FM - Faculdade Mental

COLUNA DO CANALHA - 26/08/2009

CANALHAS DIDÃTICOS
-

APRENDEMOS DE CABEÃ‡A PARA BAIXO
Os canalhas sÃ£o mais didÃ¡ticos que os honestos. O canalha ensina mais. Temos assistido, como nunca antes, a um show de verdades atravÃ©s do chorrilho de negaÃ§as, de cÃnicos sorrisos e lÃ¡grimas de crocodilo. O Brasil estÃ¡ evoluindo em marcha a rÃ©! Nessas Ãºltimas semanas, sÃ³ tivemos des-acontecimentos. O senador Mercadante ia sair da lideranÃ§a do PT, irrevogavelmente. Depois, oscilou, seu mestre deu-lhe um esculacho e ele voltou atrÃ¡s. Marcha a rÃ©. Des-aconteceu.
A Dilma tambÃ©m. Ela "nÃ£o" se encontrou com a Lina Vieira, nÃ£o. Querem nos convencer que a Lina Ã© maluca e resolveu inventar tudo aquilo para prejudicar a ministra. NinguÃ©m se lembra que essa polÃªmica do "fui nÃ£o fui" Ã© Ãºtil para camuflar o fato de que a expulsÃ£o de Lina aconteceu somente por causa do questionamento Ã Petrobras...
Tudo marcha a rÃ©. Tudo some. As fitas de VT do Planalto se apagaram. NinguÃ©m existe mais nas fitas. Os atos secretos voltam pouco a pouco e deixam de sÃª-lo. O nosso Sarney foi absolvido de tudo; as 11 acusaÃ§Ãµes foram arquivadas pelo mordomo-suplente - des-aconteceram, sumiram na descarga do Conselho de Ã‰tica.
Sarney, o Comandante do Atraso, disse que nÃ£o se sente culpado de nada. EstÃ¡ certo - seus servos decretaram que nada, houve. Nossa frÃ¡gil repÃºblica esta sumindo.
As tramoias e as patranhas de hoje sÃ£o deslavadas; nÃ£o hÃ¡ mais respeito nem pela mentira. EstÃ¡ em andamento uma "revoluÃ§Ã£o dentro da corrupÃ§Ã£o", tudo na cara da populaÃ§Ã£o, com o fito de nos acostumar ao horror.
Com a dissoluÃ§Ã£o do PT, que hoje Ã© o verdadeiro partido da "direita", com o derretimento do PSDB, o destino do paÃs vai ser a maÃ§aroca informe do PMDB (Oba! Vem aÃ o tesouro da legislaÃ§Ã£o do prÃ©-sal, a ser entregue a seus malandros-chefes, que jÃ¡ devem estar babando).
No entanto, justiÃ§a ao narcisismo deslumbrado de Lula, com seu projeto de si mesmo: nunca nossos vÃcios ficaram tÃ£o explÃcitos, nunca aprendemos tanto de cabeÃ§a para baixo.
E aÃ, nossa Ãºnica esperanÃ§a: talvez estejamos aprendemos sobre a dura verdade nacional nesse rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: uma visÃ£o do cabelo do Wellington, a cara dura de seres como o Almeida Lima, o rosto feliz do Renan e JucÃ¡, ensinam-nos muito. Que delÃcia, que doutorado sobre nÃ³s mesmos!
JÃ¡ sabemos que a corrupÃ§Ã£o no paÃs nÃ£o Ã© um "desvio" da norma, nÃ£o Ã© um pecado ou crime; Ã© a norma mesmo, entranhada nos cÃ³digos, nas lÃnguas, nas almas.
Aprendemos a mecÃ¢nica da sordidez: a tÃ©cnica de roubar o Estado para fazer pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos Ã flor da pele, orgasmos entre empreiteiras e polÃticos.
Querem nos acostumar a isso, mas, pode ser, (oh Deus!) que isso seja bom: perdermos o autoengano, a fÃ©.
Estamos descobrindo que temos de partir da insÃ¢nia e nÃ£o de um sonho de razÃ£o, de um desejo de harmonia que nunca chega.
AtÃ© que enfim nossa crise endÃªmica estÃ¡ sujamente clara, em cima da mesa de dissecaÃ§Ã£o, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, tÃ£o fecundas como um adubo sagrado, belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores.
Como Ã© educativo vermos as falsas ostentaÃ§Ãµes de pureza e candor, para encobrir a impudicÃcia, o despudor, a bilontragem nas cumbucas, nos esgotos da alma..Que emocionante esse sarapatel entre o pÃºblico e o privado: os sÃºbitos aumentos de patrimÃ´nio, fazendas imaginÃ¡rias, aÃ§ougues fantasmas, netinhas e netinhos, filhinhos ladrÃµes, a ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, mandingas, despachos, as galinhas mortas na encruzilhada, o uÃsque caindo mal no Piantela, as diarreias secretas, as flatulÃªncias fÃ©tidas no Senado, diante das evidÃªncias de crime, os arrotos nervosos, os vÃ´mitos, tudo compondo o grande painel da nacionalidade.
JÃ¡ se nos entranhou na cabeÃ§a, confusamente ainda, que, enquanto houver 20 mil cargos de confianÃ§a no paÃs, haverÃ¡ canalhas, enquanto houver estatais com caixa preta, haverÃ¡ canalhas, enquanto houver subsÃdios a fundo perdido, haverÃ¡ canalhas.
Com esse CÃ³digo Penal, nunca haverÃ¡ progresso. JÃ¡ sabemos que, enquanto nÃ£o desatracarmos os corpos pÃºblicos e privados e que enquanto nÃ£o chegarem ao fim as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver.
JÃ¡ sabemos que mais de R$5 bilhÃµes por ano sÃ£o pilhados das escolas, hospitais, estradas. A cada puniÃ§Ã£o, outros nascerÃ£o mais fortes, como bactÃ©rias resistentes a antigas penicilinas, e mais: os que foram desonrados no Congresso voltaram fortes e mandam no Legislativo. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.
SÃ³ nos resta a praga. Isso. Meu desejo Ã© maldizer, como jÃ¡ fiz aqui vÃ¡rias vezes.
Portanto, malditos sejais, Ã³ mentirosos, negadores, defraudadores, vigaristas, trampistas, intrujÃµes, chupistas, tartufos e embusteiros!
Que a peste negra vos cubra de feridas pÃºtridas, que vossas lÃnguas mentirosas sequem e que Ã¡gua alguma vos dessedente, que vossas mentiras, marandubas, fraudes, lÃ©rias e aldravices se transformem em cobras peÃ§onhentas que se enrosquem em vossos pescoÃ§os, que entrem por vossos rabos e fundilhos e lÃ¡ depositem venenosos ovos que vos depauperem em diarreias torrenciais.
Que a peste negra vos devore a alma, polÃticos canalhas, que vossos cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos vingadores vos exterminem para sempre!
No entanto, alÃ©m das maldiÃ§Ãµes, sou um otimista inveterado; fico procurando algo de bom nessa bosta toda!
Talvez essa vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos.
A esperanÃ§a tem de ser extirpada como um furÃºnculo maligno. AtravÃ©s desse escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderÃamos ser!
Arnaldo Jabor (http://www.arnaldojabor.blogger.com.br/) â€“ Fonte: O Tempo â€“ 25/08/09.