O NINHO DO PÁSSARO E O CUBO D'ÁGUA
LEGO OLÍMPICO
English:
http://startupmeme.com/exclusive-beijing-olympics-2008-lego-models/
http://www.geekologie.com/2008/08/the_2008_olympics_now_in_lego.php
Mais um post olímpico. A Lego lançou umas versões das principais atrações de Pequim. As preferidas são a do Ninho do Pássaro e do Cubo D’Água. Mais imagens http://startupmeme.com/exclusive-beijing-olympics-2008-lego-models/ e http://www.geekologie.com/2008/08/the_2008_olympics_now_in_lego.php.
Renata Leal - Fonte: Bombou na Web (http://bombounaweb.com.br/colunaepoca/)
OLIMPÍADAS - REPUTAÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO SAI ABALADA
É o que diz uma matéria do jornal britânico Financial Times (http://www.ft.com/cms/s/0/713e5c42-6fe0-11dd-986f-0000779fd18c.html?nclick_check=1), repercutindo o fracasso das seleções masculina e feminina na luta pelo ouro inédito. O diário lembra que essas conquistas eram as que "países como o Brasil precisavam ganhar para deixar sua marca nas Olimpíadas". E complementa: "Alguns países conseguem acumular medalhas em qualquer modalidade. Mas, para o Brasil, o futebol importa sob qualquer formato”. Daí a nossa decepção...
Fonte: http://www.ofiltro.com.br - 22/08/08.
MULHERES OBTÊM ASCENSÃO HISTÓRICA, E HOMENS CAEM
De forma geral, o Brasil pode até perder em Pequim-08 posições no quadro de medalhas em relação a Atenas-04. Mas isso não será culpa das mulheres.
A delegação feminina realiza, disparado, na China a sua melhor participação na história olímpica. Já são seis medalhas, sendo duas de ouro, uma de prata e três de bronze.
Nunca antes com suas mulheres o Brasil havia conquistado mais de quatro medalhas numa mesma Olimpíada.
Desempenho que faz o Brasil feminino subir de forma arrasadora. Na Grécia, só com duas medalhas de prata, o país foi o 38º colocado nos eventos femininos, atrás de nações modestas no esporte, como Camarões, Tailândia e Bahamas.
Agora, sobe, por enquanto, 23 posições e está no 15º posto, à frente de nações com tradição entre as mulheres, como França, Canadá, Polônia e Cuba.
Caminho inverso fazem os homens. Em 2004, o Brasil foi o 13º melhor computando apenas as provas masculinas, com quatro ouros e três bronzes. Agora, mesmo que tenha ganho hoje o ouro na decisão do vôlei (que seria disputada à 1h), ficaria apenas na 19ª posição, com dois ouros, duas pratas e cinco bronzes. Caso o time de Bernardinho não tenha vencido os americanos, o Brasil seria, sem contar os pódios de hoje, só o 26º nos eventos masculinos.
Nesse cálculo não entram provas mistas, que aceitam homens e mulheres, como os saltos do hipismo, em que Rodrigo Pessoa, com Baloubet du Rouet, ganhou ouro em Atenas.
Antes de Pequim, o Brasil só tinha dez medalhas femininas, sendo que apenas uma era de ouro, no vôlei de praia, em Atlanta-1996, com a dupla Jacqueline Silva e Sandra Pires.
Antes do último dia de provas, as brasileiras acumulam façanhas históricas.
Ketleyn Quadros foi a primeira mulher a faturar medalha em disputas individuais. Ela também a primeira judoca do país a ir ao pódio. O mesmo fizeram Fernanda Oliveira e Isabel Swan na vela. No atletismo, no salto em distância, Maurren Maggi foi a primeira mulher do país a conquistar uma medalha no atletismo e o primeiro ouro individual feminino.
Ontem, Natália Falavigna fez do taekwondo a única modalidade como novidade no quadro histórico de medalhas.
No futebol, pela terceira Olimpíada seguida, o time feminino consegue resultado melhor que o masculino: repetiu a prata de 2004, enquanto os homens levaram o bronze.
Mesmo quando fizeram feio, como no basquete, onde não passaram da primeira fase, as mulheres ainda foram melhores do que os homens -que, no caso, nem se classificaram.
