SOCCEREX
FUTEBOL GLOBALIZADO
English:
http://www.soccerex.com/london/
A associação de clubes europeus, que reúne 137 das mais importantes equipes do continente, estuda lançar uma liga mundial de times. Esse foi um dos pontos discutidos em reunião com dirigentes do Clube dos 13 na Soccerex, fórum esportivo realizado no estádio de Wembley, em Londres. O grupo europeu, presidido por Karl-Heinz Rumenigge, quer uma união de forças e convidou o C13 para sua assembleia geral, em setembro. A ideia é ter representatividade global, além de criar regras para transferências.
O São Paulo foi o único clube de elite do país a estar presente na Soccerex. Foi representado pelo diretor de marketing do clube do Morumbi, Adalberto Baptista.
A Copa-2014, no Brasil, não foi debatida no fórum britânico. Os temas giraram mais em torno dos negócios da Copa das Confederações e da Copa-2010, que ocorrerão na África do Sul.
Painel FC - Eduardo Arruda - Fonte: Folha de S.Paulo - 14/05/09.
O site do Forum - http://www.soccerex.com/london/
RONALDINHO GAÚCHO
Vídeo show de bola!
http://www.ronaldinho.portalcab.com/SITE/video41.htm
(Colaboração: Wagner - SP)
REI
O ex-jogador de futebol Pelé participou de um bate-papo com 200 funcionários do banco Santander e cerca de 200 clientes, em São Paulo. Pelé é o garoto-propaganda do banco na Copa Santander Libertadores, torneio que recebeu o nome do banco no ano passado. O contrato de patrocínio do campeonato é de 7 milhões por ano e se estende até 2012. Apenas no Brasil, o banco vai investir R$ 7 milhões em eventos e publicidade relativas à Libertadores neste ano. De acordo com o Santander, o patrocínio representou uma exposição da marca para um público de cerca de 1,3 bilhão de expectadores que assistiram aos jogos da Libertadores no ano passado.
Mercado Aberto - Guilherme Barros - Fonte: Folha de S.Paulo - 10/05/09.
FUTEBOL - 50 ANOS DE HISTÓRIAS
A Libertadores só ganhou mais um asterisco em sua longa história com a conturbada saída dos clubes mexicanos.
1960. Peñarol, clube mentor da Libertadores, ficou em igualdade num confronto com o San Lorenzo. Foi necessário um jogo de desempate. Onde ocorreu? Em Montevidéu.
1961. Independiente Santa Fé e Jorge Wilstermann deveriam fazer jogo de desempate em Bogotá (!!), que não ocorreu. Houve sorteio, que favoreceu... o time da santa fé.
1962. Santos e Peñarol jogam 51 minutos na Vila Belmiro, e os uruguaios vencem por 3 a 2. O jogo para por causa de incidentes. E continua depois, amistosamente. O Santos empata com Pepe, mas vale o 3 a 2.
1963. Botafogo x Millonarios não é disputado. O time colombiano paga multa de US$ 4.500 para não jogar.
1964. Por causa de tragédia num jogo entre Peru e Argentina pelo Pré-Olímpico, o estádio Nacional de Lima é fechado. Por isso, o Alianza manda seu jogo contra o Independiente em Avellaneda (!), embora no campo do Racing. Millonarios x Independiente não ocorre em Bogotá por ""diferenças" entre a Sul-Americana e a cúpula do futebol colombiano. O Independiente, que seria campeão naquele ano, ganha os pontos.
1965. Deportivo Galicia segura 0 a 0 com o Peñarol, mas pela primeira vez a Conmebol, no tapetão, dá pontos a um time (ao gigante uruguaio) por causa do uso irregular de um jogador (Roberto Leopardi) pelo rival.
1966. Entram os vice-campões nacionais na disputa. Motivo? Bom, para que os dois grandes uruguaios atuem no torneio. Brasileiros abandonam a Libertadores, que teria sido ""desnaturalizada" com os vices.
1968. O Náutico bate por 3 a 2 no Recife o Deportivo Portugués, da Venezuela. Mas perde os pontos por fazer substituições irregulares (três, não duas, e todas de atletas de linha).
