FM - Faculdade Mental

FALOU NO FM? TÃ FALADO! - 02/11/2011

FALANDO EM DESIGN

O DESIGN NA LUTA CONTRA A POBREZA
English:
http://www.nytimes.com/2011/10/23/arts/design/for-some-of-the-worlds-poor-hope-comes-via-design.html?pagewanted=all
Design With the Other 90 Percent: Cities - http://www.cooperhewitt.org/exhibitions/other-90
O design na luta contra a pobreza. A vida em favelas pelo mundo afora Ã© refeita a partir da base. O design ajuda a salvar o mundo; uma favela por vez.
Para a maioria das pessoas, a palavra "design" Ã© sinÃ´nimo das coisas belas que uma sociedade rica faz para ela mesma, como iPads, joias caras ou automÃ³veis clÃ¡ssicos.
"Design With the Other 90 Percent: Cities" (design com os outros 90%: cidades), uma mostra inspirada -embora seu tÃtulo seja infeliz-, trata de outro tipo de design. Ela foi organizada pelo Museu Nacional de Design Cooper-Hewitt, em Nova York, e agora estÃ¡ instalada no saguÃ£o de visitantes do prÃ©dio das NaÃ§Ãµes Unidas.
Os objetos mostrados aqui tendem a parecer toscos e Ã s vezes embaraÃ§osamente simples, suscitando reaÃ§Ãµes do tipo "por que ninguÃ©m teve essa ideia antes?". Sua beleza Ã© de outra natureza: se deve ao fato de trazerem soluÃ§Ãµes inteligentes e econÃ´micas a alguns dos problemas enfrentados por milhÃµes das pessoas mais pobres do mundo.
SÃ£o criaÃ§Ãµes que procuram trazer respostas a crises que sempre pareceram refratÃ¡rias -pandemias globais como a proliferaÃ§Ã£o de favelas e doenÃ§as infecciosas.
Trata-se, em outras palavras, de uma mostra de design para refazer o mundo. E isso Ã© emocionante, quer esteja acontecendo em Cupertino, CalifÃ³rnia, ou em Uganda, onde centenas de pessoas sÃ£o contaminadas com o HIV todos os dias. Nesse paÃs, a novidade mais recente no tocante Ã telefonia celular Ã© a criaÃ§Ã£o e distribuiÃ§Ã£o de um sistema de mensagens de texto que divulga informaÃ§Ãµes sobre saÃºde.
"Text to Change" (Torpedos para a TransformaÃ§Ã£o), como Ã© chamado o projeto, requer a colaboraÃ§Ã£o de dois especialistas holandeses em comunicaÃ§Ãµes e tecnologia com operadoras locais de telefonia celular e organizaÃ§Ãµes que prestam assistÃªncia mÃ©dica. Em Kibera, uma Ã¡rea de NairÃ³bi, QuÃªnia, que abriga uma das favelas de maior densidade demogrÃ¡fica da Ãfrica, o desafio era outro. Ali, as fogueiras tradicionais feitas com madeira e carvÃ£o causavam doenÃ§as respiratÃ³rias em grande parcela da populaÃ§Ã£o. As ruas sÃ£o cheias de lixo.
EntÃ£o um arquiteto de NairÃ³bi projetou um fogÃ£o comunitÃ¡rio que Ã© movido pelo lixo recolhido pelos moradores, que em troca podem usar o aparelho.
Na TailÃ¢ndia, um programa pÃºblico chamado Melhoria da Comunidade Baan Mankong vem hÃ¡ oito anos melhorando as condiÃ§Ãµes de vida em centenas das 5.500 favelas do paÃs, alÃ©m de envolver moradores, governo e organizaÃ§Ãµes nÃ£o governamentais em um esforÃ§o para projetar moradias mais seguras e limpas.
Ã€s margens do canal Bang Bua, em Bangcoc, onde milhares de famÃlias vivem hÃ¡ anos em palafitas precÃ¡rias ligadas por passarelas frÃ¡geis, arquitetos da Universidade Sripantum projetaram fileiras de casas geminadas e semigeminadas, seguindo linhas sugeridas pelos moradores.
Centenas de estruturas decrÃ©pitas foram demolidas e casas novas erguidas em seu lugar. As novas casas, feitas de madeira e portas recicladas, foram construÃdas em terra firme prÃ³xima das palafitas anteriores, para nÃ£o dividir comunidades ou deslocar famÃlias. A estratÃ©gia seguida em Bang Bua incluiu ainda emprÃ©stimos a juros baixos e arrendamentos por 30 anos (com possibilidade de renovaÃ§Ã£o), fazendo com que os moradores tenham direitos legais sobre os imÃ³veis em que vivem e tenham interesse em sua conservaÃ§Ã£o.
Isso ajudou a pÃ´r fim ao ciclo de despejos (usados para abrir espaÃ§o para shopping centers e vias expressas) que deixava os pobres impotentes e desesperanÃ§ados.
"As cidades sÃ£o muito complexas, e o que fazem os melhores designers Ã© dar forma a ideias que Ã s vezes sÃ£o muito simples", disse a curadora da mostra, Cynthia E. Smith.
"O bom design requer nÃ£o apenas lanÃ§ar um olhar novo sobre os problemas, mas, sobretudo, ouvir as pessoas que vivem nessas comunidades. Estamos falando de 1 bilhÃ£o de pessoas que hoje vivem em comunidades informais." O bilhÃ£o de pessoas estÃ¡ projetado para dobrar atÃ© 2030 e triplicar atÃ© 2050, segundo o Programa de Assentamentos Humanos das NaÃ§Ãµes Unidas.
