AH! O MINEIRÃO É NOSSO!!!
COMPLEXO MINEIRÃO-MINEIRINHO PARA A COPA
Imagem: Melhoria. O projeto de reforma prevê que o Mineirão seja transformado em uma moderna arena.
Belo Horizonte recebeu os membros da comitiva da Fifa que, desde o final da última semana, vistoriam as 17 cidades candidatas a uma das 12 sedes brasileiras da Copa do Mundo de 2014. Sob o olhar atento dos inspetores, os governantes e profissionais mineiros envolvidos no projeto "Em 2014, BH Tá Na Área" tentaram convencer o conselho técnico da entidade que, além de ser uma das sedes do Mundial, a capital também tem condições de realizar a abertura da competição. "Estamos trabalhando de maneira bastante veemente para que Belo Horizonte seja aprovada, não só como uma das sedes, mas também, se possível, para jogos especiais", disse o vice-governador Antonio Anastasia. A capital mineira briga com São Paulo pela possibilidade de abrir o Mundial. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que também é membro do Comitê Organizador da Copa do Mundo, não quis comentar as chances de cada cidade na disputa pelas melhores partidas. "Não existe nenhuma decisão além das 12 cidades. Essa discussão de abertura e de fechamento de Copa do Mundo não será tratada agora", afirmou o dirigente, que fez questão de ressaltar também que não cabe a ele ou ao comitê organizador, a decisão sobre as sedes dos grupos do Mundial.
Vantagem. Para o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, a cidade pode mostrar que está mais bem preparada frente aos problemas urbanos de São Paulo. "Belo Horizonte vem se firmando como uma cidade importante para o turismo de negócios. Há uma saturação de São Paulo no que se refere a grandes eventos, de congressos e feiras em geral. Belo Horizonte oferecerá nos próximos anos uma mobilidade urbana muito melhor", ressaltou Lacerda.
Confiante
"Eu penso que eles ficaram satisfeitos com o que viram aqui. Esse foi um passo muito importante da candidatura de Belo Horizonte à Copa do Mundo de 2014."
Marcio Lacerda
prefeito de Belo horizonte
Cartão de visita
São Paulo.
Principal centro econômico do Brasil
Porto Alegre.
Capacidade de receber eventos
Florianópolis.
Independência de investimento estatal
Curitiba.
Conta com um dos melhores estádios do país
Rio de Janeiro.
Sede da CBF e principal candidata a sediar a final do Mundial
Belo Horizonte.
Fácil acesso aos aeroportos e também ao Centro da cidade
Brasília.
Rede hoteleira bem equipada
Próximas visitas.
Hoje. Goiânia e Campo Grande
4.2 Cuiabá e Rio Branco
5.2 Manaus e Belém
6.2 Salvador, Recife e Natal
7.2 Fortaleza
Números
4 CTs há em BH: Tocas I e II, Cidade do Galo e Lanna Drummond
35 quilômetros é a distância do Mineirão ao aeroporto de Confins
1 quilômetro é a distância do Mineirão ao aeroporto da Pampulha
Reformas
Boa localização do complexo é tida como ponto alto
As questões urbanísticas e ecológicas receberam uma atenção especial no projeto de modernização do Complexo Mineirão-Mineirinho apresentado aos delegados da Fifa. O objetivo é explorar a boa localização do complexo, que se encontra entre vias de acesso rápido. “Belo Horizonte tem o estádio melhor situado em termos de áreas verdes, de áreas de expansão, como estacionamentos, e com acesso muito fácil ao centro da cidade, na área hoteleira”, avaliou Marcio Lacerda. Fazem parte dos investimentos turísticos para a Copa a construção de um centro de convenções, na avenida Cristiano Machado, e um convênio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento para a construção de novos hotéis pela cidade. No Mineirão, o projeto de reforma prevê o rebaixamento do gramado e a ampliação da capacidade de público de 61 mil para 69.950 lugares, com acesso especial para portadores de deficiência física. O estacionamento passará de 4.500 para 14 mil vagas. Entre o Mineirão e o Mineirinho, será construída uma grande praça, onde serão instalados shoppings, cinemas e áreas de lazer.
