VĂO LIVRE
O VĂO DO MILHAFRE REAL (MILVUS MILVUS)
English: http://www.rspb.org.uk/wildlife/birdguide/name/r/redkite/index.asp
Reino Unido - Um exemplar de Milhafre Real (Milvus milvus)voa nos arredores de Lewknor. A espécie, que chegou a ser considerada extinta na Inglaterra e na Escócia, conta com mais de 200 pares após ser reintroduzida na região.
Leia mais: http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI2601212-EI8145,00.html
Fonte: Terra - 25/02/08.
ĂTICA DE PRINCĂPIOS
As duas Ă©ticas: a Ă©tica que brota da contemplação das estrelas perfeitas, imutĂĄveis e mortas, a que os filĂłsofos dĂŁo o nome de Ă©tica de princĂpios, e a Ă©tica que brota da contemplação dos jardins imperfeitos e mutĂĄveis, mas vivos -a que os filĂłsofos dĂŁo o nome de Ă©tica contextual.
Os jardineiros nĂŁo olham para as estrelas. Eles nada sabem sobre os estrelas que alguns dizem jĂĄ ter visto por revelação dos deuses. Como os homens comuns nĂŁo vĂȘem essas estrelas, eles tĂȘm de acreditar na palavra dos que dizem jĂĄ as ter visto longe, muito longe...
Os jardineiros sĂł acreditam no que os seus olhos vĂȘem. Pensam a partir da experiĂȘncia: pegam a terra com as mĂŁos e a cheiram...
Vou aplicar a metåfora a uma situação concreta. A mulher estå com cùncer em estado avançado. à certo que ela morrerå. Ela suspeita disso e tem medo.
O médico vai visitå-la. Olhando, do fundo do seu medo, no fundo dos olhos do médico ela pergunta: "Doutor, serå que eu escapo desta?"
Estå configurada uma situação ética. Que é que o médico vai dizer?
Se o mĂ©dico for um adepto da Ă©tica estelar de princĂpios, a resposta serĂĄ simples. Ele nĂŁo terĂĄ que decidir ou escolher. O princĂpio Ă© claro: dizer a verdade sempre. A enferma perguntou. A resposta terĂĄ de ser a verdade. E ele, entĂŁo, responderĂĄ: "NĂŁo, a senhora nĂŁo escaparĂĄ desta. A senhora vai morrer..." Respondeu segundo um princĂpio invariĂĄvel para todas as situaçÔes.
A lealdade a um princĂpio o livra de um pensamento perturbador: o que a verdade irĂĄ fazer com o corpo e a alma daquela mulher? O princĂpio, sendo absoluto, nĂŁo leva em consideração o potencial destruidor da verdade.
Mas, se for um jardineiro, ele nĂŁo se lembrarĂĄ de nenhum princĂpio. Ele sĂł pensarĂĄ nos olhos suplicantes daquela mulher. PensarĂĄ que a sua palavra terĂĄ que produzir a bondade. E ele se perguntarĂĄ: "Que palavra eu posso dizer que, nĂŁo sendo um engano -"A senhora breve estarĂĄ curada...'-, cuidarĂĄ da mulher como se a palavra fosse um colo que acolhe uma criança?" E ele dirĂĄ:
"VocĂȘ me faz essa pergunta porque vocĂȘ estĂĄ com medo de morrer. TambĂ©m tenho medo de morrer..." AĂ, entĂŁo, os dois conversarĂŁo longamente -como se estivessem de mĂŁos dadas ...- sobre a morte que os dois haverĂŁo de enfrentar. Como sugeriu o apĂłstolo Paulo, a verdade estĂĄ subordinada Ă bondade.
Pela Ă©tica de princĂpios, o uso da camisinha, a pesquisa das cĂ©lulas-tronco, o aborto de fetos sem cĂ©rebro, o divĂłrcio, a eutanĂĄsia sĂŁo questĂ”es resolvidas que nĂŁo requerem decisĂ”es: os princĂpios universais os proĂbem.
Mas a Ă©tica contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou o mal que uma ação irĂĄ criar. O uso da camisinha contribui para diminuir a incidĂȘncia da Aids? As pesquisas com cĂ©lulas-tronco contribuem para trazer a cura para uma infinidade de doenças? O aborto de um feto sem cĂ©rebro contribuirĂĄ para diminuir a dor de uma mulher? O divĂłrcio contribuirĂĄ para que homens e mulheres possam recomeçar suas vidas afetivas? A eutanĂĄsia pode ser o Ășnico caminho para libertar uma pessoa da dor que nĂŁo a deixarĂĄ?
Duas Ă©ticas. A Ășnica pergunta a se fazer Ă©: "Qual delas estĂĄ mais a serviço do amor?"
Rubem Alves - Fonte: Folha de S.Paulo - 04/03/08.
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