O CLIMA DO NATAL
JARDIM DE NATAL
Reino Unido - Victor e Margaret Minter iluminam seu jardim há 20 anos para comemorar o Natal e levantar fundos para um hospital da cidade de Cottenham.
Fonte: Terra - 13/12/07.
ÚLTIMAS DIRETRIZES PARA PAPAI NOEL
Aos que quiserem o que só uns poucos podem ter será dada uma lição de moral e civismo.
todos os pedidos serão iguais perante o Papai Noel, requerendo a mesma lisura e atenção aos processos de licitação, contratação e transporte.
No que diz respeito à licitação e a contratação, ambas poderão representar presentes para muitas gentes, mas o Papai Noel não terá -necessariamente- algo a ver com isto.
Sobre o transporte convém lembrar à classe média aquecida que o tráfego aéreo aborrecerá até mesmo as renas mais frias, aumentando o estresse no lazer, o peso das aeronaves e os gastos com combustÃvel.
O preço dos combustÃveis e dos gases fará pressão no ventre da economia, justificando modificações nas intenções, retrocessos para a defesa de velhas posições e maquiagens nos gestores das polÃticas públicas.
O Papai Noel, no entanto, não será ideológico, mesmo sabendo que as mercadorias serão insuficientes para todos os consumidores que as quiserem, tornando mais feliz o Natal dos empresários que as produzem.
Todas as tarifas embutidas nas menores necessidades serão repassadas aos infelizes mais simples, em pacotes discretos, para não darem nas vistas cegas da Justiça que têm.
Ainda assim, é vetado ao Papai Noel fazer propaganda de moral, drogas, costumes, cigarros ou bebidas, mesmo quando operarem nas áreas de risco dos pobres e de vÃcios dos ricos.
Os duendes mais malucos é que estão obrigados a se apresentarem à s oficinas de brinquedo desde cedo, para a confecção das embalagens coloridas, estimulantes e lisérgicas, podendo ser aquartelados nos morros para a garantia do fornecimento de champanhe, êxtase e cocaÃna.
Esclarecemos a todos os bandidos envolvidos nas cerimônias que o Papai Noel não pertence ao Comando Vermelho e nem por isso é amigo dos amigos de ninguém.
A fama de bom velhinho não lhe facultará aceitar descontos de atravessadores, "lembrancinhas" dos fornecedores, nem convites para ceias, churrascos e inaugurações.
Os presentes só serão entregues aos respectivos donos, mediante boleto bancário, comprovante de salário e protocolo assinado pelos responsáveis pelo pagamento.
O Papai Noel não responderá pela procedência dos produtos importados, nem pelo prontuário dos que tiverem os desejos atendidos por eles.
Aos muitos que quiserem o que só uns poucos podem ter será dada uma lição de moral e civismo, ou cinismo, como queiram, dizendo que "é assim que as coisas são neste paÃs".
Aqueles que discordarem e acharem que "as coisas não são bem assim" não ganharão nada, ou pior...
Todos aqueles que duvidarem da existência de Papai Noel poderão ser deportados para Israel como cristãos arrependidos; ou para Cuba, entre os piores comunistas comedores de criancinhas inocentes.
Quanto aos pedidos "de crianças" -por ateus ou por crentes- é sempre bom lembrar que a prática da prostituição infantil e da exploração sexual de crianças e adolescentes (mesmo dentro das cadeias públicas brasileiras) é crime punido com reclusão de quatro a dez anos, além de multa.
Os muçulmanos que não entenderem nada da fatura dessa péssima aula de história que estamos lhes passando e cobrando deverão reclamar e conspirar com bispos ortodoxos ou serem crucificados pelos protestantes norte-americanos.
De forma que também não convém ao Papai Noel ficar dando bandeira a venezuelanos e ingleses de ser muito católico nestes tempos...
De um jeitinho ou outro, os materialistas preferirão receber a sua parte em dinheiro, os militaristas em equipamentos destrutivos de última geração e aos espiritualistas mais sofisticados, ou delicados, será oferecida alguma espécie de gratificação mental, como o terceiro setor.
Os terroristas de todos os lados não contarão com o acesso e a imunidade que o Papai Noel terá para visitar os lares das autoridades visadas pelos artefatos explosivos.
O Papai Noel será avisado para a eventualidade e o caso de polÃcia de ser revistado por paisanos ou intimado por milÃcias em certos pontos obscuros das cidades problemáticas, tendo à sua disposição a parceria e a cooperação de tropas de elite e de esquadrões antibombas cinematográficos.
Por essas e outras, as carruagens passarão a ser blindadas, os animais usarão celas e coletes à prova de balas e todos os sacos suspeitos serão passados em revista.
Os verdadeiros culpados por isso tudo apenas sentirão cócegas. Aliás, eles também mandam avisar que Deus há de lhes pagar... Por todos os pecados deles! Rô, Rô, Rô!
Fernando Bonassi - Fonte: Folha de S.Paulo - 11/12/07.
