O QUE VOCĂ PENSA QUE SABE SOBRE ELEIĂĂO?
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O QUE VOCĂ PENSA QUE SABE SOBRE ELEIĂĂO?
Até sair candidato a vereador por Belo Horizonte, eu pensava que sabia um bocado de coisa.
NĂŁo me considero uma pessoa ingĂȘnua ou inocente no que diz respeito ao jogo eleitoral.
Sempre soube do quĂŁo sujo Ă© esse processo, mas, apesar disso, sempre acreditei que as pessoas estĂŁo em busca de polĂticos honestos e bem intencionados, e que ir de encontro a esse anseio seria uma forma interessante de conquistar eleitores.
Acreditei, tambĂ©m, que os partidos polĂticos se interessavam por ter em seus quadros candidatos que tivessem idĂ©ias e capacitação para representar bem o partido e a população.
Depois de ruminar por um mĂȘs todo esse processo, consegui separar o que significa uma eleição de trĂȘs pontos de vista diferentes, que vou tentar definir nas prĂłximas linhas.
A eleição para o partido
Um bom quadro partidĂĄrio Ă© aquele que vai agregar ao partido pessoas com visĂŁo, com capacitação, com nĂvel para, se eleito, tomar um assento numa casa legislativa ou executiva e desempenhar um bom papel para a população que o elegeu, certo? Errado.
Um bom quadro partidĂĄrio Ă© aquele que tem dinheiro, nĂŁo importa de onde e como ele venha. Que seja bom de votos o suficiente para que seus votos ajudem o partido a atingir o coeficiente eleitoral necessĂĄrio, independente de ser qualificado ou nĂŁo parar assumir o cargo, mas que nĂŁo ofusque ou ameace os interesses de quem manda no partido.
Para o partido, um bom quadro partidĂĄrio Ă© aquele sujeito que pensa que pode ganhar uma eleição, que investe o que tem e o que nĂŁo para sair vitorioso e que, de preferĂȘncia, nĂŁo ganhe, mas colabore fundamentalmente para que os candidatos preferidos desse partido sejam eleitos, a despeito de honestidade, qualificação, capacitação e boas intençÔes.
A eleição para o candidato
Para o candidato de primeira viagem, eleição é uma coisa fascinante.
Imaginar a possibilidade de ocupar uma vaga numa cĂąmara municipal, como foi o meu caso, fez com que eu passasse a olhar a cidade de uma forma completamente diferente.
Passei a ver cada buraco na rua como uma grave deficiĂȘncia da administração pĂșblica, cada mendigo como um injustiçado social, cada guarda municipal como um mero fardo para os cofres pĂșblicos, cada carro da BHTrans como uma demonstração do poder do capitalismo diante dos interesses sociais e cada cidadĂŁo ou cidadĂŁ como um eleitor em busca de um candidato que visse essas coisas exatamente da forma como eu vi e apresentasse propostas para resolver essas e outras mazelas sociais.
Para o candidato que jå perdeu sua virgindade eleitoral, tenha ele mandato, ou tenha tido, ou não, eleição é um jogo de quem pode mais.
Imaginar a possibilidade de ocupar, reocupar ou manter um cargo, nĂŁo muda em absolutamente nada a maneira de olhar a cidade.
O candidato que jĂĄ conhece eleição nĂŁo tem muitos pudores. O que vale Ă© o cargo e os benefĂcios que ele traz, sejam eles relativos a status, poder ou dinheiro.
Cada buraco na cidade passa a ser um contrato com uma empreiteira, cada mendigo continua sendo um mendigo e uma possibilidade de se criar mais um programa social do qual serĂĄ possĂvel ganhar alguma coisa, cada guarda municipal um cabide de emprego para alocar correligionĂĄrios, cada carro da BHTrans a lembrança de quanto dinheiro envolve a indĂșstria do trĂąnsito e das multas e cada cidadĂŁo ou cidadĂŁ um voto, independente do que serĂĄ preciso fazer para conquistĂĄ-lo ou se esse cidadĂŁo ou cidadĂŁ quer alguma coisa diferente para sua cidade.
A eleição para o eleitor
Para o eleitor que sabe a importùncia do voto, uma eleição é uma chance de mudar as coisas, de escolher com critério alguém que tenha propostas condizentes com a realidade da cidade, que enxergue com clareza os problemas e aponte com assertividade pelo menos o caminho das soluçÔes.
O eleitor que pensa nĂŁo vota em candidatos com passado sujo e duvidoso, com propostas pĂfias e pirotĂ©cnicas. Ele rejeita os candidatos corruptos, os que sujam a cidade, os que sĂŁo envolvidos com grupos econĂŽmicos poderosos, lĂcitos ou ilĂcitos, e principalmente os que reĂșnem todas essas desqualificaçÔes juntas.
Só que esse tipo de eleitor não elege praticamente ninguém.
O eleitor que elege mesmo Ă© o que nĂŁo pensa e nĂŁo sabe a importĂąncia que seu voto tem para sua prĂłpria vida e para a sua comunidade.
O eleitor que elege Ă© aquele que escolhe o seu candidato pelos cartazes (proibidos) que ficam espalhados pela cidade toda.
Esse eleitor vota naquele sujeito que um dia foi jogador de futebol do seu time de coração, ou aquele cantor famoso, ou aquele que ele viu diversas vezes nos noticiĂĄrios de televisĂŁo, mesmo que as notĂcias falassem apenas dos processos de corrupção nos quais ele estava envolvido.
Os eleitores que decidem uma eleição nĂŁo gostam de polĂtica, nĂŁo sabem o que exatamente faz um vereador, deputado ou senador, escolhem um candidato por proximidade, beleza ou simpatia, sĂŁo influenciados por candidatos que dĂŁo fortes demonstraçÔes de poder econĂŽmico e que ainda aceitam ofertas de emprego, tijolos, cestas bĂĄsicas, sapato ou um simples âvou ver o que posso fazer por vocĂȘâ em troca do seu voto.
Obviamente, as opiniÔes aqui emitidas refletem a percepção e os pontos de vista deste colunista, não sendo necessariamente a tradução exata da realidade.
Mas, mesmo assim, ouso dizer que existem poucos partidos preocupados com seus candidatos e eleitores, que existem pouquĂssimos candidatos preocupados com partidos e eleitores e que sĂŁo raros os eleitores preocupados com candidatos e partidos.
Para o partido, o que vale mesmo Ă© o poder, para o candidato o que vale mesmo Ă© a grana que ele vai ganhar se eleito e para o eleitor o que vale mesmo Ă© o feriado, principalmente se ele cair em dia de semana e que ainda proporcione um feriado prolongado.
Imagem - Charge do Glauco - Fonte: Folha de S.Paulo - 26/10/08.
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