Poderia citar mais dezenas de casos com decisões confusas da Confederação Sul-Americana de Futebol, a hoje popular Conmebol. Ainda mais a partir de 1968, quando começou o império de Estudiantes e Independiente, times que ganharam edições seguidas com a ajuda de práticas não muito esportivas, digamos. Falou-se nos últimos dias até em jogos nos EUA para os duelos entre Chivas x São Paulo e San Luis x Nacional. Mas isso não seria novidade.
Em 1991, com o futebol colombiano suspenso, times do país fizeram jogos em diferentes cidades, como San Cristóbal e Miami, cidade que abrigou já seis duelos de Libertadores. Se os venezuelanos foram excluídos em 1986 porque estavam suspensos por ""problemas internos" na federação, em 1989 o Sport Marítimo recebeu o Inter em Caracas com ""portões fechados" devido ao temor da violência de torcedores irados com medidas econômicas no país. Por essas (de hoje) e outras (de ontem), a Libertadores é tão especial.
Rodrigo Bueno - Fonte: Folha de S.Paulo - 14/05/09.
Libertadores - http://www.conmebol.com/competiciones_evento_index,1081,2009,S.html
A FORÇA DA GRANA
Voltei de férias, ainda a tempo de assistir aos jogos daqui e de fora do Brasil, e de me informar melhor sobre alguns fatos que ocorreram nos últimos 15 dias.
Assisti, pelo VT, ao maravilhoso gol de cobertura de Ronaldo contra o Santos. Depois contra o Atlético-PR, vi um Ronaldo mais leve, mais descontraído e se movimentando mais para receber a bola. Os companheiros estão entendendo um pouco mais quando ele quer a bola no pé ou na frente. Antes do passe, sem a bola, Ronaldo dribla os defensores, para receber livre. Muitas vezes, dribla também os colegas.
Independentemente do desenho tático, o Corinthians é um time muito bem organizado desde a segunda divisão. Isso facilita para Ronaldo, e sua presença deu outra qualidade ao time.
Mano Menezes, além de excelente técnico, fala com clareza e objetividade. Não enrola, não bajula, não fica ranzinza e mal-humorado sem motivo nem quer ser mais sábio que a sabedoria.
A recuperação de Ronaldo tem muito a ver com sua garra e com a competência do treinador e de toda a comissão técnica do Corinthians.
Na atual forma física e técnica, Ronaldo brilharia do mesmo jeito contra as melhores defesas do planeta ou ele precisa evoluir para ser novamente um craque da seleção brasileira e do mundo? Não sei. Só vendo.
Não podemos esquecer que ele fez gols e jogou bem contra boas defesas do Brasil.
Ronaldo já deveria ser convocado para a seleção? Novamente, não sei. Não saber é também dar opinião. Palpitar é diferente de dar opinião.
Uma coisa é certa. Se Ronaldo continuar jogando bem, Dunga vai sofrer uma grande pressão para convocá-lo, principalmente quando o Brasil jogar mal. Penso que ele só deveria ser convocado para ser titular. A não ser em poucos momentos especiais, dizer que não faz diferença para Ronaldo ficar no banco ou jogar é desconhecer a alma humana.
Dunga, além da pressão da imprensa e da torcida, já está sofrendo, via CBF, pressão dos parceiros e dos investidores. Foi assim que Ricardo Teixeira convocou Ronaldinho para a Olimpíada, já que não podia contar com Kaká. É a força da grana.
Tostão - Fonte: Folha de S.Paulo - 10/05/09.
CHUTEIRAS QUE VALEM OURO
Em dezembro de 1962, o escritor e cronista Nelson Rodrigues, o primeiro a traduzir o lirismo do futebol brasileiro, escreveu o seguinte sobre a proposta do Juventus, clube da cidade italiana de Turim, para comprar o craque Amarildo, que brilhara na Copa do Chile, vencida meses antes pela seleção nacional:
"Amigos, o Juventus da Itália reiterou o lance nababesco: 250 milhões (de cruzeiros) por Amarildo. Para um futebol pobre como o nosso e, repito, para um futebol barnabé, a oferta soa como um escândalo: 250 milhões! Aí está uma quantia que muitos só farejam ou apalpam nalgum delírio furioso. Há reis, impérios, cidades, nações que não valem tanto. E esse dinheiro todo por um rapaz, ali, de Vila Isabel, que faz a barba num salão do Boulevard e que apanha o lotação no Ponto de 100 réis."
