30 ANOS SEM GARRINCHA
O CRAQUE DAS PERNAS TORTAS
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Video - Garrincha - The King of Dribble:
http://www.youtube.com/watch?v=JeYyx87NWrU
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O craque ainda não descansou. Os mitos que o cercam continuam vivos e impedindo uma compreensão de sua vida...
Trinta anos após sua morte, certos mitos sobre Garrincha continuam mais difíceis de matar do que Rasputin.
O de que ele chamava seus marcadores de "João", por exemplo -significando que não queria nem saber quem eram, porque iria driblá-los do mesmo jeito. Garrincha nunca disse isso.
A história foi inventada por seu amigo, o jornalista Sandro Moreyra, em 1957, para mostrá-lo como um gênio ingênuo e intuitivo. Garrincha a detestava, porque os adversários, que não queriam ser chamados de "João", redobravam a violência contra ele.
Que Garrincha era um gênio intuitivo do futebol, não há dúvida. Mas não tinha nada do ingênuo, quase débil, com que algumas histórias o pintavam. Ao contrário, era até muito esperto a respeito do que o interessava -mulheres e birita, a princípio nesta ordem-, e não havia concentração que o prendesse. Nos seus primeiros dez anos de carreira, 1953-1962, Garrincha conseguiu conciliar tudo isso com o futebol. Dali em diante, a vida lhe apresentou a conta.
Outro mito é o de que, às vésperas do Brasil x URSS na Copa-1958, na Suécia, os três jogadores mais influentes da seleção -Bellini, Didi e Nilton Santos- foram ao técnico Vicente Feola e exigiram sua escalação na ponta direita, com a consequente barração de Joel, do Flamengo, então titular. Em 1995, isso me foi desmentido pelos quatro jogadores (Bellini, Didi, Nilton Santos e Joel), pelo preparador físico daquela seleção, Paulo Amaral, e por outros membros da delegação.
Perguntei a Nilton Santos por que, durante tantos anos, ele confirmara uma história que sabia não ser verdadeira. Ele admitiu: "Era o que as pessoas queriam ouvir". No futuro, em entrevistas, contaria a versão correta: a de que Joel se contundira ante a Inglaterra, e a entrada de Garrincha aconteceria de qualquer maneira. Note-se que, até o jogo com a URSS, Garrincha ainda não era o Garrincha da lenda, e Joel, também grande atleta, era uma escolha normal para a ponta.
Outro mito, este agora bastante atenuado, mas ferocíssimo na época, refere-se à participação de Elza Soares na vida de Garrincha. Para os desinformados, ela ajudou a destruí-lo. A verdade é o contrário: sem Elza, Garrincha teria ido muito mais cedo para o buraco. Quando ela o conheceu (em fins de 1961, e não em meados de 1962, durante a Copa do Chile, como até hoje se escreve), Elza estava em seu apogeu como estrela do samba, do rádio e do disco. E ninguém imaginava que Garrincha, logo depois de vencer aquela Copa praticamente sozinho, logo deixaria de ser Garrincha.
Ninguém, em termos. Os médicos e preparadores do Botafogo sabiam que Garrincha, com o joelho cronicamente em pandarecos (e agravado pela bebida), estava no limite. Mas ele não se permitia ser operado -só confiava nas rezadeiras de sua cidade, Pau Grande. O que Garrincha fez na Copa foi um milagre. Mas, assim que voltou do Chile, os problemas se agravaram. Mesmo jogando pouquíssimas partidas, levou o Botafogo ao título de bicampeão carioca -e, assim que o torneio acabou, com sua exibição arrasadora nos 3x0 ante o Flamengo, ele nunca mais foi o mesmo. Marque o dia: 15 de dezembro de 1962 -ali terminou o verdadeiro Garrincha.
Um outro Garrincha -gordo, inchado, bebendo às claras ou às escondidas, incapaz de repetir seus dribles e arranques pela direita- continuou se arrastando pelos campos, vestindo camisas ilustres (do próprio Botafogo, do Corinthians, do Flamengo, do Olaria e da seleção) por mais inacreditáveis dez anos -até o famoso Jogo da Gratidão, organizado por Elza Soares. Foi sua despedida oficial, a 19 de dezembro de 1973, com um Maracanã inundado de amor.
Naquela noite, um time formado por Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Rivellino e Paulo César; Garrincha, Jairzinho e Pelé -praticamente a seleção de 1970 com Garrincha- entrou em campo para enfrentar uma seleção de estrangeiros que atuavam no Brasil, estrelada por Pedro Rocha, Forlan, Reyes e outros.
