CĂRIO DE NAZARĂ
PATRIMĂNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE
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Unesco / Slide Show / Video â
http://www.unesco.org/culture/ich/index.php?lg=en&pg=00011&RL=00602
CĂrio de NazarĂ© â
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CĂrio de NazarĂ© Ă© declarado patrimĂŽnio imaterial da humanidade.
A procissĂŁo do CĂrio de NazarĂ© de BelĂ©m, capital do Estado do ParĂĄ, na AmazĂŽnia brasileira, foi inscrita na lista de patrimĂŽnios imateriais da humanidade da Unesco.
As festividades em honra a Nossa Senhora de NazarĂ©, que sĂŁo celebradas no segundo domingo de outubro de todos os anos, recebem multidĂ”es que chegam de todo o paĂs para assistir ao transporte de uma imagem de madeira da Virgem Maria da catedral da SĂ© atĂ© a praça do SantuĂĄrio de NazarĂ©, em BelĂ©m.
Na festa, "se misturam o religioso e o profano, refletindo, assim, o carĂĄter multicultural da sociedade brasileira", assinalou a Unesco em um comunicado.
Junto Ă arte de tecer o "jamdani", fabricado Ă mĂŁo por artesĂŁos da regiĂŁo de Dacca, em Bangladesh, ou a pesca de camarĂŁo a cavalo, em Oostduinkerke, na BĂ©lgica, o CĂrio de NazarĂ© foi um dos 14 elementos inscritos Ă lista pelo ComitĂȘ Intergovernamental para a Salvaguarda do PatrimĂŽnio Imaterial da Unesco, que celebrou em Baku, no AzerbaijĂŁo, sua oitava reuniĂŁo no inĂcio do mĂȘs.
A lista, segundo a Unesco, Ă© um instrumento de promoção para dar mais visibilidade ao patrimĂŽnio imaterial. Ela reconhece tradiçÔes e saberes que refletem a diversidade cultural das comunidades que os praticam, sem a eles atribuir critĂ©rios de excelĂȘncia ou exclusividade.
Fonte: Folha de S.Paulo â 04/12/13.
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O VERDADEIRO ESPĂRITO DO NATAL
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Fonte: Eduardo Mayer (Colaboração: A. M. Borges)
PRESĂPIO PIRIPAU - BH
http://divirta-se.uai.com.br/ pipiripau
(Colaboração: A. M. Borges)
EUFEMISMO
Traduzido do grego, Ă© "palavra de bom agouro" (palavra que deseja o bem). Torna mais leve algo mais difĂcil de lidar. "Contabilidade criativa", no lugar de "trapaça", tem sido muito usada.
Como mĂ©dico, acostumei-me a coisas horrorosas e nojentas, mas nunca superei a repugnĂąncia pelas secreçÔes traqueobrĂŽnquicas (posso atĂ© falar delas assim, jĂĄ "catarro verde" traz a coisa em si mais vĂvida, e me atrapalha).
Em algum sentido, qualquer palavra é um eufemismo, pois sempre serå mais branda do que a coisa em si. Nossa espécie desenvolveu a extraordinåria capacidade de simbolizar. Não é que cães não a tenham, o Flap não pode ouvir "banho" sem se esconder debaixo da cama.
Porém, os humanos levaram isso a um extremo tal que conseguimos lidar agilmente com ideias infinitas a partir de simples palavras.
Palavras? O que estou dizendo? Manchinhas de tinta, como essas que vocĂȘ vĂȘ impressas, detonam um universo incalculĂĄvel de imaginação e possibilidades.
Baleia. Olhe de novo a palavra e pare para pensar na quantidade de imagens, histĂłrias, sentimentos, raciocĂnios que ela te traz. Usei "baleia" porque nunca vi uma, sĂł Ăcones representativos (fotos, filmes, desenhos, leituras). SĂł a conheço por sĂmbolos.
A capacidade de simbolizar nĂŁo permite apenas um mundo de pensamentos, permite ao homem lidar com sua violĂȘncia. Nossa espĂ©cie Ă© a Ășnica capaz de violĂȘncia e crueldade, jĂĄ que um leĂŁo a dizimar os filhotes que nĂŁo sĂŁo seus, para fazer sua prĂłpria prole com a viĂșva do derrotado "macho alfa", estĂĄ apenas seguindo seu instinto --nĂŁo Ă© cruel, nĂŁo tem intenção. E faz, com isso, que a fĂȘmea ovule!