Nelson Rodrigues se estende, na crônica publicada na revista Manchete, sobre a negativa do Botafogo de vender Amarildo – "Tratou os 250 milhões com o nojo de quem afasta com o lado do pé uma barata seca" – e a penúria dos nossos times, "que boiam num lago de dívidas como vitórias-régias". Era um baita dinheiro – dezesseis vezes o maior prêmio pago pela Loteria Federal no mesmo ano. Quase 47 anos depois, os clubes nacionais continuam paupérrimos, mas, associados a investidores, já não se recusam a vender – nem por um minuto – suas estrelas por quantias nababescas. Muito pelo contrário. O futebol brasileiro tornou-se o grande celeiro que abastece os gramados da Europa e da Ásia. Só nos clubes europeus, há 551 atletas nacionais, o suficiente para formar trinta equipes completas, com sete reservas cada uma. Se um jogador de futebol brasileiro pudesse ser negociado na Bolsa Mercantil de Chicago, seria um investimento dos mais concorridos: a "mercadoria" está rendendo mais que o ouro. A venda de atletas para o exterior vem crescendo há três anos consecutivos e, em 2008, totalizou 1 176 transferências – 46% a mais do que em 2005. Só a transferência de Breno, ex-zagueiro do São Paulo, para o Bayern de Munique rendeu ao grupo investidor um lucro de 2 300% em menos de cinco meses.
Na corrida aos craques nacionais, a pressa de chegar antes do concorrente vem fazendo com que a idade dos contratados caia na mesma proporção com que dispara a cotação dos atletas no mercado: os gêmeos Rafael e Fabio da Silva, ex-Fluminense, foram comprados aos 15 anos pelo Manchester United, da Inglaterra. Philippe Coutinho, de 16 anos, joga no Vasco, mas já pertence ao Internazionale de Milão (que só poderá levá-lo quando ele completar 18 anos). Há ainda o incrível caso de Caio Werneck, "craque-bebê" brasileiro de apenas 10 anos e já selecionado pelo Roma. "Jogador de futebol virou commodity e o Brasil, seu maior exportador", diz o italiano Raffaele Poli, pesquisador do Centro Internacional de Estudos do Esporte, na Suíça.
Um negócio só é bom mesmo quando é bom para os dois lados. Por tal critério, esse de selecionar, treinar e vender para o exterior jovens craques brasileiros é um excelente negócio. Para o jogador, a diferença entre os salários pagos por um clube brasileiro e por um time europeu de porte equivalente quase sempre é de um dígito, ou perto disso. Um atacante de um time médio, de primeira divisão, que ganhe 15 000 reais por mês no Brasil facilmente conseguirá emplacar um salário equivalente a 100 000 reais em um time de igual tamanho na Itália. Diante disso, os pobres clubes nacionais, as vitórias-régias de Nelson Rodrigues, fazem malabarismos para tentar segurar um pouco seus craques – pelo menos até o momento de conseguir vendê-los ao melhor preço. Os dirigentes do Santos, por exemplo, além de pagar salários expressivos a suas estrelas mirins – o promissor Jean Chera, de 14 anos, ganha 18 000 reais mensais, incluindo patrocínios –, esmeram-se em agradar àqueles a quem cabe a palavra final diante de um convite vindo do exterior: os pais dos meninos. Telefonemas simpáticos de integrantes da diretoria e visitas ocasionais para um cafezinho são as formas mais comuns de, digamos, "fidelizar" a família do pequeno jogador. A família do craque Neymar, de 17 anos, é íntima da diretoria do clube. O potencial de valorização do passe de Neymar atrai investidores como abelhas ao mel. Certamente, para a tristeza das arquibancadas da Vila Belmiro mas para a alegria do jogador, da sua família, da diretoria do clube e dos investidores, Neymar logo será vendido por uma fortuna. Quanto? Bem, o grupo Sonda comprou 40% do valor de uma venda futura quando o atleta ainda nem tinha entrado em campo pela primeira vez por 6,5 milhões de reais. Hoje, a multa rescisória do contrato dele com o Santos é de 90,5 milhões.