Prazos. As obras de reforma, que terão a participação da iniciativa privada, estão previstas para serem iniciadas em janeiro de 2010, com término previsto para dezembro de 2012. A Fifa exige que até 2013, todos os estádios da Copa estejam prontos. (TN)
Vistoria
Comitiva sobrevoou a capital
A visita dos vistoriadores da Fifa começou com mais de uma hora de atraso. A comitiva, formada pelo diretor de marketing da entidade, Thierry Weil, o co-charmain da empresa Match, Dick Wiles, e o gerente da Fifa e responsável pelo projeto Copa do Mundo Brasil Fifa 2014, foi recebida no aeroporto de Confins pelo prefeito Marcio Lacerda e o superintendente da Infraero, Adair Moreira. Depois de acompanharem uma apresentação sobre a previsão de melhorias nos aeroportos de Confins e Pampulha, os inspetores sobrevoaram Belo Horizonte, passando pelos CTs de Atlético e Cruzeiro e as principais vias de acesso ao Mineirão. No estádio, eles conheceram o projeto de modernização do Completo Mineirão/Mineirinho. (TN)
Thiago Nogueira - Fonte: O Tempo – 03/02/09.
DIVISÃO DA BOLADA
O Estado de São Paulo prometeu mundos e fundos à Fifa para atrair a abertura da Copa em 2014. Disse que os R$ 20 bilhões que o governo deve investir em transporte urbano até 2012 serão destinados à conclusão da linha 4 do metrô, que levará ao estádio do Morumbi; ao Expresso Aeroporto, entre a Luz e Cumbica; a uma "linha laranja" do metrô, passando pelo Pacaembu; e a um trem de superfície entre o Jabaquara e o aeroporto de Congonhas.
Mônica Bergamo - Fonte: Folha de S.Paulo - 02/02/09.
LULA PEDE POR BELÉM
No meio do encontro entre Lula, Ricardo Teixeira e Joseph Blatter, o presidente da Fifa pediu ao presidente da República sugestões para as cidades-sede da Copa de 2014. Inicialmente, Lula enumerou as óbvias: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte. Em seguida, a surpresa: Lula incluiu Belém e, mais do que isso, deu ênfase à capital paraense. Qual é o problema? Bem, das dezessete candidatas, doze serão escolhidas. E, embora não se diga com todas as letras, apenas uma cidade representaria a região amazônica – e a favorita sempre foi Manaus. Agora, a Fifa tem algumas saídas. A primeira é fazer a vontade de Lula. A segunda é mudar os planos e incluir duas cidades amazônicas na Copa. E a terceira é fingir que não ouviu o que foi dito.
Radar - Fonte: Veja - Edição 2098.
COISAS BÁSICAS, SIMPLES E ÓBVIAS
Dias atrás, escutei em um programa de rádio um "especialista" enumerar as dez características de um vencedor. Não tenho nenhuma delas. Não sou um vencedor nem quero ser, no sentido de ser um objetivo de vida. Apesar de não ter nenhuma das dez características, acho que fui bem nas minhas atividades de atleta profissional, médico, professor de medicina, comentarista de TV e de rádio e colunista de jornais.
Não fui melhor porque não tenho nem tive outras virtudes, que não estão entre as dez citadas.
Vivemos uma época de pressa, de simulações, de coisas espetaculosas, exageradas, do desperdício (a farra vai diminuir com a crise financeira) e também dos especialistas de coisas óbvias, que querem criar manuais para tudo.
Com frequência, existe um especialista dizendo na TV que o segredo para administrar bem o dinheiro é não gastar mais do que ganha.
Eureca!
