O DIA 13 DE MAIO E UM DEBATE NECESSĂRIO
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13 DE MAIO
A semana de 13 de maio deste ano parece trazer um significado especial para a Educafro e o Centro AcadĂȘmico XI de Agosto.
A histĂłria da relação entre as duas instituiçÔes parece, curiosamente, trazer em si interessante ilustração de aspectos das relaçÔes sociais entre negros e brancos no Brasil, onde a convivĂȘncia espacial entre negros e brancos mascara a dura realidade de classes distintas e pouco harmĂŽnicas.
Separadas apenas pelo convento de SĂŁo Francisco, ambas fazem da rua Riachuelo sua morada.
De um lado, uma entidade nĂŁo governamental que tem como meta combater a desigualdade social e o racismo, atuando principalmente na oferta de oportunidade de acesso ao ensino superior para jovens carentes, em especial a afrodescendentes.
De outro, um dos mais tradicionais centros acadĂȘmicos do Brasil, berço de polĂticos de destaque e com relevante participação na polĂtica do paĂs. Em 2007, movimentos sociais, dentre os quais a Educafro, ocuparam o edifĂcio histĂłrico da Faculdade de Direito. O episĂłdio provocou tumulto e polĂȘmica, e acabou com a entrada da tropa de choque da PolĂcia Militar na faculdade, o que deixou como legado certa animosidade entre as entidades.
No entanto, o choque ocorrido no passado jĂĄ estĂĄ superado, embora o cenĂĄrio que ocasionou a tensĂŁo continue praticamente inalterado.
A Educafro Ă© composta quase que exclusivamente por pessoas muito pobres, de maioria negra, com histĂłria repleta de dificuldades e com um sonho em comum: ter acesso a informação, ao ensino superior de qualidade. No XI de Agosto, estĂŁo os alunos da faculdade de direito mais tradicional do paĂs, oriundos, na maioria, de classe economicamente privilegiada, brancos em maior parte. A proximidade dĂĄ corpo e alma ao sonho e o deixa ainda mais distante.
Neste ano, no entanto, uma novidade parece abrir caminhos para os grupos. Na semana de 13 de maio, a faculdade recebe debates e eventos culturais, em parceria da Educafro com o Centro AcadĂȘmico XI de Agosto.
Um dos principais temas a ser destacado na semana Ă© a questĂŁo do acesso Ă universidade pĂșblica. A Educafro mantĂ©m-se firme em sua posição de luta pelas cotas, vistas como via necessĂĄria, atualmente, para o acesso do negro ao conhecimento e Ă possibilidade de pensar academicamente sobre sua condição.
Entretanto, Ă medida que o centro acadĂȘmico tem como função primordial o fomento ao debate qualificado na faculdade, abrindo espaço aos diversos posicionamentos sobre a questĂŁo, mesmo Ă queles que tĂȘm ponderaçÔes destoantes Ă s da Educafro, ambas entidades nĂŁo podem se furtar a dialogar e a trabalhar juntas.
A principal conquista, indubitavelmente, Ă© o espaço para o diĂĄlogo. Foi uma oportunidade encontrada para que a Educafro tivesse espaço para ser ouvida, sem que para ser notada precisasse ocupar o local -algo que, a experiĂȘncia mostra, acaba por afastar ainda mais as pautas do movimento negro dos alunos da SĂŁo Francisco.
A semana de 13 de maio na Faculdade de Direito da USP Ă© um convite Ă reflexĂŁo. SĂŁo inĂșmeros os dados estatĂsticos que demonstram a misĂ©ria da população negra no Brasil, seu alijamento do mercado de trabalho, sua falta de acesso Ă informação, a marginalização de sua cultura e a perseguição que lhes impĂ”em a coerção estatal e as prĂłprias convençÔes sociais.
AliĂĄs, nem sequer Ă© necessĂĄria qualquer estatĂstica. Todos conhecem as piadas humilhantes, o estereĂłtipo padrĂŁo do criminoso brasileiro, os xingamentos.Tudo isso gera uma triste sensação, inconsciente, coletiva, de que, por alguma razĂŁo, hĂĄ inferioridade em ser negro. Enfim, hoje, a maioria dos negros gozam muito pouco de seu direito de cidadania.
O diålogo visa justamente superar triste realidade que se constata no meio estudantil: o tema da discriminação racial é simplesmente ignorado pela esmagadora maioria dos alunos.
SĂŁo raros os professores e alunos que refletem a fundo sobre o tema, cujos resultados costumam ser ideias superficiais, sobre uma realidade com a qual nem sequer tĂȘm contato.
Nosso paĂs pode nĂŁo ter sofrido com uma segregação racial tĂŁo dura quanto a norte-americana ou a sul-africana, mas algo Ă© inegĂĄvel: existe, sim, racismo no Brasil.
HĂĄ dura realidade a ser combatida.
O acesso desigual Ă universidade, a marginalização da cultura negra, a violĂȘncia racial e a falta de oportunidade no mercado de trabalho sĂŁo sĂł algumas das dificuldades que a população negra enfrenta no dia a dia.
Ă claro que existem divergĂȘncias quanto Ă s formas de solucionar esses problemas, mas uma coisa Ă© pacĂfica: o diĂĄlogo Ă© o primeiro passo para a mudança. Somente a partir daĂ poderemos construir uma sociedade verdadeiramente democrĂĄtica.
Marcelo Chilvarquer, 20, Ă© presidente do Centro AcadĂȘmico XI de Agosto, entidade representativa dos alunos da Faculdade de Direito da USP. Boris Calazans dos Santos, Ă© advogado colaborador da ONG Educafro, que oferece cursinhos a alunos de baixa renda.
Fonte: Folha de S.Paulo - 13/05/10.
Centro AcadĂȘmico XI de Agosto - http://www.xideagosto.org.br
Educafro - http://www.educafro.org.br/
Blog do HermĂno: http://www.herminio.com.br/
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