ELEIÇÕES NO IRÃ
IRÃ – DEPOIS DE 1979
TWITTER 1, CNN 0
English:
http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=13856262
http://www.economist.com/world/mideast-africa/displaystory.cfm?story_id=13856224
A "Economist" (http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=13856262), na capa, louva o levante iraniano e prevê duas saÃdas, repressão ou concessão de Teerã. Sobre a cobertura (http://www.economist.com/world/mideast-africa/displaystory.cfm?story_id=13856224),elogia a resistência do Twitter e questiona o recuo da CNN, que é o canal global de notÃcias e deixou escapar o inÃcio do movimento.
Toda MÃdia - Nelson de Sá - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
IRÃ – DEPOIS DE 1979
English:
http://www.nytimes.com/2009/06/16/world/middleeast/16iran.html?hp
http://www.ft.com/cms/s/0/8cb88e94-596d-11de-b687-00144feabdc0.html
http://www.nytimes.com/2009/06/15/opinion/15mon1.html?_r=1
http://www.guardian.co.uk/world/2009/jun/15/iran-elections-protests-mousavi-attacks
http://www.guardian.co.uk/world/2009/jun/15/iran-students-protest-election-results
Começou no site do "New York Times" (http://www.nytimes.com/2009/06/16/world/middleeast/16iran.html?_r=1&hp) e avançou por "Financial Times" (http://www.ft.com/cms/s/0/8cb88e94-596d-11de-b687-00144feabdc0.html?nclick_check=1) e outros, nos enunciados sobre "a demonstração de desafio que parece ser a maior manifestação antigovernamental desde a revolução de 1979".
Em editorial (http://www.nytimes.com/2009/06/15/opinion/15mon1.html?_r=1) , o "NYT" chegou perto, mas não afirmou fraude eleitoral no Irã. Disse que "talvez nunca possamos saber com certeza" o resultado, mas "certamente parece com fraude".
Outros jornais ocidentais já usam expressões como "levante sangrento" (http://www.guardian.co.uk/world/2009/jun/15/iran-elections-protests-mousavi-attacks) , com uma morte, segundo a maioria, e até 12, segundo o "Guardian" (http://www.guardian.co.uk/world/2009/jun/15/iran-students-protest-election-results).
NOVA ORDEM E OS ABUSOS
No topo das buscas por Google News (http://www.reuters.com/article/businessNews/idUSTRE55E3B520090615) e na manchete da Reuters Brasil (http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE55E08820090615) , "Lula quer que trabalhador ajude a formar nova ordem" global.
Na BBC Brasil (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/06/090615_lulaonupu_ba.shtml) , "Lula: Desemprego não é culpa dos imigrantes pobres". Citando que ele ouviu "aplausos entusiasmados" no fim do discurso na OIT, a Associated Press (http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/06/15/AR2009061501156.html) destacou porém que Lula também escutou "uma forte crÃtica de grupos de direitos humanos". Sublinhou que o Human Rights Watch de Nova York atacou a abstenção do Brasil sobre abusos na Coreia do Norte, no Sudão.
Aqui, o blog de Reinaldo Azevedo (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/apedeuta-diz-uma-de-suas-maiores-bobagens-em-sete-anos/) e o "Jornal Nacional" (http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/JN/0,,MUL1195625-10406,00-LULA+NAO+ACREDITA+EM+FRAUDE+NO+IRA.html) focaram o apoio de Lula à reeleição no Irã.
Toda MÃdia – Nelson de Sá (http://www.todamidia.folha.blog.uol.com.br) – Fonte: Folha de S.Paulo - 16/06/09.
