UM MUNDO PRA CHAMAR DE SEU
ANGANI - "GRANDE ESPAÇO"
English: http://www.angani.net/
Aquecimento global, guerras, tsunamis, fome… O planeta Terra está cheio de chagas e, por mais que tenhamos boa vontade, não há solução fácil ou rápida. Pois um grupo de brasileiros resolveu criar um universo todo novo. E cada usuário pode montar seu planeta do jeito que bem entender. Chama-se Angani http://www.angani.net/ (â€grande espaço†na lÃngua Swahili). A versão 1.0 foi lançada ontem, sem burburinho, e em menos de 24h já nasceram 140 novos planetas. O Bombou na Web - por que não? - já criou seu planetinha para testar o funcionamento da coisa (imagem acima).
A única ferramenta que funciona hoje é a de tags. Você escolhe um Ãcone em uma lista (por exemplo: um joystick), coloca palavras-chave nele (games, jogos) e, quando o Ãcone é clicado no seu mundo, aparece uma tela de sites. Esse serviço usa a tecnologia do Delicious (http://delicious.com/). Ainda é muito pouco, mas já é o bastante para ver que a interface do site é muito bem feita. Ao fundo, a música de elevador que eles usam pode encher um pouco, mas a navegabilidade é divertida.
Aqui, Pedro Murray Del Priore, diretor de planejamento da agência Ginga e um dos criadores do Angani, tira algumas dúvidas sobre seu universo virtual e explica que, em breve, novas funcionalidades vão animar mais essa viagem interplanetária.
Como o Angani foi pensado?
Pedro Del Priore - Ele nasceu de um projeto para um dos clientes da Ginga e que não foi publicado. Inicialmente seria o site institucional da empresa. Evoluimos o projeto e a proposta é apresentar uma plataforma interativa diferenciada, onde as pessoas poderão descobrir novos conteúdos, se promover, relacionar entre si… O interessante deste projeto, em desenvolvimento, é que a cada dia novas idéias e utilizações surgem dos próprios usuários.
Pelo que pude ver, ele mostra apenas tags relacionadas a determinados assuntos. Existem planos de outros serviços próprios em cada mundo, como Ãcones particulares, links diretos para páginas em vez de apenas palavras-chave ou música especÃfica de cada mundo?
Del Priore - Sim, existe. Em breve, cada mundo do Angani poderá integrar suas contas de Flickr, Youtube etc, subir arquivos e links próprios e possuir um dominio exclusivo (ex: www.angani.net/bombounaweb). A busca por planetas, hoje, é feita apenas atraves da “exploração†dos mundos. Entendemos a necessidade de existir uma ferramenta de busca, e será adicionada na versão 2.0 do Angani, com lançamento previsto para setembro. Neste momento, a idéia conceitual é de estimular as pessoas a literalemente explorar os mundos do universo.
Como vocês pretendem fazer dinheiro com o Angani?
Del Priore - Como projeto, o Angani não tem a pretensão de ser comercial. Hoje, ele faz parte de uma inciativa da agência de experimentar, criar e testar novas ferramentas. Mas existe sim a possibilidade de toda a plataforma ser replicada para uso comercial, em um futuro qualquer.
Rafael Pereira - Fonte: Bombou na Web (http://www.bombounaweb.com.br) - 26/05/09.
PAPEL DE PAREDE – VISÕES DA TERRA – ESTADOS UNIDOS
Iluminado pelo sol, um tornado eleva-se a 1,2 mil metros acima das planÃcies do Kansas (EUA). Em 2007, o estado bateu um recorde: foi atingido por 141 tornados. Mas logo outros 187 foram registrados no ano seguinte.
Foto de Jim Reed: http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/papeis-de-parede/edicao111-junho-2009-474037.shtml.
Fonte: National Geographic Brasil - Junho 2009.
VIAGEM DO CONHECIMENTO
Participe do II Desafio National Geographic
Inscrições gratuitas até 31/07/09
Regulamento e informações: http://www.viagemdoconhecimento.com.br/
Fonte: National Geographic - Abril 2009.