Isso significa que uma em cada trÃªs pessoas no planeta viverÃ¡ em lugares como as favelas do Brasil, os "barrios" do Equador, os "shack settlements" sul-africanos, os "bidonvilles" tunisianos ou os "chapros" do Nepal.
Cynthia Smith passou dois anos estudando o que designers vÃªm fazendo para melhorar as condiÃ§Ãµes de vida nesses lugares. Como foi feito em Bang Bua, uma liÃ§Ã£o pareceu muito Ã³bvia: a necessidade de pedir que as pessoas que vivem na pobreza sugiram suas prÃ³prias soluÃ§Ãµes. Projetos de renovaÃ§Ã£o urbana sempre funcionam melhor quando sÃ£o feitos de baixo para cima.
Somsook Boonyabancha, diretor da CoalizÃ£o AsiÃ¡tica de Direitos Habitacionais, escreveu no catÃ¡logo da mostra: "Os pobres sÃ£o criadores e implementadores dos sistemas mais amplos e abrangentes para solucionar problemas de pobreza, moradia e prestaÃ§Ã£o de serviÃ§os bÃ¡sicos".
Em Diadema, cidade industrial na periferia de SÃ£o Paulo, 30% da populaÃ§Ã£o vivia em favelas. O governo pediu conselhos Ã populaÃ§Ã£o para definir prioridades para construÃ§Ãµes, que empregavam trabalhadores residentes nas comunidades.
Um programa fundiÃ¡rio deu aos moradores o direito de viverem por 90 anos em seus imÃ³veis, para incentivar manutenÃ§Ã£o e investimentos. Assim, os moradores ajudaram a ampliar e pavimentar ruas e instalar sistemas de Ã¡gua e esgotos. Hoje, segundo Smith, 3% dos moradores de Diadema ainda vivem em favelas, e o Ãndice anual de homicÃdios caiu do pico de 140 por 100 mil habitantes, na dÃ©cada de 1990, para 14,3.
MedellÃn, na ColÃ´mbia, foi no passado a capital mundial dos cartÃ©is de drogas, homicÃdios e desespero. HÃ¡ dez anos, Ãderes polÃticos progressistas decidiram fazer investimentos mais pesados nas piores favelas, construindo um sistema de telefÃ©rico para ligar o centro da cidade com as Ã¡reas isoladas e cheias de criminalidade que cobriam os morros.
Em volta dos pilares do sistema de transporte foram construÃdos novos parques, bibliotecas, escolas pÃºblicas e passarelas de pedestres, de modo que as obras de arquitetura pÃºblica mais belas e ambiciosas foram erguidas nos bairros mais pobres. MedellÃn tornou-se uma cidade mudada. E em La Vega, uma das favelas nas encostas que cercam Caracas, na Venezuela, uma equipe de arquitetos, engenheiros e geÃ³logos criou uma sÃ©rie de novas escadarias e praÃ§as, de modo que a subida dos morros, antes muito Ã¡rdua, foi facilitada.
Em Pune, uma das muitas cidades indianas em franco crescimento, trabalhadores constantemente se deslocam com suas famÃlias de um assentamento informal para outro, seguindo as obras de construÃ§Ã£o.
A consequÃªncia disso Ã© que com frequÃªncia os filhos nÃ£o sÃ£o matriculados na escola. Uma equipe de designers decidiu uma dÃ©cada atrÃ¡s levar as escolas Ã s crianÃ§as, por meio de Ã´nibus equipados com salas de aula para 25 alunos que vÃ£o buscando os alunos, onde quer que morem.
Em Bangladesh, o arquiteto local Mohammed Rezwan projetou "barcos salva-vidas comunitÃ¡rios" que fazem as vezes de escolas, bibliotecas e ambulatÃ³rios de saÃºde flutuantes.
Com o nÃvel do mar em ascensÃ£o, a previsÃ£o Ã© que atÃ© 2050 quase 20% da terra do paÃs esteja submerso. O delta do Ganges-Brahmaputra, a Ã¡rea mais densamente povoada do mundo, serÃ¡ inundado.
Trabalhando com construtores de barcos da regiÃ£o, Rezwan adaptou a embarcaÃ§Ã£o fluvial tradicional, feita de bambu e com fundo chato. Ele equipou as embarcaÃ§Ãµes com tetos Ã prova d'Ã¡gua e painÃ©is solares, instalando computadores, internet com conexÃ£o rÃ¡pida e lÃ¢mpadas solares portÃ¡teis feitas de lanternas de querosene recicladas.
Materiais tradicionais, tÃ©cnicas de construÃ§Ã£o civil locais e fontes de energia renovÃ¡veis renderam um paradigma de design contextual.
Michael Kimmelman - Fonte: Folha de S.Paulo - 31/10/11.
Veja mais / reportagem original em inglÃªs:
http://www.nytimes.com/2011/10/23/arts/design/for-some-of-the-worlds-poor-hope-comes-via-design.html?pagewanted=all
Design With the Other 90 Percent: Cities - http://www.cooperhewitt.org/exhibitions/other-90