O sonho de fama e fortuna de milhares de jovens candidatos a craque materializa-se nas peneiras – testes que os grandes clubes fazem para identificar novos talentos. As peneiras são de trama apertada. As organizadas pelo Flamengo fora do Rio de Janeiro atraem 800 meninos a cada vez. Desses, apenas quatro são selecionados para um período de testes. No Santos, segundo Guto Assumpção, diretor de futebol de base do clube, de cada 100 garotos que entram nas categorias de base, apenas dez acabam vestindo a camisa profissionalmente. Outros cinquenta poderão até se tornar profissionais, mas em equipes de segundo ou terceiro escalões. Só três de cada cinquenta jogadores convocados para uma seleção de base chegam a vestir a camisa canarinho da seleção principal.
Se a peneira é apertada, as recompensas são também desproporcionalmente milionárias para quem chega lá. Por essa razão, o garimpo de novos talentos tem se revelado um ótimo negócio. Atraídos pelo baixo custo e pelo potencial de lucro fantástico, investidores dos mais variados setores têm feito suas apostas. É o caso do grupo de supermercados Sonda e da empresa EMS Sigma Pharma. Juntos, eles detêm direitos sobre futuras vendas de mais de uma centena de jogadores. Esse modelo de negócio surgiu quando o passe (título de propriedade de um jogador que, na maioria das vezes, pertencia ao seu clube) foi abolido pela Lei Pelé, em 2001. A partir daí, os times, eternamente endividados, começaram a vender aos interessados porcentuais do valor da venda futura de seus atletas, numa operação similar à divisão de capital entre os acionistas de uma empresa – com a diferença de que, nesse caso, o lucro só aparece quando o jogador é negociado. A Sigma Pharma, que detinha 42,5% dos direitos sobre a venda do ex-atacante do Cruzeiro Guilherme Gusmão, de 20 anos, embolsou em torno de 6 milhões de reais com a ida do atleta para o Dínamo de Kiev. O grupo Sonda tem participação na cota de venda de trinta jogadores profissionais, entre eles o argentino Andrés D’Alessandro, do Internacional, e de mais de setenta jogadores de base. "Nossa expectativa é duplicar o capital investido em até dois anos", diz Thiago Ferro, um dos sócios do grupo. Para não falar de empresas dedicadas exclusivamente ao negócio esportivo – como a Traffic, que, além de ter um plantel de setenta jogadores, acaba de inaugurar uma verdadeira incubadora de talentos.
O assédio de clubes e investidores às chamadas "promessas do futebol" vem criando miniestrelas – jovens sem fama, mas já familiarizados com a pose de um David Beckham e a bajulação que cerca um Ronaldinho Gaúcho. Tome-se o caso de Luiz Henrique Muniz Batista, o Esquerdinha. Aos 16 anos, ele assinou com o Santos seu primeiro contrato como profissional. Dias depois, foi levado a um passeio na Oscar Freire, rua que abriga as lojas mais elegantes de São Paulo. Acompanhado por três empresários, o adolescente – de regata branca e chinelo de dedo – lotou sacolas de chuteiras, camisetas e bermudas de marcas caras. No momento em que a reportagem de VEJA o encontrou, Esquerdinha estava sendo levado para escolher seu próximo presente: um celular novo. O jogador contou que seus novos empresários reservaram um preparador físico para ajudá-lo a desenvolver a musculatura e contrataram um professor para lhe dar aulas de inglês. Como em Santos o idioma é português, está claro o objetivo final dos investidores.
Os brasileiros formam de longe o maior grupo de jogadores estrangeiros na Europa. Em geral, eles chegam lá por meio de uma negociação entre clubes. Mas podem também ser levados diretamente por um dos muitos olheiros que os times estrangeiros mantêm espalhados pelo Brasil. Essa rede de caça-talentos – em geral, constituída de ex-jogadores – acompanha desde os principais campeonatos regionais até as mais obscuras partidas de várzea. O inglês John Calvert-Toulmin, observador do Manchester United na América do Sul, assiste a cerca de cinquenta partidas por mês: "A minha função não é procurar o melhor jogador, mas o jogador que melhor se adapte às necessidades do meu clube".