Em alguns eventos, o Brasil feminino não foi ao pódio, mas obteve performances nunca vistas antes, como no revezamento 4 x 100 m do atletismo, em que as atletas ficaram na quarta posição, superando gigantes como EUA e Jamaica, que foram desclassificados por falhas durante a prova.
Paulo Cobos - Fonte: Folha de S.Paulo - 24/08/08.
CARA INCHADA
Bateu fundo no orgulho nacional a derrota do Brasil frente a Argentina por três a zero -uma goleada light, mas que não deixa de ser uma goleada. Pior mesmo é que a nossa seleção, na opinião de Maradona e na opinião de muitos interessados (que somos todos nós), nunca se apresentou tão desfalcada de craques, sem falar na ausência dos supercraques que o mundo se habituou a admirar com a camisa amarela.
Apelamos então para o banal ressentimento, atribuindo a derrota à seleção de Dunga. Não há a seleção de Dunga; há a seleção do Brasil. Quem perdeu não foi o técnico, foi o país pentacampeão do mundo. O resto é chorar pelo leite derramado.
Temos bons jogadores, alguns chegam a merecer a condição de craques, mas falta atualmente o supercraque. A geração de Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho, Kaká está fatigada e não teve substitutos à altura. Isso sem falar no passado recente, em Pelé, Garrincha, Tostão, Didi, Rivelino, Gerson, Zico, Júnior, Zagallo, Falcão.
Para todos os efeitos, o Brasil tem uma boa estrutura de craques que dá para formar um excelente time. No momento, falta-lhe aquilo que o Ezra Pound chamava de "punti luminosi" -os pontos luminosos que formam as obras de arte e os campeões.
Na estrutura do futebol moderno, é necessário que haja um supercraque no meio do campo e outro lá na frente, para finalizar. Com dois gigantes em cena, apoiados pelo entrosamento de bons jogadores, cada qual em sua função dentro do conjunto, teremos realmente um chassi de campeão capaz de trazer para o Brasil o hexacampeonato.
É evidente que três em vez de dois supercraques seria melhor. Mas, sem pelo menos esses dois, o jeito é nos habituarmos com a cara inchada.
Carlos Heitor Cony - Fonte: Folha de S.Paulo - 24/08/08.
ACASO E OCASO
Eu, que há tanto tempo defendo a psicologia esportiva e critico as obviedades dos manuais de auto-ajuda e as palestras (shows) de motivação, não agüento mais escutar que os atletas brasileiros que perderam não suportaram a pressão emocional. A seleção feminina jogou bem, mas perdeu porque a goleira defendeu muito, as americanas possuem melhor preparo físico, mais tradição e, principalmente, porque a bola passava na frente do gol sempre um pouco à frente ou atrás da atacante brasileira. E também perdeu por outros detalhes imprevisíveis.
A masculina perdeu porque a Argentina tem Messi e os melhores jogadores da seleção principal. Com Kaká e Robinho, haveria equilíbrio.
A seleção masculina foi bastante criticada por jogar muito atrás contra a Argentina. Já a feminina dos Estados Unidos foi elogiada por jogar bem na defesa contra o Brasil. Cada país com seu estilo. Não podemos copiar o dos outros.
A estratégia de marcar mais atrás e contra-atacar foi a mesma utilizada por Dunga na final da Copa América. Os que criticam duramente o treinador são os que o elogiaram. Poucos, mesmo nas vitórias, criticam os técnicos que desfiguram o estilo brasileiro de jogar.
Essa postura defensiva foi a mesma da conquista da Copa do Mundo de 1994. Muitas vezes dá certo. Carlos Alberto Parreira adorava afirmar que o importante era não levar o primeiro gol. Por isso, a estratégia deveria ser a de tentar fazer o gol antes do adversário.
Como sou um sonhador racional, mais sonhador que racional, embora não pareça, penso que a melhor maneira de manter o estilo brasileiro, de ganhar partidas jogando bem e bonito, é pressionar na marcação e iniciar o contra-ataque mais perto do outro gol. O time fica mais vibrante e ofensivo.
Mas o grande problema do futebol brasileiro, e não somente das seleções principal e olímpica, não é de estratégia tática; é de craques, de estilo e de descaso com a qualidade e a beleza do jogo.
Os técnicos e parte da imprensa precisam repensar sobre o que é jogar um bom futebol.
