FM - Faculdade Mental

MANCHETES DA SEMANA - 08/03/2008

RELAÃ‡Ã•ES INTERNACIONAIS

CRONOLOGIA DE UMA CRISE E A VITÃ“RIA DA DIPLOMACIA
English:
http://www.economist.com/daily/news/displaystory.cfm?story_id=10794694&top_story=1
http://www.guardian.co.uk/world/2008/mar/04/colombia.venezuela
http://www.nytimes.com/2008/03/05/world/americas/05venez.html?_r=1&hp&oref=slogin

LEIA A ÃNTEGRA DA DECLARAÃ‡ÃƒO DO GRUPO DO RIO: www.folha.com.br/080673

URIBE SE DESCULPA E ENCERRA CRISE REGIONAL
ApÃ³s troca de insultos e acusaÃ§Ãµes, cÃºpula de chefes de Estado termina com aperto de mÃ£o entre colombiano e Correa.
Documento compromete ColÃ´mbia a nÃ£o fazer novas incursÃµes em vizinhos e demais paÃses a combater os "grupos irregulares".
A 20Âª ConferÃªncia do Grupo do Rio terminou ontem em Santo Domingo, na RepÃºblica Dominicana, com um aperto de mÃ£o e tapinhas nas costas entre os presidentes Rafael Correa, do Equador, e Ãlvaro Uribe, da ColÃ´mbia, num gesto que encerrou a mais grave crise diplomÃ¡tica em mais de uma dÃ©cada na AmÃ©rica Latina.
O encerramento da cÃºpula de chefes do grupo constrastou com o tom bÃ©lico que marcou o dia. ApÃ³s nove horas de um debate cheio de impropÃ©rios no auditÃ³rio da Chancelaria dominicana, prÃ©dio colonial de frente para o mar do Caribe, o presidente e anfitriÃ£o Leonel FernÃ¡ndez pediu aos participantes que deixassem de lado suas divergÃªncias e apertassem as mÃ£os em nome da paz.
ApÃ³s alguns segundos de hesitaÃ§Ã£o, Uribe -que havia passado o dia justificando o ataque contra o acampamento das Farc (ForÃ§as Armadas RevolucionÃ¡rias da ColÃ´mbia) em territÃ³rio equatoriano, hÃ¡ uma semana, que desencadeou a crise- levantou-se e caminhou em direÃ§Ã£o a Correa. Sob aplausos, eles apertaram as mÃ£os.
Em seguida, Uribe atravessou novamente o auditÃ³rio para fazer o mesmo com o presidente venezuelano, Hugo ChÃ¡vez -que no domingo passado anunciara o envio de tropas Ã fronteira com a ColÃ´mbia, em represÃ¡lia ao ataque no Equador. Os aplausos continuaram.
Ao sair da reuniÃ£o, os participantes estavam eufÃ³ricos com o fim da crise, oficializado na declaraÃ§Ã£o final do encontro, que formalizou o pedido de desculpas da ColÃ´mbia ao Equador e selou o compromisso por parte de BogotÃ¡ de que o fato nÃ£o voltarÃ¡ a acontecer.
Uribe se deu por satisfeito, pois o documento, embora nÃ£o mencione as Farc, exorta os governos latino-americanos a combaterem "forÃ§as irregulares". "Superou minhas expectativas", disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim, que representou o Brasil no evento. "Houve um sentimento de que era preciso caminhar pela paz."
O encerramento destoou completamente do clima que marcou a maior parte do dia.
Logo no inÃcio,Correa avisou que a "situaÃ§Ã£o gravÃssima" exigia um discurso longo. O microfone foi desligado pelos organizadores, sob o pretexto de que se tratava de um encontro fechado. O som jÃ¡ havia sido reaberto quando Uribe comeÃ§ou um discurso no qual reforÃ§ou as acusaÃ§Ãµes de que o governo equatoriano protege as Farc. O colombiano leu cartas entre Manuel Marulanda, dirigente mÃ¡ximo das Farc, e o nÃºmero 2 do grupo, RaÃºl Reyes, morto no ataque de sÃ¡bado, que supostamente provam que a guerrilha financiou a campanha do entÃ£o candidato Correa, em 2006.
Samy Adghirni - Fonte: Folha de S.Paulo - 08/03/08.