Ao contrário de barras de ouro, jogadores de futebol podem ter saudade de casa ou detestar o clima do novo país – isso quando não se metem em boates de reputação suspeita, com frequentadoras idem, ou dão chá de sumiço nos treinos para visitar os amigos no Brasil. VEJA acompanhou a rotina de três jogadores que estão vivendo na Europa: Willian Borges da Silva e Guilherme Gusmão, na Ucrânia, e Breno Borges, na Alemanha. Em comum, os três ganham pelo menos dez vezes mais do que recebiam no Brasil, mantêm-se sintonizados nos canais brasileiros de TV a cabo e mostram um notável desinteresse pela cultura local. O atacante Guilherme chegou à Ucrânia há três meses como a mais cara contratação do Dínamo de Kiev. Ele reclama do frio e do fato de que ninguém lá "parece fazer questão alguma" de entendê-lo, ainda que o atleta não fale outra língua. O ex-corintiano Willian, um dos seis brasileiros do Shakhtar, é um dos poucos a estudar um idioma, mas não com vistas à adaptação na Ucrânia. Ele está aprendendo inglês porque não pretende renovar o contrato com o clube de Donestk.
Com pouca idade e, em geral, baixa escolaridade, os jogadores brasileiros raramente tiram proveito pessoal da experiência de viver no exterior. Nesse sentido, ex-jogadores como Leonardo Nascimento de Araújo e Dunga são exceções. Ambos se beneficiaram com os anos passados na Europa. Dunga aprendeu italiano e alemão e se orgulha de ter podido visitar locais históricos fechados ao público (veja o depoimento). Leonardo diz que sempre teve curiosidade de conhecer outras culturas. "Procurei passar apenas dois anos em cada país e me esforcei para aprender a língua e conhecer o modo de vida de cada um deles", diz. Na Itália, pouco antes de abandonar os campos, fez um curso de gestão esportiva. Hoje, aos 39 anos, é diretor técnico do Milan.
Leonardo deixou o Brasil para jogar na Espanha quando tinha 22 anos de idade. Dunga foi para a Itália pouco mais velho: aos 23. Coisas do século passado. Hoje, apesar de a Fifa proibir transferências internacionais de menores de 18 anos, uma série de subterfúgios permite que se drible a regra: uma das formas mais frequentes é a contratação fictícia do pai do atleta para um cargo em uma das empresas patrocinadoras do clube. Dessa maneira, a família se transfere para o exterior e o pai recebe o salário que seria do filho, mas que a lei impede que seja pago. A história do mineiro Caio Werneck, de apenas 10 anos, seria diferente também nesse aspecto. Em julho do ano passado, em Petrópolis, no Rio, o menino participou de um acampamento promovido pelo Roma. Assim como o Milan, o time da capital italiana realiza periodicamente esse tipo de evento com o objetivo oficial de "fortalecer a marca do clube" fora da Itália e a intenção inconfessada de detectar talentos precoces, também fora das fronteiras do seu país. Caio, segundo o técnico Ricardo Perlingiero, responsável pelas categorias de base do Roma, sobressaiu tanto nas partidas disputadas no acampamento que foi chamado para fazer um estágio de uma semana no clube romano. Lá, acabou sendo convidado a ficar. O fato de seu pai, Israel Werneck, ter conexões com o clube italiano ajudou.
A família se mudou para Roma e Caio passou a integrar a categoria de base do clube. "Ele tem um passe muito acima da média", diz Perlingiero. O técnico, que é brasileiro, afirma que nem o menino nem sua família recebem nenhum tipo de remuneração. Israel Werneck revela que colocou o filho numa escola de futebol assim que ele completou 5 anos. Caio é um caso especial. Mas já se contam nos dedos das duas mãos os jogadores brasileiros que brilham no futebol no exterior e às vezes chegam à seleção canarinho sem nunca ter brilhado com a camisa profissional de um clube brasileiro. Ah, sim, quanto a Amarildo, o da crônica de Nelson Rodrigues, ele foi vendido para o Milan e jogou muitos anos na Itália antes de voltar ao Brasil para encerrar a carreira no Vasco.
