MUSEU PARA IBERĂ!
"IBERĂ CAMARGO - MODERNO NO LIMITE"
Catorze anos depois de sua morte, o artista IberĂȘ Camargo ganha um museu em Porto Alegre.
A nova sede da Fundação IberĂȘ Camargo foi inaugurada ontem, Ă s margens do lago GuaĂba, apĂłs cinco anos do inĂcio da construção.
O projeto Ă© do arquiteto portuguĂȘs Ălvaro Siza, que tambĂ©m assina os mĂłveis e as placas de sinalização do museu.
A abertura tem a retrospectiva "IberĂȘ Camargo - Moderno no Limite", com 89 pinturas, gravuras e desenhos, em cartaz atĂ© 31 de agosto.
IberĂȘ Ă© considerado um mestre do expressionismo brasileiro e deixou um acervo de 4.000 obras, produzidas em meio sĂ©culo de trabalho. O centro vai preservar o acervo de IberĂȘ, alĂ©m de ser dedicado aos estudos da obra do artista gaĂșcho.
Fonte: O Tempo - 31/05/08.
Fundação IberĂȘ Camargo - http://www.iberecamargo.org.br/
IMPRENSA Ă "I" DE INDEPENDĂNCIA
HipĂłlito da Costa considerou exageradas as manifestaçÔes de agradecimento a d. JoĂŁo por ter autorizado a imprensa no Brasil depois de sua chegada. Para o jornalista, nĂŁo era o caso de agradecer e sim de lamentar que esse grande pedaço da AmĂ©rica tenha ficado sĂ©culos proibido de produzir impressos. TambĂ©m nĂŁo ficou radiante quando recebeu o primeiro jornal impresso no Brasil. Na sua opiniĂŁo, fazer imprimir a "Gazeta do Rio de Janeiro", com seu conteĂșdo anĂłdino, burocrĂĄtico e totalmente filtrado pela censura, era gastar papel bom com matĂ©ria ruim. Jornal mesmo fazia HipĂłlito da Costa lĂĄ da Inglaterra. Informativo, analĂtico, denso, o "Correio Braziliense" trazia para o Brasil as notĂcias mais recentes atravĂ©s da reuniĂŁo de informaçÔes de vĂĄrios periĂłdicos europeus e americanos, associadas a notĂcias apuradas pelo jornalista e completadas por suas sofisticadas reflexĂ”es crĂticas.
Foi sĂł mesmo depois de 1821 que começou a aparecer aqui uma imprensa realmente livre. Na Revolução Constitucionalista do Porto, em 1820, uma das primeiras medidas dos revolucionĂĄrios foi a liberação da imprensa. Logo começaram a aparecer jornais e jornalistas das mais diversas extraçÔes: radicais, conservadores, moderados etc. Essa agitação ajudou a garantir o sucesso dos movimentos pelo Fico e pela IndependĂȘncia. O clima de debate que agitou a imprensa nos dois primeiros anos do reinado de d. Pedro 1Âș foi interrompido pela dissolução da Constituinte e pela repressĂŁo que sucedeu Ă Confederação do Equador.
Mas para provar que imprensa e Parlamento sĂŁo irmĂŁos siameses, com a retomada dos trabalhos legislativos, em 1826, a imprensa voltou a florescer. Foi nesse contexto que raiou a "Aurora Fluminense", do grande Evaristo da Veiga, e que teve atuação marcante em SĂŁo Paulo LĂbero BadarĂł. O assassinato desse jornalista foi uma das sombras que marcaram o final do Primeiro Reinado. Na seqĂŒĂȘncia, a profusĂŁo de jornais que agitaram o perĂodo regencial dĂĄ conta da vitalidade de uma imprensa que lidava com as questĂ”es de formação da vida polĂtica e social brasileira. Com a estabilização que teve inĂcio na segunda dĂ©cada do reinado de d. Pedro 2Âș, tambĂ©m sossega um pouco a imprensa.
O sĂ©culo 19 serĂĄ marcado pelo caricatura. Ă "Semana Ilustrada" do amigo do imperador, o alemĂŁo Fleiuss, sucedeu a "Revista Ilustrada" do italiano Ăngelo Agostini. A primeira revista, polida, cortesĂŁ, veiculava um humor amĂĄvel, onde revelou-se sob o pseudĂŽnimo de Dr. Semana um cronista inspirado: Machado de Assis. A segunda daria guarida Ă s campanhas pela Abolição e pela RepĂșblica e seria particularmente impiedosa com o imperador.