Há muitos excelentes jogadores no futebol brasileiro, mas hoje o único craque é Kaká. É pouco.
Robinho continua no meio do caminho. Antes da Olimpíada, disse que torcia, porém não acreditava na recuperação de Ronaldinho como um grande craque. Acredito ainda menos. Ele continua lento, como um veterano em final de carreira.
Apesar de ter 28 anos, não acho que a queda de Ronaldinho seja prematura. Os grandes craques de hoje, pela exagerada massa muscular que adquirem e por outros motivos, que comentei em colunas anteriores, dificilmente conseguem manter o esplendor técnico e físico por um longo tempo.
Os treinadores e preparadores físicos deveriam discutir mais sobre isso. Infelizmente, a maioria só pensa na vitória e no imediatismo.
Alguns atletas realizam um grande esforço para se manterem no topo por muito tempo e não conseguem. Perdem a chama que fica no fundo da alma e que iluminam seus caminhos nos momentos difíceis. Passam a brilhar ocasio- nalmente, cada vez menos, somente contra adversários fracos, até se apagarem. Pena!
Tostão - Fonte: Folha de S.Paulo - 24/08/08.
ENTRE TÉCNICOS, DOPINGS E PSICÓLOGAS
É possível, embora seja incomum, alguém entender de um tema de que não goste. Não é o caso de Ricardo Teixeira. Ele não não gosta e não entende de futebol. Nem um pouquinho. Que ele não gosta é tão simples demonstrar com a mera constatação de que ninguém se lembra dele num estádio antes que assumisse a presidência da CBF, em 1989. E, mesmo depois, sua presença é raríssima. Que não entende ele deu mais uma prova ao escolher Dunga como técnico da seleção. (E, atenção: a coluna não faz campanha contra ou a favor de ninguém nem considera Dunga o responsável maior por qualquer fiasco. Além de fazer questão de não bajular técnico quando está por cima nem massacrá-lo quando por baixo). Porque ao escolher o substituto de Carlos Alberto Parreira depois do fiasco na Alemanha, ainda lá, na noite em que a França eliminou o Brasil com uma atuação inesquecível de Zinedine Zidane, Teixeira teve uma longa conversa com um seu amigo, importante empresário da área de comunicação no Brasil. E, ao responder se estava pensando já em novo técnico para o time da CBF, o cartola respondeu que, "com os jogadores que o país tem, o treinador pode ser qualquer um". Exceção feita à escolha de Luiz Felipe Scolari para a Copa de 2002, quando se respaldou em pesquisas para elegê-lo, Teixeira invariavelmente foi na onda de outros ou limitou-se a testar sua intuição. Sebastião Lazaroni, por exemplo, na Copa de 1990, foi opção de Eurico Miranda, então diretor de seleções da CBF. Quem indicou Parreira e Zagallo para 1994 foi João Havelange, baseado ainda na Copa de 1970, situação que perdurou para 1998, já sem Parreira, que foi mais do mesmo em 2006. Os que ficaram por conta de Teixeira foram Paulo Roberto Falcão, uma aposta de que ele faria o que Franz Beckenbauer fez pela Alemanha, e Emerson Leão, que o cartola traiu rapidamente. A exceção foi Vanderlei Luxemburgo, entre as Copas da França e da Ásia, que era uma unanimidade nacional derrubada pelos escândalos em que se meteu. Ao escolher Dunga, Teixeira não só repetiu o erro cometido com Falcão, mas o fez convencido de que Dunga ou um cone seriam a mesma coisa, com a vantagem do perfil disciplinador que o técnico tinha como capitão do tetra e que um cone, claro!, não tem. Cones, certamente, no entanto, fariam melhor pela CBF...
A escolha de Sophia: Ao dedicar a Sophia, sua filha, o salto de mais de 7 m que valeu ouro, Maurren Maggi não mencionou que nenhum cartola a defendeu na suspensão por doping, nem mesmo depois que a repórter Luciana Ackerman provou que não havia doping algum, ao usar o mesmo creme de depilação. Campeã e fina.
Quase cortada: Os cartolas não queriam pagar, mas José Roberto Guimarães e as meninas pressionaram para que a psicóloga Sâmia Hallage fosse a Pequim. Mesmo assim, ela teve que ficar em hotel, longe da Vila Olímpica. E foi fundamental para a ótima campanha do vôlei feminino.