Numa das várias preliminares, cantores e artistas, como Chico Buarque, Jorge Ben, Wilson Simonal, Paulinho da Viola, Miele, Sergio Chapelin, Francisco Cuoco e outras celebridades também se enfrentaram. Pelas borboletas do estádio, passaram 131.555 pessoas e, com exceção de uma pessoa -o ditador Garrastazu Medici-, todos pagaram para entrar, inclusive os jornalistas. Era o dinheiro que garantiria o futuro de Garrincha.
Da renda de quase 1 milhão e 400 mil cruzeiros (US$ 230 mil de 1973, uma nota), cerca de 500 mil cruzeiros saíram do cofre do Maracanã direto para cadernetas de poupança em nome de suas oito filhas oficiais e um apartamento ou casinha para cada uma. Este era um dos objetivos do jogo. Com os descontos da Receita e outros, sobraram-lhe mais de 700 mil cruzeiros para fazer o que quisesse -e que ele, naturalmente, torrou logo, sem saber como.
Daí o último e maior mito a ser derrubado sobre Garrincha: o de que ninguém o ajudou -o que, no fim da vida, ele declarou em entrevistas para a televisão, que ainda hoje são reprisadas. Mas a verdade é que Garrincha foi muito ajudado, e em várias etapas de sua vida.
Entre seus maiores benfeitores, estavam o banqueiro José Luiz Magalhães Lins, do então poderosíssimo Banco Nacional; o empresário Alfredo Monteverde, dono do Ponto Frio; o Instituto Brasileiro do Café (IBC) e a Legião Brasileira de Assistência (LBA), que lhe deram empregos generosos, aos quais ele não correspondeu; e seus ex-colegas do futebol, agrupados na Agap (Associação de Garantia ao Atleta Profissional), que não se cansaram de recolhê-lo em coma alcoólico na rua e interná-lo em clínicas de "desintoxicação" -das quais era criminosamente liberado dois ou três dias depois de dar entrada.
O alcoolismo matou Garrincha há 30 anos -e continua a matá-lo até hoje, a cada uma de suas vítimas que o Brasil deixa de assistir.
Ruy Castro é autor de "Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha" (1995), Companhia das Letras, atualmente na 16ª reimpressão. – Fonte: Folha de S.Paulo – 20/01/13.
Estrela Solitária - Um Brasileiro Chamado Garrincha –
Companhiadasletras.com.br/
Vídeo - Garrincha - The King of Dribble:
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NUMERADA NA TV
O corintiano Zizao só não conseguiu driblar Abel Neto...
Obviamente, o Corinthians foi escolhido para abrir as transmissões do Paulista na Globo. Afinal, tem a maior torcida, o time mais badalado, o melhor técnico e o melhor chinês do torneio.
Qualquer toque na bola do carismático oriental merecia replay. Até sua careta ganhava supercâmera lenta.
E, para o palmeirense, nada é tão ruim que não possa piorar. Cléber Machado chama ao vivo o pênalti do Palmeiras no Pacaembu. Barcos chuta, goleiro de um lado, bola do outro... na trave. Corte para Jundiaí, e Zizao dá uma arrancada digna de não chinês e faz a jogada do gol.
No fim, o repórter Abel Neto corre para entrevistar o chinês: "A velocidade é sua c-a-r-a-c-t-e-r-í-s-t-i-c-a?".
"Nós... já... jogou... igual... Não sei como fala", improvisou Zizao. Na volta, Cléber Machado sacaneou Abel: "Você achou que ele ia falar característica?". Como punição, Abel deveria fazer a pergunta seguinte em chinês.
KIDIABA ALISADO
Torcedores do Inter podem matar a saudade do goleiro congolês do Mazembe, que faz a mesma dança mata-formiga (pulando com os glúteos no gramado) na Copa Africana de Nações.
Mostrando que é tendência, Kidiaba parece usar o mesmo produto de Pato: sua trancinha estava lisinha.
ULULANTE
E o comentário do dia foi no jogaço entre Novak Djokovic e Stanislas Wawrinka. Com o quinto set empatado, Osvaldo Maraucci, na ESPN, analisou sem medo de errar: "Vai ganhar quem tiver mais vontade". Acertou.
Sandro Macedo – Fonte: Folha de S.Paulo – 21/01/13.
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