TURMAS INIGUALĂVEIS
A ĂLTIMA CEIA CIENTĂFICA
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Galileu Galilei; Marie Curie; Robert Oppenheimer; Isaac Newton; Louis Pasteur; Stephen Hawking; Albert Einstein; Carl Sagan; Thomas Edison; AristĂłteles; Neil deGrasse Tyson; Richard Dawkins; Charles Darwin.
Fonte: AstroPT â 11/08/13.
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BIBLIOTECA DAS TURMAS DO FM
"DEVASSOS POR NATUREZA: PROVOCAĂĂES SOBRE O SEXO E A CONDIĂĂO HUMANA"
âA EVOLUĂĂO DO SEXOâ
A vitĂłria do pĂȘnis cabeçudo. A anatomia masculina e outras artimanhas evolutivas do sexo.
Livros do americano Jesse Bering e do britĂąnico John Maynard Smith analisam o sexo por prismas complementares. Bering, com humor de banheiro masculino, comenta a importĂąncia do formato do pĂȘnis na evolução da espĂ©cie. JĂĄ Smith, com equaçÔes e dados experimentais, investiga por que o sexo existe na natureza.
Que ninguém duvide da importùncia dos sex shops para testar hipóteses sobre a evolução da nossa espécie --em especial se estivermos falando das origens da anatomia peniana.
Um exemplo banal: por que diabos o pĂȘnis humano, em especial quando o prepĂșcio Ă© recolhido e a glande fica exposta, tem esse curioso formato de cogumelo? A pergunta Ă© pertinente porque nossos parentes mais prĂłximos no reino animal, os grandes macacos, ostentam membros relativamente finos e "retos", mais parecidos com uma banana-nanica.
Pensa daqui, pensa dali, o psicĂłlogo evolucionista Gordon Gallup Jr., da Universidade do Estado de Nova York em Albany, propĂŽs que a chave para entender a esquisitice do pĂȘnis do Homo sapiens residia no fato de que a glande costuma ter diĂąmetro consideravelmente maior do que a haste do membro masculino.
Imagine uma mulher que copula com dois parceiros, com intervalo relativamente curto entre eles.
Durante a prĂ©-histĂłria da nossa espĂ©cie, quando camisinhas eram item inexistente, estava armado o cenĂĄrio para uma competição de espermatozoides entre os moços -- a nĂŁo ser que a glande em forma de cogumelo do segundo parceiro servisse como uma espĂ©cie de vassoura, armazenando debaixo de si o sĂȘmen do rival e puxando-o para fora da vagina durante o coito.
Do ponto de vista da teoria da evolução, a lógica é impecåvel. Mas como testar experimentalmente a ideia?
VIBRADORES
Visitando um sex shop, Ă© claro. Gallup Jr. e companhia adquiriram um conjunto completo de vibradores --com e sem glande simulada-- e vaginas artificiais anatomicamente realistas.
De volta ao laboratĂłrio, produziram uma caldeirada de "sĂȘmen artificial" (farinha de trigo misturada com ĂĄgua e fervida). E, apĂłs "lubrificar" devidamente a vulva de borracha, verificaram que tipo de consolo era o mais apropriado para remover o esperma falso.
VitĂłria dos pĂȘnis "cabeçudos", que conseguiam retirar mais de 90% do lĂquido da vagina de brinquedo, contra apenas 35% de eficiĂȘncia do vibrador sem glande. EstĂĄ tudo registrado nas pĂĄginas da revista cientĂfica "Evolution and Human Behavior". E tambĂ©m no livro "Devassos por Natureza: ProvocaçÔes sobre o Sexo e a Condição Humana" [trad. Maria Luiza X. de A. Borges, Zahar, 304 pĂĄgs., R$ 44,90], do psicĂłlogo americano Jesse Bering.
As reflexĂ”es sobre a importĂąncia evolutiva do formato do pĂȘnis sĂŁo bastante representativas da temĂĄtica do livro, ainda que nĂŁo de sua linguagem --se vocĂȘ achou os parĂĄgrafos acima galhofeiros, Ă© sĂł porque nĂŁo leu o relato original de Bering, um sujeito com senso de humor tĂpico de banheiro masculino.
Por outro lado, a disposição para usar piadas Ă© coisa que inexiste em "A Evolução do Sexo" [trad. Antonio Carlos Bandouk, ed. Unesp, 262 pĂĄgs., R$ 29], clĂĄssico escrito em 1978 pelo biĂłlogo britĂąnico John Maynard Smith (1920-2004) que sĂł agora chega ao paĂs.
Usando os dados experimentais e de campo mais refinados que havia em sua época, Maynard Smith investigou por que, afinal de contas, o sexo existe na natureza. Deu à pesquisa contornos panorùmicos, que vão das trocas de genes entre bactérias às origens do tabu do incesto entre os membros da nossa espécie.
Apesar das diferenças brutais de estilo, os dois livros se complementam. Com seu estilo pop, Bering apresenta suavemente ao leitor um dos grandes pilares do pensamento evolutivo: encarar a anatomia e o comportamento dos seres vivos sob o prisma da engenharia reversa.
Trocando em miĂșdos: diante de caracterĂsticas biolĂłgicas intrincadas, o cientista dessa ĂĄrea tenta compreender tanto questĂ”es funcionais (o famoso "para que serve?") quanto de causalidade, ou seja, atĂ© que ponto, em Ășltima instĂąncia, essa funcionalidade tem um impacto na seleção natural.
à mais ou menos o que também faz Maynard Smith, com a ressalva importante de que o britùnico não quis poupar o leitor das equaçÔes que despeja em diversas påginas do livro (embora a maior parte da obra esteja escrita em prosa clara, ainda que årida).