O INTERNATO DO FUTEBOL
A empresa Traffic, de marketing esportivo, criou um clube próprio para revelar jovens talentos. O Desportivo Brasil, baseado na cidade de Porto Feliz, no interior paulista, tem o objetivo declarado de formar jogadores para o mercado europeu. O time, que atua na segunda divisão do futebol paulista, funciona também como um intermediário. Alguns de seus jogadores, contratados de outras agremiações profissionais, são emprestados para equipes parceiras, como o Palmeiras e o Botafogo. Esses clubes grandes são usados como vitrines e, quando o jogador é vendido ao exterior, eles recebem em troca 20% do lucro obtido pela Traffic. No início deste ano, a empresa inaugurou um gigantesco centro de treinamento em Porto Feliz. Lá, cerca de 120 jogadores, de 13 a 20 anos, vindos de todo o país, seguem um rígido regime de horário e de treinamentos. Eles moram ali, com cinco colegas em cada quarto, e treinam três horas por dia, de segunda a sábado, em troca de uma ajuda de custo (160 reais, em média) e do sonho de se tornar um jogador milionário. "A gente é muito cobrado. É muita pressão para jogar bem, melhorar. É difícil, não vejo minha família desde o Natal. Mas, pelo sonho de ser jogador, eu me sujeito a tudo", diz Victor Paiva Torres, de 15 anos, nascido em Apodi, no Rio Grande do Norte. Para matar a saudade, os garotos recorrem ao MSN e ao Orkut. Correntes de prata, brincos de brilhantes, iPods e laptops – na maioria presentes de seus procuradores – são sinais de prestígio. "Sou corintiano, mas quero jogar no exterior porque lá poderei ganhar muito mais dinheiro e ajudar minha família", diz Nilson Belem Junior, o Juninho, de 14 anos. Os que estão em idade escolar estudam num colégio público de Porto Feliz. Matar aula rende um desconto de 5% na ajuda de custo e a proibição de treinar por um dia. "Nosso objetivo é formar e vender jogadores. Não existe paixão. Não temos torcida. É negócio", diz João Caetano, gerente do centro de Porto Feliz. A Traffic também tem parceria com o Manchester United. Pelo acordo, o time inglês pode pedir à empresa que contrate adolescentes nos quais tem interesse para serem treinados e, futuramente, integrados ao seu plantel.
O MISTERIOSO DONO DA BOLA
Um dos homens mais ricos da Ucrânia, o deputado e empresário Rinat Akhmetov, de 42 anos, tem uma fortuna estimada em 1,8 bilhão de dólares e duas paixões: é louco por futebol e fanático pelo estilo brasileiro de jogar. Nos últimos quatro anos, importou nove atletas do Brasil para atuar no seu time, o Shakhtar Donetsk, um dos mais populares da Ucrânia. Além de dono do clube, Akhmetov é seu presidente. Foi o bilionário quem o elevou à categoria dos grandes de seu país. Ele sucedeu no cargo a Akhat Bragin, assassinado num misterioso atentado no estádio do Shakhtar, em 1995. Bragin era acusado de ser um dos chefes da máfia ucraniana.
O passado de Akhmetov também é um tanto obscuro. Segundo seus funcionários, ele "ganhou muito dinheiro jogando pôquer" nos anos que precederam o colapso da União Soviética. Já o jornalista Serhiy Kuzin, autor do livro Donetsk Mafia, afirma que o bilionário teria trabalhado como capanga da organização mafiosa, a mando da qual executara várias pessoas. Akhmetov só se desloca acompanhado de pelo menos cinco seguranças, em um comboio de três Mercedes-Benz S550 pretos e blindados. Quando seu time vence, costuma dar prodigiosas demonstrações de generosidade – distribui até 200 000 dólares para cada jogador.
Dono de um conglomerado de setenta empresas dos ramos de metalurgia, extração mineral e telecomunicações, ele mora em uma casa que ocupa praticamente três quarteirões, quase na divisa de Donetsk com Makeevka. Só na cozinha da mansão trabalham onze empregados, sem contar os treze garçons que se revezam para servir o empresário e sua família – a mulher e os dois filhos raramente são vistos em público. Vaidoso, Akhmetov tem personal stylist e maquiador.
Até o fim deste ano, ele deverá concluir mais um grande investimento: vai inaugurar um portentoso estádio em Donetsk, o Donbass Arena, orçado em 450 milhões de dólares (apenas 50 milhões de dólares mais barato que o Ninho de Pássaro, o célebre estádio que a China construiu para sediar a Olimpíada do ano passado). Não se trata do único investimento previsto para 2009: rumores na cidade dão conta de que a contratação de mais um brasileiro, o atacante Ciro Ferreira e Silva, do Sport Recife, é só uma questão de tempo.
Fonte: Veja - Edição 2112.
Desportivo Brasil - http://www.desportivobrasil.com.br/pt/
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