FM - Faculdade Mental

COLUNA DO CANALHA - 20/08/2009

ENTRE O ETÃ‰REO E O ETERNO
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ETÃ‰REO / ETERNO

O ser humano tem dentro de si uma programaÃ§Ã£o que nÃ£o lhe permite querer outro destino que nÃ£o seja a felicidade.
A felicidade estÃ¡ para o ser humano assim como estÃ£o Ã s funÃ§Ãµes matemÃ¡ticas para uma calculadora. NÃ£o pode dar errado. NÃ£o aceitamos o errado. Felicidade Ã© uma programaÃ§Ã£o para dar certo.
Mesmo os povos e culturas mais primitivos, que sofrem e se auto-flagelam, o fazem em prol da felicidade, por mais estranho que nos possa parecer.
Mas, o ser humano tem tambÃ©m o hÃ¡bito de tornar isso tudo muito complicado. Sem saber busca mais a infelicidade do que a felicidade.
Mas afinal, o que Ã© felicidade?
A prÃ³pria introduÃ§Ã£o do texto nos mostra que o conceito de felicidade depende de cada um. E a felicidade tem Ã s vezes maneiras estranhas de se manifestar, dando um sinal efetivamente contrÃ¡rio ao que se espera dela enquanto manifestaÃ§Ã£o.
Felicidade Ã© um estado da consciÃªncia quando se sente plena de satisfaÃ§Ã£o. SÃ³ que nÃ£o sÃ£o todos os dias que se estÃ¡ feliz ou satisfeito com a mesma coisa, o que a torna, de certa forma, perecÃvel.
Entra em cena aÃ o etÃ©reo e o eterno.
NÃ£o existe felicidade eterna, exceto quando ela Ã© buscada todos os dias.
A felicidade nos dÃ¡ a noÃ§Ã£o do eterno, de algo que deva nos deixar plenos de satisfaÃ§Ã£o permanentemente, quando, na verdade, esse Ã© o estado do etÃ©reo, daquilo que nos eleva espiritualmente, torna a vida sublime.
Assim, a busca nÃ£o Ã© pelo eterno e sim pelo etÃ©reo. E quando se descobre essa sensaÃ§Ã£o, num dado momento da vida, ela nos faz sentir fracassados na busca pelo pleno, pois ele nÃ£o existe.
Vem entÃ£o a pergunta: o que vem depois disso?
E eu respondo: depois disso vem a realidade. E a realidade tambÃ©m nÃ£o Ã© eterna e, na maioria das vezes, nem etÃ©rea.
A realidade nos mostra como somos acomodados e nos contentamos com o estado de felicidade e nos esquecemos, ou damos menos importÃ¢ncia, ao que nos eleva o espÃrito, incandesce nossa alma.
Homens e mulheres tÃªm relaÃ§Ãµes distintas ao que Ã© eterno e ao que Ã© etÃ©reo.
O homem se regozija com o eterno, enquanto a mulher necessita do etÃ©reo. O homem releva o que pra mulher Ã© primordial.
Essa dissintonia Ã© uma bifurcaÃ§Ã£o que pode levar a dois caminhos, que sÃ£o exatamente opostos. A ruptura ou a uniÃ£o plena.
A ruptura parece ser normalmente o caminho mais simples de ser escolhido. Buscar uma uniÃ£o plena dÃ¡ muito trabalho, exige esforÃ§o, entrega, paciÃªncia. A ruptura tambÃ©m exige isso, mas com uma diferenÃ§a bÃ¡sica: ao romper vocÃª necessita de seu esforÃ§o, entrega e paciÃªncia consigo mesmo, nÃ£o precisa mais carregar o outro, nÃ£o importando mais o que jÃ¡ foi etÃ©reo e eterno atÃ© pouco tempo atrÃ¡s.
A noÃ§Ã£o de felicidade fica desfocada e se transforma em infelicidade, pois essa sim nos parecerÃ¡ eterna, e jamais etÃ©rea.
O eterno Ã© profundo, duradouro, constante, sÃ³lido, uno e necessÃ¡rio.
O etÃ©reo Ã© muitas vezes superficial, momentÃ¢neo, abstrato, divisÃvel, mas impressindÃvel.
E o ser humano rompe com o eterno em busca do etÃ©reo.
E sendo isso uma programaÃ§Ã£o psÃquica, nÃ£o existe nenhum outro modo de aprender a diferenÃ§a entre o eterno e o etÃ©reo sem viver a experiÃªncia de novamente partir em busca desse eterno no etÃ©reo. AtÃ© que se percebe um dia que ele tambÃ©m se torna eterno, deixa de ser etÃ©reo e a noÃ§Ã£o de felicidade desaparece.
E novamente nossa programaÃ§Ã£o psÃquica nos pÃµe em busca da felicidade ou em fuga do que nos parece infelicidade, pois nada Ã© permanentemente etÃ©reo, mesmo que seja eterno.
Talvez VinÃcius de Morais estivesse equivocado ao dizer â€œque seja infinito enquanto dureâ€. Talvez o mais correto fosse dizer "que nÃ£o seja eterno, mas que seja etÃ©reo enquanto dure".