TEATRO DOS HORRORES
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NĂŁo por falta do que fazer, atĂ© porque tinha algumas coisas, me permiti assistir pela internet a sessĂŁo da CPMI - ComissĂŁo Parlamentar Mista de InquĂ©rito, interrogando rĂ©u e testemunha do caso do vazamento de um suposto dossiĂȘ com dados sigilosos do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Sobre o interrogatĂłrio, em si, gostaria apenas de dizer que Ă© lamentĂĄvel, cada vez mais, a forma como as pessoas mentem nesse paĂs. Desavergonhadamente, deliberadamente, impunemente, acobertadamente, vorazmente, despretensiosamente, despreocupadamente. E mentem. NinguĂ©m estĂĄ nem aĂ pras leis, pro que Ă© certo, pro que Ă© errado.
Mas, quero me ater só aos parlamentares. E que também mentem.
O que reelege e promove hoje em dia é participar de CPI. Tem até briga pra criar a mesma CPI.
Aqui se faz CPI de tudo. Se bobear, somos o paĂs com o maior nĂșmero de CPIs em andamento.
E como quase todas acabam em pizza, deveriam mudar o nome de Comissão Parlamentar de Inquérito para "Começão" de Pizza Interminåvel.
CPI tem televisĂŁo, transmissĂŁo ao vivo, palanque de graça, pĂșblico.
Até garçom de CPI aparece na televisão.
Quem não se daria ao luxo de comentar numa festa que o garçom é o mesmo da CPI?
E qual o garçom que nĂŁo se vangloria da difĂcil e gloriosa tarefa de atender aos parlamentares diante das cĂąmeras de televisĂŁo?
Nossas CPIs, como bem disse um deputado (não vou me permitir dar a nenhum deputado a chance de por seu nome no meu texto, mas se alguém precisar do nome mande um e-mail que eu digo), são um verdadeiro show.
Outro deputado jĂĄ disse que alguns colegas ficam meio eufĂłricos quando estĂŁo diante das cĂąmeras. Mas nada como aparecer macho(a) e bravo(a) numa CPI. Com certeza a mulher ou o marido, os filhos, amigos, a mamĂŁe, imagina, a mamĂŁe, todos vĂŁo ficar muito orgulhosos.
Tirando os bem intencionados â e eles realmente existem â o que se vĂȘ Ă© um teatro dos horrores. Frases horrorosas, idĂ©ias horrorosas, desculpas horrorosas, mentiras horrorosas, pessoas horrorosas.
A nossa polĂtica destila Ăłdio, revanchismo.
Ainda temos um ar de caråter regional, quando dois coronéis brigavam politicamente numa região, rodeados de jagunços.
Em nenhum momento se toma decisĂŁo alguma que trate do real benefĂcio do paĂs, e estou falando de coisa pra daqui a 50 anos.
Nosso parlamento nĂŁo fala em futuro. Apenas gasta o hoje falando do ontem.
A tristeza de assistir a uma sessão de CPMI, ou mesmo uma sessão plenåria da Cùmara dos Deputados, ou do Senado, ou da Assembléia Legislativa, ou da Cùmara Municipal, seja pela televisão ou ao vivo, é constatar que, tirando mais uma vez os bem intencionados, somos extrema e absolutamente mal representados.
As intençÔes de quem governa estĂŁo ligadas fundamentalmente a permanecer governando, nĂŁo existe interesse prĂĄtico numa autocrĂtica que demonstre a necessidade de se aliar ao adversĂĄrio em prol do chamado bem maior.
Vivemos um momento de revanchismo, inadequado e inoportuno, que impede que os parlamentares e a sociedade revejam o papel do polĂtico no Brasil, seja no executivo ou no legislativo, e comecem a promover uma mudança significativa na qualidade de seu trabalho.
O executivo amarra o legislativo com um instrumento que sĂł existe porque o prĂłprio legislativo o aprovou. PorĂ©m, uma lei quando nĂŁo Ă© boa para o paĂs deve ser mudada. E a responsabilidade Ă© do Congresso Nacional.
O instituto da Medida ProvisĂłria precisa ser eliminado ou fortemente censurado e norteado.
E esse papel cabe aos deputados e senadores.
Mesmo assim, nĂŁo me arrependo do tempo que perdi/ganhei assistindo a esse programa do nĂșcleo de dramaturgia do Congresso Federal.
Foi instrutivo, elucidativo, por vezes demasiadamente engraçado, e me possibilitou escrever essas poucas muitas linhas. Espero que não horrorosas.
Foto: Filme "Theatre of Death" (Teatro dos Horrores); 1966; Inglaterra; Direção: Samuel Gallu; Elenco: Christopher Lee, Lelia Goldoni, Julian Glover, Evelyn Laye, Jenny Till.
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