PERSPECTIVA
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DEBATE SOBRE A ORIGEM DO HOMEM MODERNO
Foto: Homo sapiens "idaltu" mostrado de diferentes Ăąngulos.
Para cientistas rivais, o debate sobre a origem do homem moderno vai acabar logo, com o avanço da estatĂstica e a publicação de dados de DNA.
Uma das feridas abertas da comunidade de antropĂłlogos que estuda a origem da humanidade pode estar prestes a ser fechada. A espĂ©cie humana moderna, afinal de contas, surgiu mesmo apenas na Ăfrica? Um consenso sobre a questĂŁo pode sair nos prĂłximos anos -seja para o sim ou para o nĂŁo-, dizem dois defensores de teorias com conclusĂ”es opostas sobre a questĂŁo.
AtĂ© o fim do sĂ©culo passado, tudo parecia levar a crer que o Homo sapiens tivesse surgido em algum ponto abaixo do Saara, cerca de 100 mil anos atrĂĄs, e sĂł depois tivesse colonizado o mundo, jĂĄ plenamente formado. Com a consolidação da tecnologia que permitiu seqĂŒenciar o genoma de populaçÔes humanas, em 2001, porĂ©m, vieram mais dĂșvidas do que confirmaçÔes.
No ano seguinte, estudos sobre a variação genĂ©tica entre grupos de diferentes regiĂ”es indicavam outro cenĂĄrio. AnĂĄlises pioneiras do estatĂstico Alan Templeton, da Universidade Washington, em St. Louis (EUA), indicaram que uma Ășnica grande diĂĄspora nĂŁo poderia explicar como os humanos modernos colonizaram o mundo. Para ele, haveria sinais claros no DNA de que nossa espĂ©cie teria evoluĂdo pela miscigenação entre vĂĄrios hominĂdeos de linhagens extintas, como o Homo erectus- desde 1,9 milhĂŁo de anos atrĂĄs.
Mesmo tendo criado controvĂ©rsia, Templeton sĂł foi receber o troco em outubro passado, quando o geneticista Laurent Excoffier, da Universidade de Berna, publicou um estudo sobre uma sĂ©rie de amostras de DNA coletadas mundo afora com a finalidade especĂfica de estudar a origem humana.
Trabalhando com os brasileiros Sandro Bonatto e Nelson Fagundes, da PUC-RS (PontifĂcia Universidade CatĂłlica do Rio Grande do Sul), Excoffier defende que a hipĂłtese de miscigenação Ă© improvĂĄvel. O Homo sapiens teria colonizado a Ăsia e a Europa "despejando" os seus primos mais prĂłximos aonde quer que chegasse.
Templeton e Excoffier estiveram juntos no inĂcio do mĂȘs em Porto Alegre para o 1Âș Workshop de Evolução BiolĂłgica e expuseram seus trabalhos. Diplomaticamente, discutiram por que seus mĂ©todos estariam levando a conclusĂ”es tĂŁo distintas, mas ninguĂ©m arredou pĂ©. O Ășnico consenso atingido foi o de que a resposta deve estar prĂłxima.
Excoffier, criticado pelo rival por ter "simplificado demais" seus modelos (programas de computador para simular a variação no DNA) na hora de levar em conta o deslocamento geogrĂĄfico, disse que essa falta serĂĄ superada. "Esperamos conseguir incorporar essa fonte extra de realismo aos nossos modelos e poderemos usar mais dados, mais indivĂduos."
JĂĄ Templeton foi questionado por ter baseado seu trabalho em dados de seqĂŒĂȘncias de DNA obtidos por outros cientistas, para outros fins. Tendo reunido poucos dados processĂĄveis, o cientista diz que sua hipĂłtese -a alegada prova de que humanos modernos tiveram "algum grau" de miscigenação com outros hominĂdeos- tambĂ©m ganharĂĄ força.
"O maior aprimoramento que antevejo Ă© mesmo o dos dados, simplesmente", diz o americano. "Quando analisei isso pela primeira vez, em 2002, sĂł havia dez regiĂ”es do genoma seqĂŒenciadas adequadamente para esse fim em amostras colhidas ao redor do globo. Quando reconfirmei a anĂĄlise, em 2005, achei na literatura 25 regiĂ”es, e o nĂșmero continuou crescendo depois disso."
Enquanto o estatĂstico espera a salvação na genĂ©tica, e o geneticista tenta aprimorar sua estatĂstica, resta esperar pela prĂłxima rodada do jogo. Sem uma resposta cabal, os cientistas se defendem reconhecendo suas limitaçÔes.
"NĂŁo estamos dizendo que nunca ocorreu miscigenação, mas se houve foi muito limitada", diz Excoffier. Segundo seu trabalho, hĂĄ menos de 1% de probabilidade de a mistura de DNA ter deixado algum vestĂgio detectĂĄvel. "A miscigenação certamente teve um limite, mas nĂŁo foi algo tĂŁo pequeno assim", diz Templeton.
Rafael Garcia - Fonte: Folha de S.Paulo - 25/11/07.
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