Juca Kfouri - Fonte: Folha de S.Paulo - 24/08/08.
A FANTASIA DA DECEPÇÃO OLÍMPICA
Fiasco olímpico. É o que diz a decepção amargurada desses dias em que outra vez se frustra nosso sonho juvenil de "potência emergente". Mesmo o espírito mais leve das nossas piadas autodepreciativas não esconde a raiva da privação do desejo insatisfeito ("Quando a gente não é o melhor, a gente avacalha", dizia o "Bandido da Luz Vermelha" de Rogério Sganzerla).
Mas por que desejamos nos enganar? Nem se entre em complexidades a respeito da dúbia relevância do sucesso esportivo ou da perversão nacionalista. A dúvida é sobre o motivo do desejo de falsear a realidade (os atletas até foram bastante bem).
Sucesso no esporte depende de riqueza, saúde, educação e pretensão política de supremacia internacional. Ou é propaganda de regime totalitário, que falsifica a vida precária de seus cidadãos por meio de vitórias decorrentes de recrutamento e treino militar de atletas, quando não da adulteração direta de resultados (muito recorde esportivo data ainda do final da Guerra Fria, quando soviéticos e americanos se dopavam de montão). Enfim, tradição cultural e competitiva também conta.
Para que nossa "riqueza" por pessoa fosse parecida com a da Itália, a população do Brasil não poderia passar de 36 milhões. Algo assim como a de Argentina ou Canadá, uns 40% menor que a de Itália, França ou Reino Unido. Nossos resultados esportivos são compatíveis com esse índice "população-renda". Mas isso é brincadeira aritmética. Somos pobres ainda em saúde, igualdade social e eficiência no uso de recursos.
O Brasil não é saudável nem educado. Fica pelo 70º lugar no IDH, ranking de qualidade de vida (saúde, educação e renda). No quadro de medalhas (ranking meio fajuto), ficamos entre 20º e 30º. Para melhorar de imediato, teríamos de falsear a realidade. Gastar em esporte de alto nível (ou, talvez inútil, na bandalheira de alto nível das obras para a "Olimpíada é nossa"), enquanto faltam creche, esgoto e escola infantil.
Considerem os nossos sucessos. O vôlei. Dependeu da riqueza do ABC e do interior paulistas, do bem-estar social da região Sul, do patrocínio de empresas privadas, do bom nível educacional de dirigentes, comissões técnicas e atletas (vide a gente horrorosa da cúpula do futebol).
O judô se massificou por meio da classe média paulista. Mas tal massificação dependeu mais de gosto e competência do que de infra-estrutura (como caras piscinas e equipamentos para atletismo e ginastas).
Mas já há bom dinheiro público no esporte, de estatais e isenção de impostos. A maioria dos dirigentes, porém, é tosca, há dinastias mafiosas em federações e, para variar, a prestação de contas é escassa. Enfim, somos competitivos? Deixe-se de lado o "caráter nacional" ou o "complexo de vira-latas". Não temos é competição. O país é tão desigual que a competição de alto nível é, desculpem, baixa. Vide o "terrível funil do vestibular", as "dezenas" de candidatos por vaga. Os candidatos reais são os poucos que têm boa escola. Mesmo esses vão mal em testes internacionais. Em geral, estudantes ricos levam a vida na flauta, pois competem por vagas universitárias com colegas de escolas deploráveis.
Compare-se a vida tranqüila de um colegial de classe média alta, o que acaba nas USPs, com a de um garoto alemão ou americano, que tem de gramar e competir à vera por boas escolas. Por excesso de injustiça, entre outros fatores, nos falta massa crítica em educação e saúde.
Em Copas ou em Olimpíadas, vivemos a euforia angustiada de gente insegura ou bipolar, que sofre com a frustração da certeza mítica ou marqueteira de vitória. Mítica: desvinculada das idéias de esforço e de disciplina do aperfeiçoamento, mentalidade que é um tipo de ignorância e um reflexo do menosprezo do mérito e da igualdade de oportunidades.
Vinícius Torres Freire - Fonte: Folha de S.Paulo - 24/08/08.