MENSAGENS DE NOSSOS LEITORES E COLABORADORES

iDICAS DE UM INTUITIVO OBSTINADO
Algumas liÃ§Ãµes do jeito Jobs de ser:
- "Ã‰ melhor ser pirata do que entrar para a Marinha."
- "Tem gente que diz: 'Deem aos consumidores o que eles querem'. (...) Acho que Henry Ford disse certa vez: 'Se eu perguntasse aos consumidores o que eles queriam, teriam dito: um cavalo mais rÃ¡pido'."
- "Ã€s vezes, a maior inovaÃ§Ã£o Ã© a empresa, a maneira como vocÃª a organiza."
- "Se vocÃª nÃ£o se canibaliza, os outros vÃ£o te canibalizar." (Quando lhe diziam que o lanÃ§amento do iPhone reduziria as vendas de iPods e que o iPad comeria o mercado dos seus laptops.)
- "Quem sabe do que estÃ¡ falando nÃ£o usa PowerPoint."
- "Existe uma tentaÃ§Ã£o em nossa era digital de pensar que ideias podem ser desenvolvidas por e-mail e no iChat. Loucura. A criatividade vem de encontros espontÃ¢neos, de conversas aleatÃ³rias."
- "VocÃª estÃ¡ rumando para ter um Ãºnico mandato na PresidÃªncia." (Ao comeÃ§ar uma conversa com Barack Obama.)
- "VocÃªs estÃ£o com a cabeÃ§a enfiada no rabo." (Numa reuniÃ£o com empresÃ¡rios da indÃºstria da mÃºsica.)
Elio Gaspari - Fonte: Folha de S.Paulo - 30/10/11.

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