CAMÕES PARA CABO VERDE
O poeta Armenio Vieira, de Cabo Verde, ganhou o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da lÃngua portuguesa. É a primeira vez que esse prêmio é atribuÃdo a um cidadão de Cabo Verde. Nascido em 2 de janeiro de 1941, Vieira é jornalista e colabora com diversas publicações. Seu primeiro livro, intitulado "Poemas", foi publicado em 1981. O autor receberá 100 mil euros (R$ 275,6 mil).
Lupa - Fonte: O Tempo - 05/06/09.
Mais:
http://www.instituto-camoes.pt/cabo-verde/premio-camoes-2009-atribuido-ao-poeta-armenio-vieira.html
http://cvc.instituto-camoes.pt/tesouro/08/premiocamoes.html
UMA CASA PARA A SANTA SÉ
No dia 7 de Junho de 1929 foi ratificado o Tratado de Latrão, um acordo entre o ditador Benito Mussolini (1883-1945) e o cardeal Pietro Gasparri (1852-1934). De acordo com o documento, a Itália reconhece a soberania da Santa Sé sobre o Vaticano, declarado um Estado soberano, e a Igreja Católica renuncia a todos os territórios adquiridos na Idade Média e reconhece Roma como capital.
ARQUIVO
"É preciso assegurar à Santa Sé a independência absoluta e visÃvel. GarantÃ-la de uma soberania indiscutÃvel no domÃnio internacional, e que, por conseguinte, é preciso constar a necessidade de constituir, através de modalidades particulares, a Cidade do Vaticano, reconhecendo, sobre este território, a plena propriedade, o poder executivo, absoluto e a jurisdição soberana da Santa Sé."
Trecho do Tratado de Latrão.
Site: http://www.shoaheducation.com/lateran.html - O texto completo do Tratado de Latrão, em inglês.
Fonte: Aventuras na História - Edição 71 - Junho 2009.
DO PEN DRIVE À SALA DE AULA
Quando o vÃdeo começa a ser exibido, a turma fica irrequieta. Os rapazes gracejam diante das imagens de belas modelos que desfilam a coleção primavera-verão. “Essa aà está para mimâ€, zomba um garoto de boné, da turma do fundão. Àquela altura, a tevê laranja de 29 polegadas mostrava cenas de consumo nas grandes metrópoles. Após um corte seco, o filme traz imagens de africanos famélicos, cenas de guerra, crianças abandonadas, nossa miséria cotidiana.
A sala emudece e a professora de filosofia Beatriz Matos consegue expor seu argumento aos agora atentos alunos do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Paulo Leminski, em Curitiba. “Este vÃdeo foi produzido por alunas da PUC. É um trabalho que fizeram na universidade para discutir a atualidade do Mito da Cavernaâ€, explica a docente. A obra em questão trata de um diálogo atribuÃ-do a Sócrates, no qual o filósofo grego descreve uma caverna habitada por homens aprisionados por correntes desde a infância, que acreditavam ser expressão da realidade as sombras que viam projetadas na parede.
“O filme discute se a atmosfera de consumo também não está nos impedindo de enxergar a realidade além das marcas, das grifes e do modismo reinanteâ€, argumenta Matos, que pediu auxÃlio aos alunos para conectar o pen drive à TV MultimÃdia, como foi batizado o equipamento, hoje presente em todas as 22 mil salas de aula da rede estadual.