Muitas outras revistas do gĂȘnero foram lançadas ao longo do sĂ©culo 19, concorrendo com vantagem pelos leitores de grandes jornais como os vetustos "DiĂĄrio de Pernambuco", "Jornal do Commercio" e "DiĂĄrio do Rio de Janeiro", surgidos ainda no Primeiro Reinado, e o "Correio Paulistano", aparecido no ano da Abdicação, 1831.
No final do sĂ©culo 19 emergiriam os primeiros grandes jornais republicanos, "O PaĂs" e "Gazeta de NotĂcias", no Rio, e "ProvĂncia de SĂŁo Paulo", que na RepĂșblica adotou o nome de "O Estado de S. Paulo". Em torno deles pululavam publicaçÔes menores tornadas importantes pela grande nomeada de seus editores: "O Cidade do Rio", de PatrocĂnio, e as duas aventuras de Olavo Bilac no mundo editorial, em associação com o caricaturista JuliĂŁo Machado: "A Cigarra" e "A Bruxa".
A virada do sĂ©culo 19 para o 20 assistiu Ă modernização das tĂ©cnicas grĂĄficas e ao aumento da tiragem dos jornais. O "Jornal do Brasil" vai se destacar pelo grande investimento em seu parque grĂĄfico. Outro concorrente importante serĂĄ o "Correio da ManhĂŁ", que terĂĄ atuação marcante em vĂĄrios episĂłdios polĂticos que ajudaram a fazer ruir a RepĂșblica Velha. Foi em suas pĂĄginas que o BarĂŁo de ItararĂ© estreou na imprensa. Em 1921, Assis Chateaubriand adquiriu "O Jornal", que daria inĂcio aos DiĂĄrios Associados. Naquele mesmo ano foi lançada a "Folha da Noite" -hoje Folha-, surgindo o jornal "O Globo" em 1925.
Ainda nos primeiros anos do sĂ©culo 20 as revistas ilustradas passariam por notĂĄvel transformação. Surgiram "Careta", "Fon-fon!" e "O Malho", trio que abrigaria os maiores nomes da caricatura brasileira: J. Carlos, Kalixto e Raul Pederneiras. A caricatura viveu entĂŁo sua Ă©poca de ouro, mas jĂĄ competindo com a fotografia que, nas pĂĄginas da sofisticada "Kosmos", alcançava nĂvel de grande apuro artĂstico. Revistas de mesmo espĂrito foram surgindo em vĂĄrios Estados, com destaque para SĂŁo Paulo -que revelou caricaturistas como Voltolino e Belmonte e o humor de JuĂł Barnanere.
A Revolução de 1930 deu uma sacudida no panorama, levando ao fechamento de uns e Ă abertura de outros. O golpe do Estado Novo amordaçou, confiscou ou subornou alguns tantos jornais, jornalistas e editores. O cenĂĄrio sofreria outro rearranjo depois de 1945, com o surgimento da "Tribuna da Imprensa" e da "Ăltima Hora", de Samuel Wainer. A revista sĂmbolo dos anos que se seguiriam foi "O Cruzeiro", renovadora do padrĂŁo editorial do gĂȘnero e que inspiraria "Manchete", de Adolfo Bloch. Mas tambĂ©m surgiu nos anos 1950 uma revista sofisticada: "Senhor".
O jornal e a revista tornados empresas jĂĄ estariam em cena tanto na escalada que levou ao suicĂdio de Vargas, em 1954, quanto na que levou ao golpe militar, dez anos depois. Os grandes, com exceção do "Correio da ManhĂŁ" -cuja dona, Niomar Bittencourt, chegou a ser presa-, sobreviveram como puderam. Mas a resistĂȘncia Ă ditadura teria mesmo a voz dos nanicos da imprensa alternativa. Foi essa voz, tĂŁo parecida com as dos panfletos e jornais da IndependĂȘncia, que ganhou as praças e universidades, no humor escrachado do "Pasquim", na reflexĂŁo consistente de "OpiniĂŁo" e "Movimento" e que, ao lado da luta pela redemocratização, deu visibilidade Ă s causas das mulheres, negros e homossexuais. Naqueles anos de chumbo, atravĂ©s dos periĂłdicos de maior ou menor duração que inundaram o paĂs, ficou mais uma vez provado que imprensa se escreve mesmo Ă© com "I" de IndependĂȘncia.
Isabel Lustosa Ă© historiadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e autora de "Insultos Impressos - A Guerra dos Jornalistas na IndependĂȘncia", Companhia das Letras, 2000. Fonte: Folha de S.Paulo - 01/06/08.
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