NĂłs o chamamos cruel, pois tirar os outros por nĂłs mesmos (antropomorfizar) Ă© uma caracterĂstica bĂĄsica do funcionamento de nossa mente.
A civilização começou quando o primeiro troglodita, em vez de dar com o tacape na cabeça do outro, disse o primeiro palavrão.
Uma cliente me contou, preocupada, que sua filha de dois anos aprendeu a cuspir em quem lhe desperta raiva. "O que ela fazia antes?". "Mordia". "Bem, entĂŁo ela encontrou um insulto simbĂłlico e menos danoso, a civilização estĂĄ começando. NĂŁo se aflija, ela vai encontrar sĂmbolos menos chocantes."
Na extremidade oposta do eufemismo se encontra a obscenidade. Ela nĂŁo tem a ver necessariamente com sexo, apenas Ă© insultuosa por sua ostentação e por seu conteĂșdo hostil. Cabelos pintados de acaju em polĂticos carcomidos sĂŁo obscenos. Simbolizam a hostilidade escancarada, o seu desprezo pela coisa pĂșblica e pela democracia, seu amor pela trapaça mal disfarçada.
VocĂȘ achou que eu pensava no brasileiro? NĂŁo, estava pensando num italiano...
O mais curioso Ă© que a obscenidade pode ser representada por sĂmbolos eufĂȘmicos. Se escrevo %, vocĂȘ pensarĂĄ em percentuais. Mas jĂĄ %#@&*, farĂĄ com que vocĂȘ imagine as piores obscenidades, uma vez que nĂŁo hĂĄ nada tĂŁo terrĂvel (nem tĂŁo maravilhoso) quanto a nossa imaginação. Um fĂłbico nĂŁo teme os aviĂ”es, mas as caraminholas tramadas por sua imaginação, diante deles.
Escrevo isso tudo para expressar meu assombro pela maravilha do simbolizar.
Francisco Daudt â Fonte: Folha de S.Paulo â 11/12/13.
Site:
www.franciscodaudt.com.br
UM MURO NO CAMINHO DE MARIA
Folha refaz trajeto que a Virgem teria percorrido antes do nascimento de Jesus, hoje cheio de barreiras.
Crianças årabes posam, em Nazaré, para uma fotografia. Nas cabeças inquietas, um chapéu em forma de årvore natalina. Elas aproveitam o dia para passear pelo cenårio que a tradição cristã atribui à infùncia de Jesus.
Mas a reportagem nĂŁo as segue pelas ruelas pelas quais caminham cantando. A Folha estĂĄ em NazarĂ© para fazer o caminho bĂblico entre essa cidade e BelĂ©m. Ă o trajeto que a tradição estabelece para Maria, antes de Cristo nascer.
Mas Maria, se decidisse fazer a viagem atualmente, teria de lidar com os desafios contemporĂąneos, distintos daqueles da Antiguidade. Hoje, essa estrada inclui controles militares e um caminho que, em tempos de ocupação da CisjordĂąnia, Ă© em todo volĂĄtil e imprevisĂvel.
O trajeto tem cerca de 160 quilĂŽmetros pela estrada que vai por fora dos territĂłrios palestinos, em Israel, tomando menos de duas horas. Mas a reportagem leva, por dentro da CisjordĂąnia, todo o dia para repetir esse difĂcil caminho, entre viagens e entrevistas.
O ditado, entre palestinos, diz que Jesus teria nascido no muro que separa Israel da Cisjordùnia. CartÔes natalinos mostram reis magos impedidos de ir à manjedoura.
PARTIDA
A viagem começa no tradicional mercado de artesanato de NazarĂ©. Mercadores reclamam da falta de organização e de divulgação, que fazem desta importante cidade histĂłrica um destino turĂstico pouco visitado.
"No ano passado, a Prefeitura pagou pela viagem e pela acomodação", diz Margo Zeidan, que vende "tatriz", bordados palestinos. "Eles deveriam organizar melhor o Natal, para que essa nĂŁo seja minha Ășltima participação."