Instalados no inÃcio de 2008, os aparelhos são apenas alguns dos instrumentos à disposição dos professores, desde que o governo estadual encampou um ambicioso projeto de tecnologia educacional. O primeiro passo foi a universalização do acesso à internet nas escolas paranaenses, com a aquisição de 44 mil computadores para montar os laboratórios de informática em mais de 2,1 mil escolas. Um investimento de 100 milhões de reais, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Além disso, a Secretaria de Educação criou, em 2003, o portal Dia a Dia, com conteúdos especÃficos para professores, alunos e a comunidade escolar. Um diferencial do modelo é o conteúdo produzido por 27 professores da rede, cedidos para a equipe do site, que também aceita a colaboração de qualquer docente, inclusive para a publicação de artigos e programas de aulas de sua autoria. “Neste ambiente pedagógico colaborativo, o material enviado ao site é avaliado por uma banca de professores, que sugere as alterações e revisões necessárias para a posterior publicaçãoâ€, diz Mônica Schreiber, coordenadora de mÃdia impressa e web. Rodrigo Martins - Fonte: Carta Capital - Edição 548.
Portal Dia a Dia - http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/
LITERATURA - CONTE SUA HISTÓRIA
No ar desde fevereiro, o site Clube de Autores (http://www.clubedeautores.com.br/) foi lançado com uma proposta audaciosa. Na contramão das editoras tradicionais - que colocam no mercado uma obra mediante tiragem mÃnima -, a página propõe ser um novo selo e publicar livros sob demanda, escrito por autores que ainda não tiveram oportunidades. Ou seja, se um único leitor comprar, uma única edição será impressa.
O formato é semelhante ao adotado nos Estados Unidos e Europa: o internauta entra na página e disponibiliza sua história. Automaticamente o site revela o valor que custará a impressão daquelas laudas. Depois, o escritor parte para inserir a margem de lucro que deseja receber e, em seguida, formata como será a capa. A obra fica disponÃvel no endereço eletrônico, pronta para ser adquirida por qualquer um.
"SabÃamos que havia uma série de barreiras para se publicar um livro. E, com o avanço da Internet, nunca tanto conteúdo foi escrito. Nos tempos atuais, as editoras estão mais voltadas para as massas e menos para os nichos, e é aà que buscamos atuar", comenta o especialista em Internet Ãndio Brasileiro, um dos criadores do projeto, ao lado do publicitário Ricardo Almeida.
Ao ser feito o pedido, o leitor recebe a obra em um prazo que gira em torno de seis dias. O escritor, por sua vez, recebe os direitos autorais após reunir um montante de R$ 300. "Não fazemos antes por ser inviável. Uma transação bancária poderia custar mais que o valor destinado ao autor", diz Ãndio.
No acordo firmado entre o novo autor e a editora, não estão inclusos valores de diagramação ou revisão. "Isso fica por conta do escritor", conta Ricardo. Entretanto, para colaborar, o site disponibiliza alguns cursos online que auxiliam seu cliente. Entre as opções estão, por exemplo, algumas lições sobre como divulgar o trabalho. "Claro que vamos contribuir com isso, mas a propaganda de um lançamento fica por conta de cada autor."
Outro atrativo de lançar uma obra pela nova editora está na ausência de contratos. Não há nada que prenda o escritor ao selo. Se em algum momento ele receber um convite de uma outra empresa, está livre para tirar do site sua publicação. "Queremos possibilitar que novos nomes surjam no mercado. Se algumas das pessoas que hoje estão conosco forem para outras editoras, veremos que estamos fazendo bem o nosso trabalho, que estamos atuando bem como ‘termômetros’", diz Ricardo.
De acordo com a dupla, em pouco mais de quatro meses do site no ar, cerca de 402 obras foram publicadas e 957 exemplares foram vendidos. E o fato de não exigir uma tiragem mÃnima é um dos facilitadores para que a nova editora faça acordos com selos tradicionais. Dessa forma, um tÃtulo que está esgotado pode ser publicado por uma quantidade bem menor do que pediria uma nova edição. "É um novo espaço que queremos ocupar", afirma Ãndio.
E embora estejam surgindo aparelhos que possibilitam ler em plataformas digitais, o novo cenário não assusta os criadores da editora, afinal, eles não creem no fim do papel. "O mercado está sendo ampliado, mas acho que nada vai substituir o livro como hoje conhecemos. Mas, se um dia isso ocorrer, nós estamos preparados, afinal, já temos todas as obras digitalizadas, e é só disponibilizá-las", afirma Ãndio.
