TESOURO DA HISTÓRIA MÉDICA
BIBLIOTECA DE CÉREBROS
English:
http://www.nytimes.com/2010/08/24/health/24brain.html
Medical Library Yale University -
http://www.med.yale.edu/library/
Dois andares abaixo do nÃvel principal da biblioteca da faculdade de medicina da Universidade Yale, há uma sala cheia de cérebros. Não, não são os alunos. Esses mais de 500 cérebros estão em jarros de vidro.
Os cérebros cancerosos foram colecionados por Harvey Cushing, um dos primeiros neurocirurgiões dos Estados Unidos. Eles foram doados para Yale após sua morte, em 1939, mas com o tempo esse tesouro da história médica tornou-se um monte de vidros rachados e registros cobertos de pó, guardados em vários caixotes.
Em junho de 2010, depois de um esforço colossal para limpar e organizar o material, os cérebros encontraram seu lugar de descanso atrás de vitrines em torno do perÃmetro do Cushing Center, uma sala destinada exclusivamente a eles. Esses pedaços de cérebro flutuando em formol ajudam a ilustrar o surgimento da neurocirurgia e a evolução da medicina americana no século 20.
O tecido veio de pacientes dos primeiros dias da cirurgia cerebral, quando os médicos não tinham instrumentos de diagnóstico por imagem para localizar um tumor, nem iluminação adequada para o campo cirúrgico; quando a anestesia era rudimentar e às vezes nem sequer usada; quando não existiam antibióticos para combater potenciais infecções. Alguns pacientes sobreviviam ao procedimento, principalmente se Cushing estivesse ao seu lado.
Quando Cushing não conseguia remover um tumor, ele retirava um pedaço do crânio para que o tumor crescesse para fora, em vez de comprimir o cérebro. Não era uma cura, mas aliviava o paciente de muitos sintomas.
Nascido em Cleveland em 1869, Cushing foi aluno de graduação em Yale e terminou sua carreira aqui como professor de história da medicina. Ele passou a maior parte de sua carreira como chefe de neurocirurgia, uma nova especialidade, no Hospital Peter Bent Brigham da Universidade Harvard.
Quando começou a operar, alguns outros médicos também se aventuravam pelo cérebro, mas a maioria dos pacientes não sobrevivia ao procedimento.
"Na primeira década do século 20, Cushing tornou-se o pai da neurocirurgia eficaz", escreveu o historiador médico Michael Bliss em "Harvey Cushing: A Life in Surgery" [Harvey Cushing, uma vida na cirurgia].
Dennis Spencer, presidente de neurocirurgia em Yale e professor da cadeira Harvey e Kate Cushing de neurocirurgia, disse que a principal realização de Cushing foi "sua técnica de operação meticulosa".
"Qualquer que fosse a abordagem que usasse para alcançar um tumor", disse Spencer, "ele tinha uma avaliação incrivelmente boa em termos de onde estava o tumor, como chegar lá sem danificar o cérebro e depois sair."
Os cirurgiões cerebrais naquela época eram detetives médicos que confiavam principalmente nos relatos dos sintomas feitos pelos pacientes para descobrir onde estava o tumor. O dr. Cushing popularizou um exame do olho que aproveitava as maneiras especÃficas como diferentes tumores podem distorcer a visão - uma estratégia usada até os anos 1970, quando foi substituÃda pelos exames de ressonância magnética e outros diagnósticos por imagem.
Ainda hoje, muitos tumores na glândula pituitária, que fica sobre os nervos ópticos, são inicialmente detectados porque os pacientes têm problemas de visão.Cushing descobriu que os tumores na pituitária poderiam causar vastas alterações no corpo. A doença de Cushing e a sÃndrome de Cushing levam seu nome por causa de suas descobertas.
Na verdade, comparativamente se fez pouco progresso desde a época de Cushing para realmente prolongar a vida dos pacientes de câncer de cérebro. "É fascinante como avançamos em termos de tecnologia, mas não em termos de progresso para a maioria das doenças", disse Spencer. Ele acrescentou, porém, que "em muitos tumores estamos chegando mais perto da compreensão genética".
Cushing ganhou um Prêmio Pulitzer em 1928 por sua biografia de seu mentor, William Osler.
A restauração de sua coleção de cérebros, que custou US$ 1,4 milhão, foi parcialmente paga pela famÃlia de um antigo paciente.
Os cérebros e seus registros estavam em uma "completa bagunça", lembrou Gil Solitaire, professor de neuropatologia em Yale nos anos 1960. "Alguns cérebros estavam totalmente desidratados, e os jarros, rachados", disse.