OS NOVOS VELHOS
Raimunda Nonata da Silva Maciel tornou-se notÃcia, na semana passada, por ser a vestibulanda mais velha a entrar numa faculdade brasileira. Com 81 anos, ela ingressou num curso de serviço social no Pará -aliás, na mesma universidade em que estuda uma de suas netas. Quando lhe perguntaram por que tinha escolhido aquele curso, brincou: "É para cuidar dos velhos".
O caso de Raimunda Nonata, obrigada a deixar a escola quando era adolescente, será cada vez mais rotineiro -assim como parecerá menos estranho uma pessoa como Oscar Niemeyer comemorar cem anos de vida em plena atividade profissional.
Essa é a perspectiva que sugere o estudo do IBGE lançado na semana passada, sobre a expectativa de vida do brasileiro, que ajuda a redefinir os limites da velhice. Será que alguém que, aos 81 anos, entre numa faculdade pode ser chamado de velho?
Segundo o IBGE, a expectativa de vida do brasileiro já está em 72,3 anos, com um ganho de quatro meses e 26 dias entre 2005 e 2006; no Distrito Federal, essa taxa sobe para 75,1 anos. Em 1960, a expectativa de vida era de 54,6 anos. Com as melhorias nos tratamentos médicos e na prevenção de doenças, a expectativa de vida vai subir por muito tempo.
"Quase todos os prédios que eram construÃdos antigamente tinham de ter um playground para as crianças. Agora, precisam de áreas para idosos", afirma o professor de geriatria da Faculdade de Medicina da USP Wilson Jacob Filho, para quem as pessoas, no futuro, vão viver até os 120 anos. Isso faria de Raimunda Nonata, sem exagero, uma jovem, ainda com 40 anos pela frente.
Na coluna passada, apresentei um sinal da redefinição dos limites da velhice, baseado em pesquisas do Ministério do Trabalho: o emprego cresce com mais rapidez entre profissionais acima dos 50 anos. Acima dos 65, o crescimento é três vezes maior que entre os de 18 a 24 anos.
Tais estatÃsticas estão embaralhando o debate baseado na quase unanimidade de que o velho é essencialmente um problema. É apenas uma questão de tempo pensar nele também como uma solução.
O envelhecimento da população é apresentado como um problema porque, entre outras coisas, aumenta os gastos com saúde e previdência, além de tomar o emprego dos mais jovens. Mas a pergunta é a seguinte: quantos indivÃduos como Niemeyer, com a sua experiência, a sociedade vai ter por mais tempo?
Naturalmente, as mudanças demográficas trazem novos desafios, entre os quais o da bomba previdenciária. Os desafios, entretanto, não se limitam apenas aos mais velhos. Está em movimento também o limite da adolescência, que vem se estendendo até os 30 anos. Basta ver o número de pessoas que, nessa idade, ainda vivem com os pais. Isso faz com que, aos poucos, tenda a diminuir o número de mães tão jovens, como revelou o IBGE, na quinta-feira: um quinto dos partos é feito em mulheres com até 20 anos. O que antes era algo comum agora é visto como uma anomalia social a ser enfrentada urgentemente, afinal uma mãe precoce terá dificuldades crescentes de entrar no mercado de trabalho.
O maior desafio da velhice não são os gastos com saúde ou previdência. É o preconceito daqueles que vêem os idosos como incapazes de se reciclar e, portanto, fadados à inutilidade. Mas, com novos tratamentos médicos e recursos tecnológicos, o conceito de autonomia também está mudando. Confina-se o idoso à situação de que ele é inútil por não ser produtivo, logo seu papel é esperar a morte. E, com isso, perde-se o mais importante elemento da manutenção da juventude: a curiosidade.
Jovem, afinal, é quem se mantém curioso -e velho é aquele que acha que não tem mais nada para aprender. Por isso, chamar Raimunda Nonata de inútil é uma óbvia asneira. Ela é um entre tantos Ãcones dos novos velhos.
PS - O preconceito contra o idoso é nutrido especialmente nas escolas, onde, em essência, se ensina que a utilidade do conhecimento está ligada a ter uma profissão. Somos alguém porque, em poucas palavras, temos trabalho e somos úteis, o que é uma óbvia redução da condição humana. Basta ver o debate em torno de mais uma bateria de indicadores educacionais internacionais (Pisa), divulgados na semana passada, na qual nos saÃmos muito mal. A queixa básica é que não seremos um paÃs competitivo com trabalhadores com baixa escolaridade. Isso, a rigor, não está errado. Mas também é um problema tão grande quanto o profissional não tirar proveito da diversidade humana, não desfrutar a chance de ser protagonista na vida ou até mesmo de apreciar obras de gente como Mozart, Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Monet ou Portinari. Como diria o sábio Rubem Alves, com seus 70 anos, uma vassoura é extremamente útil, mas isso não a faz mais importante do que a nona sinfonia de Beethoven, que, a rigor, não tem nenhuma utilidade.
Gilberto Dimenstein - Fonte: Folha de S.Paulo - 09/12/07.
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