Blogdepapel.com - Rodrigo Soares - Fonte: O Tempo - 04/06/09.
NOTÃCIAS NA TV
"Ô produtor de telejornal, meu semelhante, meu irmão: de tanto caprichar na reconstituição da realidade, não estarias criando uma obra de ficção?"
Em Roma como os romanos, na enchente como os molhados. O repórter nunca se contentaria em apenas mostrar as ruas transformadas em rios, os automóveis em jangadas, as casas em aquários. Precipita-se, intrépido, no aguaceiro e, molhado até o joelho, ei-lo, de microfone na mão, a desempenhar sua tarefa não apenas in loco, ao vivo e em cores, mas com os efeitos do dilúvio a castigá-lo na pele. É o jornalismo de imersão na notÃcia em uma de suas mais completas versões. Melhor, só se o repórter transmitisse do fundo da água. Se se tratasse de um vendaval, o ideal seria que pudesse se mostrar fustigado com tal ferocidade que tivesse de se abraçar a um poste para não alçar voo como uma pipa, o corpo já despregado do solo, os pés flutuando no espaço. À falta disso, pelo menos que se mostrasse com os cabelos ao vento. Sem cabelos ao vento, não há cobertura digna de vendaval. É imperioso escolher para a missão repórteres cujos cabelos sejam passÃveis de esvoaçar ao vento. Na enchente como os molhados, na ventania como os ventados.
Agora a notÃcia é sobre a prisão dos implicados no último escândalo de caixa dois/suborno/desvio de verbas/lavagem de dinheiro/formação de quadrilha e, tanto quanto a polÃcia, é a TV que vai prender o suspeito. A TV madruga à porta do suspeito. O suspeito abre a porta, sonolento. A TV pespega-lhe as algemas. Ouve-se o clec das algemas se fechando. A TV encaminha o suspeito ao camburão. Força-o à laboriosa empreitada de entrar no carro manobrando o traseiro, dada a impossibilidade de contar com as mãos. O carro parte em disparada. Não basta reportar a realidade. Realidade é para os reality shows. A ordem é radicalizar o real. No próximo bloco: disparam os preços dos legumes – e o que fazer para proteger seu dinheiro em tempos de crise.
Se o réu agora são as leguminosas, vai-se flagrá-las igualmente em seu habitat. A repórter percorre o supermercado, empurrando um carrinho. Pepino – cinquenta por cento de aumento. Ela pega os pepinos da prateleira, põe no carrinho. Abobrinha – setenta por cento; berinjela – cem por cento; rabanete – cento e cinquenta por cento. Nesse momento uma freguesa, com seu carrinho, aproxima-se da repórter. Que freguesa distraÃda. Não viu que estavam gravando? Não viu as câmeras, não atentou para as luzes? Enquanto a repórter continua a elencar os pepinos e respectivos Ãndices de aumento, a freguesa segue impassÃvel, a escarafunchar as prateleiras, bem ali ao lado, e levar um ou outro produto ao carrinho. A repórter enfim lhe interrompe a rotina. O que a senhora achou dos preços dos legumes? Um escândalo! Estão muito mais altos do que na semana passada. Que sorte a freguesa ter aparecido bem nessa hora. Faltava à notÃcia o toque de drama doméstico que só a voz do consumidor é capaz de conferir.
Volta para o estúdio. Os âncoras fecham a cara. Estão bravos com o aumento de preços. E o que fazer para proteger o seu dinheiro? A reportagem é agora com um economista, que, compenetrado, surge fazendo cálculos na calculadora. A regra é clara: se a entrevista é com um escritor, tem de ter no fundo uma estante de livros; se com um biólogo, tem de mostrá-lo com um olho pregado no microscópio; se com economista, tem de ter calculadora. E o que fazer, em tempo de crise? Agora sim, ele levanta os olhos da calculadora e dá seu recado. Prudência nos investimentos. Não gastar mais do que se tem. Calcular os juros antes de comprar a prazo. Não comprar a prazo se se pode pagar à vista. (Ô economista! Precisava de tanto cálculo, para chegar a essas conclusões?) No próximo bloco: futebol. E o âncora sorri. É preciso sorrir quando a notÃcia é de futebol. Assim o público fica avisado de que esse é um assunto ameno.