Christopher J. Wahl, professor assistente de ortopedia e medicina esportiva na Universidade de Washington em Seattle, escreveu sua tese sobre os cérebros quando era estudante de medicina em Yale, despertando o interesse pela restauração.
"O mais incrÃvel é que não é apenas a documentação fÃsica dos primeiros dias da neurocirurgia, mas um documento social", disse Wahl. "A coragem desses pacientes que realmente não tinham a quem recorrer, e esse homem que era -caubói é a palavra errada, mas um incrÃvel inovador que fez as coisas na hora e no lugar certos."
Randi Hutter Epstein - Fonte: Folha de S.Paulo - 06/09/10.
Reportagem original em inglês:
http://www.nytimes.com/2010/08/24/health/24brain.html
Biblioteca da faculdade de medicina da Universidade Yale -
http://www.med.yale.edu/library/
PAPEL DE PAREDE - ILHA FRASER
A água rica em tanino desce do interior da ilha Fraser para o mar depois de uma tempestade de verão. Ilha Fraser, na Austrália. Foto de Peter Essick.
Confira: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/papeis-de-parede/papeis-parede-setembro-594544.shtml?foto=4p.
Fonte: National Geographic - Edição 126.
BOA NOTÃCIA, EMPRESÃRIOS AMPARAM ESTUDANTES
Há um mês, um grande empresário decidiu contribuir para formar quatro brasileiros admitidos numa prestigiosa universidade privada (carÃssima). Todos tinham bom desempenho escolar e vinham de famÃlias à s vezes dissolvidas, sempre pobres. O filantropo fez questão de proteger todas as identidades do episódio.
Publicada a notÃcia, veio a boa novidade. Outro empresário resolveu acompanhar o exemplo e replicou a iniciativa, inclusive no anonimato. Pagará as anuidades de outros quatro jovens, que receberão pequenas ajudas em dinheiro e um laptop. Na primeira doação, a conta ficou em cerca de R$ 130 mil anuais.
Todos são bons alunos, dois vivem em favelas e um mora a três horas de distância da faculdade. A renda familiar das quatro famÃlias vai de R$ 1.900 a R$ 2.200. Dois foram criados pela mãe. Um não tem memória do pai. São filhos de garçom, motorista de ônibus, auxiliares de cozinha e de serviços gerais e vendedora de produtos de beleza.
Uma das famÃlias está sob ameaça de despejo da casa onde vive. Graças aos próprios esforços e com a ajuda do empresário, em pouco tempo estarão diplomados em direito, engenharia, ciências sociais e jornalismo.
Elio Gaspari - Fonte: Folha de S.Paulo - 05/09/10.
REFLEXÕES APÓCRIFAS POR MIM MESMO - O PONTO G DA ALMA
Toda hora um idiota me copia e joga na internet coisas que não escrevi. Há vários, em geral sobre mulheres e amor... Um deles diz : "As mulheres têm um cheirinho gostoso, elas sempre encontram um lugarzinho em nosso ombro". Há mais. "Adoro celulite. Qual é essa de bundinhas duras?" e coisas assim. Acreditem que outro dia uma senhora me abordou, eufórica : "Eu tenho bunda mole!". Juro.
Por essas e outras, vou falar um pouco de mulher, eu que mal as entendo na vida. Não falarei das coxas, seios e bumbuns... Falo de uma aura mais fluida que as percorre. Vai ser um artigo apócrifo, escrito por mim mesmo.
Li em um lugar que cabeça de mulher é metáfora; de homem é metonÃmia... Entenderam? Nem eu; acho que quer dizer que mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico sem fim, como a arte. O homem quer princÃpio, meio e fim, mais "ciência". Não quero falar de "mulher" sociologicamente, mas sim do "sétimo órgão" que todas têm, uma espécie de "ponto G" da alma.
Começo dizendo que "as mulheres nunca estão com a cabeça no lugar e, por isso, querem que os homens estejam com a sua no lugar onde elas acham que estão. Não é só o exterior de uma mulher que nos interessa - a lingerie também é importante... A cosmética é a cosmologia da mulher".
Gostaram, feministas? Não? Pois é; essas frases são apócrifas também. Quem escreveu foi o polêmico sacana Karl Kraus, da época de ouro de Viena, famoso fazedor de aforismos e sátiras profundas.
Também faço meus aforismos, menores, claro, pois, como também dizia o Kraus, "há escritores que conseguem dizer em 20 páginas aquilo para o que preciso até de duas linhas".
