A PAZ
LIU XIAOBO
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http://nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2010/press.html
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http://www.guardian.co.uk/world/2010/oct/08/nobel-peace-prize-liu-xiaobo
A pressĂŁo do Nobel
NĂŁo hĂĄ prova mais eloquente do acerto da escolha do ComitĂȘ do Nobel para o laureado com seu prĂȘmio da Paz deste ano do que o fato de o agraciado ainda nĂŁo saber que recebeu a honraria.
O chinĂȘs Liu Xiaobo estĂĄ preso por ter organizado, hĂĄ dois anos, um manifesto em que intelectuais e ativistas reivindicavam reformas polĂticas abrangentes no paĂs. NĂŁo tem nenhum contato com o mundo exterior, Ă exceção das visitas mensais de sua mulher.
Foi condenado a 11 anos de prisĂŁo pelo crime de promover campanhas em prol de liberdades polĂticas no paĂs, onde vigora uma ditadura de partido Ășnico que nĂŁo tolera oposição e reprime a liberdade de expressĂŁo. A Dui Hua Foundation, organização nĂŁo governamental baseada nos EUA, estima em quase 22 mil o nĂșmero atual de presos polĂticos na China.
O paĂs, porĂ©m, tem se valido de sua crescente relevĂąncia econĂŽmica para amenizar as pressĂ”es internacionais pela abertura polĂtica. Com a economia norte-americana presa numa relação de interdependĂȘncia com a chinesa, o anterior ganhador do Nobel da Paz, o presidente Barack Obama, conduz uma diplomacia pragmĂĄtica em relação ao paĂs asiĂĄtico, na qual nĂŁo cabem restriçÔes a violaçÔes dos direitos humanos.
Sua secretåria de Estado, Hillary Clinton, chegou a afirmar que "nossa pressão nessas questÔes [relativas aos direitos humanos] não pode interferir na crise financeira global, na mudança climåtica e nas crises de segurança" -considerados os assuntos prioritårios no diålogo EUA-China.
ApĂłs o prĂȘmio a Liu, Obama sinalizou uma mudança de tom, ao dizer que a abertura polĂtica na China nĂŁo caminha na mesma velocidade que a econĂŽmica. Outros paĂses reforçaram os apelos para que o paĂs liberte Liu. O governo chinĂȘs respondeu classificando a escolha como uma "blasfĂȘmia".
Talvez a decisĂŁo sirva para lembrar ao mundo que em alguns casos pode-se ir alĂ©m do pragmatismo comercial. Pelo menos em cĂrculos nĂŁo governamentais, o prĂȘmio contribuirĂĄ para aumentar as pressĂ”es internacionais pela abertura democrĂĄtica na China.
Editoriais - Fonte: Folha de S.Paulo - 09/10/10.
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A lista de todos:
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NOBEL DA PAZ CAUSA REAĂĂO DA CHINA
PaĂs protesta contra o prĂȘmio concedido a Liu Xiaobo, ativista prĂł-democracia condenado a 11 anos de prisĂŁo. Para comitĂȘ norueguĂȘs, premiado "se tornou o principal sĂmbolo da ampla luta por direitos humanos na China".
O ativista chinĂȘs prĂł-democracia Liu Xiaobo, 54, sobrevivente do massacre da praça da Paz Celestial e condenado recentemente a 11 anos de prisĂŁo, foi nomeado ontem PrĂȘmio Nobel da Paz. Pequim rebateu: criticou duramente a escolha, censurou a notĂcia no paĂs e ameaçou a Noruega com retaliaçÔes.
Liu Xiaobo (pronuncia-se "XiaobĂŽ") recebeu o prĂȘmio por "sua luta longa e nĂŁo violenta em favor dos direitos humanos fundamentais na China", afirmou o ComitĂȘ Nobel NorueguĂȘs, indicado pelo Parlamento desse paĂs.
Para o comitĂȘ, os recentes avanços econĂŽmicos transformaram a China na segunda economia mundial e "tiraram milhares de pessoas da pobreza", mas esse novo status do paĂs "deve incluir maior responsabilidade".
Professor de literatura, Liu foi preso em dezembro de 2008, dias antes da divulgação da Carta 08, assinada por 303 ativistas que defendiam reformas democråticas, incluindo o fim do monopólio do Partido Comunista.
Em dezembro do ano passado, foi condenado a 11 anos de prisĂŁo por "atuar para subverter o governo", a pena mais alta aplicada a um dissidente nos Ășltimos anos.
O comitĂȘ afirmou que, ao receber punição tĂŁo severa, "Liu se tornou o principal sĂmbolo da ampla luta por direitos humanos na China".
NĂŁo Ă© a primeira vez que o Nobel da Paz vai para um opositor do regime comunista chinĂȘs. Em 1989, ano do massacre da praça da Paz Celestial, o nomeado foi o lĂder tibetano no exĂlio, dalai-lama, que ontem exortou Pequim a soltar o dissidente.