CRISE NO IRÃ
Oposição aponta fraude. Resultado Oficial:
Mahmoud Ahmadinejad = 62,7%
Mir Hossein Mousavi = 33%
Outros = 4,3%
646 DENÚNCIAS FORAM FEITAS PELA OPOSIÇÃO
SUSPEITAS
Rapidez - Duas horas após o fechamento das urnas, a agência estatal de notÃcias divulgou o resultado, antes do Conselho Eleitoral. O lÃder supremo Ali Khamenei também promulgou vitória de Ahmadinejad rapidamente;
Comparecimento - Em 2005, Ahmadinejad teve 17 milhões de votos com 52% de comparecimento e o boicote de boa parte da classe média pró-reformista. Neste ano, com 84% de comparecimento, e entusiasmo da oposição, ele teve 24,5 milhões de votos;
Crise - A crise econômica dura mais de um ano, com inflação de 23,6% e desemprego de 20%. O crescimento do PIB caiu mais da metade de 2007 a 2009, o que novamente afeta o governo de turno;
Urnas - Segundo a oposição, faltavam urnas, cédulas chegaram com atraso, eleitores foram intimidados, representantes dos candidatos foram barrados nas seções eleitorais, e 13 mil urnas rurais tiveram itinerário de recolhimento alterado;
Eleitores-Fantasmas - ONGs dizem que, em algumas cidades, o comparecimento de eleitores superou os 100%, chegando até 140%;
3° Candidato - O outro candidato reformista, Mehdi Karubi, teve apenas 338 mil votos, contra os 5 milhões obtidos em 2005; queda tão grande é tida como improvável.
O QUE TEERÃ PROMETEU
>>> Recontagem parcial das urnas e encontro com os três candidatos opositores;
O QUE QUER A OPOSIÇÃO
>>> Nova eleição e investigação autônoma das irregularidades.
Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
REPRESSÃO A PROTESTO
Paramilitares iranianos mataram uma pessoa e deixaram vários feridos graves ao final da maior manifestação até aqui da oposição contra o resultado da eleição presidencial.
O candidato oposicionista Mir Hossein Mousavi pediu durante o protesto que seja feita uma nova eleição, em vez da recontagem simples dos votos. A oposição diz que a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, com 62,7% dos votos, foi fraudulenta.
A violência aconteceu ao final de uma marcha até então calma e silenciosa que lotou os cinco quilômetros que ligam as praças da Revolução e da Liberdade, em Teerã -no que foi considerada a maior manifestação contra o governo em 30 anos do regime dos aiatolás, reunindo centenas de milhares de pessoas.
Horas antes, o aiatolá Ali Khamenei, lÃder supremo polÃtico e religioso do paÃs, voltou atrás e ordenou uma investigação para apurar as denúncias de fraude. No sábado, Khamenei disse que a eleição foi limpa e pediu que todos apoiassem o presidente reeleito.
Os reformistas aliados a Mousavi veem com desconfiança o fato de o governo ter divulgado a vitória de Ahmadinejad apenas duas horas depois do fechamento das urnas -um processo que costuma levar de dois a três dias no paÃs.
A partir da vitória, houve um blecaute informativo. Mensagens de texto por celulares foram bloqueadas, assim como diversos sites da internet. Universidades e escolas foram fechadas.
Khamenei pediu que Mousavi usasse apenas "vias legais" para protestar contra o resultado. A manifestação de ontem foi proibida pelo Ministério do Interior, mas a presença policial foi discreta, e os incidentes só ocorreram no final da noite.
Pelo menos 200 oposicionistas foram presos na noite de sábado, mas alguns deles, como o irmão do ex-presidente Mohammad Khatami, foram soltos.
Violência na universidade
200 milicianos islâmicos invadiram a Universidade de Teerã, onde 2.000 estudantes se manifestavam e agrediram os estudantes. Houve invasão no dormitório do campus, à 1h30 da manhã, quando universitários foram agredidos a porretes pelos milicianos.
A mulher de Mousavi, Zahra Rahnavard, que participou ativamente da campanha do marido, esteve na mesma universidade.
Foi a primeira aparição dela desde as eleições. Em um discurso para centenas de estudantes, ela pediu que os estudantes "continuassem nas ruas, protestando pacificamente, silenciosamente, pelas mudanças".
Mousavi pediu formalmente a anulação do pleito ao Conselho de Guardiães, principal instância jurÃdica do paÃs.
