FALANDO SĂRIO...
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BIOGRAFIA
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Folha.uol.com.br/talking-seriously-now
A polĂȘmica sobre as biografias pegou fogo. O estopim foi a capa da "Ilustrada" que noticiava a adesĂŁo de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque Ă cruzada contra a liberação das biografias (5/10).
Os compositores, aliados a Roberto Carlos e seu antigo parceiro Erasmo, Milton Nascimento e Djavan, formaram a associação Procure Saber para defender interesses de classe e também os direitos do biografado e de seus herdeiros.
A legislação preserva a liberdade de expressĂŁo, mas, ao mesmo tempo, permite que uma celebridade proĂba uma obra que "lhe atinja a honra, a boa fama, a respeitabilidade ou que se destine a fins comerciais". Foi o que fez Roberto Carlos ao impedir a circulação de um livro sobre sua vida hĂĄ seis anos.
A Associação Nacional dos Editores de Livros, com o apoio de dezenas de intelectuais, tenta mudar a situação atual através de uma ação no Supremo Tribunal Federal. Também hå um projeto de lei tramitando na Cùmara.
Para rebater a acusação de que seria a favor da censura, o Procure Saber afirma que não quer proibir nada, mas discutir formas de preservar a privacidade dos famosos.
Os artistas não aceitam o argumento de que quem se sentir incomodado por uma biografia pode entrar na Justiça pleiteando indenização. Dizem que, no Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, as penas do Judiciårio não são altas a ponto de terem um caråter punitivo ou compensatório.
Do lado dos que defendem a liberdade de expressĂŁo dos escritores, nĂŁo falta gente querendo falar. Na quarta-feira, a "Ilustrada" publicou uma longa carta aberta a Caetano Veloso, escrita pelo americano Benjamin Moser, biĂłgrafo de Clarice Lispector. Ele defendeu que a liberdade ou Ă© absoluta ou nĂŁo existe, comparou Caetano a um "velho coronel" e o incitou a voltar para o "lado do bem".
Em discurso na Feira de Frankfurt, o escritor Laurentino Gomes disse que impor restriçÔes a biografias é "engessar a História e tirar dela o seu componente mais encantador: a complexidade e a incerteza que envolvem seus personagens".
Desde 2007, a Folha jĂĄ publicou sete editoriais sobre o tema, sempre defendendo a mudança na lei. "Ă ainda curioso --e triste-- que artistas censurados e crĂticos desse modus operandi' tĂpico das ditaduras pretendam, em plena democracia, tornar-se censores", acusa editorial de terça-feira.
O difĂcil Ă© encontrar porta-vozes do outro lado, entre os que defendem a manutenção da legislação. AtĂ© sexta-feira, dos sete grandes do Procure Saber, sĂł Djavan tinha dado uma declaração. Em nota enviada ao "Globo", diz ser a favor da liberdade de expressĂŁo, mas afirma nĂŁo ser justo que "editores e biĂłgrafos ganhem fortunas enquanto aos biografados reste o ĂŽnus do sofrimento e da indignação".
Coube Ă empresĂĄria e produtora Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano, o duro papel de explicar a posição dos mĂșsicos. Foi a partir de uma entrevista dela Ă "Ilustrada" que a controvĂ©rsia começou.
Paula acusa a Folha de distorcer suas declaraçÔes, que foram dadas por escrito e complementadas por telefone. Estaria errado traduzir a posição do Procure Saber simplesmente como defesa da censura às biografias, porque o que a associação propÔe é que "direitos e obrigaçÔes sejam equùnimes".
NĂŁo fica claro o que isso quer dizer, mas o debate estĂĄ obviamente desequilibrado. HĂĄ muito mais espaço para a crĂtica aos artistas, chamados de traidores, censores, obscurantistas e mercenĂĄrios.
A culpa pela assimetria nĂŁo Ă© do jornal. A Folha abriu espaço para quem quisesse defender opiniĂŁo oposta Ă sua, mas os Ădolos da mĂșsica popular preferiram o silĂȘncio.
Procurei a assessoria de todos ao longo da semana. Chico Buarque estå escrevendo um livro em Paris. Gil foi para a Itålia, Djavan também viaja. Caetano prefere escrever a respeito na sua coluna do "Globo". Milton Nascimento não quis falar. Erasmo Carlos grava um novo ålbum. E o "rei" Roberto Carlos não respondeu ao pedido de entrevista.
Esquivando-se ao debate pĂșblico, os artistas permitem que se pergunte "o que serĂĄ que serĂĄ/ que andam sussurrando/ em versos e trovas?/que andam combinando/ no breu das tocas?".
Ombudsman â Suzana Singer â Fonte: Folha de S.Paulo â 13/10/13.
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