Liu Ă© o terceiro Nobel da Paz nomeado enquanto cumpre pena dada por seu prĂłprio governo. Foi precedido da lĂder oposicionista de Mianmar Aung San Suu Kyi (1991) e pelo ativista alemĂŁo Carl von Ossietzky (1935).
Preso a cerca de 500 km de Pequim, ele deve ser informado da premiação hoje, numa visita da mulher. Liu tem direito a R$ 2,5 milhÔes, a um diploma e a uma medalha.
Como esperado, o governo chinĂȘs reagiu com dureza ao anĂșncio. "Conceder o Nobel da Paz maculou o prĂȘmio e pode afetar os laços entre China e Noruega", disse o porta-voz da Chancelaria chinesa Ma Zhaoxu, em nota.
Ma afirmou que o Nobel da Paz deveria ser concedido a pessoas que "contribuem para a harmonia nacional, para a amizade entre paĂses, para o avanço do desarmamento e para a convocação de conferĂȘncias de paz", repetindo as diretrizes de Alfred Nobel.
Logo apĂłs a anĂșncio do prĂȘmio, o embaixador da Noruega em Pequim foi convocado pela Chancelaria chinesa para dar explicaçÔes.
Em junho, quando o ativista chinĂȘs jĂĄ despontava como favorito ao prĂȘmio, a vice-chanceler chinesa Fu Jing pediu um encontro com o diretor do Instituto Nobel, Geir Lundestad, para lhe advertir de que a nomeação seria considerada "uma ação hostil".
Agraciado com o Nobel da Paz em 2009, o presidente norte-americano, Barack Obama, em nota, elogiou a nomeação de Liu Xiaobo e exortou Pequim a libertĂĄ-lo "o mais rĂĄpido possĂvel".
Como o comitĂȘ do Nobel, Obama elogiou o progresso socioeconĂŽmico chinĂȘs, mas disse que "nĂŁo ocorreram as reformas polĂticas".
Fabiano Maisonnave - Fonte: Folha de S.Paulo - 09/10/10.
A NOTĂCIA
O dissidente chinĂȘs Liu Xiaobo nĂŁo soube de imediato a notĂcia de que havia recebido o Nobel da Paz de 2010.
Ele estå incomunicåvel na prisão de Jinzhou, onde cumpre pena por sua participação na Carta 08, manifesto de intelectuais pela democracia na China.
Segundo seus advogados, Liu precisou aguardar a visita da sua mulher, ocorrida em 09 de outubro.
O Nobel consagrou Liu como o mais proeminente dissidente chinĂȘs. Mas ele incomoda Pequim desde 1989, ao aderir ao movimento prĂł-democracia.
Nascido em 28 de dezembro de 1955, na cidade de Changchun, Liu se formou crĂtico literĂĄrio e professor universitĂĄrio.
Em 1986, alcançou fama na årea com uma anålise pungente da literatura moderna chinesa. Foi atuar como professor convidado na Noruega e nos EUA entre 1988 e 1989.
Jå em Pequim, Liu se uniu aos estudantes que protestavam pela democracia. Após o massacre da praça da Paz Celestial, ficou preso por 21 meses.
Liu ajudou a escrever a Carta 08, um manifesto de 303 intelectuais e dissidentes pela liberdade de expressĂŁo, de religiĂŁo e a abertura democrĂĄtica.
Em 2009, apĂłs um julgamento sem direito de resposta, foi sentenciado a 11 anos de prisĂŁo por subversĂŁo do poder. A Carta 08 foi citada como prova.
Liu tenta escapar da censura pela internet, onde publica seus artigos.
Fonte: Folha de S.Paulo - 09/10/10.
FRASES
"Conceder-lhe o prĂȘmio supĂ”e o reconhecimento sobre as crescentes vozes do povo chinĂȘs que querem empurrar a China para reformas"
DALAI-LAMA
lĂder espiritual tibetano e Nobel da Paz
"Não só é uma honra pessoal para Liu, como também carrega um significado para o avanço dos direitos humanos na China"
MA YING-JEOU
presidente de Taiwan
"A França reitera sua preocupação com Liu e renova o pedido pela sua libertação"
BERNARD KOUCHNER
chanceler da França
"Respeitar os direitos humanos e a liberdade religiosa Ă© o Ășnico modo de salvar a China da catĂĄstrofe que jĂĄ pode ser observada"
VATICANO
agĂȘncia oficial
"Este prĂȘmio sĂł farĂĄ diferença se levar Ă pressĂŁo internacional pela libertação de Liu"
ANISTIA INTERNACIONAL
"Ă uma forte mensagem de apoio a todos aqueles que estĂŁo lutando pela liberdade"
GUIDO WESTERWELLE
ministro das RelaçÔes Exteriores da Alemanha
Fonte: Folha de S.Paulo - 09/10/10.