No futebol, os especialistas de motivação, de autoajuda, adoram dizer que, se alguém mentalizar bastante, pode conseguir coisas que não imagina. Citam sempre pessoas que deram a volta por cima, como se todos fossem iguais. Cada um faz do seu jeito. Há várias maneiras de ser um vencedor e um perdedor.
Seguir a moda é uma característica do ser humano. É mais seguro. Basta um jogador dizer ou fazer alguma coisa, para os outros repetirem. Parecem robôs, guiados por seus empresários.
Isso não é só entre os atletas. Foi só um comentarista pedir a convocação de Amauri, da Juventus, para a seleção brasileira, para tantos falarem o mesmo. Ainda bem que Dunga não foi atrás. Amauri é um bom atacante, mas Luis Fabiano, Pato e Adriano são melhores.
No Brasil, a moda é jogar com três zagueiros.
Na verdade, não é mais moda, já que muitos times jogam assim há vários anos. Para funcionar bem, os zagueiros precisam ser rápidos para chegar à lateral, os alas têm que ser armadores, e o time precisa ter pelo menos um volante que marca e chega bem ao ataque. O São Paulo tem tudo isso.
Já a moda na Europa é atuar com um centroavante e mais um atacante de cada lado. Para funcionar bem, esses "pontas" precisam ser velozes, habilidosos, capazes de marcar e chegar rapidamente à frente, para cruzar, ou entrar pelo meio, para finalizar. Há grandes jogadores fazendo isso, como Cristiano Ronaldo, Messi, Henry, Robinho e Robben. Apesar das confusões fora de campo, Felipão deve ainda sonhar com Robinho no Chelsea.
Alguns times brasileiros começam a jogar com dois atacantes pelos lados, embora não exista formação desses atletas nas categorias de base. Cuca joga assim há vários anos. Se um time conquistar um título importante, outros irão fazer o mesmo, como aconteceu com os três zagueiros do São Paulo.
Não há um esquema tático ideal. Vai depender das características dos jogadores. Isso é óbvio, simples, básico, um lugar-comum. Mesmo assim, muitos técnicos não sabem nem fazem isso.
Os grandes talentos são os que conhecem profundamente o básico, enxergam o óbvio, executam bem as coisas essenciais e tornam simples o que é complexo.
Tostão - Fonte: Folha de S.Paulo - 01/02/09.
RICOS MENINOS POBRES
Robinho, Adriano, Ronaldos.
Tantos.
Indiscutivelmente talentosos com a bola nos pés, mas desastrados longe dela.
Ricos nas contas bancárias, mas pobres de espírito.
Suas vidas se resumem ao futebol e às baladas, às baladas e ao futebol.
Estrelas populares cujos brilhos diminuem à medida que o tempo passa e cujo desgaste afasta da atividade principal, mãe de todas as outras, o jogar futebol bem, maravilhosamente bem. Mas que importa?
O futuro sem preocupações materiais já está garantido!
Mal sabem, ou alguns até já sabem, que, de repente, bate uma nostalgia, uma vontade louca de voltar a ser, de olhar para as arquibancadas lotadas em uníssono saudando o nome do ídolo.
Ídolo, que ídolo?
Ex-ídolo.
Ex-ídolo do Santos, do Real Madrid, do Flamengo, da Inter, do Barcelona, do Milan.
De tantos.
E com saudade de estufar a rede, de correr para o abraço, de eventualmente correr para o alambrado e comemorar com os pobres, mas ricos em emoção.
Emoção que vicia e que eles vão buscar na noite e em suas atrações.
Sejam as que alucinam, sejam as que excitam, sejam quais forem, mas incompatíveis com o correr 90 minutos, com o bater forte, com o apanhar doído, com o jogar de cabeça erguida.
Cabeça, que cabeça?
Sim, as cabeças precisam ser tratadas até para conviver com tanta facilidade -Diego Maradona e Walter Casagrande Júnior que o digam. E quem gasta tanto para tê-las, por que não gastar uma ínfima parcela para tratá-las?
