TURMAS DIPLOMADAS
DIPLOMA É NOVO OBJETIVO CHINÊS
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A mãe de Zhang Xiaoping abandonou a escola depois da sexta série. Seu pai, que tinha nove irmãos, nunca estudou. Mas Zhang, 20, faz parte de uma nova geração de chineses que se beneficia de uma iniciativa nacional para produzir graduados em ensino superior em números que o mundo nunca viu.
Caloura em uma nova universidade no sul da China, Zhang é formada em inglês. Mas sua segunda opção é a cultura pop americana, que ela absorve assistindo na internet a seriados dos EUA.
Tudo faz parte de uma ambição especÃfica: trabalhar para um fabricante de carros chinês. Ela quer dar à companhia as percepções culturais e a fluência em inglês que permitam à fábrica fornecer táxis a Nova York. "É meu sonho e vou me dedicar a ele."
Mesmo que seu sonho seja apenas um devaneio de estudante, a China tem dezenas de milhões de Zhangs -jovens inteligentes cujas aspirações poderão tornar-se uma poderosa concorrência econômica para o Ocidente no futuro.
A China está fazendo um investimento de US$ 250 bilhões por ano no que os economistas chamam de capital humano. Assim como os EUA ajudaram a construir uma classe média de colarinho-branco no final dos anos 1940 e no inÃcio dos 1950, financiando a educação para milhões de veteranos da Segunda Guerra Mundial, o governo chinês usa vastos subsÃdios para educar dezenas de milhões de jovens que se mudam do campo para as cidades.
O objetivo é modificar o sistema atual, em que uma pequena elite altamente educada supervisiona exércitos de trabalhadores industriais semitreinados e de trabalhadores rurais. A China quer subir na curva do desenvolvimento, promovendo um público de educação mais ampla, que se pareça mais com as forças de trabalho multifacetadas dos EUA e da Europa.
Enquanto reforça o futuro da China como potência industrial global, a população cada vez mais instruÃda representa desafios assustadores para seus lÃderes. A economia chinesa desacelerou no ano passado, e o paÃs enfrenta um excedente de formandos em nÃvel superior com altas expectativas e oportunidades limitadas.
Muito depende de se o sistema polÃtico autoritário chinês conseguirá criar um sistema educacional que incentive a criatividade e a inovação que as economias modernas exigem.
A China também enfrenta dificuldades formidáveis para combater a corrupção generalizada, um sistema polÃtico esclerosado, graves danos ambientais, monopólios estatais ineficientes e outros problemas. Se essas questões puderem ser superadas, uma força de trabalho mais educada poderá ajudar o paÃs a se tornar um rival ainda mais formidável para o Ocidente.
O atual plano quinquenal da China, que vai até 2015, concentra-se em sete prioridades. São: energia alternativa, eficiência energética, proteção ambiental, biotecnologia, tecnologias da informação avançadas, manufatura de equipamentos de ponta e os chamados veÃculos de novas energias, como carros hÃbridos e elétricos.
A meta de Pequim é investir até três trilhões de renminbi, ou US$ 1,6 trilhão, na expansão desses setores, para que representem 8% da produção econômica até 2015, contra 3% em 2010. Ao mesmo tempo, grandes universidades concentram-se nas tecnologias existentes e nas indústrias em que a China representa um crescente desafio para o Ocidente.
A Universidade Geely, de Pequim, uma instituição privada fundada em 2000 por Li Shufu, presidente da indústria de automóveis Geely, já tem 20 mil estudantes em uma série de disciplinas, com ênfase na engenharia e na ciência.
Li também financiou e construiu a Universidade Sanya, uma instituição de artes liberais com 20 mil estudantes, da qual Zhang é aluna, e abriu uma faculdade comunitária vocacional para 5.000 estudantes em sua cidade natal, Taizhou, para treinar trabalhadores fabris capacitados.
A crescente oferta de profissionais universitários na China é uma reserva de talento que as corporações globais estão ávidas para utilizar.
"Se antes iam à China em busca de mão de obra, hoje procuram cérebros", disse Denis F. Simon, um dos mais conhecidos consultores de administração especializados em empresas chinesas.
Multinacionais como IBM, General Electric, Intel e General Motors contrataram milhares de formandos nas universidades chinesas.
Duplicação de faculdades
Na última década, a China duplicou o número de faculdades e universidades, para 2.409. Ela está a caminho de se equiparar, dentro de sete anos, com o atual Ãndice de jovens de 18 anos formados no ensino médio dos EUA, de 75%.
Ao quadruplicar o número de formandos em faculdades na última década, hoje a China produz oito milhões de formandos por ano em universidades e faculdades comunitárias. Isso já é bem mais que os EUA em número -mas não como porcentagem. Com apenas um quarto da população chinesa, os EUA produzem por ano três milhões de formandos em faculdades e cursos pós-colegiais.