São mostrados os gols da rodada. Segue-se reportagem sobre os nordestinos que se revelaram exÃmios fazedores de sushi nos restaurantes japoneses de São Paulo. Começa com a repórter passeando entre as mesas do restaurante. De forma mais espantosa ainda do que a freguesa do supermercado, ninguém parece se dar conta da presença da câmera. Continuam os clientes todos a conversar uns com os outros, entre uma manobra e outra com os hashis. (Ô produtor de telejornal, meu semelhante, meu irmão: de tanto caprichar na realidade, não estarias criando uma obra de ficção?) A repórter chega ao balcão, mostra o moço franzino cortando o salmão com perÃcia de esgrimista. O moço diz que veio do Piauà e que nunca antes tinha ouvido falar de sushi. Esplêndido: ele diz tudo o que se espera de um piauiense que vira fazedor de sushi. Volta ao estúdio. Os âncoras sorriem. O jornal termina com uma nota alegre e uma história de sucesso, como deve. Boa noite.
Roberto Pompeu de Toledo (http://www.objetiva.com.br/objetiva/cs/?q=node/233) - Fonte: Veja - Edição 2115.
NADA PROVA MAIS NADA
Não.
- Como "não"? Eu ainda não lhe perguntei nada...
- Mas é "não" mesmo.
- O senhor não reconhece sua assinatura neste cheque de 20 milhões, enviado para a conta do governador?
- Não. A assinatura parece minha, sei que o teste grafológico em Campinas prova que essa assinatura é minha, mas... não é. Quem me garante que o grafólogo não é comprado por meus concorrentes? Minha empresa constrói os viadutos, aeroportos, represas do Estado do meu querido governador, mas se ele me delega as obras, é por amizade... Ele é meu amigo! O senhor é um frio jornalista... não sabe o que é o amor...
- Tudo bem, mas o cheque é de sua empresa... Está aqui o nome, número do banco...
- Não é da minha empresa...
- O senhor não é dono da CAG (Construtores Associados Gurupi)?
- Não me lembro...
- Mas o senhor esqueceu o nome de sua empresa?
- Essa é apenas uma subsidiária que já fez parte da "holding" e não faz mais; ela só existe em nome de d. Silvaneide, viúva de meu ex-sócio, que já tinha saÃdo do grupo quando, em circunstâncias misteriosas, apareceu assassinado no motel Crazy Love e, mesmo antes de morrer, ele tinha transformado a CAG em duas sub-ramificações com sede em Miami, a ASS & Hole Inc. e a Cock & Dick Participações. Por isso, dizer se esse cheque é meu... é tão difÃcil quanto decifrar um código genético...
- Como o senhor passou de uma casinha alugada e um Volks há nove anos para ser dono desse império de negócios? Sua súbita riqueza coincide com a eleição e a reeleição do seu amigo governador. Como explica o aumento de 37 mil por cento em seu patrimônio?
- Trabalho duro e sorte, meu filho...
- Um operário teria de trabalhar 3.300 anos, sem gastar, para ganhar o que o senhor acumulou em nove anos. Como é possÃvel?
- Sei lá... por que tenho de lhe dar satisfações?
- Imprensa... o senhor está sendo acusado...
- Estou me lixando para a imprensa, dane-se a opinião pública. Mas, afinal de contas, você quer provar o quê, rapaz?
- A verdade!