Futebol, sexo, drogas e rock and roll. Bela mistura. Doutor Sócrates não vai gostar, Xico Sá vai ridicularizar, mas o fato é que a vida exige opções. Ou bem se faz uma coisa ou bem se fazem outras.
Algumas, ao mesmo tempo, são simplesmente incompatíveis.
Salvo raras exceções, rigorosamente extraordinárias como Romário, baladas diárias e futebol duas vezes por semana não ornam, não casam, repelem-se.
E é o que mais temos visto por aí, a ponto de até Pelé reclamar, ele que sempre cuidou do físico para poder reinar mais tempo, sem nunca ter sido santo, ao contrário.
"Quero fulano para jogar no meu time, não para casar com a minha filha", eis aí, de novo, a frase emblemática que até fazia sentido para os tempos românticos. Mas não faz mais, quando talento e saúde são exigidos quase em igual proporção.
E não se trata de moralismo, conservadorismo, reacionarismo, nada disso. São meras constatações, basta olhar para o momento vivido, hoje, pelos acima citados.
Não é preciso ser bom moço carola feito Kaká, mas também não precisa exagerar.
Porque o exagero torna até a curtição mais curta.
E a exposição desnecessária deles e o mole que dão beiram tanto as raias do absurdo que se confundem até com burrice, embora, de fato, sejam, apenas (?!), frutos de má, de péssima orientação.
É preciso cuidar deles.
Juca Kfouri - Fonte: Folha de S.Paulo - 01/02/09.
A COPA DA LEVIANDADE
Prefeitos de capitais e respectivos governadores estão empenhados em uma competição nunca ocorrida por aqui. Para todos os ouvidos públicos, dizem tratar-se da disputa pela inclusão de sua capital entre as 12 que sediarão jogos da Copa do Mundo no Brasil, em 2014. A verdade é um pouco menos modesta do que os prefeitos e governadores. A conquista que eles buscam é incluir-se entre os 12 prefeitos e outros tantos governadores que vão estourar os cofres e muito futuro de suas capitais, e se necessário os dos Estados também, em benefício de sua popularidade eleitoral. A Copa do Mundo é precedida pela Copa da Leviandade, promovida pelo governo Lula.
A estimativa de custo da Copa entregue a Lula no meio da semana, por suas eminências Joseph Blatter e Ricardo Teixeira, duas riquezas do peleguismo futebolístico que presidem a Fifa e a CBF, refere-se a R$ 35 bilhões calculados pela Fundação Getúlio Vargas. Se o custo fosse aquele, equivaleria a duas vezes e mais 30% de todo o Orçamento para a Educação como será apresentado, amanhã, na reunião ministerial. Ou quase nove vezes o Orçamento para Ciência e Tecnologia.
Sabe-se, porém, que estimativas de custo de obras, no Brasil, são o que há de mais consagrado na ficção brasileira. Bem, saber, não se sabe: vê-se. Uma das batalhas de Juca Kfouri, a um só tempo inglórias e gloriosas, é a cobrança do relatório do Tribunal de Contas da União sobre o custo, e as mágicas que o fizeram, do Pan no Rio em 2006. Dinheiro do Ministério do Esporte, da Prefeitura do Rio e do governo fluminense. Pois nem o TCU cumpre o mínimo dever legal e público de divulgar suas constatações, quanto mais os que torraram, entre aplicações e divisões, o dinheiro público em que estimativas de R$ 50 milhões chegaram, na realidade, a dez vezes o estimado. Sem explicação.
O que não se sabe, vê-se. O Rio, há muito maltratado, foi abandonado de todo, para a prefeitura pagar o saldo de seus gastos e remendar as contas durante dois anos e meio, como prevenção parcial do risco de inquéritos e processos na sucessão. Isso em uma capital com os recursos do Rio.