O aiatolá Khamenei assegurou ao opositor que o conselho examinará "cuidadosamente" a queixa sobre fraude.
Metade do Conselho de Guardiães, integrado por seis clérigos e seis civis, é, no entanto, nomeada diretamente por Khamenei, o que provoca o ceticismo da oposição. Mousavi se declarou ontem pouco esperançoso de que a investigação resulte em anulação da eleição.
O chefe do Conselho de Guardiães, o aiatolá Ahmad Jannati, declarou que logo haverá um pronunciamento sobre o pedido de Mousavi.
"Espero que, primeiro, Deus, depois o nosso lÃder supremo [o aiatolá Khamenei], e depois o povo fiquem satisfeitos", disse Jannati na TV estatal.
O governo iraniano advertiu a todos os jornalistas enviados pela imprensa internacional para cobrir as eleições que não serão renovados os vistos. Até domingo, havia 650 jornalistas estrangeiros em Teerã, mas acredita-se que quase a totalidade deles tenha que deixar o paÃs no próximo fim de semana.
Raul Juste Lores - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/06/09.
SEM JORNAL, COM TWITTER
A manchete do "New York Times" (http://www.nytimes.com/2009/06/17/world/middleeast/17iran.html?_r=2), com seu post em renovação permanente, destacava à noite as "duras restrições aos jornalistas estrangeiros", que agora precisam de "permissão" até para sair dos escritórios. Também o fechamento ou censura prévia de "quatro jornais iranianos pró-reforma".
De resto, "NYT" (http://thelede.blogs.nytimes.com/2009/06/16/latest-updates-on-irans-disputed-election/) e o mundo seguem o mousavi1388 (http://twitter.com/mousavi1388), a página de Twitter (http://www.nytimes.com/2009/06/16/world/middleeast/16media.html?hp) do lÃder reformista que vem comandando as manifestações e informando o que se passa no "levante".
Toda MÃdia – Nelson de Sá – Fonte: Folha de S.Paulo - 17/06/09.
CERCO A OPOSITORES NA RUA E NA WEB
PaÃs multiplica prisão de reformistas, restringe velocidade da internet e promete retirar textos crÃticos da rede e punir autores.
Jornalistas também são detidos; apesar da repressão, partidários do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi mantêm protestos.
No quinto dia de manifestações contra o governo iraniano, acusado de fraude no pleito de domingo que reelegeu o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, Teerã aumentou ontem a repressão contra movimentos oposicionistas.
Diante do maior levante em 30 anos no paÃs, o governo iraniano multiplicou as prisões de militantes reformistas, fechou o cerco contra jornalistas e restringiu o acesso à internet.
Adversários de Ahmadinejad dizem que continuarão enfrentando as autoridades e prometem realizar hoje uma megaprotesto na capital. Eles também pretendem parar o paÃs em sinal de luto pelos sete manifestantes mortos em confrontos com a polÃcia.
Segundo testemunhas, a polÃcia está promovendo uma caça aos intelectuais ligados a Mir Hossein Mousavi, segundo colocado na votação de sexta -de acordo com resultados oficiais- e lÃder dos protestos.
A maioria dos presos acabaram libertados, mas alguns permanecem sob custódia das autoridades. O governo admite que ao menos 26 "organizadores de distúrbios" continuam encarcerados. LÃderes oposicionistas falam em centenas de detenções arbitrárias.
Mousavi e um de seus principais aliados, o clérigo e ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005), escreveram carta ao chefe da Justiça pedindo a libertação dos presos.
Dentro do governo também surgem vozes de contestação. O ministro do Interior pediu ontem a abertura de uma investigação sobre um ataque de milicianos ligados ao regime na universidade de Teerã durante o fim de semana. A ação teria deixado um número não determinado de mortos.
Ignorando os apelos domésticos e externos, o governo passou a ameaçar explicitamente qualquer pessoa suspeita de fomentar os protestos.
Na cidade de Isfahan, também palco de grandes manifestações, o procurador local anunciou que quem causar distúrbios poderá ser executado.