- Mas, o que é a "verdade"? Ah,quer saber? Tudo bem, porra, vou desabafar... Vou lhe dizer. Vocês pensam que vivem no mundo da "verdade", essa abstração moral, jurÃdica?... Pois saiba que "o fabuloso está no comércio", como escreveu Paul Valery. Pensa o quê, porra? Sou culto... Olhe bem para mim. A verdade sou eu! Eu estou no lugar da verdade, entre o poder e o comércio! Este paÃs foi feito assim, na vala entre o público e o privado. Não foi feito com frases feitas, não... Há uma dialética fina entre dinheiro público e a cobiça privada, há uma grandeza insuspeitada na apropriação indébita, florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias, qualquer canalzinho de esgoto tem grande poder fertilizador. A bosta não produz flores magnÃficas? O que vocês chamam de "roubalheira", eu chamo de "progresso", um progresso português, nada da frieza anglo-saxônica; trata-se do excremento como motor da história... São Paulo foi construÃda com esse combustÃvel, os prédios repousam sobre esses fundamentos... BrasÃlia foi feita de lindas ladroagens... Tudo o que é belo e bom nasceu da merda... Essa é a verdade do Brasil, que vocês querem condenar, falando essas bobagens sobre moralidade. O resto é ilusão.
- Mas... e o interesse público, o império da lei?
- Corta esses resÃduos iluministas... Os que vocês chamam de corruptos são os melhores homens do paÃs... Empreendedores, grandes "espadas" imaginosos, poetas dos trambiques, carunchos da lei vivendo nas brechas dos códigos, homens que produzem o novo contra a pasmaceira do bom-mocismo nacional...
- O senhor acha normal um banqueiro dar dinheiro para o mensalão e ser o xodó dos tribunais?
- Vocês não entendem que comprar deputado é uma obrigação empresarial? É a mercadoria mais barata... Acusam a mim e outros e não percebem que um golpe isolado só serve para dissimular um roubo muito mais geral, que é justamente o crime da "normalidade". A ingenuidade de vossas denúncias apenas dá uma sensação de "transparência" ao povo... Mas, no fundo, vocês absolvem as grandes quadrilhas; o roubo legal, normal, permitido em lei, ninguém denúncia... Quanto mais vocês criticam a exceção, mais legitimam a regra...Veja: só de INSS nós, empresários, devemos cerca de 100 bilhões... A indústria das liminares nos protege... o FGTS, quem recolhe?... E o Imposto de Renda? Metade dos bancos não paga... E vocês, românticos, bobos, atacando uma malandragenzinha isolada...
- Mas, doutor... (o repórter já hesitava, varado de dúvidas, trêmulo), há provas concretas contra o senhor... O vÃdeo em que o senhor compra aquele senador... com diálogos, gargalhadas, entregando uma mala preta... Tudo filmado... Foi ao ar na TV! Como o senhor explica aquela cena gravada?...
- Já expliquei. Ensaio. Eu estava ensaiando uma peça de teatro para meus funcionários na festa de fim de ano... Aquele senador que conversa comigo quer ser ator... Acho ele até meio veado... Mas é teatro... Quando ele diz: "Aqui está a grana", eu respondo: "Ôba, oh, admirável mundo novo, o dinheiro é a mola da vida!" - eu estou citando Shakespeare... É arte, entende? (falando baixo para evitar o gravador: "Tudo pode ser negado... ah ah... é só dizer ‘não’ ".)
- Então, o senhor não fez nada?
- Não.
- E essas provas definitivas?...
- Olha, filho, provas não provam mais nada. Sabe por quê? Eis a minha mais profunda verdade: Eu não sou eu! Eu sou um outro....
- E como é seu nome então?
- Não me lembro.
- E como é então o nome do "outro"?
- Não sei. Meu filho, desista; nós não existimos. "A vida é a ilusão dos sentidos", como disse...
- Quem?
- Um filosofo do Maranhão... um com bigode...
- Qual é o nome dele?
- Não me lembro... ele já morreu há muito tempo, mas não sabe ainda...
Arnaldo Jabor (http://www.pensador.info/autor/Arnaldo_Jabor/) - Fonte: O Tempo - 02/06/09.
Não deixem de enviar suas mensagens através do “Fale Conosco†do site.
http://www.faculdademental.com.br/fale.php