ILUMINADO
CATEDRAL NACIONAL DE WASHINGTON
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EUA - A Catedral Nacional de Washington Ă© iluminada durante uma apresentação do artista suĂço Gerry Hofstetter para a imprensa. Ele Ă© autor do espetĂĄculo 'Iluminando para Unir'.
Fonte: Terra - 09/05/08.
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O PROFESSOR DOS BURROS
A repercussĂŁo provocada pelo comentĂĄrio sobre a suposta baixa inteligĂȘncia dos baianos, feito pelo coordenador do curso de medicina da UFBA (Universidade Federal da Bahia), AntĂŽnio Dantas, nĂŁo seria tĂŁo grande se as vĂtimas do preconceito nĂŁo fossem de classes mĂ©dia e alta.
Quando lhe perguntaram por que as notas dos estudantes de medicina tinham sido tão ruins nos testes nacionais, o professor foi procurar explicação na genética e jogou a culpa no QI da população local. Não bastasse isso, ainda arrematou: "O baiano toca berimbau porque só tem uma corda. Se tivesse mais cordas, não conseguiria".
Em resumo, a escola vai mal, mas seria em razĂŁo da escassa inteligĂȘncia dos alunos, muitos dos quais da elite baiana. Esse tipo de ofensa Ă© feito cotidianamente a alunos pobres, na prĂĄtica chamados de burros, mas quase ninguĂ©m se escandaliza.
A Unesco divulgou um ranking mundial de qualidade de ensino em que o Brasil ficou abaixo de paĂses como a BolĂvia e o Paraguai. Isso porque, entre outras razĂ”es, apenas 53,8% de nossas crianças conseguem completar o ensino fundamental.
Explica-se a evasĂŁo nĂŁo sĂł por motivos econĂŽmicos -a entrada das crianças precocemente no mercado de trabalho-, mas devido Ă repetĂȘncia. De tanto ser tachado de incompetente, o estudante, humilhado, vai embora, nĂŁo vĂȘ razĂŁo em ficar se torturando numa sala de aula onde nĂŁo consegue aprender.
Na primeira sĂ©rie do ensino fundamental, quase um terço dos alunos repete o ano. Ao puni-los com a repetĂȘncia, a mensagem transmitida pela escola Ă criança Ă© a seguinte: "A culpa pelo fracasso Ă© sua". NĂŁo importa a obviedade do fato de que, se tanta gente nĂŁo aprende hĂĄ tanto tempo, existe algo de errado no sistema -mas muita gente fica com a "teoria do berimbau", do professor Dantas, preferindo culpar o aluno.
Para comparar, note que, na rede das escolas particulares da cidade de SĂŁo Paulo, a repetĂȘncia atinge 2% dos alunos; nas regiĂ”es mais ricas, como Pinheiros, nĂŁo passa de 1%.
A explicação é simples para a taxa paulistana: os pais mais ricos e informados não aceitam a idéia de que seus filhos sejam burros e não possam aprender.
Exigem professores de qualidade -aliĂĄs, jamais aceitariam o absenteĂsmo docente da rede pĂșblica e sabem que contarĂŁo com programas de reforço, alĂ©m das mais diversas atividades extracurriculares. Quando a recuperação regular nĂŁo funciona, apelam para aulas particulares, psicĂłlogos, psicopedagogos e, em certos casos, Ă ajuda mĂ©dica.
Fazem isso atĂ© que, mais cedo ou mais tarde, o jovem descubra algum talento, entre numa faculdade e ganhe uma habilidade -sabemos que muitos dos crĂŽnicos alunos relapsos eram apenas vĂtimas do excesso de talento, incompreendido pelo sistema escolar.
Uma das mais interessantes experiĂȘncias educacionais que conheço no Brasil ocorre em TaboĂŁo da Serra, um municĂpio pobre da Grande SĂŁo Paulo. Ă uma magnĂfica prova do preço da negligĂȘncia. LĂĄ, eles estimulam os professores a visitar a casa dos alunos para estabelecer uma relação entre as famĂlias e as escolas. Com as visitas, os professores puderam entender melhor os problemas de seus estudantes e encontrar soluçÔes. SoluçÔes como encaminhar ao mĂ©dico uma criança que parece desatenta ao descobrir que ela nĂŁo presta atenção Ă s aulas por causa, por exemplo, da visĂŁo ruim ou do excesso de cera no ouvido.
AlĂ©m de ter provocado uma sĂ©rie de mudanças de atitude nos alunos, a experiĂȘncia surtiu efeito nas notas. Numa escala de 0 a 100, os alunos visitados em casa pelos professores tiveram nota em torno de 70 em portuguĂȘs e matemĂĄtica -a mĂ©dia Ă© parecida entre os da segunda e os da quarta sĂ©ries. Entre os nĂŁo visitados, a notas oscilam de 40 a 50 pontos. Bastou uma visita, depois transformada em alguma providĂȘncia simples, para que alguns desses alunos nĂŁo mais se sentissem burros.
O professor Dantas estĂĄ apanhando menos por ter atacado os baianos em geral com um preconceito estĂșpido do que por ter feito a elite sentir-se ofendida ao ver seus filhos chamados de burros -afinal, quem vai para uma escola pĂșblica de medicina dificilmente vem de uma escola pĂșblica, exceto se o ingresso tiver ocorrido pelo sistema de cotas.
PS - Detalhei mais em meu site (www.dimenstein.com.br) a experiĂȘncia de TaboĂŁo da Serra, onde se desenvolve um projeto de integração escola e comunidade baseado em AnĂsio Teixeira, para quem educador de verdade Ă© aquele que sempre acredita que todo aluno tem um talento a ser descoberto -o professor deveria ser um administrador de curiosidades. AnĂsio foi a nossa maior inteligĂȘncia pedagĂłgica -nenhum brasileiro me influenciou tanto sobre temas educacionais. HĂĄ muito tempo ele dizia que os meios de comunicação moldariam a aprendizagem. Inventou uma escola (escola parque) em que saber e fazer se fundiam num Ășnico lugar. Pregava que, sem educação, o desenvolvimento econĂŽmico, polĂtico e social brasileiro estaria comprometido, antecipando-se em mais de 70 anos ao discurso que sĂł agora vira consenso. Parece atĂ© ironia que ele e AntĂŽnio Dantas sejam conterrĂąneos.
Gilbertp Dimenstein - Fonte: Folha de S.Paulo - 04/05/08.
UFBA: http://www.portal.ufba.br/
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