SEM GUERRA
Dos "think tanks" Ã s revistas on-line tipo Slate e aos jornais americanos, europeus etc., a "guerra" prosseguia, jÃ¡ com anÃ¡lises geopolÃticas e outras.
AtÃ© que surgiu na home do "El Tiempo" http://www.eltiempo.com/politica/2008-03-05/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR-3986673.html, em manchete, "ColÃ´mbia aceitou que violou a soberania do Equador, mas nÃ£o receberÃ¡ sanÃ§Ã£o da OEA", com o equatoriano Rafael Correa com Lula. Entraram ainda no acordo uma missÃ£o de inquÃ©rito http://www2.elcomercio.com/noticiaEC.asp?id_noticia=174998&id_seccion=3 e, informalmente, o anÃºncio por Ãlvaro Uribe de que "se dispÃµe a revisar" http://www.eltiempo.com/politica/2008-03-05/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR-3986849.html a denÃºncia de Hugo ChÃ¡vez em Haia. Na versÃ£o na Folha Online http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u378950.shtml, "OEA declara violaÃ§Ã£o de soberania do Equador, mas nÃ£o condena ColÃ´mbia". Lula, Ã Reuters Brasil http://br.reuters.com/article/topNews/idBRN0563809520080305, considerou a decisÃ£o "madura".
Toda MÃdia - Nelson de SÃ¡ - Fonte: Folha de S.Paulo - 06/03/08.
OS TAMBORES
George W. Bush http://www.miamiherald.com/692/story/443428.html entrou em cena, apoiou Ãlvaro Uribe contra "manobras provocativas" de Hugo ChÃ¡vez -e o noticiÃ¡rio anglo-americano disparou. A BBC agora aponta a "linguagem cada vez mais belicosa". O site da "Economist" destaca os "rumores de guerra". O "Guardian" fala em "ponto de fervura". O "New York Times", no segundo destaque, sÃ³ abaixo das primÃ¡rias, deu que a acusaÃ§Ã£o colombiana de "bomba suja" dos guerrilheiros "representa escalada aguda na retÃ³rica". Nos vÃ¡rios textos, o conflito se restringe a ColÃ´mbia e Venezuela, com apoio velado Ã primeira.
Apoio mais aberto foi dado em editorial pelo "Wall Street Journal" http://online.wsj.com/article/SB120459178078409043.html, justificando a invasÃ£o colombiana "por razÃµes legÃtimas de autodefesa". Com o tÃtulo "Os tambores de "guerra" de ChÃ¡vez", o editorial pouco notou o Equador, concentrando-se na Venezuela.
FRANÃ‡A VS. EUA
Correu on-line, Ã noite, a informaÃ§Ã£o http://www.estadao.com.br/internacional/not_int134724,0.htm de que a ColÃ´mbia sabia que RaÃºl Reyes era interlocutor da FranÃ§a na libertaÃ§Ã£o de Ingrid Betancourt.
Ainda sem eco da notÃcia, "Le Figaro" http://www.lefigaro.fr/international/2008/03/04/01003-20080304ARTFIG00500-le-ton-monte-entre-bogota-et-caracas.php e "Le Monde" http://www.lemonde.fr/ameriques/article/2008/03/04/la-crise-se-durcit-entre-la-colombie-le-venezuela-et-l-equateur_1018428_3222.html#ens_id=941502 diziam que o "tom cresce" e a "crise se agrava na AmÃ©rica Latina". E o "Monde" destacava que uma fonte colombiana confirmou que a operaÃ§Ã£o foi iniciada quando os serviÃ§os de informaÃ§Ã£o dos EUA deram a localizaÃ§Ã£o de Reyes.
DECÃŠNCIA E O RUBICÃƒO
JÃ¡ o espanhol "El PaÃs" http://www.elpais.com/articulo/internacional/Uribe/anuncia/llevara/Chavez/Tribunal/Penal/Internacional/elpepuint/20080304elpepuint_10/Tes seguiu a ediÃ§Ã£o do colombiano "El Tiempo" http://www.eltiempo.com/politica/2008-03-04/ARTICULO-WEB-NOTA_INTERIOR-3985085.html e do venezuelano de oposiÃ§Ã£o "El Universal" http://www.eluniversal.com/2008/03/04/colcd_ava_colombia-denunciara_04A1406039.shtml, com manchete para a denÃºncia da Venezuela pela ColÃ´mbia, em Haia, por genocÃdio.
Em editorial, mais significativamente, o "El PaÃs" http://www.elpais.com/articulo/opinion/Crisis/bandas/elpepuopi/20080304elpepiopi_2/Tes questionou Ãlvaro Uribe por "cruzar o RubicÃ£o" ao entrar no Equador, mas focou o ataque em Hugo ChÃ¡vez, que nÃ£o teria "a decÃªncia mÃnima que se exige de um chefe de Estado".
ALTERNATIVAS
Nas manchetes do equatoriano "El Comercio" http://www2.elcomercio.com/ ao longo do dia, as alternativas http://www2.elcomercio.com/noticiaEC.asp?id_noticia=174772&id_seccion=3 Ã guerra, em enunciados http://www2.elcomercio.com/noticiaEC.asp?id_noticia=174748&id_seccion=3 como "Governo pede forÃ§a multinacional de paz para cuidar da fronteira com a ColÃ´mbia". Da parte do Brasil, nas agÃªncias http://lta.reuters.com/article/domesticNews/idLTAN0447915820080304 mas pouco alÃ©m, os esforÃ§os -apoiados pelo Chile- por uma investigaÃ§Ã£o da incursÃ£o militar colombiana.
Mas por aqui, enquanto isso, as Globos http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?t=virgilio_denuncia_envio_ilegal_de_armas_para_venezuela&cod_Post=92382&a=111 se voltavam http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL336958-5601,00-SENADOR+FAZ+DENUNCIA+DE+VENDA+DE+ARMAS+PARA+A+VENEZUELA+GOVERNO+NEGA.html ao fantÃ¡stico -e fantasioso- envio de armas de Lula para Hugo ChÃ¡vez, trombeteado pelo senador Arthur VirgÃlio.
Toda MÃdia - Nelson de SÃ¡ - Fonte: Folha de S.Paulo - 05/03/08.

