distantes Cumbica e Viracopos. A conversa de construir um trem expresso para Cumbica, ou mesmo para Viracopos, nĂŁo serve senĂŁo de flauta para encantar os carneirinhos. Se alguma coisa Ă© lĂquida e certa, neste Ășltimo acidente, Ă© que, se nĂŁo fosse em Congonhas, nĂŁo ocorreria. O aviĂŁo nĂŁo encontraria um prĂ©dio em sua arremetida. E muito menos um prĂ©dio com um posto de gasolina ao lado â atĂ© posto de gasolina tem ali, grudado!
O apagĂŁo aĂ©reo, desdobrado em dupla tragĂ©dia, ocorre no mesmo paĂs em que se moldam as convicçÔes com mensalĂ”es, se assalta o MinistĂ©rio da SaĂșde com a compra de ambulĂąncias superfaturadas, empreiteiras conhecem a prosperidade erguendo pontes do nada para lugar nenhum, plataformas de exploração de petrĂłleo fazem jorrar ouro no bolso de espertalhĂ”es e o Congresso Nacional serve de homizio para autores de crimes e malfeitorias. Nada, na esfera pĂșblica, dĂĄ certo.
Roberto Pompeu de Toledo - Fonte: Veja - Edição 2.018.
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