O PODER DA NATUREZA E DA ARTE...
ĂRGĂO DO MAR - na cidade de Zadar, CroĂĄcia
Situado na costa de Zadar uma cidade da CroĂĄcia, encontramos o ĂrgĂŁo do Mar, degraus cravados em rochas que tĂȘm em seu interior um interessante sistema de tubulaçÔes que, quando empurradas pelos movimentos do mar, forçam o ar e, dependendo do tamanho e velocidade da onda, criam notas musicais, sons aleatĂłrios. Criado em 2005 e ganhador do prĂȘmio europeu para espaços pĂșblicos (European Prize for Urban Public Space), o ĂrgĂŁo do Mar recebe turistas de vĂĄrias partes do mundo que vĂȘm escutar uma mĂșsica original que traz muita paz. O lugar tambĂ©m Ă© conhecido por oferecer um belo pĂŽr-do-sol, o que agrada ainda mais as pessoas que visitam a localidade. Zadar Ă© uma bela cidade litorĂąnea da CroĂĄcia e foi duramente castigada durante a 2Âș Guerra Mundial. A criação do ĂrgĂŁo Ă© tambĂ©m uma iniciativa para devolver um pouco do que o lugar perdeu com tanta destruição e sofrimento. As lacunas no concreto servem para o ĂrgĂŁo 'respirar' tambĂ©m para levar os sons criados nas tubulaçÔes. Debaixo dos degraus hĂĄ 35 tubos musicalmente afinados que produzem um som de assobio. O movimento do mar empurra o ar atravĂ©s dos tubos e, dependendo do tamanho e velocidade da onda, acordes sĂŁo executados.
Veja mais fotos: http://paranoidway.blogspot.com/2007/11/orgo-do-mar.html
SĂŁo vĂĄrios os links, onde vocĂȘ pode ouvĂ-lo. Aqui um deles: http://www.youtube.com/watch?v=H5BOwPj8zSY
(Colaboração: LĂșcia)
APOCALYPSE NOW
Ao ser interrogado sobre qual seria o futuro da arte, um crĂtico respondeu: "NĂŁo sei. Se soubesse, estaria comprando". Entre a provocação e o cinismo, a tirada assinala o quanto as artes dependem do mercado.
Nenhum artista, seja ele poeta ou cineasta, inventor de instalaçÔes ou navegador no ciberespaço, consegue viver de sua arte se nĂŁo vendĂȘ-la. A mistura na qual a invenção criadora, feita de intuiçÔes fulgurantes, capaz de abrir percepçÔes vertiginosas para o comum dos mortais, se funde com interesses vis termina por provocar quase sempre um odor meio nauseante. Tende-se a separar as duas coisas para afastar o sentimento de repugnĂąncia.
Mas a associação é inevitåvel. As artes dependem desses processos de compra e venda, no qual se infiltram também os mais diversos tipos de oportunismo publicitårio que transformam a obra em produto.
Contudo Ă© legĂtima uma visada otimista. O mercado deixaria de existir, e com ele as artes, se tanta gente nĂŁo se dispusesse a pagar tanto. Essas pessoas, para o mal ou para o bem, indicam que hĂĄ um crucial interesse (na variada gama de sentidos que essa palavra possui) consagrado Ă arte. A obra de arte pode ser abalada em suas significaçÔes mais profundas por especulaçÔes financeiras, vaidades mundanas, esnobismos de todo tipo, sociais ou intelectuais. SĂŁo falsos semblantes. O cerne mais verdadeiro permanece, mesmo quando ocultado.
Hoje, grandes receios levam a sentir o futuro como apocalĂptico, no qual uma estabilidade, por precĂĄria que seja, esteja se perdendo definitivamente.
PorĂ©m ganha-se, em troca, uma rede de comunicaçÔes imediatas, com prodigiosas facilidades de deslocamento sobre todo o planeta. Isso deveria provocar fecundaçÔes nos processos de criação, jĂĄ que as artes sĂŁo feitas de diĂĄlogos, trocas, contaminaçÔes. Nada impossĂvel que ocorram.
As Ășltimas dĂ©cadas mostraram, em todos os campos, que a humanidade vem sendo atingida por comportamentos coletivos de profunda regressĂŁo. Comportamentos cuja intensidade irracional Ă© propriamente espantosa. O domĂnio das artes nĂŁo escapa deles.
Obras sĂŁo agredidas de vĂĄrias formas: sĂŁo destruĂdas fisicamente por razĂ”es religiosas ou morais; sĂŁo acossadas pela censura, que muitas vezes cerceia a dĂșvida, a crĂtica, a irreverĂȘncia; sĂŁo neutralizadas, dissolvidas em suas almas, pelo marketing. Diante desses ataques, e muitas vezes justamente por eles, a arte mostra seu papel inconformista, manifestando-se ali onde nĂŁo se espera, perturbando os acomodamentos.
O destino de nosso pequeno mundo assusta. Nele proliferamos, cada vez mais numerosos. Sentimo-nos parasitas destruidores sobre um globo que, graças às nossas atividades, ou apenas às nossas presenças, caminha para o apocalipse ecológico. Julgamo-nos impotentes para aliviar as mazelas de uma humanidade marcada pelas piores injustiças, em sua maioria condenada a uma vida de miséria.
Tudo isso Ă© verdadeiro, e a arte, nessa perspectiva, pode parecer frĂvola. Seu campo infinito de sugestĂ”es, ao contrĂĄrio, conduz Ă percepção complexa, por vezes contraditĂłria, deste mesmo mundo, Ășnico, tĂŁo ameaçado.
Talvez chegue mesmo o apocalipse. Talvez os oceanos invadam as terras, talvez o planeta morra, talvez nĂłs consigamos exterminar a nĂłs mesmos. Ă sĂł quando isso acontecer, e sĂł entĂŁo, que a arte nĂŁo terĂĄ mais sentido.
Jorge Coli - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/12/07.
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