Blogueiros e jornalistas, iranianos e estrangeiros, também estão na mira das autoridades.
Em sua primeira manifestação pública desde a eleição, a Guarda Revolucionária ordenou que todos os textos na internet capazes de "causar tensão" sejam imediatamente retirados do ar. Quem descumprir a regra poderá ser preso.
Sites oposicionistas e de imprensa estrangeira continuam bloqueados, e o serviço de telefonia celular, limitado. As autoridades reduziram pela metade a capacidade da banda larga no paÃs, dificultando o envio de arquivos sonoros e de vÃdeo que vêm sendo usados como forma de driblar a proibição de cobertura da crise iraniana.
Jornalistas não podem deixar seus escritórios, sendo obrigados a fazer entrevistas por telefone e a depender das fotos e vÃdeos fornecidos pela imprensa estatal.
Muitos repórteres estrangeiros, entre eles o da Folha, tiveram de deixar o paÃs depois que o governo revogou seus vistos.
Segundo a ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras, há pelo menos 11 jornalistas iranianos ou estrangeiros detidos no Irã sem que se tenha informação sobre seu paradeiro.
Suspeitas
Desafiando o governo, dezenas de milhares de partidários de Mousavi participaram ontem de mais um protesto em Teerã. Os manifestantes exigem a anulação do pleito, que reelegeu Ahmadinejad com 62,7% dos votos. Mousavi, que teve 33% dos votos, vê no pleito "fraudes em massa" e pede uma nova eleição. O governo descartou a hipótese, embora tenha mandado recontar votos em regiões onde houve suspeitas.
Depois de uma campanha acirrada e do desgaste causado pela crise econômica, Ahmadinejad teve 8 milhões de votos a mais do que em 2005, número tido como irreal pela oposição.
O jornal britânico "The Guardian" divulgou ontem relatório de ONG iraniana afirmando que a participação nas urnas foi superior a 100% em ao menos 30 cidades, o que reforçaria a tese de manipulação.
Com agências internacionais - Fonte: Folha de S.Paulo - 18/06/09.
PROTESTOS PODEM SER PRINCÃPIO DE CONTRAREVOLUÇÃO
Trinta anos após a Revolução Islâmica, podemos estar assistindo a uma contrarrevolução iraniana? No curto prazo, os acontecimentos recentes no Irã são deprimentes e alarmantes -uma eleição roubada, violência nas ruas, repressão. No longo prazo, há evidências animadoras de que o Irã não precisa ser imune à onda de democratização que varre o mundo desde o final dos anos 1970.
Há, é claro, quem pense que o presidente Mahmoud Ahmadinejad possa de fato ter vencido a eleição. O argumento é que jornalistas ocidentais e iranianos de classe média teriam se enganado por focar demais na opinião pública na capital e entre a elite instruÃda. O Irã talvez seja como a Tailândia -paÃs que passou por turbulência polÃtica recentemente porque o voto da classe média urbana regularmente perde para o dos pobres da zona rural.
Esses argumentos não convencem. A eleição iraniana traz todas as marcas tÃpicas de uma eleição roubada. A contagem oficial indica que Ahmadinejad venceu até mesmo na cidade natal de seu principal rival, Mir Hossein Mousavi, e atribui 63% dos votos ao presidente, uma porcentagem que foge totalmente da maioria das previsões traçadas antes da eleição.
Dizia-se que o Irã era um raro exemplo de semidemocracia no Oriente Médio. Mas a eleição de sexta arrancou o véu democrático do paÃs. O regime iraniano vem reagindo aos protestos populares com todos os instintos de uma ditadura. Alguns pragmáticos conservadores argumentam que é um erro tentar promover a democracia no Oriente Médio, em vista da probabilidade de islâmicos subirem ao poder e imporem regimes fechados. A piada que se faz é que seria "um homem, um voto, uma vez".
