FALANDO EM SUSTENTABILIDADE
IRI – ÍNDICE DE RIQUEZA INCLUSIVA
English:
http://www.sciencedaily.com/releases/2012/06/120617142546.htm
Site:
http://www.ihdp.unu.edu/article/iwr
ONU cria outra forma de medir riqueza. Espécie de 'PIB verde', métrica inclui uso dos recursos naturais no cálculo do crescimento econômico dos países. Brasil ocupa 5ª posição no IRI (Índice de Riqueza Inclusiva); índice compara 20 países em 18 anos.
A ONU lançou na Rio+20 uma nova forma para avaliar o desempenho econômico dos países. A diferença para os índices existentes, como PIB (Produto Interno Bruto) e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é que nesse os recursos naturais entram na conta.
A métrica, batizada de IRI (Índice de Riqueza Inclusiva), inclui, no cálculo do crescimento econômico dos países, recursos como áreas agrícolas, florestas, combustíveis fósseis e reservas minerais.
Eles compõem o indicador de recursos naturais, um dos quatro analisados pelo IRI (veja infográfico).
O objetivo, dizem os criadores da fórmula, é analisar o desempenho da economia e abater da conta a quantidade de patrimônio natural que os países perdem, à medida que o PIB cresce.
"Há países que tiveram um crescimento recente do PIB explorando seus recursos naturais. Mas essas fontes são esgotáveis", explica Anantha Duraiappah, diretor executivo do Programa Internacional de Dimensões Humanas da Universidade das Nações Unidas, que criou o índice.
A equipe da ONU analisou, no período de 1990 a 2008, o desempenho do IRI em 20 países dos cinco continentes - incluindo o Brasil. Esses países somam 56% da população e 72% do PIB mundial.
POSIÇÃO BRASILEIRA
O Brasil está em 5º lugar na média de crescimento do IRI per capita no período avaliado (com crescimento de 0,9%), empatado com Japão, Reino Unido e Índia. Trocando em miúdos: o Brasil obteve o 5º melhor crescimento econômico com sustentabilidade no período.
Mas isso não é exatamente uma boa notícia. De acordo com a ONU, o Brasil perdeu 25% dos seus recursos naturais de 1990 a 2008. Isso significa que o IRI do Brasil pode cair no futuro.
Dos 20 países, 14 estão crescendo no IRI, ou seja, estão conseguindo progredir ao mesmo tempo em que preservam suas riquezas naturais.
O melhor índice foi o da China, com 2,1% de crescimento no período. Já a Nigéria, país com pior desempenho, teve uma queda de 1,8%, mas seu PIB per capita aumentou de 2,5% no mesmo recorte temporal.
"Isso mostra que analisar o PIB per capita não é suficiente para avaliar se a economia de um país é sustentável", explica Duraiappah.
COMPETIÇÃO
A ideia do IRI, dizem seus criadores, não é "concorrer" com o PIB ou com o IDH, mas sim possibilitar novas formas para analisar o desempenho dos países, principalmente a longo prazo.
"São métricas complementares", afirmou Pablo Muñoz, diretor científico do UNU-IHDP. O indicador é uma resposta da ONU às críticas de que o PIB, principal métrica econômica vigente, está desatualizado. "O PIB é um pouco defasado, pois foi criado no pós-guerra, em outro contexto histórico", disse.
O IRI não concorre com alternativas como o FIB (Felicidade Interna Bruta), adotado no Butão, que considera o bem-estar das pessoas. "O FIB avalia as pessoas e não a situação macroeconômica do país. São objetivos diferentes", diz Duraiappah.
Sabine Righetti – Fonte: Folha de S.Paulo – 18/06/12.
O site:
http://www.ihdp.unu.edu/article/iwr
O relatório:
http://www.ihdp.unu.edu/file/download/9927.pdf
MENSAGENS DE NOSSOS LEITORES E COLABORADORES
RIO+20: É ODA
O idioma praticado na ONU é feito de siglas misteriosas, expressões gigantescas e palavras inventadas.
Se você estiver numa das salas geladas do Riocentro onde o documento final da Rio+20 está sendo negociado, lembre-se de nunca dizer "economia verde".