A HORA DIPLOMACIA
A ColÃ´mbia deve uma explicaÃ§Ã£o ao Equador -e Ã comunidade internacional- por ter violado o territÃ³rio equatoriano numa operaÃ§Ã£o militar que resultou na morte de um dirigente das ForÃ§as Armadas RevolucionÃ¡rias da ColÃ´mbia, as Farc.
NinguÃ©m contesta a BogotÃ¡ o direito de perseguir membros das Farc como terroristas. JÃ¡ faz tempo que essa organizaÃ§Ã£o, nascida como uma guerrilha de inspiraÃ§Ã£o marxista, converteu-se numa sÃºcia de bandoleiros que se financia com o trÃ¡fico de drogas e se dedica a seqÃ¼estrar cidadÃ£os colombianos e estrangeiros, submetendo-os Ã s piores provaÃ§Ãµes durante anos.
O imperativo de enfrentar as Farc, contudo, nÃ£o confere Ã ColÃ´mbia o direito de invadir um vizinho para capturar ou matar guerrilheiros, mesmo que eles montem os seus acampamentos do outro lado da fronteira. O Ãºnico procedimento aceitÃ¡vel nesses casos Ã© comunicar as autoridades vizinhas da presenÃ§a de foragidos e aguardar que elas ajam ou autorizem a entrada das tropas colombianas.
EstÃ¡ correto o presidente equatoriano, Rafael Correa, ao exigir de seu colega Ãlvaro Uribe o firme compromisso de que operaÃ§Ãµes como a do Ãºltimo sÃ¡bado nÃ£o se repetirÃ£o. Infelizmente, a ColÃ´mbia Ã© reincidente nessa matÃ©ria. Em janeiro de 2005, agentes de BogotÃ¡ se envolveram no seqÃ¼estro de um dirigente das Farc que entÃ£o vivia na Venezuela.
Propagado apenas depois da violaÃ§Ã£o de fronteira, o argumento do governo Uribe, de que o Equador estaria dando refÃºgio aos membros das Farc, faz parte de uma manobra diversionista. NÃ£o Ã© segredo que os narcoguerrilheiros, cada vez mais isolados na ColÃ´mbia, se aproximaram do presidente venezuelano, Hugo ChÃ¡vez, e no mÃnimo buscavam acolhida semelhante de Correa. O que permanece incerto Ã© se essa relaÃ§Ã£o rendeu Ã s Farc financiamento e/ou refÃºgio por parte de Caracas e Quito.
Nas relaÃ§Ãµes internacionais, a ordem dos procedimentos importa. Primeiro se denuncia Ã exaustÃ£o o suposto conluio; depois, se for o caso, parte-se para a aÃ§Ã£o. Mais Ã frente, num foro adequado, devem ser discutidas as provas que BogotÃ¡ afirma ter recolhido sobre uma alianÃ§a entre ChÃ¡vez, Correa e as Farc contra o governo legÃtimo da ColÃ´mbia. Agora o momento Ã© de sanar os estragos diplomÃ¡ticos da violaÃ§Ã£o de soberania cometida por militares colombianos.
Foi leviana, a propÃ³sito, a atitude de ChÃ¡vez de enviar tropas para a fronteira com a ColÃ´mbia. Enquanto a diplomacia mundial se empenha em facilitar o entendimento entre a ColÃ´mbia e o Equador, o caudilho de Caracas conseguiu superar-se em termos de irresponsabilidade e tornou a situaÃ§Ã£o ainda mais explosiva. Nessa crise, a palavra "guerra" saiu apenas de sua boca -e, claro, da pena ociosa do ditador aposentado Fidel Castro.
Se Ã© pouco provÃ¡vel que essa crise degenere num conflito armado, Ã© prudente preveni-lo. Cabe Ã diplomacia e aos chefes de Estado de paÃses como Brasil, Argentina e Chile trabalhar para que a situaÃ§Ã£o se normalize. O caminho Ã© convencer BogotÃ¡ a reconhecer o erro e comprometer-se a nÃ£o repeti-lo. JÃ¡ os paÃses vizinhos precisam auxiliar a ColÃ´mbia no combate Ã s Farc. Nada justifica o apoio aberto ou velado a uma organizaÃ§Ã£o criminosa que seqÃ¼estra e assassina.
Editorial - Folha de S.Paulo - 04/03/08.