Até o final da década, a China pretende ter quase 195 milhões de formandos em universidades e faculdades comunitárias -em comparação com não mais de 120 milhões nos EUA. Volume não significa qualidade, é claro. Alguns especialistas em China afirmam que o crescimento dos horários de aulas em educação superior superou a oferta de professores e instrutores qualificados.
Giles Chance, antigo consultor em China que hoje é professor visitante na Universidade de Pequim, disse que muitos das dezenas de milhões de recém-formados em faculdades chinesas poderão encontrar empregos em fábricas, mas não terão capacitação para competir em grandes áreas da economia americana -especialmente em serviços como saúde, vendas ou bancos de varejo.
"O formando chinês em uma universidade de segunda linha não é equivalente a um americano em capacidade linguÃstica e familiaridade cultural", disse.
A questão principal para as faculdades chinesas é se elas podem cultivar inovação em ampla escala -competindo com os melhores e mais inteligentes americanos em hardware multimÃdia e aplicativos de software, ou superando os alemães em design e engenharia para fazer carros robustos e equipamentos industriais automatizados.
Sem garantias
De fato, a experiência do Japão mostra que ter mais formandos não garante a criatividade empresarial. Nas décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial, o Japão montou um esforço educacional semelhante ao que vemos hoje na China. A versão japonesa gerou uma enorme classe média e ajudou a transformar o paÃs em uma das maiores economias do mundo. Mas, em parte devido a uma cultura em que se encaixar muitas vezes é mais valorizado do que se destacar, o Japão atingiu um platô econômico.
Se as universidades chinesas não puderem ajudar a solucionar a charada da inovação, o paÃs também poderá ter dificuldades para avançar quando suas vantagens de mão de obra e capital baratos desaparecerem, o que os economistas preveem para dentro de dez a 15 anos. Ainda assim, com dez vezes a população do Japão, a China tem a capacidade de competir com os americanos e europeus de colarinho-branco em um amplo leque de setores.
Uma das maiores perguntas sobre a qualidade das universidades chinesas envolve quem ensina, o que e como. O salário base de um professor é geralmente inferior a US$ 300 por mês -menos do que ganha um operário em linha de montagem.
Os métodos de ensino na China também tendem a ser antiquados pelos padrões ocidentais e parecem mal adequados para produzir os empresários ou os gerentes socialmente aptos que as multinacionais cobiçam.
"Alguns professores mais jovens gostam de se comunicar com os alunos, mas os mais velhos apenas ficam de pé na frente da classe e falam sozinhos", disse Long Luting, formado em engenharia quÃmica em 2010 na Universidade Tianjin.
Os empregadores chineses tendem a procurar estudantes capazes de preencher imediatamente funções especÃficas. Corporações de propriedade estrangeira na China muitas vezes usam os formandos chineses de maneira diferente, dando mais ênfase ao desenvolvimento profissional a longo prazo.
Prontos para competir
A China já tem a maior indústria automobilÃstica do mundo e, no ano passado, produziu o dobro de carros e caminhões que os EUA ou o Japão. Mas virtualmente nenhum desses carros é exportado para o Ocidente -ainda.
Os fabricantes de carros e os polÃticos chineses vêm se preparando há anos para seguir o exemplo do Japão e da Coreia do Sul. Mas atingir essa meta vai exigir pelo menos quatro grandes avanços: desenhar carros e motores mais atraentes, melhorar a confiabilidade, desenvolver tecnologias locais que não dependam de patentes de fabricantes estrangeiros e compreender os compradores no exterior.
As autoridades chinesas dizem que um grande motivo pelo qual estão despejando bilhões de dólares no desenvolvimento de carros elétricos e hÃbridos é que eles esperam desenvolver as tecnologias antes de outros paÃses.
O progresso em tecnologias que economizam energia e são menos poluentes poderá dar uma vantagem às companhias chinesas, por exemplo, quando a Comissão de Táxis e Limusines da Cidade de Nova York decidir em 2021 que modelo as frotas da cidade deverão comprar.
O que os clientes querem
O paÃs também está tentando desenvolver o lado brando dos negócios internacionais: marqueteiros, especialistas em publicidade e outros que possam intuir o que os clientes no exterior desejam.
Li, o presidente da Geely, nasceu em uma famÃlia de agricultores. Mas tornou-se um dos mais ricos magnatas de seu paÃs construindo carros baratos. Sua companhia, o Grupo Geely, comprou a Volvo sueca da Ford em 2010 e agora quer atacar o Ocidente.
A Geely iniciou elaboradas pesquisas de mercado no Reino Unido para determinar quais de seus modelos serão bem aceitos por lá. Essa é a vanguarda do que provavelmente será um ataque total dos fabricantes de carros chineses aos mercados ocidentais em 2015.
Li também está avançado em outro objetivo: treinar seus próprios gerentes. Suas empresas contratam os melhores formandos dos três campi que ele fundou.