O arcabouço matemĂĄtico, de todo modo, Ă© necessĂĄrio porque o sexo tem um custo --medido naquela que Ă© por excelĂȘncia a moeda de troca da evolução: o sucesso reprodutivo.
Ocorre que, do ponto de vista dos "interesses" de cada organismo (as aspas sĂŁo necessĂĄrias porque se trata quase sempre de interesses inconscientes), reproduzir-se por meio do sexo equivale a um desperdĂcio de material genĂ©tico, jĂĄ que a prole sempre terĂĄ apenas 50% do DNA de cada genitor.
E é preciso ainda levar em conta o custo consideråvel de procurar um parceiro, disputar as atençÔes dele com rivais e sobreviver à cópula, que muitas vezes deixa o casal em posição vulneråvel.
Sob esse prisma, a opção mais razoĂĄvel, Ă primeira vista, seria clonar a si mesmo e pronto. Mas o curioso Ă© que essa estratĂ©gia, a partenogĂȘnese (em grego, "nascimento virgem"), Ă© bastante rara entre animais e plantas. E sua distribuição nos grupos de seres vivos sugere que ela costuma surgir de modo esporĂĄdico, a partir de ancestrais com vida sexual "normal".
Maynard Smith usa modelos matemĂĄticos para examinar as possĂveis razĂ”es para esse paradoxo. O mais provĂĄvel Ă© que o sexo seja um mecanismo para "embaralhar" genes de pais e mĂŁes com eficiĂȘncia, de maneira que a prole carregue em seu DNA armas mais diversificadas para enfrentar contingĂȘncias como novos parasitas, predadores ou eventuais mudanças ambientais.
Centenas de milhĂ”es de anos depois que o primeiro organismo desenvolveu essa estratĂ©gia, chegamos a mamĂferos de cĂ©rebro complexo como nĂłs e os demais primatas, cujas estruturas mentais, alĂ©m da anatomia, tambĂ©m parecem ter sido buriladas para maximizar o sucesso reprodutivo --universo que Ă© a especialidade de Jesse Bering.
Autor de um blog no site da revista "Scientific American", ele domina a arte de escolher os detalhes mais picantes dessa temĂĄtica e "descascĂĄ-los" de forma cientificamente sĂłlida.
Ou, ao menos, tĂŁo sĂłlida quanto possĂvel. A ĂĄrea de especialidade de Bering, a psicologia evolucionista, costuma sofrer a acusação, muitas vezes injusta, de construir cenĂĄrios fantasiosos.
Como nĂŁo Ă© possĂvel viajar no tempo para registrar em filme a vida sexual dos hominĂdeos, e uma vez que os indĂcios da evolução da mente e do comportamento com frequĂȘncia sĂł podem ser flagrados de maneira indireta, hĂĄ quem veja a psicologia evolucionista como um exercĂcio de imaginação divertido, mas que pode ser usado para provar que qualquer coisa e o seu contrĂĄrio sĂŁo produtos da seleção natural --tanto o cuidado com a prole quanto o infanticĂdio, tanto a monogamia quanto a infidelidade.
ANTIDEPRESSIVO
Ăs vezes, Bering incorre nessa caricatura, ainda que com resultados que injetem sabor no texto, como quando ele aborda a literatura sobre os efeitos antidepressivos do esperma humano (mais um estudo, digamos, seminal de Gordon Gallup Jr.) ou quando saĂșda as habilidades do mĂșsculo cremastĂ©rico, aquele que faz os testĂculos humanos se encolherem para perto do corpo num dia frio.
HipĂłtese de trabalho dos cientistas nesse caso: o mĂșsculo seria o responsĂĄvel por manter a temperatura testicular num nĂvel nem muito quente, nem muito frio, de maneira a otimizar produção e sobrevivĂȘncia dos espermatozoides.
O psicĂłlogo, no entanto, consegue abordar temas surpreendentemente sĂ©rios por baixo dessa fachada de deboche. Um deles Ă© o da origem das preferĂȘncias sexuais humanas e dos preconceitos que as cercam --talvez nĂŁo por acaso, jĂĄ que Bering Ă© homossexual.
Ă difĂcil, por exemplo, nĂŁo pensar em alguns candidatos ao teste descrito pelo pesquisador no capĂtulo sobre homofobia. Basicamente, amarra-se o pĂȘnis do sujeito a um sensor e expĂ”e-se o voluntĂĄrio a imagens pornogrĂĄficas, de natureza tanto hĂ©tero quanto homossexual. Surpresa: quanto mais a pessoa declara ter raiva de gays, maior a chance de ela ter uma ereção assistindo a homens fazendo sexo com homens.
Nesse ponto, os dois livros voltam a se aproximar. NĂŁo hĂĄ como a homossexualidade (ao menos se for a prĂĄtica exclusiva) aumentar o sucesso reprodutivo dos homens gays, embora ela se manifeste a partir de uma base biolĂłgica que compartilha com a sexualidade hĂ©tero (gays tambĂ©m sentem ciĂșmes, por exemplo).
Do mesmo modo, organismos praticantes da partenogĂȘnese volta e meia evoluem em condiçÔes especiais, mesmo que o sexo seja uma estratĂ©gia mais vantajosa, em mĂ©dia. A biologia Ă© o reino da contingĂȘncia, e nĂŁo hĂĄ uma seta Ășnica apontando o rumo do progresso --ainda bem, ao menos para quem advoga a diversidade.
Reinaldo JosĂ© Lopes â Fonte: Folha de S.Paulo â 11/08/13.
Detalhes:
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