A melhor resposta sempre foi que o islã deve perder seu poder de atração popular quando se permitir que fundamentalistas governem -e se mostrem incompetentes, opressores e corruptos. Esse ciclo está acontecendo agora no Irã. Enquanto isso, como o mundo externo deve reagir? Uma intervenção desajeitada do Ocidente seria um erro. O regime iraniano tem três fontes possÃveis de legitimidade: o apoio popular, o êxito econômico ou uma ameaça externa.
A economia vai mal, e a eleição roubada jogou por terra a ideia de que o governo possua apoio popular amplo. Resta só a possibilidade de o regime utilizar a ameaça de intervenção externa para obter apoio patriótico e reprimir a oposição com ainda mais força. As revoluções democráticas, na maioria dos casos, são movidas sobretudo pelo "poder popular" no próprio paÃs -geralmente seguido pela perda de confiança ou divisões internas no regime governante. É possÃvel que isso aconteça no Irã.
É possÃvel que o paÃs tenha uma "revolução verde" (cor dos partidários de Mousavi) bem-sucedida, comparável à s revoluções Laranja e Rosa na Ucrânia e na Geórgia. Mas a verdade deprimente é que tudo o que o mundo externo pode fazer, por enquanto, é oferecer apoio retórico aos democratas iranianos, observar, torcer e esperar.
Gideon Rachman do “Financial Times†- Tradução de Clara Allain - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/06/09.
MANIFESTANTES REVIVEM GRITO QUE EMBALOU REVOLUÇÃO
Às 22h, ruas, avenidas e praças estão vazias, no terceiro dia em que Teerã parece sob toque de recolher. Mas o silêncio é interrompido por gente nas janelas de diversos bairros da cidade, gritando "Deus é grande".
"Allah o Akbar", no original, é usado como "Deus nos proteja" e foi um dos gritos de guerra na revolução que derrubou o xá do Irã em 1979.
A manifestação de dentro de casa aconteceu horas depois da marcha silenciosa da oposição.
"Deus é grande" e "Morte ao ditador" eram muito usados no inÃcio da Revolução", disse à Folha a professora de matemática Vida Ladan, 52, durante a passeata. "Esta é a primeira vez em 30 anos que as massas protestam nas ruas e usam os mesmos slogans. Pode ser que não dê em nada, mas é meu dever de patriota."
O evento não lembrou o clima festivo da campanha. O clima era de tensão no ar, apesar da presença policial ser bastante discreta. Durante todo o dia, circularam boatos de que a polÃcia abriria fogo.
"Achava que iria apanhar de novo", diz o universitário Farhad, 25, mostrando o braço enfaixado, depois de apanhar de milicianos na noite de sábado. "Mas isso é o que o governo quer, que tenhamos medo e fiquemos em casa."
Contrastes
A manifestação dos partidários do opositor Mir Hossein Mousavi escancarou as diferenças entre os dois grupos enfrentados na polÃtica iraniana.
O protesto da oposição não foi autorizado pelo Ministério do Interior, e o improviso foi geral. O candidato apareceu em cima de uma camionete branca e usou um modesto alto-falante. Seu rápido discurso foi ouvido por pouquÃssimas pessoas.
As mulheres eram quase metade dos presentes, na maioria jovens. Todas de véu, usavam maquiagem e deixavam parte do cabelo aparecer.
Na comemoração pela vitória de Ahmadinejad, no domingo à noite, o presidente falou de um grande palco, com bom sistema de som e avenidas fechadas e monitoradas pela polÃcia.
Dezenas de ônibus estacionados perto da praça haviam trazido manifestantes, que recebiam comida da organização.
Pelo menos três quartos eram homens. As poucas mulheres usavam o chador preto, cobrindo-se dos pés à cabeça.
"Enquanto, no Ocidente, vota ladrão, vota gay, vota gente suja, aqui vota gente limpa, honrada", disse Ahmadinejad, no discurso de quase uma hora.
Mas, na passeata da oposição, também havia religiosos conservadores. Vestida de longo chador negro, a dona de casa Fatimi, 47, mãe de quatro filhos, desmente à Folha que as massas populares estejam totalmente com Ahmadinejad.
