OS PLANETAS DE MARĂO
O MĂS DO CĂU MĂGICO
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A ideia de que o mundo vai acabar é tão antiga quanto a ideia de mundo. Na maioria das culturas, o fim do mundo virå e, quando vier, serå anunciado pelo mais completo caos celeste. O que muda de cultura para cultura é o que ocorre depois do fim: ou um novo começo ou uma era em que o tempo deixa de passar.
Fora a escatologia bĂblica do Apocalipse de JoĂŁo ou do livro de Daniel, alguns leitores devem se lembrar de Abracurcix, o chefe da aldeia de Asterix, o bravo guerreiro gaulĂȘs, cujo Ășnico medo era que o cĂ©u caĂsse sobre sua cabeça.
Ao contrĂĄrio das culturas monoteĂstas, com seu tempo linear, para os celtas e seus druidas o fim de um ciclo marcava o começo de outro. A noção do tempo cĂclico, presente tambĂ©m na mitologia hindu por meio da dança de Shiva, em geral representa uma sequĂȘncia de mundos. NĂŁo existe um final, mas uma sequĂȘncia de existĂȘncias.
Que o fim do mundo vem anunciado nos cĂ©us parece ser uma simbologia universal: se a ordem celeste Ă© alterada, o pior estĂĄ ainda por vir. NĂŁo Ă© Ă toa que cometas atĂ© hoje sĂŁo tidos como mau agouro. Se os cĂ©us sĂŁo a morada dos deuses, por consequĂȘncia sĂŁo tambĂ©m seu quadro de mensagens. FenĂŽmenos fora do comum eram e ainda sĂŁo temidos. "Arrependa-se antes que seja tarde!", diz o firmamento.
Neste mĂȘs, o cĂ©u estĂĄ belĂssimo. Os dois planetas mais brilhantes, VĂȘnus e JĂșpiter, estĂŁo em conjunção (prĂłximos) no oeste logo apĂłs o poente. A lua reaparecerĂĄ perto deles no final do mĂȘs, amplificando a beleza do evento. Enquanto isso, no leste, Marte estĂĄ em oposição (ou quase) com o Sol, o que o torna bem brilhante e alaranjado.
AtĂ© o elusivo MercĂșrio andou mostrando sua cara no inĂcio do mĂȘs. Saturno aparece na linha do horizonte leste no inĂcio da noite. Ou seja, durante o mĂȘs, os cinco planetas visĂveis a olho nu estarĂŁo presentes no cĂ©u. Se isso tivesse ocorrido hĂĄ dois sĂ©culos, viria o pĂąnico.
Felizmente, nĂŁo hĂĄ nada a temer. Pelo contrĂĄrio, a beleza do cĂ©u neste mĂȘs deveria inspirar todos a olhar para cima. Ao fazĂȘ-lo, percebemos o quanto somos pequenos perante a imensidĂŁo do espaço. PorĂ©m, percebemos tambĂ©m o quanto somos grandes -pois foi por meio de nossa criatividade que conseguimos aprender tanto sobre os cĂ©us, sobre as leis que regem os movimentos planetĂĄrios e sobre as Ăłrbitas e a composição dos cometas.
Ă ela, tambĂ©m, a responsĂĄvel pela nossa capacidade de datar com precisĂŁo de segundos a ocorrĂȘncia de eclipses solares e pela compreensĂŁo dos processos responsĂĄveis pela produção de luz e energia no Sol, que nos permitem existir na sua vizinhança. AliĂĄs, nĂŁo deixe de celebrar o dia do Sol e da Terra, dia 19, que tambĂ©m Ă© meu aniversĂĄrio.
Pela primeira vez na histĂłria, estamos olhando para outros mundos, misteriosos e distantes, que giram em torno de outras estrelas. Cada qual Ă© um livro aberto, com suas propriedades Ășnicas e, quem sabe, a promessa de vida em alguns deles.
Os que pensam que, ao compreendermos o mundo cientificamente, tiramos sua beleza, deveriam repensar sua posição. Pelo contrĂĄrio, ao nos ajudar a ver mais longe, a ciĂȘncia alimenta ainda mais os sonhos de tudo o quanto ainda nĂŁo conhecemos e o senso de mistĂ©rio ao contemplarmos o Universo.
Marcelo Gleiser Ă© professor de fĂsica teĂłrica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: http://www.facebook.com/pages/Marcelo-Gleiser/181684578568436. - Fonte: Folha de S.Paulo - 18/03/12.
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Criação Imperfeita - http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=24556
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