PARA ESCONDER PRĂMIO, CHINA BLOQUIA MĂDIAS
O governo chinĂȘs montou uma operação para tentar bloquear a notĂcia de que um preso polĂtico do paĂs havia sido o vencedor do prĂȘmio mais prestigiado do mundo.
Logo apĂłs o anĂșncio, os sites Baidu, o mais popular da China, e Google nĂŁo aceitavam a busca com o nome de Liu Xiaobo, "PrĂȘmio Nobel" ou "PrĂȘmio da Paz".
Aparecia mensagem dizendo que a pesquisa contrariava "a lei e o regulamento". Em sites de notĂcias, sĂł havia declaraçÔes da Chancelaria chinesa.
Segundo relatos, até telefones celulares foram impedidos de enviar mensagens de texto com o nome do dissidente.
No Twitter, que Ă© bloqueado na China mas pode ser usado via VPN (rede privada virtual de internet) do exterior, surgiram relatos de que internautas teriam sido presos em Pequim e Xangai apĂłs elogiarem o Nobel.
Na CNN e na BBC, acessĂveis por serviços de cabo disponĂveis principalmente em condomĂnios de luxo, o sinal era cortado durante reportagens sobre a nomeação.
(FM) - Colaborou JAY HELSING, de Pequim. Fonte: Folha de S.Paulo - 09/10/10.
UM SILĂNCIO COVARDE
Que ensurdecedor -e triste- silĂȘncio do governo brasileiro em relação Ă concessĂŁo do Nobel da Paz ao dissidente chinĂȘs Liu Xiaobo.
Nem precisava manifestar "grande alegria", tal como o fez, no ano passado, o presidente Luiz InĂĄcio Lula da Silva para se referir a idĂȘntico prĂȘmio para seu colega Barack Obama.
O Itamaraty alega que chefe de Estado premiado Ă© uma coisa, dissidente Ă© outra. Ă claro que uma coisa Ă© uma coisa, outra coisa Ă© outra coisa, mas parece-me muito mais digno manifestar alegria pela premiação de quem luta pelos direitos humanos do que pela do presidente de um paĂs que estava -e continua- envolvido em duas guerras.
Para tornar ainda mais moral e eticamente inaceitĂĄvel o silĂȘncio, hĂĄ o fato de que, na mensagem a Obama, Lula mencionara Martin Luther King e "sua luta pelos direitos civis". Ora, Liu tambĂ©m luta pelos direitos civis. NĂŁo merece idĂȘntico respeito?
ConvĂ©m lembrar tambĂ©m que o governo estaria obrigado atĂ© constitucionalmente a manifestar-se, posto que o artigo 4 da Constituição cita a "prevalĂȘncia dos direitos humanos" entre os princĂpios a serem utilizados pelo Brasil em suas relaçÔes internacionais.
De que tem medo o governo Lula quando se trata de violaçÔes aos direitos humanos que envolvem ditaduras?
Os Estados Unidos mantĂȘm com os chineses relaçÔes intensas, obtiveram deles atĂ© a aprovação das sançÔes ao IrĂŁ, gesto a que o Brasil se recusou.
Ainda assim, na mensagem que emitiu a propĂłsito do Nobel para Liu, Obama ousou pedir ao governo chinĂȘs que "solte o sr. Liu o mais depressa possĂvel".
Jå o Brasil pediu ao Irã que libertasse a francesa Clotilde Reiss e, mais recentemente, uma americana, até por pedido do Departamento de Estado. Nem por isso, o Irã rompeu relaçÔes com o Brasil. Que custo teria jå nem digo pedir a libertação de Liu mas, ao menos, soltar uma nota parabenizando-o?
Depois, as autoridades brasileiras resmungam quando o paĂs Ă© criticado por seu silĂȘncio na questĂŁo de direitos humanos ou, pior ainda, por dar, mais de uma vez, a impressĂŁo de que apoia a repressĂŁo aos dissidentes no IrĂŁ ou em Cuba.
CrĂtica, de resto, feita atĂ© por acadĂȘmicos que, no conjunto da obra, aplaudem a atuação da diplomacia brasileira.
Direitos humanos, convĂ©m repetir atĂ© a morte, nĂŁo Ă© uma questĂŁo interna de cada paĂs. Ă universal.
Como pode um governo que paga indenizaçÔes a vĂtimas de uma ditadura - como, de resto, Ă© justo que o faça- silenciar ante vĂtimas de outras ditaduras?
Apenas em nome dos negócios com a China? Não é eticamente aceitåvel, mas, ainda que o fosse, convém anotar cålculos de Kevin P. Gallagher, professor associado de RelaçÔes Internacionais da Boston University: para ele, 30% das exportaçÔes brasileiras de manufaturados estão sob ameaça direta da produção chinesa, pelo avanço desta nos mercados da América Latina e do Caribe, e mais 54% sob ameaça indireta, que é quando a fatia de mercado da produção latino-americana aumenta a um ritmo inferior ao da China.
ClĂłvis Rossi - Fonte: Folha de S.Paulo - 09/10/10.
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