"Pago o dobro pela carne este ano que há dois anos, pago quase o triplo pelo tomate, nós continuamos pobres", reclamou. "Religião não tem a ver com polÃtica."
A escolha do local da manifestação também mostrou as diferentes ambições de demarcar território. Ahmadinejad fez sua comemoração na praça Liderança, reduto da classe média local. Já Mousavi escolheu como parada final de sua marcha silenciosa a praça Liberdade, a maior da cidade, onde normalmente Ahmadinejad fazia seus grandes comÃcios.
Raul Juste Lores - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/06/09.
LULA COMPRARA PROTESTOS A FLA X VASCO
Na contramão dos lÃderes europeus, que aumentaram a pressão sobre o governo iraniano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad e comparou os protestos oposicionistas à contrariedade de torcedores de futebol.
""Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaÃnos", disse Lula, na sede da União Internacional de Telecomunicações, em Genebra.
"O presidente [Ahmadinejad] teve uma votação de 62,7%. É [um número] muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude", disse.
"Não é o primeiro paÃs que tem uma eleição em que alguém ganha e quem perde faz protesto. No Brasil está virando moda, as pessoas que ganham perdem na Justiça, e a oposição toma posse", acrescentou o presidente.
Lula afirmou que pretende visitar o Irã em 2010, argumentando que há "interesses em construir parcerias".
O presidente também disse que Ahmadinejad poderá remarcar sua visita ao Brasil ainda neste ano -o iraniano cancelou a visita que faria a BrasÃlia em maio, em meio a protestos de entidades judaicas por sua posição de negar o Holocausto. "Ele viria, pediu para esperar o processo eleitoral, mas pode vir na hora que quiser, eu recebo do mesmo jeito".
No domingo, Ahmadinejad também havia feito uma comparação dos protestos com o futebol.
"Quando acontece uma partida de futebol e um time perde, os torcedores saem muito zangados, pegam o carro e desrespeitam os sinais vermelhos, então a polÃcia precisa multar. Torcedor fica bravo quando perde, mas todos temos de aprender a não ultrapassar o sinal vermelho", disse.
Sérgio Rangel - Fonte: Folha de S.Paulo - 16/06/09.
SEGUNDA DIVISÃO
Tudo o que o Brasil disser sobre a crise do Irã -um paÃs distante, com o qual mantém laços comerciais incipientes e relação polÃtica mÃnima- terá peso irrisório no jogo diplomático internacional. Faz-se a constatação com certo alÃvio, depois das seguidas derrapagens do presidente Lula ao tratar publicamente do tema.
Ao persistir na defesa da reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, Lula atropela uma série de fatos elementares que teria a obrigação de dominar antes de dar seus palpites. Ora, nem mesmo o Irã reconhece a vitória do candidato fundamentalista.
O lÃder supremo, aiatolá Ali Khamenei, tentou ungir Ahmadinejad no fim de semana. Mas recuou da manobra anômala e açodada já na segunda, forçado pela reação popular. Abriu uma investigação para apurar suspeitas de fraude, e o resultado do pleito, a rigor, está "sub judice". Mas Lula se sente à vontade para afirmar o que nem Khamenei pode dizer em público.
Por falta de assessoria competente ou teimosia, o presidente brasileiro pôs-se a ridicularizar o maior movimento de contestação popular em 30 anos de república islâmica. Para Lula, trata-se de mero choro de perdedor, disputa entre "vascaÃnos e flamenguistas". Afinal, "não é a primeira vez que um partido de oposição que perde reclama tanto".
Ficou patético o jogral entre as suas palavras e as de Ahmadinejad, que pouco antes também havia recorrido à alegoria das torcidas de futebol na tentativa de desqualificar os protestos.
É constrangedor ter de repetir o óbvio: para o Brasil, não interessa o nome do presidente do Irã; a relação bilateral é feita de Estado para Estado e se restringe ao campo dos negócios -e ainda assim num contexto em que as transações com o paÃs persa representam só três milésimos do comércio externo brasileiro.