Uma cidade como Natal, cujo encanto não se traduz em dinheiro sequer em proporção aproximada, diz o noticiário que está gastando R$ 3,5 milhões só para engambelar a apresentação de sua candidatura. Propõe-se a construir um estádio, com projeto encomendado na Inglaterra, de custo estimado em R$ 300 milhões. Digamos, contra tudo, que a estimativa seja exata. A cidade e a população de Natal não têm carências inatendidas até hoje por falta de R$ 300 milhões? Na concepção eleitoreira e rentável, a continuidade, pelo tempo afora, das carências de Natal e das outras capitais de menor riqueza é compensada por três ou quatro jogos das oitavas da Copa.
O plano da cidade de São Paulo é exuberante. São Paulo pode. Mas seria interessante saber por que os bilhões paulistas, que entusiasmam o prefeito Gilberto Kassab ao se referir às obras para a Copa, não lhe dão o mesmo entusiasmo para usá-los, por exemplo, em obras corajosas que humanizem o neurotizante trânsito paulistano.
Das pequenas capitais à potência de São Paulo, só as quantias variam. O desprezo pelas cidades e suas populações, presentes e futuras, é o mesmo. Expresso na Copa das Leviandades.
Janio de Freitas - Fonte: Folha de S.Paulo - 01/02/09.
JOGATINA DE BOLA
Quando era mais moço, eu torcia por um time de futebol, que já não existe, o Wimbledon FC. A equipe jogava no Plough Lane, estádio pequeno e cambaio em uma parte feia do sul de Londres, e seu estilo de futebol era duro e robusto.
Isso desagradava os adversários, mas aquecia o coração dos torcedores, especialmente quando permitia que a equipe superasse times mais sofisticados e fastidiosos, que muitas vezes jogavam lá como se tivessem pregadores de roupa nos narizes.
Quando o Wimbledon foi convidado a integrar a Football League, em 1977, na quarta divisão na época, passei a me considerar torcedor e a fazer a longa jornada até o final da linha District, para assistir a partidas contra equipes como o Rochdale e o Darlington.
Após apenas duas temporadas na quarta divisão, o time conseguiu subir para a terceira, mas caiu de volta na temporada seguinte. O mesmo fenômeno se repetiu nas duas temporadas subsequentes, com ascenso seguido de descenso.
No começo dos anos 80, o Wimbledon, que atraía públicos regulares de apenas alguns milhares de torcedores e punha em campo uma equipe de jogadores sólidos, mas não espetaculares, parecia ter encontrado o seu lugar no futebol.
Mas então aconteceu algo completamente inesperado. O Wimbledon subiu em 1983, e isso foi seguido não por uma queda mas por novo ascenso; depois de duas temporadas reconhecendo o terreno na segunda divisão, o time subiu ainda uma vez, chegando à primeira divisão.
Subitamente, eu estava indo a Plough Lane para ver o Wimbledon enfrentar equipes como o Manchester United, o Arsenal e o Liverpool.
Azarão
Mas, surpreendentemente, o Wimbledon se deu bem na primeira divisão e manteve seu posto entre os grandes times do país por inacreditáveis 14 temporadas. Em 1991, o time teve de se mudar para o estádio de Selhurst Park, dividido com o Crystal Palace, quando se tornou claro que Plough Lane não poderia ser adaptado.
Um ano mais tarde, o nome da primeira divisão passou a ser Premier League, e o dinheiro começou a fluir ainda mais para os grandes clubes, o que tornava a posição do Wimbledon, uma equipe que nem mesmo tinha estádio próprio, ainda mais precária.
E, como todos os times pequenos, teve que vender muitos de seus melhores jogadores.
Um desses era John Fashanu. Ele disputou a partida que capturava o absurdo essencial da história do Wimbledon, tanto para os torcedores do time quanto para seus rivais: a final da copa da Football Association de 1988, na qual enfrentaram o Liverpool, então o melhor time da Inglaterra, e o derrotaram por um a zero.
