BALLET DE SANTA TERESA
PRĂMIO Ă TEIMOSIA
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Em dez anos de existĂȘncia, o Ballet de Santa Teresa, projeto que atende crianças de diferentes favelas do bairro carioca, sobreviveu a quatro trocas de sede graças Ă teimosia de VĂąnia Farias, 41.
O maior teste de resistĂȘncia aconteceu em 2009, quando um temporal num sĂĄbado de outubro fez desabar o muro da antiga sede, levando a Defesa Civil a interditĂĄ-la.
Vùnia, que iniciara o atendimento a crianças pobres de maneira voluntåria e solitåria, se viu naquele momento sem sede e sem financiamento. Virou, segundo sua própria definição, pedinte profissional, até achar apoio entre comerciantes do bairro e alugar um novo imóvel.
A transferĂȘncia para a instalação atual ocorreu em 2010, mas tampouco foi fĂĄcil. No dia da mudança, o caminhĂŁo contratado desistiu do serviço ao ver que eram praticamente apenas mulheres e crianças com uma quantidade enorme de coisas para carregar -pianos, espelhos, livros e roupas.
Toda a tralha, em vez de seguir para o novo endereço pelo caminhĂŁo de mudança, teve entĂŁo que ser transportada em inĂșmeras viagens dentro de um velho Fusca amarelo, que VĂąnia deixa atĂ© hoje a serviço do grupo.
BONDE DO BALĂ
A tarefa, no entanto, foi facilitada pelos bondinhos de Santa Teresa. Nelson Silva -condutor que em agosto do ano passado morreu no acidente que resultou em outras quatro mortes-, ao ver a dificuldade pela qual passava Vùnia, fez do bonde um caminhão de mudança.
"Ele pediu que os passageiros levassem caixas e mais caixas. Até turista estrangeiro, que não estava entendendo nada, teve que ajudar", recorda Vùnia.
Tanto apreço dos moradores pelo projeto se explica pelos seus bons resultados e estreita ligação com a comunidade. AlĂ©m de aulas de dança, as crianças recebem reforço escolar, e o relacionamento com as escolas vai muito alĂ©m da mera cobrança por notas ou frequĂȘncia.
Além de encaminhar os alunos com maior dificuldade, a escola municipal vizinha ao projeto às vezes pede a Vùnia para evitar que crianças abandonem os estudos. Ela é até chamada a participar de reunião de pais.
"Numa dessas ocasiĂ”es, me disseram que o projeto era a Ășltima esperança, pois a menina estava perto de abandonar a escola."
A insistĂȘncia de VĂąnia e sua equipe levou o projeto a ser finalista, em novembro, do prĂȘmio ItaĂș-Unicef. De lĂĄ, ela saiu com mais financiamento para criar uma orquestra, cursos de gastronomia, estĂ©tica e confecção de roupas para espetĂĄculos.
Diferentemente de tantas boas iniciativas que morrem por falta de verbas ou organização, o Ballet de Santa Teresa estå pronto para dar novos saltos.
Antonio Gois - Fonte: Folha de S.Paulo - 01/01/12.
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A FOME NĂO PODE ESPERAR
Atualmente, cerca de 1 bilhĂŁo de pessoas sofrem de subnutrição, e muitos paĂses estĂŁo longe de atingir o primeiro Objetivo de Desenvolvimento do MilĂȘnio, o de reduzir pela metade, atĂ© 2015, a proporção de pessoas que vivem na fome e na pobreza extremas.
A minha principal prioridade para 2012 serå dar um novo impulso para alcançar esse objetivo, mas também olhar mais à frente, para a erradicação total da fome.
Obviamente, nĂŁo Ă© algo que a FAO (Organização das NaçÔes Unidas para a Alimentação e a Agricultura) possa fazer sozinha. SerĂĄ necessĂĄrio uma mobilização internacional, o apoio dos governos e um esforço concertado de toda a famĂlia das NaçÔes Unidas e de outros parceiros de desenvolvimento.
Pretendo começar imediatamente uma sĂ©rie de consultas com 20-30 dos paĂses mais pobres do mundo e ajudĂĄ-los a mobilizar os recursos necessĂĄrios para lançar as suas prĂłprias estratĂ©gias abrangentes de segurança alimentar.
NĂŁo hĂĄ receitas prontas, mas tambĂ©m nĂŁo hĂĄ necessidade de começar do zero. Em diferentes partes do mundo em desenvolvimento hĂĄ uma riqueza de experiĂȘncias internacionais Ă s quais esses paĂses podem recorrer para encontrar respostas para os seus problemas.
A FAO, tirando o melhor partido dos seus prĂłprios recursos financeiros e humanos, e trabalhando lado a lado com outros parceiros, estĂĄ preparada para ajudar esses paĂses a formular planos viĂĄveis de segurança alimentar.
Em 2011, a FAO lançou o que corresponde a uma revolução duplamente verde na agricultura, visando aumentar a produção e diminuindo o impacto ambiental causado pelos sistemas agrĂcolas atuais.
Esse novo modelo, "Save and Grow" (Poupar e Crescer), conserva e promove os recursos naturais, utilizando a contribuição da natureza -desde a matĂ©ria orgĂąnica dos solos Ă regulação de fluxos de ĂĄgua - para o aumento das colheitas, e pode ser adaptado a condiçÔes especĂficas. ExperiĂȘncias em terreno em 57 paĂses de baixo rendimento agrĂcola tĂȘm permitido aumentos de em mĂ©dia 80%.
Isso pode desempenhar um papel importante para ajudar paĂses com insegurança alimentar a alcançar um maior crescimento econĂŽmico sustentĂĄvel, questĂŁo que estarĂĄ no centro das atençÔes em junho prĂłximo, na ConferĂȘncia das NaçÔes Unidas sobre Desenvolvimento SustentĂĄvel (Rio+20).
A mudança climĂĄtica e a segurança alimentar tĂȘm agendas convergentes. Ambas requerem mudanças importantes para alcançarmos padrĂ”es mais sustentĂĄveis de produção e consumo. Temos agora a oportunidade de explorar as suas potenciais sinergias.
Junto com a ONU Mulheres e com outros parceiros, a FAO defende o empoderamento das mulheres na agricultura. Atualmente, a produtividade dos terrenos cultivados por mulheres Ă© mais baixa que naqueles cultivados por homens, porque elas nĂŁo tĂȘm o mesmo acesso a recursos como terra, tecnologia e insumos. Podemos reverter o quadro.
Nesse novo impulso na luta contra a fome, devemos procurar soluçÔes novas e inovadoras. A injeção de recursos nas economias rurais, por meio de programas de transferĂȘncia de dinheiro e de incentivos Ă produção, por exemplo, estimulam o crescimento local. Criam-se empregos, renda e mercados para os pequenos agricultores, e a oferta local de alimentos frescos, saudĂĄveis e nutritivos aumenta.
O caminho à frente é longo e, embora a nossa tarefa esteja dificultada pelo ambiente econÎmico incerto, estou convencido de que, com nova abordagem e esforços renovados, além de medidas para fortalecer a governança global da segurança alimentar, podemos avançar em direção à erradicação da fome.
José Graziano da Silva é diretor-geral da FAO (Organização das NaçÔes Unidas para a Alimentação e a Agricultura). - Fonte: Folha de S.Paulo - 01/01/12.
FAO - https://www.fao.org.br/
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