As falas descuidadas do presidente Lula sobre o Irã, para manter a fraseologia clubÃstica, são diplomacia de segunda divisão.
Editoriais - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
MENOS, LULA, MENOS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vez em quando ironiza os que ironizavam seus tropeços com o português.
Lembra que, antes de ser presidente, dizia "menas"; agora, vez por outra, tasca um "sine qua non". Parabéns, presidente, pela evolução.
Mas agora é hora de reaprender a falar "menas". A ser menos boquirroto, quero dizer. Presidente não é comentarista de polÃtica interna ou externa para ficar dando palpite em tudo, inclusive sobre o que não tem informações.
Refiro-me ao caso das eleições no Irã. Lula não tem elementos para avalizar ou condenar os resultados.
Não houve observadores internacionais que pudessem referendar a vitória do presidente Ahmadinejad ou gritar "fraude".
Ao falar sobre o que não sabe, o presidente está sendo leviano e dando demonstrações seguidas de desinformação.
Primeiro, disse que só os perdedores protestaram. Falso. Os governos da França e da Alemanha chamaram os embaixadores do Irã em suas respectivas capitais para pedir explicações.
Depois, disse que a percentagem de votos atribuÃda a Ahmadinejad (cerca de 60%) é muita para que tenha havido fraude. Bobagem. Ditaduras não tem escrúpulos. Só um exemplo: o paraguaio Alfredo Stroessner elegia-se sucessivamente com percentagens próximas de 90% -e os hoje petistas e seus amigos paraguaios gritavam fraude sucessivamente.
Até o Conselho dos Guardiães, a linha dura da linha dura, viu-se obrigado a convocar uma reunião com os candidatos destinada a discutir as acusações de fraude. Quando o coração do regime hesita, Lula revela-se mais aiatolá do que os aiatolás. Sem necessidade, porque, como ninguém sabe se houve ou não irregularidades, o mais elementar bom senso sugeriria silêncio a qualquer chefe de governo até desfazer as brumas.
Clóvis Rossi - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
PRA Là DE TEERÃ
Até agora, não consigo explicar a posição de Lula sobre o Irã. Por que se precipitar e dizer que as manifestações eram brigas de vascaÃnos contra flamenguistas? Naquele momento, os principais lÃderes mundiais sinalizaram preocupação e cautela. As apurações iranianas, que levam uma semana para serem tabuladas, foram resolvidas em horas. Em Tabriz, terra de Mousavi, Ahmadinejad ganhou longe, o que não costuma acontecer.
Esses dados já estavam disponÃveis. Depois da declaração, vieram outros mais embaraçosos: em mais de 30 cidades, o número de eleitores superou o de inscritos. Em Taft, o número de eleitores, segundo a oposição, elevou-se a 141 por cento: fantasmas.
Não era necessário manifestar simpatia pela oposição. Simplesmente cautela. Tanto o presidente como o Itamaraty não receberam bem as crÃticas sobre a visita de Ahmadinejad. Aproveitaram para dizer que a visita estava de pé. E para mostrar independência em relação à imprensa ocidental. Se ela diz uma coisa, pode ser que esteja acontecendo outra.
O Brasil quer se mostrar pragmático, disposto a tudo por um bom negócio. Mesmo bons negociantes a quem se pede, a todo instante, o sacrifÃcio de princÃpios precisam saber se calar.
Não havia grandes mudanças em gestação. No Irã, às vezes, o resultado das urnas pode ser sufocado pela revolução. Mas alinhar-se aos setores mais conservadores, considerar uma luta, que depois resultaria em mortes, como um simples choque de torcidas, é qualquer coisa pra lá de Teerã.
Os iranianos que fazem seu movimento também pela internet sabem que nem todos no Brasil se alinham, nesse caso, à posição de Lula. Muitos relógios estão sintonizados com a hora de Teerã: +3:30 GMT.
Fernando Gabeira - Fonte: Folha de S.Paulo - 19/06/09.
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