DIA INTERNACIONAL DA MULHER
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O CENTENĂRIO
English:
http://www.internationalwomensday.com/
http://www.un.org/womenwatch/feature/iwd/
O Dia Internacional da Mulher foi comemorado pela primeira vez em 8 de março de 1911. Esse ano celebra-se o Centenårio da data com o tema:
"Igualdade de acesso Ă educação, formação e ciĂȘncia e tecnologia: o caminho para o trabalho decente para as mulheres" (Equal access to education, training and science and technology: Pathway to decent work for women).
Parabéns à todas as mulheres do mundo por suas conquistas do passado, do presente e do futuro.
Mais detalhes:
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A âBEAUVOIRâ DE CADA UMA
Sempre que tenho oportunidade como em datas como esta, embora o admita diariamente, me agrada comentar sobre a âevoluçãoâ da mulher no cenĂĄrio mundial apesar de toda a cultura machista que dominava este cenĂĄrio e que infelizmente ainda domina certos paĂses. Minha base ou ponto de partida, ainda que nĂŁo seja necessariamente a marca, tem se fixado no advento do episĂłdio que originou a instauração do âDia Internacional da Mulherâ. Desta vez, entretanto eu gostaria de retornar um pouco mais no tempo, nĂŁo exatamente em janeiro de 1908 quando do seu natalĂcio, mas nos anos subsequentes a 1930 quando jĂĄ lecionando se permite a relacionamentos e atividades um tanto quanto digamos, diferentes ou nĂŁo bem vistos pela comunidade da Ă©poca. Estou me referindo a Simone-Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, ou como ficou conhecida - Simone de Beauvoir. Nasceu em Paris, estudou numa escola para moças, mas nĂŁo se tornou uma casada ou foi para o convento como era o destino de muitas delas. Graduou-se em letras, matemĂĄtica e filosofia, sendo letras com uma menção âbienâ (bom) e matemĂĄtica âtrĂšs bienâ (muito bom). Quanto Ă filosofia conseguiu sua âagrĂ©gationâ (licenciatura para professora titular de nĂvel superior) em segundo lugar, por uma diferença de dois pontos, atrĂĄs de nada menos que Jean-Paul Sartre, com quem manteve um relacionamento de concubinato atĂ© a morte. Decidiu ser professora, embora jĂĄ soubesse que escritora seria o seu destino. Por conta de uma acusação infundada (corrupção de menores) foi impedida de lecionar na França. O reitor achou inadmissĂvel manter no corpo docente uma mulher que nĂŁo era casada, mas vivia em concubinato. NĂŁo tinha domicĂlio fixo, residia em hotĂ©is, corrigia os trabalhos das alunas em cafĂ©s e dava aulas sobre escritores homossexuais como Proust e Gide. AlĂ©m disso, Simone demonstrava profundo desprezo por toda a disciplina moral e familiar. No seu primeiro romance, âA convidadaâ ela explora a liberdade. Depois em âMemĂłrias de uma moça bem comportadaâ, critica os valores burgueses. Em âO segundo sexoâ explora abertamente a sexualidade feminina e o corpo da mulher, sendo muito criticada por amigos e inclusive tendo a reprovação do Vaticano. Em 1974 assina o âManifesto das 343â admitindo como outras, ter feito um aborto ilegal, coisa que nĂŁo havia acontecido e exigem direito Ă contracepção gratuita e ao aborto legal seguro. No prĂłximo ano o aborto Ă© legalizado na França. Torna-se presidente da âLiga dos direitos da Mulherâ e mais tarde ganha o Premio JerusalĂ©m, concedido aos escritores que promovem as liberdades individuais. Entre tantas caracterĂsticas desta notĂĄvel mulher, uma que a marcou bastante foi a sempre manifestação da verdade. Por causa do nome Beauvoir, recebeu o apelido de Castor (beaver, em inglĂȘs), mais precisamente pelo espĂrito construtor que o animal simboliza.
Ela esteve sempre à frente do seu tempo e embora tenha sofrido com as opressÔes por conta dos modelos, nunca se abateu dos seus propósitos e daquilo que acreditava, tendo em mente que cada um é responsåvel por si.