Por isso, serei bem generalista, como só os bons apócrifos sabem fazer... Vamos lá.
O termômetro das mulheres é: "Estou sendo amada ou não? Esse bocejo no seu rosto entediado... Será que ele me ama ainda?".
Elas só pensam nisso. O amor para elas é um lugar onde se sentem seguras, mas, em geral, as mulheres não acreditam em nosso amor. Quando elas têm certeza dele, às vezes param de nos amar. Nelson Rodrigues me contou: "Uma mulher me disse: quando um homem me diz ‘eu te amo’, perco o interesse na hora".
Mulher adora homem impalpável, impossÃvel; ele ganha uma aura que as hipnotiza. Toda mulher é Madame Bovary. O canalha é mais amado que o bonzinho. Mulher não tem critério; pode amar a vida toda um vagabundo que não a merece ou desprezar o devoto. Mulher não quer amor a seus pés.
Ela sofre com o canalha, mas isso a justifica e engrandece, pois ela tem uma missão: convencer o canalha de que ele a ama. Já vi mulheres abandonadas e humilhadas, dizendo, lÃvidas de esperança de uma volta: "Ele não sabe que me ama...".
Quando queremos seduzi-las, mesmo sinceramente (no fundo elas sabem que até a sinceridade é volúvel), um sorriso descrente lhes baila na boca. Preferem ser amadas que desejadas. Por isso, a satisfação erótica é uma corrida de obstáculos (Karl Kraus, de novo).
Elas estão sempre um pouco fora da vida social, mesmo quando estão dentro. Pode ser uma empresária brilhante, mas, sob o tailleur de executiva, seu corpo lateja de saudades por alguma coisa que desconhece.
No Brasil das celebridades, o feminismo foi um mal-entendido. Muitas vezes rima com galinhagem ou até com uma forma velada de prostituição. Mas vamos combinar que, no "design", somos uns jipes; elas são Mercedes-Benz voluptuosas e curvilÃneas.
Muitas mulheres, para serem amadas, instilam medo no coração do homem. A carinhosa total entedia os maridos - sentem-se enclausurados numa prisão cinco estrelas. O homem só ama profundamente no ciúme. Só o corno conhece o verdadeiro amor.
Nada mais terrÃvel que a mulher que cessa de te amar. Você vira uma mulher abandonada. O homem corneado, carente, é feio de ver. A mulher enganada ganha ares de heroÃna, quase uma santidade. Ninguém tem pena do corno.
No entanto, o homem só atinge a idade viril quando é corneado. A mulher nunca é corneada, pois sempre se sente assim. O amor exige coragem. E o homem é mais covarde. O homem, quando conquista, acha que não tem mais de se esforçar e aÃ, dança...
A mulher quer ser possuÃda em sua abstração, em sua geografia mutante; a mulher quer o homem para se conhecer. A mulher quer ser possuÃda, mas não na base do "me come todinha". Falam isso no motel, para nos animar. Ela quer ser decifrada, pois não sabe quem é. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe. O masculino é o "certo"; o feminino é o insolúvel. O homem é pornográfico; a mulher é amorosa. A pornografia é só para homens.
A mulher é metafÃsica; o homem é engenharia. A mulher deseja o impossÃvel; ela vive buscando atingir a plenitude mesmo que essa "plenitude" seja um "living" decorado com belas cortinas ou o perfeito funcionamento do lar.
A mulher é mais profunda - é a natureza se parindo. A vida e a morte saem de seu ventre. Ela faz parte do universo que nós vemos de fora, com o pauzinho inerme. Por isso seja tão odiada pela estupidez de assassinos.
Elas têm algo de essencial - nós somos um apêndice.
Hoje em dia, as mulheres foram expulsas de seus ninhos de procriação, de sua sexualidade expectante e são obrigadas ao sexo ativo e masculino. A "supergostosa" é homem; ou melhor, é produto de seu desejo quantitativo - daÃ, mulheres-pera, melancia.
No entanto, as mulheres sofrem mais com o mal do mundo. Carregam o fardo da dor histórica. Os homens, por fálicos, escamoteiam a depressão com obsessões bélicas, financeiras ou polÃticas.
As mulheres aguentam a dor incompreendida. O mundo está tão indeterminado que fica feminino, como uma mulher perdida. Mas não é um mundo delicado, romântico e fértil como a mulher; é um mundo-mulher comandado por homens boçais.
Arnaldo Jabor - Fonte: O Tempo - 07/09/10.
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