A Maria inventada pela reportagem segue, depois de comprar um xale com detalhes de flores, para a periferia de NazarĂ©, onde toma uma xĂcara de chĂĄ com hortelĂŁ no restaurante Nostalgia.
A ĂĄrvore de Natal, ali, Ă© decorada com os nomes de vilarejos palestinos destruĂdos desde 1948, a data da criação do Estado de Israel.
"Se Maria viajasse hoje de Nazaré a Belém, ela veria os problemas pelos quais passamos", diz Sami Nsir, dono do estabelecimento. "Ela iria se sentir mal ao ver que as pessoas não se importam com a causa palestina."
Dali, a reportagem toma a estrada rumo a Belém. No trajeto, o carro é flanqueado pelas montanhas do vale de Marj Ibn Amr, inesperadamente verde após a neve.
ORIENTAĂĂO
Maria talvez se perdesse por ali. NĂŁo hĂĄ placas indicando a cidade palestina de Jenin, assim como nĂŁo hĂĄ transporte pĂșblico regular.
Ela tambĂ©m correria o risco de ter de encerrar sua viagem. O carro encontra o posto de controle de Gilboa fechado. Em contato com as Forças de Defesa de Israel, a reportagem descobre que o acesso de veĂculos estĂĄ impedido devido a um embate entre ExĂ©rcito e palestinos.
A alternativa Ă© contornar a CisjordĂąnia e procurar uma entrada aberta. A Folha chega a Rihan, tambĂ©m fechada, exceto para colonos. Mas, com a identificação de imprensa, indisponĂvel a Maria, os portĂ”es sĂŁo abertos, apĂłs 15 minutos de negociação.
A Maria fictĂcia chega entĂŁo Ă cidade de Nablus.
Lå, o padre Johny Abu Khalil, do patriarcado latino, reclama: "Estou de saco cheio das permissÔes natalinas".
Sua paróquia tem 220 católicos. Todo ano, ele negocia com a administração israelense para que possam viajar a Jerusalém para o Natal.
"Israel quer que JerusalĂ©m vire um museu e que a Igreja do Santo Sepulcro, onde Jesus morreu, seja a melhor discoteca do paĂs", reclama.
Khalil não acredita que Maria tentaria ir a Belém hoje. Para ele, ela se contentaria com Jerusalém, se obtivesse uma permissão de viagem.
Na estrada para JerusalĂ©m, o Sol se pĂ”e contra o carro, enquanto o rĂĄdio toca clĂĄssicos libaneses dos anos 80. HĂĄ um controle militar na saĂda de Nablus e outro na entrada de JerusalĂ©m. Palestinos mostram os documentos e as autorizaçÔes aos soldados.
MURO
A entrada em Belém é feita pelo muro que separa Israel da Cisjordùnia, hoje um mural para pichaçÔes e grafites, incluindo clåssicos do britùnico Banksy, como o que mostra uma garota revistando um soldado israelense.
A barreira fez murchar a loja de Claire Anastas, que vende artesanato diante da parede de concreto. Turistas desistiram de vir, afirma.
"Se Maria entrasse aqui, talvez não conseguisse sair", diz. Ela vende presépios com um muro no meio, em protesto.
O trajeto estå quase no fim. A pé, teria levado dez dias. George Rashmawi, que organiza o caminho para peregrinos, afirma que é necessårio desviar de assentamentos na Cisjordùnia para evitar problemas com as autoridades israelenses. "A viagem fica mais longa", afirma.
Em uma loja diante da Igreja da Natividade, onde se crĂȘ que Jesus nasceu, Nadia Hazbun reclama do muro.
"Ă difĂcil para os turistas passar pelo muro, entĂŁo eles nĂŁo vĂȘm. Na Europa, viajam pelo continente sem passaporte. Aqui, precisam passar pelas barreiras militares."
Ela dĂĄ de presente ao repĂłrter um cartĂŁo natalino. Um papai Noel dando uma voadora na muralha que separa Israel da CisjordĂąnia.
"Maria nunca viria de Nazaré até Belém", diz. "Ela se recusaria a ver nosso povo em campos de refugiados."
Diogo Bercito - Fonte: Folha de S.Paulo - 25/12/13.
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