Diga "economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza", mesmo se a repetição da frase inteira retardar ainda mais a redação final do texto.
A expressão foi acordada pelos 193 integrantes das Nações Unidas no início de um processo negociador em que todas as decisões têm que ser adotadas por consenso.
É esse ajuste para chegar ao mínimo denominador comum de interesses que vão dos da continental Rússia aos do insular Tuvalu, do paupérrimo Mali à ultra desenvolvida Noruega, que explica a lerdeza da negociação. Ambiciosamente chamado de "O Futuro que Nós Queremos", o texto da Rio+20 já recebeu o apelido de "o passado que sempre tivemos".
A demora é uma dos traços definidores da ONU, onde só no Conselho de Segurança as decisões são tomadas pelo voto da maioria (e cinco potências têm poder de veto).
Os outros dois traços são a linguagem bizantina falada pelos negociadores, cheia de siglas e neologismos, e os colchetes, sinal gráfico que denota desacordo num texto.
Dentro de cada colchete, em negrito, é identificado o país ou o grupo de países que sugeriu a frase ou a palavra em questão e qual era a posição dos demais: "manter", "apagar" ou "voltar à redação original".
Sentar-se em uma das salas de negociação para ver como os diplomatas semeiam e colhem colchetes é tanto uma aula de geopolítica quanto um exercício de paciência.
Anteontem, por exemplo, o grupo que negociava o chamado quadro institucional para o desenvolvimento sustentável (IFSD) abriu a sessão às 10h30 da manhã com sua presidente avisando que ninguém teria almoço naquele dia e que o texto precisava ser "limpo" de colchetes.
Iniciou-se uma discussão sobre um dos parágrafos. A Suíça, num gesto de boa vontade, resolveu derrubar uma objeção que fizera na véspera. Um colchete a menos. Antes que alguém pudesse comemorar, os EUA acrescentaram mais duas mudanças na redação. Em retaliação, a União Europeia acrescentou mais uma: sugeriu trocar "Pnuma" (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) por "corpo principal da ONU para o ambiente", refletindo sua posição de querer transformar o Pnuma numa nova agência.
Rússia, Canadá e EUA objetaram. E, assim, em meia hora de debate sobre um único tópico, saiu um colchete e entraram quatro.
Para entender como os negociadores no Riocentro definem o futuro da humanidade, não basta entender as cinco línguas oficiais das Nações Unidas: é preciso ser versado na novilíngua da diplomacia ambiental, o legado mais tóxico da Eco-92.
Assim, o Juscanz afirma ao G-77 que não quer saber de dar dinheiro para o MOI porque afinal já contribui com ODA, que vai quase toda para os LDCs.
O G-77, por sua vez, alega as CBDR e reclama dos SCP.
Não entendeu? Pois saiba que os dois parágrafos acima tratam da discussão mais quente da Rio+20: a dos chamados "meios de implementação" (MOI), que querem dizer simplesmente "dinheiro".
Essa discussão passa pelo compromisso de países ricos, como os do Juscanz (Japão, EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia), de aumentar a assistência ao desenvolvimento (ODA), que vai para os países mais pobres (LDCs). A promessa, feita em 1992, nunca foi cumprida.
Para os países em desenvolvimento (G-77), a questão do dinheiro está diretamente atrelada ao CBDR, o princípio das "responsabilidades comuns, mas diferenciadas". Assumido em 1992, ele joga a conta do desenvolvimento sustentável para os mais ricos. Afinal, se esses tivessem padrões sustentáveis de produção e consumo (SCP), o mundo não estaria numa emergência ambiental.
Com um processo tão barroco, a expressão mágica "agreed ad ref" (acordado por todos) torna-se rara.
Às vezes, por mais que a ONU se ufane de sua natureza "democrática", só com pequenos golpes é possível destravar uma reunião do porte da Rio+20.
Na conferência de Kyoto, em 1997, o embaixador argentino Raúl Estrada se preparava para declarar fechado o acordo do clima quando o delegado da Arábia Saudita levantou a mão, furioso, gritando que não havia consenso. "Consenso não significa unanimidade", sentenciou Estrada. E bateu o martelo.
Claudio Angelo / Claudia Antunes – Fonte: Folha de S.Paulo – 17/06/12.
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