Nas temporadas seguintes, comecei a perder o interesse pelo Wimbledon e a assistir cada vez menos jogos.
Quando me perguntavam por que deixara de torcer por eles, às vezes respondia que não fazia muito sentido continuar torcendo depois que o time conquistou a copa da FA, mas percebia o quanto isso soava pedante e estúpido, e por isso desisti de explicar. Ainda assim, fiquei feliz por não ser um verdadeiro torcedor de futebol quando testemunhei o que aconteceu com o Wimbledon.
As novas realidades financeiras do futebol inglês -aqueles que já têm muito receberão ainda mais, e os demais terão de lutar pelas migalhas- finalmente se fizeram sentir na equipe na temporada de 1999/ 2000, quando o time foi rebaixado da Premier League.
Incapazes de obter licenças de construção ou financiamentos para a construção de um novo estádio para o time no sul de Londres, os proprietários surgiram com a radical proposta de transferir o time a outro lugar, no qual pudessem expandir sua base de torcedores e garantir o futuro do clube. Para indignação e consternação dos torcedores da equipe na região sul de Londres, o local escolhido foi Milton Keynes, uma cidade de rápido crescimento no centro da Inglaterra, que não contava com um time de futebol profissional.
Para surpresa de ninguém, assim que se tornou claro que a equipe estava planejando abandonar seus torcedores locais, a torcida desapareceu do estádio, e a situação financeira do Wimbledon se agravou ainda mais. Em 2003, o clube entrou em concordata.
No ano seguinte, mandando suas partidas no estádio nacional de hóquei sobre a grama de Milton Keynes, o time voltou a ser rebaixado, para a League One, antiga terceira divisão.
Àquela altura, o Wimbledon FC foi adquirido por um empresário musical morador de Milton Keynes, Pete Winkelman, que mudou o nome do time para MK Dons.
Em 2006, o MK Dons voltou a cair, para a League Two, a velha quarta divisão por meio da qual a equipe iniciara sua jornada no futebol profissional menos de 30 anos antes.
Nenhuma equipe da liga inglesa havia sido afastada de seus torcedores pelos proprietários, como ocorreu nesse caso, ainda que episódios semelhantes tenham se repetido inúmeras vezes nos EUA, onde times são transferidos para o outro lado do país por proprietários em busca de mercados novos e mais lucrativos.
Assim, a transferência do pequeno Wimbledon para uma cidade localizada a 110 quilômetros de distância parecia indicar a iminente americanização do futebol inglês, que colocaria lealdades tradicionais à mercê de empresários enxeridos para os quais um time é nome e nada mais.
Observando a situação, passados quatro anos, fica claro que os torcedores tinham motivos para preocupação, ainda que estivessem preocupados com a coisa errada. A transferência geográfica jamais foi uma opção séria para times de futebol inglês, porque não existem muitos locais do país em que não exista um time.
Mais que estilo de vida
Mesmo assim, apesar das dificuldades inerentes que afastar um time de futebol inglês de sua origem geográfica acarreta, os enxeridos chegaram.
Um ano antes que Winkelman adquirisse o Wimbledon, outro empresário de sucesso, Roman Abramovich, tomou o controle do vizinho Chelsea e iniciou o processo que faria do time uma potência do futebol internacional, tratando-o o tempo todo como uma espécie de brinquedinho pessoal.
Desde então, quase todos os grandes times ingleses tiveram seu controle tomado por estrangeiros. Manchester United, Liverpool e Aston Villa são controlados por americanos.
No Arsenal, há uma disputa pelo controle entre o norte-americano Stan Kroenke e o magnata uzbeque Alisher Usmanov. O West Ham pertence a islandeses, ainda que no momento provavelmente esteja em mãos dos credores do sistema bancário falido da Islândia.