No Dia Internacional da Mulher e na impossibilidade de destacar todas individualmente, destaco Simone de Beauvoir como um modelo, ainda que nĂŁo sigamos modelos, de movimento contra estereĂłtipos e de levante contra opressĂ”es de qualquer tipo, como as que a mulher sofreu e infelizmente ainda sofre em alguns paĂses ou mesmo no Brasil. Espero que a cada dia desperte em vocĂȘs a sua prĂłpria âSimone de Beauvoirâ, conhecedoras de seus direitos, da sua força e das suas obrigaçÔes, principalmente como gente. De construir um mundo melhor e mais justo. De difundir a igualdade e a justiça. De mostrar a importĂąncia do amor e mostrar o bem que faz a harmonia entre os povos, ainda que entre eles haja homens e outras âcoisasâ que como homens pensam serem donos de vidas e manipuladores de destinos. Peço ainda que vocĂȘs nĂŁo deixem de espalhar pelo mundo a graça que a mulher tem e a expressĂŁo do olhar, que infelizmente (ou nĂŁo) tenho que admitir, desconcerta completamente o âsexo frĂĄgilâ - os homens.
Feliz Dia Internacional da Mulher, e que a cada ano possamos constatar a igualdade de todos quanto aos direitos de cada um.
Por: Eribaldo Bezerra dos Santos (Eddy)
São Paulo, 04 de março de 2011.
ORIGENS DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
A origem do Dia Internacional da Mulher, data significativa na luta pelos direitos das mulheres, vem sendo distorcida no Brasil e em diversos paĂses. Na cobertura midiĂĄtica, o dia 8 de março Ă© associado a um incĂȘndio que teria acontecido em 1857 em Nova York e provocado a morte de 129 trabalhadoras tĂȘxteis. Elas teriam sido queimadas como punição por um protesto por melhores condiçÔes de trabalho.
Ă importante destacar que houve, de fato, um incĂȘndio, sĂł que em 25 de março de 1911 e de forma diferente da narrada pela imprensa.
As chamas começaram quando um trabalhador acendeu um cigarro perto de um monte de tecidos e alastraram-se rapidamente. As portas das escadas de incĂȘndio estavam trancadas por fora, para evitar que os funcionĂĄrios saĂssem mais cedo. O saldo foi de 146 vĂtimas fatais, 13 homens e 123 mulheres.
No edifĂcio, funciona hoje a Faculdade de QuĂmica da Universidade de Nova York. O incĂȘndio na Triangle Shirtwaist Company foi importante para a melhoria das condiçÔes de segurança de trabalhadores como um todo, e nĂŁo apenas das mulheres, jĂĄ que tambĂ©m havia homens entre as vĂtimas.
Um ano antes, em 1910, durante o 2Âș Congresso Internacional de Mulheres Socialistas em Copenhague, a alemĂŁ Clara Zetkin propĂŽs que fosse designado um dia para a luta dos direitos das mulheres, sobretudo o direito ao voto.
Ou seja, o Dia Internacional da Mulher jĂĄ existia antes do incĂȘndio, mas era celebrado em datas variadas a cada ano.
Para compreender a escolha do 8 de março, remontamos ao dia 23 de fevereiro de 1917, 8 de março no calendĂĄrio gregoriano. Naquela ocasiĂŁo, as mulheres de Petrogrado, convertidas em chefes de famĂlia durante a guerra, saĂram Ă s ruas, cansadas da escassez e dos preços altos dos alimentos. No dia seguinte, eram mais de 190 mil.
Apesar da violenta repressĂŁo policial do perĂodo, os soldados nĂŁo reagiram: ao contrĂĄrio, eles se uniram Ă s mulheres.
Aquele protesto espontùneo transformou-se no primeiro momento da Revolução de Outubro. A proposta de perpetuar o 8 de março como Dia Internacional da Mulher foi feita em 1921, em homenagem aos acontecimentos de Petrogrado.
Mas, sobretudo apĂłs a Segunda Guerra Mundial, em decorrĂȘncia dos interesses do poder no perĂodo, seu conteĂșdo emancipatĂłrio foi se esvaziando. No fim dos anos 1960, a data foi retomada pela segunda onda do movimento feminista, ficando encoberta sua marca comunista original. Em 1975, a ONU oficializou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
Para além da distorção dos fatos históricos, um aspecto diferencia fundamentalmente a participação das mulheres nos dois episódios.
No incĂȘndio da Triangle Shirtwaist, a mulher Ă© vĂtima da opressĂŁo dos patrĂ”es e do fogo. JĂĄ nos protestos de 1917, ocupa uma posição de protagonismo. Encoberto, o fato deixa de mostrar a participação polĂtica das mulheres na construção de uma revolução que tem papel importante para a histĂłria mundial.
Adriana Jacob Carneiro, jornalista, Ă© mestranda do Programa Multidisciplinar de PĂłs-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia e pesquisadora em gĂȘnero e mĂdia do grupo Miradas Femininas.
Fonte: Folha de S.Paulo - 08/03/11.
Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia:
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