A HISTÓRIA HUMANA NO NINHO DE PÁSSARO
Os Jogos Olímpicos são um desafio ao bom senso. Tome-se o arremesso do martelo. Terem inventado que tal coisa é uma atividade digna de ser praticada, digna de ser chamada de "esporte" e, para culminar, digna de figurar entre as modalidades olímpicas mostra como são intrigantes os caminhos que a mente humana é capaz de percorrer. Hoje o martelo não é bem um martelo – é uma bola de ferro presa a um cabo, que o arremessador gira ao redor do corpo antes de liberá-la para sua esdrúxula viagem. Mas, se o nome é "arremesso do martelo", é porque na origem se arremessava um martelo mesmo. Só uma mente extravagante – além de imprudente – imaginaria que tal objeto, entre suas múltiplas utilidades, teria de ser arremessado longe, e quanto mais longe se pudesse fazê-lo mais meritório.
Tome-se o salto com vara. É a especialidade da russa Yelena Isinbayeva. Quem não viu a bonita Isinbayeva não sabe o que perdeu – uma performance que ela convida a platéia a acompanhar com palmas, e que inclui até uma solitária conversa consigo mesma, antes de partir em disparada. Além de ter conquistado a medalha de ouro e superado seu próprio recorde mundial em Pequim, essa magnífica russa pode se gabar de, se lhe der na telha, nem precisar tomar o elevador quando visita o namorado; pode entrar no apartamento pela janela. Mas o esporte que ela pratica, francamente… Por que saltar com vara? É outra invenção que só pode ser atribuída à tendência da mente humana em fugir do que é natural e razoável.
E a corrida com barreiras? E o salto triplo? A rigor até seria dispensável o trabalho de selecionar uma ou outra modalidade. O esporte como um todo, e em especial a mania de superação que contamina seus praticantes, já repousaria sobre a premissa absurda de contrariar o prazer do sossego e do repouso. Todo o universo atlético ganha um sentido, no entanto, quando nos damos conta de que ali se reencena a luta humana pela sobrevivência. A corrida tem sua origem na fuga das feras ou dos grupos rivais; a corrida com obstáculos, na dificuldade de superar os charcos, os barrancos e os espinheiros; o salto em distância, na ultrapassagem dos riachos; o salto em altura, na tentativa de alcançar os frutos no alto das árvores. Até o salto com vara ganha uma lógica: é o momento em que o homem primitivo se torna capaz de inventar ferramentas para superar os obstáculos impostos pela natureza. E o arremesso do martelo, assim como o do disco e o do dardo, visita a quadra em que o homem criou as armas para substituir os próprios punhos na caça e no enfrentamento dos inimigos.
Os Jogos Olímpicos miram na Grécia mas acertam na pré-história. São uma releitura da Idade da Pedra. Ou melhor: uma parte dos Jogos. Os esportes com bola pertencem a outro capítulo da história da humanidade. Se nossos ancestrais demoraram tanto para inventar a roda, demoraram ainda mais para chegar à bola. A bola tem como principal característica uma esplendorosa inutilidade. É um brinquedo. As modalidades do atletismo lembram as sofridas necessidades da subsistência, na era em que a espécie procurava se consolidar sobre o planeta – fugir, comer, enfrentar o inimigo, contornar os obstáculos, conquistar a fêmea. Já a bola se notabiliza pela ausência de função nas lides pela sobrevivência. Por isso mesmo representa a conquista de um novo patamar, de inestimável valor, na escala da evolução: o patamar da diversão. Consolidada e confiante em si mesma, a espécie permite-se o luxo de brincar.
O arremesso do martelo, mesmo não sendo mais com martelo, continua assustador. Haja músculo, para atirar aquela bola de ferro. Haja peso, para dar os rodopios que precedem seu lançamento. É uma atividade que pode causar admiração pela força, nunca pela astúcia. Já os passes no futebol ou as levantadas do vôlei mostram que, nos esportes com bola, a força é temperada, e às vezes até substituída, pela habilidade. O martelo pode até causar assombro, mas nunca provocará um sorriso. Já o drible, no futebol e no basquete, ou a "largada" no vôlei, manobras cujo objetivo é enganar o adversário, representam a intromissão do humor na competição. Do martelo à bola, desenha-se um percurso em cujo ponto de chegada a ênfase está menos nos músculos do que no uso da massa cinzenta alojada no cocuruto do animal humano.
Roberto Pompeu de Toledo - Fonte: Veja - Edição 2075.
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