O Portsmouth parece pertencer ao russo Aleksandr Gaydamak (embora ninguém saiba ao certo). E, há pouco, o Manchester City foi adquirido pelo Abu Dhabi United Group for Investment and Development, o que o torna o time mais rico do mundo -ou ao menos o time com os mais ricos proprietários do mundo, o que pode não ser a mesma coisa.
Nenhum desses times precisou se mudar para seguir o dinheiro. Em lugar disso, o dinheiro foi até eles. O que esses novos proprietários parecem desejar do futebol inglês é uma participação em um negócio glamouroso e dinâmico, com vasto apelo mundial.
Isso significa que muitos times da Premier League se mudaram, nos últimos anos, sem que precisassem transferir suas instalações físicas: simplesmente se mudaram para a economia internacional, onde podem ser comercializados como marcas internacionais.
De fato, para fins de marketing, raízes locais são importantes: clubes como o Manchester City, com base de torcedores apaixonados, são ótimo veículo para proprietários com ambições que se estendem para além de Manchester.
Pois na TV parece melhor ter um estádio lotado de torcedores que parecem de fato envolvidos com o time do que um estádio no qual os torcedores começaram a tratar o time como uma espécie de acessório de estilo de vida, mais ou menos como os proprietários o fazem.
Isso, aliás, vem sendo um problema para o Chelsea e um dos motivos para que a equipe ainda não consiga se equiparar aos times mais tradicionais em termos de apelo internacional.
O setor financeiro internacional quer o pacote completo, quando se trata dos times de futebol: um senso de história, o rugido dos torcedores leais, a sensação de excitação.
O nome de maneira nenhuma é a essência da marca, e talvez seja algo dispensável ou ajustável.
Quando os novos proprietários do Manchester City começaram a alardear sua aquisição, usavam as camisas azuis do time, mas dotadas da inscrição Abu Dhabi, nas costas.
A verdade é que é mais provável que um time chamado Abu Dhabi United termine jogando em Manchester do que vermos o Manchester City jogando em Abu Dhabi.
O primeiro astro a ser recrutado com o dinheiro árabe, o brasileiro Robinho, adquirido do Real Madri pela quase inacreditável soma de 32,5 milhões, resumiu essa nova realidade ao declarar, na chegada a Manchester, o quanto estava satisfeito por ser parte do time do Chelsea.
Na verdade, não importa muito que os jogadores não saibam onde estão, desde que os torcedores estejam lá para recebê-los. O que esses novos proprietários desejam é um clube com senso claro de identidade, em torno da qual possam construir suas elaboradas fantasias pessoais.
Ou seja, os torcedores ainda valem alguma coisa.
Novo Wimbledon
É claro que a raiva não se dissipou na parte sul de Londres, mas em 2002 os torcedores mais radicais do Wimbledon FC criaram um novo time em seu lugar, o AFC Wimbledon, que também está em ascensão.
A equipe já passou por quatro níveis de ascenso e agora está só dois degraus abaixo do futebol profissional. Não é impossível que o MK Dons reproduza a ascensão espantosa do Wimbledon FC e chegue à Premier League. Isso ainda acontece, como demonstrou o Hull City ao subir quatro divisões em apenas cinco temporadas.
Equipes como a do MK Dons e a do Hull dependem do apoio local, de boa gestão e de muita sorte. Mas dificilmente se beneficiarão de sorte como a que o Manchester City desfruta.
Não sei como eu me sentiria quanto a essa perspectiva se torcesse pelo time. Essa ideia me parece desconfortavelmente próxima de um insulto àquilo que o futebol verdadeiro representa. Mas eu não sou um verdadeiro torcedor.
David Runciman é professor de ciência política na Universidade de Cambridge. A íntegra deste texto saiu no "London Review of Books".
Tradução de Paulo Migliacci.
Fonte: Folha de S.Paulo - 01/02/09.
London Review of Books - http://www.lrb.co.uk/
University of Cambridge - http://www.cam.ac.uk/
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