AĂOUGUE CULTURAL T-BONE
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CHURRASCO LITERĂRIO
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TĂŁo ou mais insĂłlito do que a Biblioteca Nacional da capital do paĂs nĂŁo ter um acervo disponĂvel para o pĂșblico Ă© encontrar livros Ă disposição de todos aqueles que frequentam um açougue no Distrito Federal. E mais: o proprietĂĄrio espalha exemplares pelos pontos de ĂŽnibus de todas as quadras da Asa Norte, onde estĂĄ localizado o Açougue Cultural T-Bone, empreendimento do açougueiro e produtor cultural Luiz Amorim, de 46 anos, radicado em BrasĂlia desde os seis.
Tal qual seu conterrĂąneo Castro Alves (1847-1871), Amorim semeia livros na Capital Federal e instiga o povo a pensar. Em uma rĂĄpida conversa, ele Ă© capaz de citar filĂłsofos de diferentes Ă©pocas para situar nĂŁo sĂł seu pensamento como tambĂ©m seu ofĂcio de açougueiro e produtor cultural, profissĂ”es aparentemente tĂŁo distantes, mas que ele consegue conciliar hĂĄ dĂ©cadas. Amorim encara seu trabalho de produtor como algo que lhe dĂĄ prazer e como uma espĂ©cie de retribuição ao que a literatura e a filosofia acrescentaram Ă sua vida.
A histĂłria desse baiano com o açougue que hoje Ă© seu começou hĂĄ bastante tempo, mais precisamente quando ele tinha 12 anos - antes disso, teve vĂĄrios subempregos. Como a mĂŁe e os cinco irmĂŁos moravam no Gama, cidade-satĂ©lite de BrasĂlia, ele passou a viver nos fundos de seu local de trabalho. Aos 16 anos, matriculou-se em um supletivo e aprendeu a ler. Aos 18, leu seu primeiro livro: um gibi de filosofia sobre o alemĂŁo Karl Marx. NĂŁo parou mais. Devorou muitas outras obras, de vĂĄrios gĂȘneros, embora a filosofia ainda ocupe lugar de destaque entre os livros e as ideias que o inspiram.
"Quando comecei a ler, nĂŁo quis parar mais. Primeiro, li tudo de Marx. Depois, li os filĂłsofos que ele indicava, e assim foi. A filosofia me ensinou muita coisa. Minha vontade sempre foi a de ser um filĂłsofo prĂĄtico. Declinei da discussĂŁo acadĂȘmica, eu queria colocar em prĂĄtica o que lia. A filosofia me deu uma estrutura de pensamento que me permitiu viver e realizar coisas", diz ele, que. em 1994, conseguiu comprar o açougue em que trabalhava e o batizou de T-Bone, um corte de carne.
LIVRE ACESSO
JĂĄ no primeiro dia como proprietĂĄrio, Amorim tratou de colocar uma prateleira com livros e oferecĂȘ-los aos clientes. Muitos estranharam, Ă© claro, mas quem tinha parado para conversar um pouco com ele sabia que ali estava um açougueiro no mĂnimo excĂȘntrico. "Eles achavam diferente um operĂĄrio, um trabalhador braçal, ter acesso a isso, falar sobre isso." O prĂłprio açougueiro chegou a ter mais de 10 mil livros em seu acervo, mas eles foram transferidos para uma biblioteca comunitĂĄria.
A Biblioteca Popular, desdobramento desse projeto, jå colocou mais de 400 mil livros em 35 pontos de Înibus do Plano Piloto, que engloba as asas Sul e Norte da cidade. Para retirar os livros, não é necessårio apresentar documentos em preencher qualquer cadastro. Basta pegå-los nas prateleiras das estantes de metal existentes nas paradas. E a devolução fica a cargo dos próprios leitores, não hå obrigatoriedade.
Os exemplares vĂȘm tanto do acervo de Amorim quanto de doaçÔes. Todos os gĂȘneros sĂŁo aceitos. Para ele, essa Ă© uma forma de humanizar os espaços pĂșblicos. "A ideia nĂŁo Ă© resolver a vida literĂĄria da cidade, Ă© tĂŁo somente democratizar o acesso Ă cultura e provocar o debate", afirma ele, que Ă© usuĂĄrio de transporte coletivo por convicção.
"A arte, para os gregos, Ă© toda manifestação que transforma o ser humano em algo melhor", diz. AlĂ©m de distribuir livros, Amorim desenvolve em seu açougue projetos nas ĂĄreas de mĂșsica, teatro e artes plĂĄsticas. O espaço tambĂ©m Ă© palco de lançamentos de livros de debates.
Moraes Moreira, Chico CĂ©sar, Guilherme Arantes, Tom ZĂ©, JoĂŁo Donato, FlĂĄvio Venturini, Geraldo Azevedo, Jorge Mautner, Erasmo Carlos, Banda Blitz, Alceu Valença, Elba Ramalho, ZĂ©lia Duncan, ZĂ© Ramalho e Milton Nascimento sĂŁo apenas alguns dos artistas que jĂĄ se apresentaram na Noite Cultural, realizada duas vezes por ano no T-Bone e que jĂĄ chegou a reunir mais de 20 mil pessoas. Outro evento de sucesso feito pelo T-Bone, em parceria com o Movimento Viva Arte, Ă© a Bienal do "B", que une poesia e mĂșsica.
Nessas ocasiĂ”es, a polĂcia Ă© convocada para fechar a rua. Assim o pĂșblico pode assistir aos shows - gratuitamente, Ă© claro - e circular livremente pelo espaço. Apesar do grande nĂșmero de pessoas reunidas, ocorrĂȘncias policiais nĂŁo fazem parte do espetĂĄculo, felizmente.
Do mesmo modo que o ofĂcio de açougueiro, o trabalho de produtor cultural realizado por Amorim Ă© artesanal. Ele nĂŁo tem interesse em exportar seu modelo de produção, ainda que frequentemente seja convidado a implantar bibliotecas ou projetos semelhantes em outras comunidades. "Eu posso fazer uma palestra contando minha experiĂȘncia, mas nĂŁo aceito dinheiro para implantar projeto algum em outras praças. Acredito que cada comunidade deve formar seus lĂderes e fazer o que tem de ser feito."
O Ășnico problema Ă© que ele e seu açougue sĂŁo muito mais conhecidos local e nacionalmente pelas atividades culturais que pelas habilidades com os cortes de carne. Ele faz questĂŁo de se definir como açougueiro, mas ainda hĂĄ quem se surpreenda ao saber que o T-Bone tambĂ©m vende carne.
"As pessoas acham que Ă© um teatro, uma casa de espetĂĄculos", conta, rindo.
A confusĂŁo, porĂ©m, nĂŁo Ă© infundada: no prĂłprio site do açougue hĂĄ mais espaço para as atividades de promoção artĂstica que para a venda de carnes. O logotipo? Uma vaquinha leitora, de olhos atentos, folheando um livro.
Admiradores e clientes costumam dizer que Luiz Amorim e seu T-Bone humanizam os traçados de BrasĂlia, enchem de alegria e arte as ruas pouco ou nada planejadas para o pedestre do Plano Piloto, onde a maioria dos moradores se locomove de carro e nĂŁo se apropria do espaço pĂșblico.
Paloma VarĂłn - Fonte: Revista Voe - NĂșmero 42 - Dezembro 2011.
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