A Universidade Sanya está desafiando o ensino internacional de administração. Seus estudantes, como Zhang, tentam aprender o máximo possÃvel sobre os mercados estrangeiros.
Ela está se formando em inglês, mas seus cursos favoritos foram em marketing. Trabalha no tempo livre como guia para conferências internacionais para ter maior exposição a falantes nativos de inglês. Zhang lê muito sobre tendências automotivas e tem confiança em sua capacidade de convencer a cidade de Nova York a comprar carros Geely para seus táxis em 2021. "A posição da China está crescendo constantemente. Temos um papel importante nos mercados internacionais", disse em inglês fluente. "Precisamos ter a capacidade de nos comunicar com os estrangeiros."
Keith Bradsher – Fonte: Folha de S.Paulo – 28/01/13.
Reportagem original do “The New York Times†em inglês:
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BIBLIOTECA DAS TURMAS DO FM
CYPHERPUNKS - LIBERDADE E O FUTURO DA INTERNET
Em livro, Assange dispara em governos, Facebook e Google. Obra do criador do WikiLeaks traz declarações fortes e lacunas de conteúdo.
Cuidado: você está sendo vigiado e manipulado. Essa é a mensagem que fica da leitura de "Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet", novo livro de Julian Assange.
Criador e editor-chefe do polêmico WikiLeaks, grupo que revelou documentos secretos dos EUA, Assange, 41, está há mais de seis meses na Embaixada do Equador em Londres. Apesar de ter obtido asilo polÃtico no paÃs sul-americano, ele é ameaçado de prisão pelo Reino Unido caso deixe a missão diplomática.
"Cypherpunks" diz respeito a um movimento que defende o uso da criptografia (a comunicação por códigos) na internet como forma de garantir privacidade e escapar dos controles de governos e corporações. O livro reproduz um debate entre Assange e três companheiros ocorrido em 20 de março de 2012, quando o jornalista australiano estava em prisão domiciliar no Reino Unido.
"É preciso acionar o alarme. Esse livro é o grito de advertência de uma sentinela na calada da noite", escreve Assange na introdução.
Google, Facebook, Amazon, cartões de crédito, governo dos EUA: a metralhadora giratória do texto ataca poderes polÃticos e econômicos e faz parecer brincadeira de criança a imaginação de George Orwell.
"A internet, nossa maior ferramenta de emancipação, está sendo transformada no mais perigoso facilitador de totalitarismo que já vimos. A internet é uma ameaça à civilização humana", afirma o editor, que enxerga uma militarização do ciberespaço:
"Quando nos comunicamos pela internet ou por telefonia celular, nossas trocas são interceptadas por organizações militares de inteligência. É como ter um tanque de guerra dentro do quarto", diz.
No livro, o Google é apontado como "a maior máquina de vigilância que já existiu". O debate argumenta que as agências de espionagem dos EUA têm acesso a todos os dados armazenados por Google e Facebook -vistos como "extensões dessas agências".
"É uma maluquice imaginar que entregamos nossos dados pessoais a essas empresas e que elas se transformaram basicamente em uma polÃcia secreta privatizada", afirma Jacob Appelbaum, fundador da Noisebridge.
Já Andy Müller-Maguhn, do Chaos Computer Club, considera que Visa, MasterCard e PayPal (que boicotam o WikiLeaks) estão forçando uma "situação de monopólio".
Segundo ele, comunicados diplomáticos americanos revelaram que o governo russo não conseguiu fazer com que as transações dos cartões MasterCard e Visa realizadas dentro da Rússia fossem processadas no próprio paÃs.
"Quando Putin sair para comprar uma Coca, 30 segundos depois Washington já estará sabendo", diz Assange.
No debate transcrito, surgem temas como censura, direito autoral e pornografia infantil. E são relatados casos de softwares que, por exemplo, impedem que funcionários tenham acesso a sites de sindicatos que informem sobre seus direitos trabalhistas.
A discussão de Assange e seus três companheiros segue às vezes de forma um tanto caótica. Apesar de um certo esforço de didatismo, alguns trechos mereceriam maior profundidade e contrapontos mais sólidos.
O tom de conversa de bar ajuda a leitura, mas deixa muitas lacunas de conteúdo. Cheio de declarações grandiloquentes -muitas delas sem apresentar comprovações-, o livro pode ser um ponto de partida para um debate. "Os segredos dos poderosos são mantidos em segredo dos que não têm poder", afirma Assange. Quem pode contestar?
CYPHERPUNKS - LIBERDADE E O FUTURO DA INTERNET
AUTOR Julian Assange (com Jacob Appelbaum, Andy Müller-Maguhn e Jérémie Zimmermann)
EDITORA Boitempo Editorial
QUANTO R$ 29 (168 págs.)
AVALIAÇÃO bom
Eleonora de Lucena – Fonte: Folha de S.Paulo – 26/01/13.
Detalhes:
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